Categorias: LITERATURA

Heartstopper: a jornada de amor e descoberta por Alice Oseman

É o início de um novo ano e Charlie Spring ainda cai em antigos hábitos, afinal eles são difíceis de mudar. Mas algo está diferente na escola e agora ele se senta ao lado de Nick Nelson. Eles não têm nada em comum: Charlie é magricelo, toca bateria e é um tanto inseguro depois de sofrer bullying no ano anterior por se assumir gay em um colégio só para meninos; Nick é alto e loiro, só anda com os garotos populares e joga no time de rúgbi do colégio.

Atenção: este texto contém spoilers

Heartstopper é o novo lançamento da Editora Seguinte, escrito e ilustrado por Alice Oseman, publicado originalmente de forma gratuita em plataformas digitais de histórias em quadrinhos. O projeto ganhou tanta notoriedade que não demorou a ser publicado de forma impressa no Reino Unido e em diversos países. Heartstopper conta a história de Charlie e Nick, dois adolescentes que estudam no mesmo colégio e que, a princípio não têm muito em comum, mas logo viram grandes amigos e, o mais especial, se descobrem tendo sentimentos um pelo outro.

Em 2014, Alice Oseman publicou o seu romance de estreia, Um Ano Solitário, que tem como protagonista Tori — ela tem um irmão, Charlie, que tem um relacionamento com Nick. Enquanto escrevia Um Ano Solitário, Alice sentiu a necessidade de explorar melhor a história de Nick e Charlie, imaginando como teria sido o início de tudo — e assim nasceu Heartstopper.

Heartstopper

O primeiro volume da série, Dois Garotos, Um Encontro, retrata a evolução da amizade entre Nick e Charlie e em como um descobre no outro um lugar seguro e saudável para serem eles mesmos. No início, Charlie se encontrava em segredo com Ben — que não quer se assumir e tem uma namorada — e acredita que é isso o que merece em termos de relacionamento. É com a ajuda de Nick que Charlie encontra coragem para enfrentar Ben e acabar com esse relacionamento que não era nada saudável, o que o faz perceber, no processo, que merece muito mais do que ser o namorado às escondidas de alguém.

Do outro lado, Nick se apega a Charlie rapidamente, não conseguindo imaginar os seus dias e finais de semana sem a presença de Charlie. A amizade dos dois desperta desconfiança nos amigos de ambos, mas demora muito até Nick perceber que a forma com que se importa com Charlie é diferente da forma como se relaciona com suas outras amizades. Enquanto isso, Charlie está convencido de que o pior aconteceu: ele está apaixonado por um garoto hétero.

Alice conta a história da amizade entre dois meninos que se sentem confortáveis em demonstrar carinho um pelo outro da melhor maneira possível. Independente da maneira como o relacionamento se desenrola, Charlie e Nick estão sempre tranquilos na presença um do outro, se tocando com carinho, e em nenhum momento parecem afetados pelos traços da masculinidade tóxica, tão comum em nossa sociedade. Nick e Charlie se abraçam, brincam na neve com Nellie, a cachorra de Nick, e se preocupam um com o outro. A amizade carinhosa também está presente no relacionamento de Charlie com seu melhor amigo, Tao, que se preocupa com o bem-estar do amigo depois de um ano sendo alvo de homofobia e bullying de garotos mais velhos que eles.

Heartstopper

Na festa de Harry, Nick é empurrado de encontro com Tara Jones, por quem era apaixonado quando criança e com quem teve o seu primeiro beijo. Seus amigos ainda acreditam que ele é apaixonado por ela apenas porque ela foi a última garota por quem Nick se interessou. Observando o cenário, Charlie se sente mais magoado ao ver Nick com uma garota, porém o que nenhum dos dois sabem é que Tara Jones está comprometida com Darcy, que estuda no mesmo colégio só para garotas que Tara. Depois de conversar com Tara, mais uma sementinha é plantada na cabeça de Nick sobre como ele se sente a respeito de Charlie. É então que ele vai de encontro a Charlie e quando é questionado se ele beijaria outras pessoas que não fossem meninas, eles se beijam no chão de um salão na festa.

No segundo volume, Minha Pessoa Favorita, temos mais espaço para conhecer Nick e entender a sua jornada de autodescoberta. Ele se enterra em horas de pesquisas na internet querendo saber como descobre quem é ou como se definir — algo que é identificável na história de muitas pessoas — e ele tem a ajuda de Charlie, que sempre respeita o seu tempo. Outro ponto positivo na narrativa de Alice é a maneira como a artista se preocupa com todas as entrelinhas de suas histórias. Em muitas narrativas vemos a falta de diálogo ser usada como ferramenta de intriga e para a chegada no clímax da trama, mas Alice se preocupa em mostrar como a comunicação e o diálogo aberto entre todos os personagens faz a diferença ao expressarmos como estamos nos sentimos e o que necessitamos naquele momento.

Dessa maneira, Nick também se apropria da sua história e de quem é ao se perceber bissexual, se sentindo mais confortável na própria pele e percebendo quem são as pessoas que ele quer do lado e que merecem sua atenção. Nick se aproxima mais das amizades de Charlie, que são mais receptivos a ele enquanto bissexual, e se reaproxima de Tara e Darcy, se afastando dos seus próprios amigos, que soltam comentários preconceituosos sem ligar para nada. Nick também se sente preparado para se assumir para a mãe, que o apoia e nos proporciona outro momento aconchegante e acolhedor, em que vemos os personagens vulneráveis e sendo sinceros um com o outro.

Heartstopper

Em Minha Pessoa Favorita, o universo do quadrinho também é expandido e temos contato com outros personagens como Ellie Argent, uma das amigas de Charlie que foi transferida para o colégio só de garotas após se assumir trans. O universo criado por Alice Oseman se expande e cada vez mais temos contato com outros personagens cujas histórias vão se entrelaçando com as outras narrativas da autora, criando o chamado “Osemanverse”.

Alice Oseman cria não apenas uma história aconchegante, mas um universo inteiro em que somos acolhidos e em que podemos nos refugiar, sabendo que seremos recebidos com ternura e delicadeza. Ela descreve sentimentos e momentos de uma forma única, porém comum, o que torna fácil para o leitor se identificar com as situações e experiências de seus personagens, sendo você millennial e ou da Geração Z.

A mensagem que fica ao final da leitura dos volumes 1 e 2 de Heartstopper é que uma vez que temos pessoas que nos fortalecem, nos aceitam e nos querem bem criamos um ambiente e um espaço em que estamos confortáveis para sermos quem somos e muito pouco pode nos abalar, porque estamos rodeados daqueles que nos amam e nos querem bem.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Companhia das Letras.


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