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Troféu de Melhores do Ano: TV

Com o ritmo da vida ficando cada vez mais caótico e o burnout batendo na porta 24/7, fica difícil desligar o cérebro por um momento para simplesmente espairecer. Descansar a mente também é autocuidado, e em um mundo que não para de exigir nossa atenção, nada melhor do que se perder em histórias de outras pessoas, outras vidas, outros lugares. Não que as séries indicadas no Troféu Valkirias de Melhores do Ano: TV não nos façam pensar, pois elas também o fazem enquanto nos entregam boas risadas, momentos de aquecer o coração, alguns sustos e a certeza de que continuamos buscando, seja no streaming ou na TV aberta, aquele conforto que apenas um episódio de uma série querida pode proporcionar.

Abbott Elementary (segunda temporada), Star+

Por Beatriz Romanello

Quinta Brunson ganhou mais espaço e reconhecimento na indústria do entretenimento com o sucesso  da segunda temporada de Abbott Elementary. A primeira temporada garantiu o Emmy de Melhor Roteiro de Comédia para a ex-Buzzfeed, que voltou para uma temporada de 22 episódios, garantindo episódios de Natal, Dia dos Namorados e um longo “será que eles não ficar juntos?” — era assim que se fazia televisão na minha época. No estilo mockmentary, a série traz histórias que acontecem todos os dias em escolas públicas dos Estados Unidos, equilibrando comédia, drama e reflexões sobre educação, questões raciais, etarismo e relacionamentos, sejam de trabalho, familiares ou amorosos. Nomes como Tyler James Williams, Lisa Ann Walter e Sheryl Lee Ralph são destaques nessa temporada. Após o fim da greve dos roteiristas e atores, foi anunciada uma terceira temporada, com estreia em fevereiro de 2024 — as aulas estão voltando!

Para saber mais: Abbott Elementary, primeira temporada

Ahsoka, Disney+

Por Thay

Ahsoka Tano aparece pela primeira vez no universo de Star Wars na série animada The Clone Wars: como padawan de Anakin Skywalker, a jovem é tão cheia de vida e energia quanto seu mestre era na sua idade, mas deixa a Ordem Jedi após ser acusada injustamente. Ainda que Anakin a peça para ficar, Ahsoka decide trilhar seu próprio caminho e parte para a Galáxia. A Ahsoka que encontramos na minissérie do Disney+ não conserva mais a intransigência da pouca idade, mas carrega nos ombros a sabedoria que vem com a maturidade, mas também muita culpa. Culpa por ter deixado Anakin, a quem considerava como um irmão, e também por ter deixado Sabine, sua própria padawan.

Ahsoka, a série, é um prato cheio para os fãs de Star Wars, principalmente aqueles que sentem saudades das aventuras de The Clone Wars e aqueles que sempre defenderam a trilogia prequela, lançada nos cinemas entre os anos de 1999 e 2005. Aqui podemos ter mais informações a respeito da vida de Ahsoka, interpretada por Rosario Dawson, seus sentimentos conflituosos a respeito de Anakin (sempre um imenso prazer ver Hayden Christensen retornando aos seus mantos de Jedi!) e Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), a padawan que ela própria deixou para trás. Além de cenas de puro fanservice (eu não estou reclamando, muito pelo contrário), Ahsoka amplia as histórias de Star Wars e nos deixa sempre sedentos por mais. E que venha muito mais.

A Queda da Casa de Usher, Netflix

Por Amanda Guimarães

Ainda que A Queda da Casa de Usher use o conto homônimo de Edgar Allan Poe como norte para o seu roteiro, a série de Mike Flanagan não tem interesse em funcionar como uma adaptação literal. Na verdade, ela transita pelo universo de Poe como um todo, inserindo referências aos seus poemas (“Annabel Lee”), contos (O Gato Preto e O Baile da Morte Vermelha) e romances (A Narrativa de Arthur Gordon Pym) para criar uma história contemporânea sobre poder, corrupção e arrependimentos.

Esse passeio nos instiga a desvendar mais sobre a trama e, claro, nos mantêm alertas à próxima referência. Assim, mesmo que seja difícil nutrir alguma simpatia por Roderick (Bruce Greenwood), Madeleine (Mary McDonnell) ou qualquer outro membro do clã bilionário da indústria farmacêutica, nós queremos saber porque a segunda geração de Ushers está pagando uma conta tão alta pelos erros da primeira. De certa forma, o “motivo” se materializa em Verna (Carla Gugino), que surge em tela como uma das referências mais célebres e enigmáticas da literatura de Edgar Allan Poe, algo que nos deixa com tantas perguntas que é simplesmente impossível parar de assistir.

Para saber mais: The Haunting of Hill House: toda história de fantasmas é uma história de amor

Call It Love, Star+

Por Debora

Call It Love, disponível no Star+, é o tipo de k-drama que a Coreia do Sul é mestre em produzir. Uma história que dilacera, faz a dor e a tristeza viajar até nossa alma para, aos poucos, ir reconstruindo e suturando a tragédia e solidão com pequenos momentos de afeto, alegria, compreensão mútua e amor — fraternal e romântico.

O que era para ser uma história de vingança, se transforma em uma história de amor e com a atuação sensível e melancólica de Han Dong-jin (Kim Young-kwang) e Shim Woo-joo (Lee Sung-kyung) ficamos a mercê da trama, movidos pela empatia e pela torcida que as almas torturadas pelo destino infeliz e pela dor gerada pelas ações dos outros possam encontrar seu final feliz.

Daisy Jones & The Six, Prime Video

Por Beatriz Romanello

Taylor Jenkins Red teve a proeza de encantar fãs mundo afora com a história da maior banda de rock que não existiu. Daisy Jones &The Six conquistou leitores com suas reviravoltas, casos de amor, intrigas e egos inflados, músicas que desejamos serem verdadeiras. As expectativas para essa adaptação eram altas  — uma das mais aguardadas do ano. As opiniões começaram a se dividir com o lançamento das músicas gravadas para série, fãs muito puristas se revoltaram com as mudanças de letras, enquanto outros se abriram para as novas possibilidades dessa história.

O mesmo sentimento se repetiu quando a série estrelada por Sam Clafin e Riley Keough chegou ao streaming com mudanças entre as relações dos personagens. Se por um lado , não vemos um copia e cola das páginas, por outro vemos novas camadas dos personagens que já nos conquistaram antes. A adaptação teve a coragem necessária para transformar uma narrativa feita de palavras escritas e encadeadas em uma história contada por imagem, som e música. Daisy Jones & The Six é aquilo que deveríamos esperar de uma boa adaptação literária.

Para saber mais: Daisy Jones & The Six não é uma banda real — mas eu queria muito que fosse

Demon Slayer (terceira temporada), Crunchyroll

Por Ana Luíza

No ar desde 2019, Demon Slayer avançou consideravelmente na história de Tanjiro e Nezuko, tornando a busca dos irmãos ainda mais complexa, com desafios cada vez mais difíceis. Cada novo arco, no entanto, permanece reforçando a qualidade narrativa e visual do anime, que o consolidou como uma das melhores produções do gênero. A terceira temporada não faz diferente: dedicada ao Arco da Vila dos Ferreiros, os episódios deste novo ciclo não demoram a estabelecer a tensão, que cresce à medida que o perigo se torna mais claro, nunca parecendo capaz de ser inteiramente derrotado. Tanjiro, mais uma vez, experimenta a própria fragilidade, mas não apenas ele, uma vez que novos personagens também são inseridos e têm suas histórias pregressas reveladas: Mitsuri, a Pilar do Amor, e Muichiro, o Pilar da Névoa.

Ao fim do terceiro ano do anime, o que resta é uma conclusão repleta de perguntas sem resposta, uma espera intensa por sua quarta temporada (já confirmada e com previsão de lançamento para 2024) e a certeza de que, mais uma vez, assistimos a uma obra de arte.

Fionna and Cake, HBO Max

Por Ana Azevedo

Hora de Aventura: Fionna e Cake teve sua estreia um pouco apagada pela Greve da SAG-AFTRA de 2023, mas nem isso conseguiu tirar totalmente o brilho da série animada produzida por Adam Muto. O spin-off do desenho animado conta com as vozes de atores conhecidos como Donald Glove, Chelsea Peretti e Jinkx Monsoon. Considerado por mim como a melhor coisa estadunidense desse ano (não vi The Bear, então não me levem tão a sério) Fionna e Cake também foi sucesso de crítica e audiência. Com a ajuda da produção finíssima, textos impecáveis, enredo super original e uma dose perfeita de fan service, a série animada conseguiu não só agradar ao público fiel que cresceu com Hora de Aventura no Cartoon Network mas também uma nova geração. Uma noticia ainda melhor foi lançada essa semana: a segunda temporada foi aprovada. Vem mais Gary Prince e Marshall Lee por aí!

Gen V, Prime Video

Por Bruna Scheifler

Em um mundo em que tudo que faz sucesso é explorado até a última gota, até que demorou para que um spin-off de The Boys fosse criado. Também é normal que o público, já saturado, tenha certo ceticismo. Mas os filhos-da-p*** conseguiram. Gen-V aproveita tudo que a obra original tem de melhor: ousadia, reviravoltas, críticas, humor ácido. E ainda acrescenta um elemento inesperado: a adolescência. Mostrando jovens na faculdade, Gen-V tem um ambiente acadêmico clássico, amizades, romances enemies-to-lover, dilemas sobre o futuro e tudo o que uma série teen tem direito, com um pouco mais de sangue.

Empolgante desde o primeiro episódio, Gen-V acrescenta novos elementos a The Boys, ao mesmo tempo em que cria uma narrativa e universo próprio, com personagens e casais que já conquistaram o público. A série abre um leque de novas possibilidades para o universo da obra original e já está com a segunda temporada confirmadíssima.

Heartstopper (segunda temporada), Netflix

Por Anna Carolina

A segunda temporada de Heartstopper explora ainda mais a saga de Nick Nelson (Kit Connor) no entendimento e afirmação de sua própria sexualidade enquanto ele segue vivendo seu romance adorável com Charlie Spring (Joe Locke). Apesar de conflitos com nuances mais pesadas do que na primeira fase da série, a trama é acolhedora e gentil com seus personagens e constrói aos poucos soluções saudáveis e possíveis para as complicações do afeto adolescente retratados em tela. Com leveza e de forma respeitosa e didática sem se tornar pedante, o drama inglês dirigido por Euros Lyn e Naican Escobar segue na mesma linha proposta por Alice Oseman, criadora dos quadrinhos que inspiraram a série: os episódios abraçam uma gama diversa de conflitos relacionados à sexualidade e identidade e ao amadurecimento dos personagens.

Para saber mais: Amizade, romance e como é crescer na segunda temporada de Heartstopper; Heartstopper: dois garotos, um encontro; Heartstopper: a jornada de amor e descoberta por Alice Oseman

Hunters (segunda temporada), Prime Video

Por Ana Luíza

Concluída precocemente, a segunda temporada de Hunters dá continuidade aos acontecimentos do primeiro ano, amarrando pontas soltas e dando maior espaço para a história pregressa de seus coadjuvantes. Além disso, a série também adiciona alguns personagens ao elenco que, embora tenham menos tempo para falar de si mesmos, não deixam de ter importância no contexto da narrativa, complexificando uma história já bastante complexa.

Embora tenha um ritmo notoriamente mais lento, Hunters dá um passo além ao não se limitar à caçada que dá título à obra, questionando-se também a respeito do conceito de justiça e até que ponto ela deve ser feita pelas mãos de pessoas comuns. Essa discussão permeia todos os oito episódios que compõe a temporada, mas encontra seu ponto alto no julgamento de Adolf Hitler, no qual este é confrontado pelos seus atos, condenado e humilhado: pelo assassino que é, mas também pelo charlatão. A série retira Hitler do pedestal no qual a História frequentemente insiste em colocá-lo, como se suas ações fossem fruto de suposta inteligência, quando, na verdade, elas não são; trata-se de mera maldade — um movimento que, ainda que não seja real, não deixa de ser catártico.

King The Land, Netflix

Por Debora

Sorriso Real (King The Land, no original), é a versão de Pretendente Surpresa de 2023. Uma comédia romântica cheia de farofa e pastelão que cativou a maioria da dramaland e o meu coração. O sorriso de Cheon Sa-rang (YoonA) e a beleza de outro mundo de Goo Won (Lee Jun-ho) também podem ter a ver com isso, mas o roteiro leve, que não se deixa assustar pela falta de seriedade e reproduz uma série de clichês de forma magnífica e muito bem executada graças a química do casal principal.

Toda vez que uma produção cria a trama perfeita de comédia romântica e encapsula muito bem o significado de romance as românticas vencem demais. Com Sorriso Real, disponível na Netflix, não existe outra definição a não ser categorizá-lo como a realeza do romance.

Lessons in Chemistry, Apple+

Por Bruna Scheifler

Uma Questão de Química (Lessons in Chemistry) é uma surpresa bem-vinda na reta final de 2023. A série, estrelada por Brie Larson, é baseada no livro de mesmo nome e conta a história da química Elizabeth Zott, que se torna apresentadora de um programa de culinária nos anos 1960. A premissa é despretensiosa e até discreta, mas os primeiros episódios já deixam claro que se trata de uma história delicada, inteligente e envolvente, apresentada com clareza e eficiência, que aos poucos revela enredos mais complexos e relevantes.

Os protagonistas até caem no estereótipo de personagens inteligentes, desajeitados e anti-sociais, porém Brie Larson e Lewis Pullman conseguem cativar com suas interpretações, criando figuras adoráveis e apaixonantes. O machismo e discriminação também são destacados, em alguns momentos caindo em discursos já batidos, mas ao focar no desenvolvimento da personagem central, Lessons in Chemistry consegue apresentar uma história coesa e interessante, ao mesmo tempo em que reverbera problemas do passado, do presente e do futuro.

Love & Death, HBO Max

Por Ana Luíza

Minissérie fictícia baseada no assassinato real de Betty Gore pela ex-amante de seu marido, Candy Montgomery, Love & Death poderia ser apenas mais uma série de true crime, não fosse tão bem-sucedida em realizar um mergulho na vida de seus personagens, sobretudo de sua protagonista, Candy, e subvertê-los a mais do que meros clichês suburbanos, mas construções em muito influenciadas pelo ambiente em que vivem e que respondem aos seus estímulos de muitas maneiras. Nesse sentido, o caso se relaciona muito mais a questões internas que existem entre quatro paredes do que a um problema de violência pública, uma conexão que a série não hesita em realizar.

Love & Death não é uma série que trabalha com o mistério; quando flashbacks não são um recurso frequente e a história a ser contada é um tanto pública (basta uma pesquisa no Google), resta saber como as coisas chegaram aonde chegaram. Elizabeth Olsen traça com brilhantismo uma Candy que consegue navegar por emoções das mais diversas e desempenhar todos os papéis que lhe são atribuídos — da mãe à vizinha muito querida até a amante e a mulher que comete um crime particularmente brutal —, mas é Lily Rabe quem se destaca nos poucos momentos em que aparece, dando vida a uma Betty atormentada pela depressão pós-parto e outras questões destrinchadas no decorrer da narrativa. Por fim, o resultado é uma série realista e bastante madura em sua abordagem, que faz as perguntas certas ao retratar um crime ocorrido há mais de 40 anos.

Moonlight Chicken, MMGTV

Por Anna Carolina

Desde o primeiro episódio, Moonlight Chicken surpreende espectadores habituais de BLs ao recusar os clichês mais comuns do subgênero no qual os relacionamentos amorosos principais são entre homens. Se a maior parte das séries tailandesas do estilo se preocupam com a construção de uma tensão romântica para que o final seja um encontro amoroso, a proposta da série da MMGTV é acompanhar os desdobramentos de um relacionamento entre Jim (Earth), dono do restaurante com o mesmo nome do drama e Wen (Mix), um cliente ocasional que após algumas bebidas a mais acaba fazendo sexo casual com o dono do Moonlight Chicken. Ao contrário de muitos personagens dos BLs, os dois são adultos com passados afetivos complexos, mas bastante reais, contas a pagar e dilemas comuns, como a relação com dinheiro, trabalho e outros afetos e desafetos. A trama é madura, realista e se destaca entre as outras produções direcionadas ao mesmo nicho também por ter uma discussão aberta sobre a diferença das percepções que diferentes gerações têm sobre a sexualidade.

Na Mira do Júri, Prime Video

Por Isabella Tamaki

Na Mira do Júri é uma grande pegadinha. Dos criadores de The Office, a série — em estilo mockumentário — tem a seguinte premissa: mostrar os bastidores de um júri popular nos Estados Unidos a partir da perspectiva de um jurado em específico. A questão é que todos são atores, menos o protagonista que não faz ideia da situação que se meteu.

O resultado são situações tão inacreditáveis que tudo o que a gente consegue fazer é dar risada (ou querer se esconder de tanta vergonha alheia). Entre as melhores surpresas está o ator James Marsden — que atua como ele mesmo em uma versão exagerada — e o protagonista Ronald, que mostra como dá pra enxergar o melhor das pessoas, mesmo em cenários absurdos. A série está disponível no Prime Video.

Skip and Loafer, Crunchyroll

Por Julie

Saber que Skip to Loafer, um dos meus mangás preferidos, ganharia um anime em 2023 foi um dos grandes pontos altos do meu ano. A adaptação do estúdio P.A. Works não fez feio e, em 12 episódios, retratou perfeitamente a energia otimista e cativante da história original. Acompanhar as aventuras de nossa protagonista, Iwakura Mitsumi, uma esforçada menina do interior prestes a iniciar o ensino médio em Tóquio, ao lado dos amigos e da tia Nao é a dose de aconchego e inspiração que nós, meros adultos, precisamos no nosso dia a dia.

The Bear (segunda temporada), Hulu

Por Rafaela

Na segunda temporada de The Bear acompanhamos Carmy (Jeremy Allen White) na jornada para transformar um restaurante de sanduíches falido em um estabelecimento de alto padrão. Com um ritmo frenético, nessa temporada temos as relações dos personagens e suas evoluções como um ponto de destaque. Isso porque a mudança do restaurante não simboliza apenas seu crescimento, mas também apresenta novos desafios para os personagens, uma vez que eles começam a apreender sobre um novo universo gastronômico.

Assim, os coadjuvantes Richie, Sydney, Marcus e Tina se tornam protagonistas em episódios específicos, fazendo com que nos conectemos ainda mais com suas histórias. Sem dúvida, o sétimo episódio é o meu favorito. Dedicado ao primo Richie, nele obtemos uma compreensão mais profunda do personagem (que eu detestava na primeira temporada) e testemunhamos sua evolução ao longo do tempo. De todas as coisas que já assisti, nunca pensei que choraria vendo Richie cantando Taylor Swift aos berros em um carro a 100 km/h.

The Gilded Age (segunda temporada), HBO

Por Thay

Para quem gosta de acompanhar ricos sendo dramáticos e criando picuinhas enquanto se vestem de maneira elegante e promovem jantares e bailes dia sim, dia também, The Gilded Age é a pedida. Do mesmo criador de Downton Abbey, Julian Fellowes, o segundo ano da série da HBO continua no encalço da alta sociedade de Nova Iorque e o embate entre os novos ricos, suas novas maneiras, e as famílias possuidoras de grandes fortunas herdadas e o apreço pelas tradições. Nesse cenário, os novos ricos são representados pela família Russell, encabeçados pela ambiciosa Bertha Russell (Carrie Coon), enquanto seus vizinhos os Van Rhijn, são guiados pelas mãos de ferro de Agnes Van Rhijn (Christine Baranski) e suas maneiras antigas.

Se você assistiu Downton Abbey, espere encontrar em The Gilded Age questões, tramas e enredos muito similares — o que não é um desabono, somente uma constatação. Ainda há a separação entre patrões e criados, entre os ditos aristocratas das fortunas herdadas, e os ricos em acessão devido ao boom econômico vivido nos Estados Unidos  entre os anos de 1877 e 1890 por conta da rápida industrialização e da mão-de-obra imigrante vinda da Europa . A série até tenta trazer mais da realidade daqueles que não são ricos, mas a falha vista em Downton Abbey permanece a mesma, dada que essa é uma grande fraqueza da escrita de Fellowes — ele até tenta inserir diversidade em seu elenco e histórias, mas nota-se que não é algo orgânico, como deveria ser.

The Last of Us (primeira temporada), HBO 

Por Thay

Inspirada no video game de mesmo nome, The Last of Us, série da HBO protagonizada por Bella Ramsey e Pedro Pascal é, sem dúvidas, uma dos melhores do gênero. A série é capaz de reunir drama, ação, aventura, horror e ficção científica com maestria, transformando cenas e diálogos inteiros dos jogos para as câmeras, mas ainda com a capacidade de entregar algo inteiramente novo e emocionante. Aqui, acompanhamos a jornada de Ellie (Ramsey) e Joel (Pascal), uma improvável dupla formada por uma adolescente transgressora e um adulto cínico, em um mundo em constante transformação e cuja ameaça pode estar em qualquer lugar. The Last os Us não é somente uma série sobre o fim do mundo ou uma infestação de zumbis (que, a rigor, não é como os seres infectados pelo fungo Cordyceps são chamados na série), mas é uma grandiosa história sobre amor, lealdade e esperança.

A produção inteira é de encher os olhos e se você é fã do jogo vai conseguir saborear os easter eggs e cenas com a paz de quem sabe que seu game favorito foi muito bem cuidado ao ser transformado em série de televisão. Bella Ramsey e Pedro Pascal parecem ter nascido para interpretar Ellie e Joel, brilhando em todas as cenas e dominando por completo seus personagens. As tramas pensadas para além do game — como o belíssimo terceiro episódio, “The Long, Long Time”, onde Nick Offerman e Murray Bartlett — são capazes de trazer ainda mais nuances para uma história repleta deles.

The Mandalorian (terceira temporada), Disney+

Por Thay

Lançada no final de 2019 no Disney+, The Mandalorian continua como um dos maiores sucessos do serviço de streaming do Mickey. Em sua terceira temporada, acompanhamos a expansão da mitologia mandaloriana, mostrando que o título da série, em si, já não foca somente no caçador de recompensas Din Djarin (Pedro Pascal), mas nos mandalorianos como um todo. Ainda que seja interessante assistir os clãs de Mandalore se reunindo para um bem maior, o que transformou The Mandalorian em algo imenso foi, justamente, a construção da adorável relação entre Din Djarin e Grogu, carinhosamente apelidado pelos fãs de Baby Yoda antes de seu nome ser revelado.

Claro que o fato de focar em outros personagens que não Din Djarin não apaga o brilho da série, que continua a entrega cenas incríveis de ação e visuais belíssimos, mas fica sempre aquela vontade de vermos mais da relação entre o mandaloriano e Grogu, e o que tudo isso significa para o universo de Star Wars. A terceira temporada nos trouxe mais da princesa mandaloriana Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) e sua ânsia de restaurar Mandalore à sua antiga graça, mas nada é o que parece ser — principalmente com a Nova República ignorando sumariamente os perigos deixados pelo Império, principalmente em figuras como Moff Gideon (Giancarlo Esposito).

Para saber mais: The Mandalorian: esse é o caminho;

The Marvelous Mrs. Maisel (última temporada), Prime Video

Por Rafaela

Com um final tão bonito, a quinta e última temporada de The Marvelous Mrs. Maisel começa revelando que a Mrs. Maisel (Rachel Brosnahan) conseguiu alcançar o sucesso e se tornou uma lenda no ramo do stand-up comedy. Dessa forma, a grande questão que a série responde é: como ela conquistou esse reconhecimento? Ao longo dos episódios, a série responde essa pergunta.

Uma das coisas que mais gostei foi que os episódios apresentam vislumbres do futuro de Midge Maisel, sua agente Susie Myerson (Alex Borstein) e outros personagens, mostrando as consequências do sucesso na vida da protagonista, assim como de todos que a cercam.

Para saber mais: The Marvelous Mrs. Maisel: até onde mulheres ambiciosas podem chegar?; The Marvelous Mrs. Maisel, segunda temporada; The Marvelous Mrs. Maisel

Todas as Flores, Globoplay

Por Bruna Scheifler

Experimentar novos formatos e modos de distribuição é o caminho óbvio para a produção audiovisual. Após a continuação de Verdades Secretas, Todas as Flores chega para testar a capacidade do Globoplay de produzir e distribuir novelas inéditas. Em um formato mais curto, com 85 capítulos e distribuição de cinco capítulos por semana, Todas as Flores conseguiu chamar a atenção e conquistar o público noveleiro, chegando a fazer barulho nas redes sociais e na rua. No enredo, a mocinha Maíra (Sophie Charlotte) chega a ser boazinha demais, enquanto as vilãs Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letícia Colin) brilham com a maldade, bom humor e complexidade das personagens. No plano de fundo, uma rede de tráfico humano, uma empresa à beira do colapso e romances picantes. Após uma primeira fase eletrizante, a segunda fase da novela falha em entregar uma vingança contundente de Maíra, cai em vícios e chega a ter furos constrangedores até para o noveleiro mais complacente. No saldo final, uma novela interessante, divertida e, embora às vezes frustrante.

Para saber mais: Afinal, o que Todas As Flores tem?

Vai na Fé, Globo

Por Bruna Scheifler

Novela na TV aberta ainda pode fazer sucesso? Essa pergunta é uma constante no entretenimento brasileiro, mas de tempos em tempos um sucesso renova o fôlego dos noveleiros. Esse foi o caso de Vai na Fé, novela das 19h da Globo. O objetivo da emissora era se aproximar de um público crescente, os evangélicos, ao mesmo tempo em que ampliava a diversidade de raça e mantinha a audiência das classes mais baixas. Para isso, o enredo de Rosane Svartman foi certeiro.

Vai na Fé mostra a história de uma ex-funkeira, Sol (Sheron Menezzes), que mesmo seguindo um caminho recatado e religioso, precisa voltar a dançar para sustentar a família. Com esse enredo vemos diversas faces do Brasil, inclusive as que não estamos acostumados a assistir na TV. Apesar do foco na fé evangélica, Vai na Fé inclui e mostra respeito às demais religiões, com cenas de religiões de matriz africana inéditas nesse contexto. Também surpreende ao contar e respeitar a história do funk no Brasil. Ao longo de 179 capítulos, a novela aborda racismo, violência contra a mulher e desigualdade. Isso tudo com um apelo popular, já que a trama despertou curiosidade, momentos emocionantes e reviravoltas. Isso sem falar em personagens cativantes, como a complexa Lumiar de Carolina Dieckmann e a divertida Kate Cristina, da revelação Clara Moneke. Há, ainda, o núcleo de Lui Lorenzo (José Loreto), com a brilhante presença de Renata Sorrah, que honra a TV brasileira com seus comentários, e de músicas que caíram no gosto popular.

O deslize fica por conta da reviravolta conservadora na emissora que ocultou beijos entre casais do mesmo sexo, deixando algumas tramas até confusas devido aos sucessivos cortes. No saldo final, apesar dessa infeliz decisão e de decisões questionáveis na reta final, Vai na Fé conquistou o público e mostrou que novela ainda tem espaço no Brasil.

Vale o Escrito, Globoplay

Por Rafaela

 

Vale o Escrito estreou recentemente no Globoplay, uma série documental, idealizada pelo jornalista Fellipe Awi, que mostra a história do jogo do bicho no Rio de Janeiro, abordando sua relação com o Carnaval carioca e com o  assassinato da vereadora Marielle Franco.

Com depoimentos inéditos de bicheiros, historiadores, jornalistas e carnavalescos, que enriquecem ainda mais a narrativa, a série se concentra nos conflitos internos que permeiam algumas das principais famílias de bicheiros, com foco nas disputas na família Garcia. Destacando a guerra entre as irmãs gêmeas Shanna e Tamara, que travam uma guerra pela herança deixada após o assassinato do bicheiro Maninho, pai das duas. Além disso, a trama mostra a disputa com a família Andrade, revelando uma complexa teia de violência e autodestruição.

Yellowjackets (segunda temporada), Paramount

Por Amanda Guimarães

Yellowjackets, sem dúvidas, se beneficiou bastante do resgate do “modelo antigo” de exibição de séries. Com um episódio lançado a cada semana em um período de dois meses, a história de Ashley Lyle e Brat Nickerson cresceu com base no boca a boca, de modo que o lançamento do seu segundo ano foi cercado de expectativas. Porém, assim como todo produto de nicho que fura a bolha para o qual foi pensado, acabou atraindo um público pouco acostumado às convenções do horror e às suas possibilidades discursivas. Assim, este público passou a encará-la como uma trama de mistério, o que é um equívoco. Isso porque desde a cena de abertura do piloto nós já sabemos o que aconteceu. Logo, o que interessa é o trajeto. A pergunta a ser respondida é “como?” e não “o que?”. Felizmente, Lyle e Nickerson sabem disso e não têm interesse em segurar revelações importantes para o andamento da história somente para receber atenção e manter o público no escuro.

Assim, a segunda temporada traz avanços importantes relacionados aos 18 meses que as garotas do time de futebol feminino passaram perdidas na selva canadense. Principalmente, ela aborda em maior profundidade as dinâmicas de poder do grupo, mostrando uma alternância que acontece de forma rápida e de acordo com necessidades pontuais, algo que é coerente com adolescentes e os microcosmos normalmente habitados por essas personagens. Portanto, coisas como a identidade da Antler Queen, na verdade, são completamente desimportantes para a narrativa, visto que ela sequer deve ser entendida como um indivíduo, mas sim como um subterfúgio importante para a sobrevivência. Além disso, se voltamos a nossa atenção para o presente das yellowjackets, também existem alguns avanços narrativos importantes e nós começamos a entender mais profundamente os seus traumas, especialmente quando se fala a respeito de Natalie (Juliette Lewis/Sophie Thatcher) e Lottie (Simone Kessell/Courtney Eaton), duas personagens cuja versão adulta ganhou mais tempo de tela na segunda temporada.

Portanto, mesmo que o capítulo final tenha sido bastante apressado em resolver algumas pontas soltas, isso não chega a afetar o todo. Ashley Lyle e Brat Nickerson sabem deixar no ar as perguntas certas e, dessa vez, o que eles querem que a gente questione é para onde ir depois de perceber que o passado não pode mais funcionar como refúgio.

Para saber mais: A anti-amizade em Yellowjackets, Jovens Bruxas, Possuída e Garota Infernal; A segunda temporada de Yellowjackets e a (des)importância do mistério para a série