Categorias: LITERATURA

Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Literatura

Se existimos na internet há sete anos, o Valkirias não seria nada sem a literatura. Antes de sermos mulheres que escrevem, sempre fomos mulheres que leem e, portanto, navegamos pelos universos únicos e particulares de outras dezenas de mulheres que nos contam essas histórias. Por meio de suas tramas criadas em papel e tinta podemos deixar de ser nós mesmas por alguns momentos e nos transformar em uma miríade de personagens, visitando reinos reais ou inventados, invocando demônios ou salvando o mundo, nos apaixonando como se fosse a primeira vez e tendo o coração partido em centenas de pedacinhos. No Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Literatura você é convidado a participar de uma jornada por meio das páginas que ampliaram nossos horizontes e nos fizeram imaginar.

A Lenda da Caixa das Almas, de Paola Siviero

Por Ana Luíza

Segundo livro de Paola Siviero — o primeiro de uma série fantástica —, A Lenda da Caixa das Almas acompanha a jornada de Theo, um adolescente que, após perder o irmão gêmeo misteriosamente anos antes, descobre fazer parte de um clã que protege o mundo de criaturas malignas chamadas espectros. Assim, junto com seus animae, os lobos Nox e Lux, Theo inicia uma jornada que não apenas exige que ele abandone sua família e seu passado, mas também o seu nome, e se introduza em um ambiente onde nem todos estão dispostos a recebê-lo de forma amigável.

Siviero faz um trabalho impecável ao construir um universo complexo e repleto de magia, que se mantém original mesmo quando a dicotômica disputa entre bem e mal poderia não ser suficiente para instigar o leitor. Ao contrário, o terror que assola o universo de A Lenda da Caixa das Almas apenas cresce à medida que a narrativa avança e é sentido por quem acompanha a história tanto quanto por aqueles que a vivem. Siviero não hesita em tornar as consequências da luta entre bem e mal realistas, por mais difíceis que elas sejam: personagens importantes ficam pelo caminho já no primeiro volume, o que faz com que as consequências recaiam com mais intensidade sobre aqueles que permanecem, e são os relacionamentos, no fim das contas, o que de mais importante resta a cada um deles — esses também construídos com extrema minúcia por parte da autora. Uma preciosidade realizada por mãos brasileiras. — Compre! 

Chuva de Papel, de Martha Batalha

Por Thay

Autora de A Vida Invisível de Eurídice Gusmão e Nunca Houve um Castelo, todos publicados pela Companhia das Letras, Martha Batalha veio para nos encantar novamente com um livro que poderia ser tanto uma carta de amor para o Rio de Janeiro quanto para a vida, caminhando ao redor de seu personagem principal, o repórter policial Joel. Após se colocar em uma situação impossível, Joel precisa encontrar forças para lidar com a rotina e acaba descobrindo uma história que o faz querer escrever novamente. Por meio das palavras de Martha Batalha, a vida de Joel ganha vida ao lado de Glória, mulher colocada em sua vida como um arranjo temporário, mas que, com a energia de quem nunca teve uma vida fácil, leva Joel por caminhos que ele acreditava estarem fechados para ele. Em pouco mais de duzentas páginas, acompanhamos a trajetória de Joel, Glória e de um Rio de Janeiro feito de recortes de jornal, passado e presente, com as cores fortes da vida como ela é.  — Compre! 

Leia mais: Chuva de Papel: “a vida como ela é” de Martha Batalha

Como Matei Minha Querida Família, de Bella Mackie

Por Amanda Guimarães

como matei minha querida família

Como Matei Minha Querida Família é um romance que se alimenta da raiva feminina. Protagonizado por Grace Bernard e narrado em primeira pessoa, ele rememora a infância pobre da protagonista e a elaboração do seu plano de vingança contra a sua família paterna, capitaneada por Simon Artemis. Apesar da temática, essa é uma obra que não se vale somente do horror e tem um senso de humor afiado, especialmente no que diz respeito às sequências de morte. Para Bella Mackie, cujo contato com true crime começou na infância, transformar os assassinatos em algo cômico foi uma forma de se desviar do torture pørn e de torná-los coerentes com o fato de que Grace não faz a menor ideia dos esforços envolvidos em tirar a vida de outra pessoa de uma maneira física e brutal.

Além dessas passagens, o humor também aparece na ironia ferina da narradora, que dá voz a uma série de “absurdos” a respeito das pessoas que a cercam. Sem poupar ninguém das suas reflexões ácidas, Grace é implacável e não se desculpa por ser dessa maneira, o que causa estranhamento em um primeiro momento porque é incomum encontrar anti-heroínas que sejam construídas dessa maneira. Em geral, existe algum evento trágico no passado desse tipo de personagem para justificar porque elas são como são.

Esses elementos contribuem para que Como Matei Minha Querida Família seja uma obra que segura um espelho diante do leitor e o força a olhar para si mesmo. Bella Mackie é uma herdeira direta do que mulheres como Julia Crouch e Gillian Flynn construíram no começo da década passada, mas ao mesmo tempo dá um passo adiante porque abre mão por completo da simpatia dos leitores. Grace é uma personagem que não quer ser gostada, algo que é coerente com toda a raiva que ela carrega dentro de si. De certo modo, isso acontece porque nós acompanhamos um fluxo de pensamentos sem filtros e livre de convenções sociais que é quase catártico. — Compre!

Leia mais: Como Matei Minha Querida Família: por que é tão bom ver mulheres se comportando tão mal?

Confusões do Primeiro Amor (Kieta Hatsukoi), de Wataru Hinekure e Aruko

Por Julie

Quase sempre, primeiros amores na adolescência envolvem confusões. Para o jovem Aoki, no entanto, as complicações são ainda piores. Tudo começa com a borracha que ele pega emprestado de Hashimoto, a garota por quem é apaixonado, e nota que há escrito o nome de Ida, outro menino de sua sala. A conclusão de Aoki é simples: Hashimoto é apaixonada por Ida. Com o coração partido, mas sem querer constrangê-la, Aoki iria devolver a borracha para a colega sem revelar que descobriu sua paixão secreta. No entanto, quando Aoki percebe que Ida o viu com a borracha, o garoto se atropela querendo proteger Hashimoto e diz que a borracha, na verdade, é dele. A conclusão de Ida segue o mesmo raciocínio da de Aoki: se o nome dele está na borracha de Aoki, então o garoto está apaixonado por ele.

O que Aoki imaginava que seria uma rejeição instantânea da parte de Ida mostra-se, na verdade, o possível início de um amor que nenhum dos dois imaginava. Entre mais mal entendidos e inúmeros dramas (todos quase sempre justificáveis) de Aoki, Confusões do Primeiro Amor nos conquista com uma história divertida e doce sobre uma relação inesperada que, no final, se revela apaixonante. — Compre!

Da Costela do Impossível, da Marcela Alves

Por Anna Carolina

Em poemas de linguagem muito bem trabalhada e cheios de imagens marcantes e cadência forte, a poeta e psicóloga Marcela Alves nos apresenta, em seu livro de estreia, a matéria da qual sua poesia é feita: sentimentos, reflexões e reflexos, concretudes e subjetividades que são extraídas pela criadora desta literatura memorável. Depois de retirada Da Costela do Impossível, a poesia de Marcela Alves se torna uma nova criatura com vida própria e que promete figurar entre a literatura de outras grandes poetas contemporâneas.

Leia mais: A origem da poesia de Marcela Alves

Escova de Dentes, de Cris Oliveira

Por Anna Carolina

A poeta Cris Oliveira oferece uma poética sagaz que brinca com as palavras em línguas diversas e desconstrói, constrói e reconstrói significados e sons que tornam sua obra única. Os temas dos poemas construídos com recursos e formas diversas vão da corriqueira e cotidiana Escova de Dentes até a particularidade das emoções e suas profundidades. — Compre!

Euforia, de Elin Cullhed 

Por Ana Luíza

Durante sua curta vida, a poeta, contista e romancista Sylvia Plath manteve diários que, após sua morte, permitiriam ao público o acesso privilegiado aos seus pensamentos, sendo posteriormente publicados em edições diversas, da qual Os Diários de Sylvia Plath: 1950-1962, publicada no Brasil em 2017, é, atualmente, a mais completa. Entre os 11 cadernos preenchidos por Plath ao longo da vida, no entanto, dois foram perdidos para sempre, destruídos por seu ex-marido, o também poeta Ted Hughes — ambos contendo registros do período mais próximo de sua morte, por suicídio, em 1963.

Euforia, da sueca Elin Cullhed, busca preencher essa lacuna a partir de um atento exame do trabalho de Plath, navegando por este que foi, também, o período mais prolífico de sua carreira, na qual escreveu alguns de seus poemas mais famosos, como “Ariel” e “Daddy”, e seu único romance, A Redoma de Vidro. Embora seja uma obra de ficção, Cullhed não se limita à catarse criativa de Plath: narrado pela própria Sylvia, Euforia vai além da escrita, compreendendo também suas versões como mãe e esposa, duas figuras que se mostram essenciais ao seu processo de criação, ainda que em frequente conflito com a vida criativa. Elin Cullhed dramatiza cenas que se entrelaçam ao trabalho da autora, imaginando inspirações e desvendando metáforas, traçando uma narrativa pungente e realista, repleta de gatilhos, sim, mas igualmente inesquecível. — Compre!

Happy Place, Emily Henry

Por Amanda Karolyne

E mais uma vez a Emily Henry veio com um romance que a gente precisava ler. Acredito que Emily tenha a energia do que seria a junção da Nora Ephron com a Jane Austen. Os romances dela sempre nos levam a enxergar algo a mais em nós mesmos, a nos resgatar. Dessa vez, Emily Henry nos levou ao seu lugar feliz com o lançamento de 2023, Happy Place (Lugar Feliz), em que acompanhamos a jornada dos noivos Harriet e Wyn, que estão separados, mas viajam pela ultima vez com o grupo de amigos e decidem não contar sobre o rompimento.

Lugar Feliz segue por um novo caminho, em que temos uma família de desajustados que se encontram um no outro, nesses amigos que a vida juntou. Então além de nos vermos na Harriet  que quer agradar a todos, e em Wyn que é a simpatia em pessoa, mas sofre uma depressão muito grande por não saber quem ele é de verdade. Também nos enxergamos, ou queremos nos enxergar, nos amigos deles dois. Essa atmosfera que Emily cria ao levar esse grupo de pessoas para o lugar feliz deles, que seria a casa de praia para onde eles sempre viajaram juntos, e manter todos eles nessa bolha nostálgica que a qualquer momento vai estourar com ressentimentos muito humanos, é maravilhosa. É também triste e angustiante, mas com a promessa de um final feliz e de muitos novos começos, como Emily sempre nos entrega.

Joana D’Arc, de Katherine J. Chen

Por Ana Luíza

Em sua leitura da história de Joana D’Arc (heroína francesa posteriormente canonizada pela Igreja Católica), Katherine J. Chen constrói uma Joana mais humana, diferente da versão santificada e distante com a qual estamos acostumadas. Vozes, visões e a fé que beira o fanatismo religioso são substituídas por questionamentos sobre o mundo que a cerca, uma personalidade destemida e temperamental, o interesse por batalhas e uma complexa relação com o catolicismo — o que, surpreendentemente, a torna muito mais sólida do que muitos relatos bibliográficos.

Katherine J. Chen demonstra que, antes da santa, existiu uma mulher em busca do próprio caminho, vivendo em tempos de guerra — um período, desnecessário dizer, brutal para qualquer mulher, algo de que Joana tinha plena consciência, porque via quem eram os verdadeiros sofredores em nome das guerras dos nobres — e que fez o melhor para se tornar quem gostaria de ser, a ponto de não ser subjugada nem mesmo por mãos humanas, provando que nem mesmo a fogueira e maldade seriam capazes de apagar seu nome da História. — Compre!

Lore Olympus Volume 3, de Rachel Smythe

Por Thay

O terceiro volume da premiada graphic novel de Rachel Smythe chegou ao Brasil pelo selo de HQ da Editora Suma e continua em sua jornada delicada ao recontar a lenda de Hades e Perséfone. Com as cores e traços característicos de Smythe, o terceiro volume nos conduz pelos sentimentos confusos de Perséfone, as reservas de Hades e todo um panteão de deuses ávidos pelas últimas novidades ou, como se diz, da última fofoca sobre o inesperado casal. A trama de Lore Olympus é desenvolvida com atenção por parte de Rachel Smythe, e a artista não apressa as coisas, construindo o relacionamento de Hades e Perséfone de maneira brilhante e cuidadosa, mesmo quando a trama envereda para temas espinhosos como abuso sexual. O reconto de Smythe para uma lenda tão sombria em sua essência, é delicado e singular, com cores e sensações que vão sempre encantar o leitor.  — Compre!

Leia mais: Lore Olympus Volume 3: a construção do amor no submundo

Mariposa Vermelha, de Fernanda Castro

Por Thay

Mariposa Vermelha é o primeiro romance de Fernanda Castro publicado pela Editora Suma e se tornou com facilidade uma das minhas leituras favoritas do ano. Aqui, acompanhamos a jornada de  Amarílis, uma jovem solitária e melancólica que vive na cidade de Fragrária, sob o domínio da República. Sabendo melhor do que ninguém o preço que se paga por usar magia, Amarílis tenta sufocar sua essência para passar despercebida, mas quando se depara com o homem que mudou a história de sua vida, ela não consegue se conter e faz o impensável: invoca um demônio. Tolú, o Antigo que atende ao chamado de Amarílis, não é um demônio qualquer e sua caminhada ao lado de Amarílis vai fazer todos tremem, principalmente os leitores de Mariposa Vermelha. Fernanda Castro cria um universo sombrio para o desabrochar de sua personagem e toda a trama é construída de maneira singular, com cuidado e muita criatividade. A escrita da autora nos leva pelos sentimentos conflituosos de Amarílis até desaguar em sua transformação impactante ao final. — Compre!

Leia mais: Mariposa Vermelha: vingança e magia por Fernanda Castro

Morada em Edição, de Priscilla Pinheiro

Por Anna Carolina

Morada em Edição pavimenta um chão com memórias, edifica as paredes com histórias, vivências e personagens literalmente familiares, com as quais quem lê pode facilmente se identificar. Por fim, Priscilla Pinheiro oferece o teto da poesia para construir um lar para o eu-lírico e no qual também passamos a habitar a partir da leitura, que transmite o conforto de chegar em casa, tirar os sapatos e se aconchegar, onde somos amados e sabemos que é seguro, ainda que nem sempre doce: o lar. — Compre!

Palavras que Aprendi com a Chuva, de Asha Lemmie

Por Thay

Palavras que Aprendi com a Chuva é o romance de estreia de Asha Lemmie e já mostrou a que veio: com quase 400 páginas, traduzidas para a edição da Darkside Books por Nina Rizzi, o livro narra a história de Nori, filha de uma nobre japonesa e um soldado negro estadunidense. O livro tem como cenário principal o Japão no pós-Segunda Guerra Mundial e temas como identidade, pertencimento e racismo permeiam toda a narrativa, visto que são tópicos intrínsecos à existência de Nori. Deixada pela mãe para viver com a avó abusiva, Nori só encontra algum alento quando Akira, seu meio irmão, também vai morar na mansão dos Kamiza. A partir de então, acompanhamos a trajetória de Nori desde a infância até a idade adulta, seus sonhos, dores e tristezas em um mundo que não a aceita por completo. Palavras que Aprendi com a Chuva é uma leitura cativante e envolvente, nos mantendo presos à narrativa e a busca de Nori por afeto e aceitação. — Compre!

Porém Bruxa, de Carol Chiovatto

Por Débora

Com uma nova edição lançada em 2023 pela editora Suma, Porém Bruxa, de Carol Chiovatto, é aquele livro que faz a gente se sentir em casa. Seja por se passar em São Paulo, com aquele jeitinho brasileiro que a gente ama, ou por sua personagem Ísis, que é gente como a gente — mas não tanto, afinal ela é uma bruxa que precisa evitar que forças sobrenaturais façam a maior bagunça na capital de SP.

Com personagens secundários cativantes, uma discussão super necessária e importante sobre intolerância religiosa e com um universo sobrenatural muito bem sedimentado, a leitura flui como água e volta de tempos em tempos a minha mente. Mal posso esperar pela continuação.— Compre!

Leia mais: Entre a magia e o caos de São Paulo: Porém Bruxa, de Carol Chiovatto, e a jornada de Ísis no combate ao sobrenatural e a intolerância religiosa

Revelação Brutal, de Louise Penny

Por Amanda Guimarães

Quando se fala a respeito de thrillers focados em detetives e investigações, o formato de whodunit pode ser considerado desgastado mesmo pelos apreciadores do horror. Isso porque ele já foi usado, reutilizado e reimaginado em diversos tipos de narrativa, dos clássicos literários de Agatha Christie e Arthur Conan Doyle aos filmes de Alfred Hitchcock e, porque não, no 8 Mulheres (8 Femmes, 2001) de François Ozon. Logo, persiste a impressão de que não existe muito a ser feito e o whodunit sacrifica aspectos narrativos importantes em prol de plot twists que “explodem a cabeça”.

Além disso, no contexto contemporâneo, no qual as figuras presentes na literatura de horror se tornaram mais quebradas e moralmente ambíguas, personagens incorruptíveis e quase semi-deuses têm perdido espaço. Assim, o sucesso da série de Louise Penny focada no inspetor Armand Gamache pode ser considerado surpreendente. Mas, ao mesmo tempo, a autora é astuta ao se desviar de diversos lugares comuns desse estilo de literatura, o que pode ser atribuído aos seus anos enquanto consumidora de tais narrativas. Entretanto, o maior trunfo de Penny é a sua maturidade. Ela, que começou a escrever após os 40 anos, sabe que não se pode abrir mão do desenvolvimento apenas para surpreender. Inclusive, diferente de outros autores, Louise não é adepta de pistas falsas ou distrações, tampouco de assassinos geniais e detetives brilhantes. O que nós encontramos nas suas páginas são pessoas possíveis, algo que pode ser ilustrado pela fala recorrente de Gamache que todo assassinato começa a partir de uma emoção mal resolvida e trata-se de um crime extremamente humano.

Em Revelação Brutal, Louise Penny retorna ao vilarejo de Three Pines, situado no Quebec. Isso pode ser considerado um acerto depois de É Proibido Matar, que se afasta de diversos personagens que conhecemos ao longo da série literária e acaba se tornando pouco interessante pela falta de carisma dos novos rostos. Neste retorno, Gamache e os membros da sua equipe investigam o assassinato de um homem de identidade desconhecida, algo intrigante em uma cidade articulada ao redor de uma praça e poucas ruas. O corpo foi descoberto no bistrô de Olivier, um ponto de encontro comum dos moradores e apreciado pela própria equipe da Sureté. Novamente, o assassino está entre aquelas pessoas simpáticas e acolhedoras. Porém, as coisas seguem um rumo diferente do que nos quatro livros anteriores porque ao fim da investigação, nós ainda não temos todas as respostas — algo que deve acontecer em Enterre Seus Mortos, com previsão de lançamento para 05 de janeiro de 2024.

Embora este não seja o melhor romance da saga de Armand Gamache, é uma obra cativante e capaz de provar que não existe um esgotamento no whodunit, mas sim um nível de acomodação por parte dos autores, que preferem se valer de uma estrutura pronta, com papéis bem definidos, a extrapolar o básico para contar uma história com a qual as pessoas possam se conectar. E é exatamente por preencher essa lacuna que Louise Penny conquistou todo o seu sucesso. — Compre!

Se Esse Rosto Fosse Meu, de Frances Cha

Por Thay

Se Esse Rosto Fosse Meu, lançado no Brasil pela Darkside Books com tradução de Aline Naomi, é o primeiro romance de Frances Cha e retira os óculos de lentes cor-de-rosa de quem romantiza a vida na Coreia do Sul. Em seu livro acompanhamos as vidas de quatro jovens mulheres sul-coreanas, as pressões estéticas e sociais a que são submetidas, e o que isso faz com cada uma delas. Kyuri trabalha como acompanhante em um bar de Seul, Miho é uma artista talentosa que cresceu em um orfanato, Ara é uma cabeleireira obcecada por um integrante de um grupo de k-pop e Wonna é recém-casada tentando engravidar. Durante as quase trezentas páginas de narrativa, vamos intercalando os pontos de vista das quatro mulheres, acompanhando seus sonhos se desfazendo enquanto elas tentam se reerguer, apoiando umas às outras. Se Esse Rosto Fosse Meu é um retrato cru de uma sociedade patriarcal e das pressões e expectativas impostas às mulheres na sociedade sul-coreana e até onde elas estão dispostas a ir para se encaixar. — Compre!

2 comentários

  1. “Se esse rosto fosse meu” também foi uma das minhas leituras favoritas do ano! Penso nele quase que diariamente

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