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Afinal, o que Todas As Flores tem?

Todas as Flores é uma novela produzida pelo Globoplay, plataforma on-demand da Rede Globo. Com 85 capítulos, dividido em duas temporadas, a novela foi criada e escrita por João Emanuel Carneiro, com direção artística de Carlos Araújo e foi exibida exclusivamente no streaming da emissora.

Muito já se foi dito sobre o sucesso da novela. Com estreia da primeira fase em 2022 e da segunda em 2023, o buzz de Todas As Flores foi sentido em todos os lugares, tornando-a febre na internet, mas também fora dela. Apesar disso, não é possível dizer que a novela foi inteiramente uma sucessão de acertos. Existiram muitos acertos e muitos erros (a segunda fase, por exemplo, decepcionou muita gente — eu, inclusive), e podemos especular o quanto desses erros foram apenas parte do percurso natural de uma novela ou o quanto disso está relacionado ao fato da produção ter sido voltada para o streaming.

Todas As Flores

Ainda estamos no começo do conceito de novela on-demand, isto é, sob demanda. Novela, por conceito, é um folhetim para ser assistido todos os dias. Isso significa ter a chamada “barriga” — cenas que não são tão importantes assim, mas que estão ali, seja para passar o tempo, seja para dar o tom da narrativa ou de determinado núcleo. Novelas foram feitas para que possamos perder um ou dois capítulos sem grandes perdas. Novela não é como uma série — e isso é muito importante, principalmente para quem é apaixonado por esse estilo de mídia.

Pode então uma novela de streaming funcionar? A resposta já foi dada: pode sim. Todas As Flores foi um sucesso bem maior do que o esperado, como disse o próprio autor e alguns atores. Não que eles não acreditassem na história ou nos personagens, mas ninguém sabia o que esperar de uma novela que seria exibida em um serviço de streaming pago. Ao Jornal Extra, Regina Casé disse:

“No quarto ou quinto dia depois da estreia, começou uma obra no meu prédio. Tinha um pedreiro daqueles bem clássicos, com o corpo sujo do seu trabalho, baixinho, nordestino. Quando ele me viu, falou: ‘E aí, Zoé, a casa vai cair!’. Perguntei, com todo o meu preconceito: ‘Você tá vendo mesmo sendo no Globoplay?’. E ele disse: ‘Ué, é só R$ 14,90 (preço na época)’.”

Todas As Flores

Conheço muita gente (eu inclusa) que só assinou o Globoplay para assistir a novela protagonizada por Sophie Charlotte, Regina Casé e Letícia Colin. Mas o que Todas As Flores tem de tão especial que fez tanta gente gastar dinheiro em tempos tão complicados?

Me fiz essa pergunta várias vezes ao longo da novela. A sinopse da primeira novela de streaming de João Emanuel Carneiro descreve o enredo como um conto de fadas moderno. Maíra (Sophie Charlotte) foi criada pelo pai no interior de Goiás, acreditando que a mãe tivesse morrido. Uma mentira que seu pai contou para proteger Maíra de Zoé (Regina Casé), que não aceitou a filha que nasceu com deficiência visual.

Zoé reaparece um dia pedindo perdão à filha por tê-la abandonado. Logo descobrimos que Zoé não tem boas intenções com a visita inesperada. Nesse mesmo dia, com a “ajuda” de Zoé, o pai de Maíra morre. Sem desconfiar das más intenções da mãe, Maíra vai com ela para o Rio de Janeiro.  Lá ela conhece a irmã, que está sofrendo de leucemia, e logo encontra o amor de sua vida — que a gente descobre que é também o noivo de sua irmã. Isso tudo acontece no primeiro capitulo. Depois disso é uma mistura de histórias que envolvem bastante talaricagem, a arte de fazer perfumes, tráfico humano, planos de vingança e muito mais!

Todas As Flores

A novela foi divida em duas fases, decisão não tão acertada — novela não é série e o ritmo se perdeu. Sem contar que a segunda fase veio com enredos um pouco mais mirabolantes que podíamos aguentar. Como diria Gloria Perez, tem que saber voar, mas tudo também tem o seu limite. Todas As Flores também não tem um casal de protagonistas shippável. João Emanuel conseguiu escrever um dos piores mocinhos da década — e ele já havia criado o Jorginho (Cauã Reymond) de Avenida Brasil. Nem a cara ou o corpo de Humberto Carrão foram capazes de salvar o chato do Rafael. Ninguém torcia pelo casal Rafael e Maíra, salvo a personagem completamente secundária e injustiçada de Mariana Nunes.

Mas se o casal principal não é shippável e as histórias ficam a cada capítulo mais difíceis de engolir, o que Todas As Flores tem de especial? As vilãs.

Regina Casé foi o que primeiro me vendeu a novela. Regina Casé como vilã? Não tinha como dar errado. Zoé é dúbia, brega, esperta e, mais do que tudo, extremamente gostável. Assim como sua filha demoníaca, Vanessa, interpretada por Letícia Colin. A dupla, carinhosamente apelidadas de Gilmore Girls do mal por mim e outros querides do Twitter, proporcionaram as melhores cenas nas duas fases da novela: da relação conturbada entre mãe e filha, indo do ódio ao amor em minutos, com os diálogos impecáveis de João Emanuel Carneiro e as atuações igualmente brilhantes de Letícia e Regina.

E, embora a novela se perca do meio para o fim, a dupla do mal continuou consistente. Mesmo com seus planos de vingança absurdos, mocinhos chatos e núcleos de comédia que não provocam um riso sequer, Todas As Flores nos deu Zoé e Vanessa — e, só por isso, vale a pena ver os 85 capítulos. A Globo, inclusive, já fala em exibir a novela em rede nacional ainda em 2023: uma ótima opção para quem ainda não viu ou para quem quiser relembrar as atrocidades hilárias de Zoé e Vanessinha.

2 comentários

  1. Perfeita sua análise! Eu terminei de assistir já tem um tempo, mas ainda não tinha lido nenhuma crítica, dei de cara com a sua e combina muito com tudo que pensei sobre essa novela. O que salva realmente são as vilãs, o Rafael é muito sonso e chato meu Deus! kkkkkk
    Sem falar naquele nucleo da Gamboa, tãooo forçado e sem graça quase sempre, acho que a novela tinha uma temática muito interessante que podia ter sido melhor explorada, mas enfim contudo ela me prendeu bastante, assisti tudo muito rádido rs.
    Estou adorando suas análises um abraço.

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