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Lore Olympus Volume 3: a construção do amor no submundo

A relação entre deuses do Olimpo e humanos sempre foi muito próxima: ao mesmo tempo que os deuses possuem qualidades e defeitos humanos, sentindo raiva, inveja e rancor, também compartilham do amor e, como boa parte da humanidade, adoram uma boa fofoca. E é por isso que todo o Olimpo e o Submundo não param de comentar sobre a aproximação de Hades e Perséfone, o Deus dos Mortos e a filha de Deméter. Ainda que todos tenham suas opiniões a respeito dessa inesperada união, os protagonistas de Lore Olympus ainda precisam aceitar o que sentem um pelo outro e resolver uma série de dinâmicas em suas vidas antes de partirem para um relacionamento de fato.

É dessa maneira que Rachel Smythe continua a narrativa de sua aclamada e premiada graphic novel, Lore Olympus: Histórias do Olimpo, lançada no Brasil pelo selo de HQ da Editora Suma. Com tradução de Érico Assis, o terceiro volume dessa trama apaixonante nos conduz pelos sentimentos confusos de Perséfone, as reservas de Hades e todo um panteão de deuses ávidos pelas últimas novidades. Desde que chegou ao Olimpo, Perséfone tem feito todo o possível para ser uma boa donzela, mas a atração que sente por Hades parece somente complicar sua vida, colocando em xeque todas as expectativas que não apenas sua mãe, Deméter, tem para a filha, mas de todos os deuses que a observam atentamente.

Perséfone também luta para entender o que de fato aconteceu a ela após o ataque de Apollo, e a realização de que foi de fato estuprada pelo deus é um capítulo doloroso de acompanhar. Ainda que seja feito em cores e por meio dos belos traços de Smythe, é possível sentir toda a dor da protagonista emanando das páginas dos quadrinhos enquanto ela aprende a lidar com o trauma que viveu. A dor é confusa e a isola dos demais, mas, aos poucos, Perséfone consegue se abrir com seus amigos como Artemis, Hecate e Eros. Os pequenos momentos compartilhados entre eles, com Artemis e seus rompantes de raiva, e Eros e todos os seus irmãos, são doces e divertidos, pavimentando o caminho para uma amizade duradoura. A mão de Smythe brilha nessas cenas, criando painéis repletos de vida e traços divertidos, mostrando como a artista é capaz de navegar por diferentes emoções em suas tramas sem deixar de lado o cerne que move a narrativa, que é dar nova vida ao conto de Hades e Perséfone.

Enquanto isso, Perséfone também tenta se manter firme quanto ao que sente por Hades, mas isso somente até Eros — e Afrodite — conseguirem ver com facilidade os sentimentos emanando da jovem deusa, afinal, não por acaso, Eros e Afrodite são divindades relacionadas ao amor. Mesmo que Perséfone tente lutar contra o que sente, a jovem não consegue deixar de pensar em Hades e de gostar de sua companhia, mesmo que o Deus do Submundo tenha voltado para seu conturbado relacionamento com Minte, uma ninfa que trabalha no Submundo e faz questão de demonstrar todo o amor que sente por Hades quando Perséfone está por perto. Com a pressão surgindo de todos os lados, tanto Perséfone quanto Hades lutam contra seus sentimentos, optando por caminhos relativamente mais seguros, mas que provocarão muito drama no futuro.

Não há nada que os dois possam fazer quanto ao destino que os espera, e a conclusão do Volume 3 deixa exatamente esse cliffhanger para o leitor lidar até a publicação do próximo compilado. A trama de Lore Olympus é desenvolvida com atenção por parte de Rachel Smythe, e a artista não apressa as coisas, construindo o relacionamento de Hades e Perséfone de maneira brilhante e cuidadosa. É fácil torcer pelo casal, e o leitor de fato ficará ansioso para vê-los juntos, mas ainda temos muito o que trilhar ao lado desses dois até o tão esperado momento. No terceiro volume da série a narrativa em torno do casal principal é aprofundada, mostrando a construção de uma inesperada amizade, mas sem deixar de lado os personagens que orbitam ao redor dos dois. Eu leria facilmente páginas e mais páginas de Perséfone interagindo com Eros e Artemis, ou de Hades sendo completamente bobo quando Perséfone está ao redor.

O trabalho de Rachel Smythe é rico e singular. Enquanto se propõe a contar com novas cores o mito de Hades e Perséfone, adiciona pitadas de sua própria versão dos fatos, com uma mitologia rica, uma arte detalhada e colorida (amo o fato de que cada personagem é representado por uma cor, o que torna o quadrinho uma miríade de cores belíssimas), além personagens complexos e um romance repleto de encontros e desencontros. Não é à toa que Lore Olympus é vencedora dos prêmios Eisner e Harvey, além de finalista do prêmio Hugo. Originalmente publicada na plataforma Webtoon, um sucesso completo, Lore Olympus reveste de luz e romance um mito sombrio, deliciando sua audiência com um relacionamento belo e delicado.

O exemplar foi cedido como cortesia pela Companhia das Letras.


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