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Troféu Valkirias de Melhores do Ano: TV

Entra ano, sai ano, e a cultura pop segue sendo nosso bote salva-vidas nos momentos em que precisamos desligar do mundo real e viver na ficção por uma horinha que seja. Não estamos mais em lockdown, mas os medos persistem e as atribulações da vida adulta seguem sem pausa, pedindo que a gente se refugie, um pouco mais, em universos fantásticos, comédias românticas e tudo o mais que confortar a alma. No Troféu Valkirias de Melhores do Ano: TV de 2022 torcemos, choramos e gritamos no conforto do nosso sofá enquanto tentávamos deixar as preocupações do lado de fora, pelo menos um pouquinho.

A League of Their Own (Primeira Temporada), Amazon Prime Video

Por Amanda Guimarães 

Baseada no filme de Penny Marshall, A League of Their Own expande as temáticas do longa e inclui no seu texto discussões bem feitas sobre racismo, LGBTfobia e machismo. Mas a série é principalmente sobre pertencimento e sobre como o esporte pode ser este lugar para as mulheres, além de abrir possibilidades que vão além de um casamento. Com delicadeza, humor e personagens cativantes, este original Amazon pode ter passado despercebido do grande público, mas merece ser lembrado em todas as listas que se propõe a celebrar as grandes produções de TV de 2022 porque consegue ser profundo, divertido e historicamente rico.

Para saber mais: A League of Their Own e a importância dos espaços de convivência LGBTQIA+

Andor, Disney+

Por Thay

Uma das melhores séries do universo Star Wars, Andor foi uma grata surpresa para os fãs da franquia. O que parecia somente mais um meio de ganhar alguns milhões (não que esse deixe de ser um objetivo, diga-se de passagem) dos fãs, Andor se mostra uma série original com um roteiro bem desenvolvido, storytelling elevado, além de personagens multifacetados interpretados por atores impecáveis. Diego Luna retorna como Cassian Andor, que já havíamos encontrado em Rogue One: Uma História de Star Wars, de 2016. Ainda que a audiência mais fiel saiba o desfecho da história de Cassian Andor, o que importa, aqui, é a jornada — e essa frase nunca fez tanto sentido. Andor é Star Wars em sua melhor forma, com sua essência resgatada e ampliada para além dos blockbusters do cinema. E é incrível.

Para saber mais: Rogue One: Uma História Star Wars

Blueming, iQiyi

Por Debora Theobald 

Em 2022, entrei de cabeça no mundo dos BLs, as produções Boys Love do mundo asiático e que contam histórias LGBT. Na Coreia do Sul, em especial, os dramas do gênero são em sua maioria de produção independente, o que faz as tramas serem compactas e contadas, geralmente em 8 episódios de 20 minutos cada. Dos que vi este ano e mais ficaram rondando meus pensamentos, Semantic Error e Blueming são campeões. Meus pensamentos sobre Semantic Error você pode ler aqui. Já sobre Bueming… como explicar a história de Cha Si Won (Kang Eun Bin) e Hyeong Da Un (Jo Hyuk Joon), tão intensa, cheia de encontros e descobertas e, sobretudo, sobre o florescer do amor, companheirismo e de si mesmo? São 11 episódios com um roteiro, que apesar de darem uma tropeçada lá pela metade, entregam uma história de uma sensibilidade tamanha que machuca e afaga ao mesmo tempo que é impossível não querer abraçar os personagens.

Si Won sempre ouviu de sua mãe que seu corpo era gordo demais e errado e, por isso, ele não seria amado e feliz, já que o pai dele a deixou e os filhos ficaram para que fossem alvos de todas as frustrações. O adolescente entrando na fase adulta que Si Won é reflete totalmente o que ele passa até hoje no ambiente familiar. Inseguro e fechado com seu verdadeiro eu dentro de uma concha, no exterior ele projeta uma áurea de confiança, popularidade e narcisismo. Tudo muda quando Da Un aparece e começa a chamar a atenção por sua beleza, gentileza e sorriso carismático. O desagrado de Si Won não se sustenta por muito tempo, e o sentimento de animosidade logo dá lugar a algo novo e assustador, na mesma medida que traz conforto e aconchego, dando coragem a ele de explorar através de sua arte a parte de si que sempre ficou as sombras. A partir daí nosso protagonista começa a encarar o que sempre o entristeceu para que, seguindo em frente, tenha a oportunidade de florescer, com uma versão que é ele mesmo mais do que nunca, ao lado de alguém que o compreende e apoia.

Recheado de momentos fofos, que dão aquele frio na barriga ao ver alguém se apaixonando pela primeira vez, com toda a insegurança, acanhamento e alegria, e uma discussão importante sobre identidade, relações com os pais, consigo mesmo e uma comunicação aberta com outros, Blueming é um must-watch.

Business Proposal, SBS/Netflix

Por Debora Theobald 

Não considero Business Proposal apenas a melhor comédia romântica deste ano, mas também dos últimos tempos. Com uma trama dinâmica, dividida em doze episódios, somos agraciados com clichês que brilham mais do que nunca nas interações do casal principal Shin Ha-ri (Kim Se-jeong) e Kang Tae-moo (Ahn Hyo-seop) e do casal secundário Jin Young-seo (Seol In-ah) e Cha Sung-hoon (Kim Min-kyu).

No entremeio de namoro de mentirinha, conflitos familiares, diferença de classes sociais, omissões e atuações nasce um turbilhão de sentimentos, que atinge em cheio Ha-ri e Tae-moo quando eles percebem que estão apaixonados. Com a mistura perfeita entre drama e comédia, o roteiro nunca perde a mão, seja pra abordar traumas de infância ou colocar os personagens em situações constrangedoras, que fariam qualquer um morrer de vergonha alheia – e essa é a melhor parte.

Com atores talentosos, que transmitem muito bem o âmago de seus personagens, Business Proposal é ousado, simplesmente por não ter medo de fazer romance ser, e parecer, um romance; não ter medo de pegar a melhor fórmula de uma comédia romântica e investir nela a fundo, sem tentar fugir ou mascarar os elementos para os espectadores. Se você ama romance, não pode sair deste ano sem ver essa obra-prima.

Para saber mais: Por que Business Proposal é a melhor comédia romântica dos últimos tempos

Cheer (Segunda Temporada), Netflix

Por Ana Zevedo

A primeira temporada de Cheer é sobre cheer mesmo, esse esporte 100% americano que nasceu como subcategoria (as líderes de torcida serviam mesmo para torcer para os meninos que jogavam futebol americano) e que hoje tem adeptos no mundo todo. A série documental da Netflix que seguiu dois times de cheer universitários fez tanto sucesso que os personagens — atletas reais — furaram a bolha de fama do esporte e foram propagados para a fama nacional e internacional. A segunda temporada era para continuar as histórias dos atletas porém um incidente fez com que o foco da série se transformasse.

Jerry Harris, um dos atletas mais carismáticos — tanto por sua história quanto por sua personalidade — declarou-se culpado em fevereiro de 2022 depois de uma acusação de receber pornografia infantil e se envolver em atos sexuais com um menor de idade. Assim, o documentário se transforma. Agora  é preciso saber como toda a comunidade vai lidar com esse fato. Como em qualquer outro esporte organizado, as alegações de abuso são muito mais comuns so que imaginamos. Os recentes casos de abuso na seleção olímpica de ginastica nos Estados Unidos são um exemplo disso. Em 2022, não existe mais tempo para esconder nada. Cheer escancara a dura realidade de como um esporte organizado pode causar danos mas também como esses podem ser superados.

Para saber mais: Cheer: O cheerleading como ferramenta de transformação

Chucky (Segunda Temporada), Star+

Por Isabela Reis

A franquia Brinquedo Assassino, que vem fazendo sucesso no gênero de terror desde 1988, ganhou mais uma camada de história com a estreia da série Chucky, em 2021. Com o humor afiado e o gore característico das outras produções, a história resgatou fãs do boneco assassino e conquistou um novo público, que se surpreendeu com a escrita perspicaz e moderna do texto. Don Mancini, o criador de toda a história de Chucky (Brad Dourif), retorna à segunda temporada com um enredo ainda mais insano, cheio de reviravoltas, provocações religiosas, situações absurdas e muito sangue — tudo o que compõe um bom trash. Jake (Zackary Arthur), Devon (Bjorgvin Arnarson) e Lexy (Alyvia Alyn Lind) retornam para a segunda leva de episódios carregando as cicatrizes da primeira temporada, mas sem muito tempo para curá-las, visto que seu maior inimigo está de volta com ainda mais segredos e sede de vingança.

Chucky nunca esquece da própria mitologia e sempre traz personagens dos filmes — sem se preocupar se os espectadores os conhecem ou não. Na última temporada, há o retorno de Nica Pierce (Fiona Dourif) e Andy Barclay (Alex Vincent), mas o grande destaque continua com Tiffany Valentine, brilhantemente interpretada por Jennifer Tilly desde A Noiva de Chucky (1998). Devon Sawa dá vida a seu terceiro personagem em Chucky, o que virou motivo de graça entre a produção e o fandom. A aparição de Glen e Glenda (Lachlan Watson) era muito esperada pelos fãs de O Filho de Chucky (2004) e gerou grandes momentos para a série.

Crescidinhos, Netflix

Por Rafaela Freitas

Em Crescidinhos, disponível na Netflix, encontrei minha fonte de fofura em 2022. Com 20 episódios, que variam entre 7 e 21 minutos, o programa mostra crianças pequenas indo cumprir tarefas do dia a dia sozinhas pela primeira vez, como ir ao supermercado, fazer um suco ou levar roupas para a lavanderia.

Durante as atividades, as crianças esquecem o que precisam fazer, caem no choro, ganham mimos de vendedores e vizinhos, em outras palavras, elas se comportam como crianças. Quando, de primeira, não cumprem suas tarefas, elas são estimuladas pelos pais a tentar de novo. Assim, os episódios são cheios de carinho, humor e, também, emoção, uma vez que as crianças são sinceras nas suas palavras e sentimentos.

Em Nome do Céu, Star+

Por Beatriz Romanello

Em Nome do Céu traz a história baseada em fatos reais de uma investigação de um caso de fanatismo religioso nos Estados Unidos. Estrelada por Andrew Garfield e Daisy Edgar-Jones, a minissérie escancara os limites da fé, o conservadorismo e como isso afeta as pessoas ao redor, especialmente mulheres, deixando de lado o mistério para trazer discussões sobre moralismo, religião e comunidades que se preocupam mais com aparências e a manutenção da ordem e dos papéis esperados de homens e mulheres.

Entrevista com o vampiro, AMC

Por Anna Carolina Ribeiro

Se a adaptação cinematográfica do livro de Anne Rice causou um furor e se tornou um clássico em sua versão dos anos 90, em que o vampiro Lestat de Lioncourt é interpretado por Tom Cruise e o recém-transformado Louis du Point do Lac é vivido por Brad Pitt, a versão em série do best-seller de Anne Rice tem tudo para se tornar um ícone do audiovisual. Na produção anterior, o erotismo leve deixado nas entrelinhas não permite que se crie uma história tão visceral e forte quanto a que se mostra na primeira temporada de Entrevista com o Vampiro, que vem abrindo uma série de conteúdos entrelaçados nomeados “Universo Imortal”, cuja próxima série a ser lançado será inspirado nos livros da coleção “A hora das Bruxas”, da mesma autora.

Na série, assim como no livro e no filme, Louis, vivido por Jacob Anderson, decide conceder novamente uma entrevista a Daniel Molloy, o jornalista que Eric Bogosian interpreta. Nas infinitas horas com o imortal, Daniel ouve Louis contando e mostrando sua trajetória desde os dias humanos, passando por sua transformação e por todos os altos e baixos de sua vida eterna. A relação abusiva que vive com Lestat, interpretado por Sam Reid — seu criador e amante — é retratada sem pudores e sem ressalvas. O carisma e a malícia de Lestat e seus truques ardilosos por si só não justificam o relacionamento conturbado e doentio que vive com Louis, mas o roteiro entrega a um personagem antes apenas dramático uma construção psicológica mais densa, que envolve a relação deste com as tensões raciais que viveu por ser um homem negro e os questionamentos relativos à sexualidade. As novas camadas, que inexistiam nas versões anteriores, aprofundam o personagem e a trama, e tornam ainda mais convincente a complexidade humana — ainda que as criaturas retratadas sejam seres sobrenaturais e imortais. Também a eternamente criança Claudia, vivida nos cinemas pela ainda jovem Kristen Dunst e, na série, por Bailey Bass, ganha mais e mais conflitos para sua personalidade e vai desenvolvendo a inteligência de uma mulher experiente, mesmo presa para sempre no corpo de uma pré-adolescente.

Deixando um gancho forte para a segunda temporada e mistérios gerados pela narrativa tendenciosa de Louis, Entrevista com Vampiro é uma das melhores produções do ano por renovar uma história já contada com mais complexidade, visuais e atuações carismáticas e convincentes e, principalmente, por não ter medo de ser queer – como todos os vampiros deveriam ser. Que seja ainda mais ousada na segunda temporada!

Falling Into Your Smile, Netflix

Por Debora Theobald 

Descobri esse c-drama graças ao um texto do Valkirias e logo de cara me encantei pela história de Tong Yao (Cheng Xiao), uma garota que é jogadora de e-sports nas horas vagas e está entre as primeiras posições do ranking nacional. Sua habilidade acaba atraindo a atenção da equipe profissional de Lu Si Cheng (Xu Kai), que a recruta após um de seus membros se aposentar.

Tong Yao é a primeira garota a jogar na liga profissional de e-sports e para concretizar tal feito ela enfrentar muitas adversidades: a falta de apoio dos seus pais, o desdém de seu ex-namorado e de toda a comunidade gamer, as confusões geradas pelas fãs que não gostam de ver uma mulher próxima aos jogadores e também a dificuldade em ganhar a confiança de seus colegas de time. Mas, ela é forte, decidida, teimosa e, sobretudo, autentica e realmente boa naquilo que faz, então não demora muito para derreter o coração de seus companheiros e ganhar a admiração até do sisudo e arrogante capitão da equipe, Si Cheng.

Uma comédia romântica que sabe valorizar a relação entre seus personagens, tornando praticamente todos eles carismáticos e perfeitos a sua própria maneira, desde a melhor amiga da protagonista até a dupla de amigos que está sempre de implicância, mas compartilha uma familiaridade absurda. Acima de tudo isso, a discussão proposta pelo c-drama em relação ao papel tóxico de fandoms e da resistência e misoginia que existe com mulheres ocupando espaços tipicamente masculinos dão um ótimo complemento a toda a trama despretensiosa.

Para saber mais: Falling Into Your Smile: entre jogos on-line e o jogo do amor

Harley Quinn (Terceira Temporada), HBO

Por Isabela Reis

Depois de duas temporadas de construção, o relacionamento de Harley (Kaley Cuoco) e Hera Venenosa (Lake Bell) é finalmente estabelecido. Mesmo com alguns tropeços no caminho devido a suas personalidades caóticas e as situações que as perseguem, as duas têm uma ótima cumplicidade baseada em amor e respeito. É óbvio quem carrega o título de personagem principal em Harley Quinn, mas Hera ganha um cuidado especial. Apesar de sua grande conexão com Harley, ela recebe atenção do texto para ter sua própria pessoa, que expõe suas inseguranças, desejos, ambições e falhas, fazendo com que qualquer noção de que Hera Venenosa é apenas um interesse amoroso caia por terra.

O estilo extravagante continua forte na animação, com muita violência, palavrões, cores brilhantes e o típico humor irreverente, que não poupou nem ao menos James Gunn, hoje o chefe da DC na TV e no cinema, e a própria Rainha Elizabeth II — que faleceu poucas semanas depois que Harley Quinn atirou sua versão cartunesca para fora do jato invisível da Mulher-Maravilha.

Para saber mais: Entre caos e emancipação: o romance de Harley Quinn e Poison Ivy; Mais uma emancipação e as diversas camadas em Harley Quinn, a série animada

Heartbreak High (Primeira Temporada), Netflix

Por Beatriz Romanello

Heartbreak High poderia ser mais uma série sobre adolescentes se descobrindo e se entendendo. Porém, o ponto de destaque é que nenhum dos personagens realmente se entende. Suas confusões emocionais e interpessoais os afastam de personalidades e trajetórias consolidadas, trazendo falhas e inseguranças à tona, ao ponto de não termos personagens favoritos ou que se salvam da intensidade da adolescência.

Heartstopper (Primeira Temporada), Netflix

Por Tati Alves

Sinto que 2022 foi o ano de Heartstopper. Desde a sua publicação, atingindo milhares de pessoas ao redor do mundo, saindo da literatura para a adaptação e viralizando nas redes sociais com o seu elenco encantador. A série virou o meu conforto pela maior parte do ano, mas o principal motivo pelo qual ela se torna meu favorito do ano não é apenas pelo enredo ou pelo elenco, mas por todo o conjunto de obra e principalmente por todas as pessoas envolvidas no processo de transformar o quadrinho em realidade.

O que faz de Heartstopper essa obra acolhedora e que nos dá um quentinho no coração, de ser gentil e que nos entende em níveis extraordinários foi a atenção que não apenas Alice Oseman investiu em escrever e desenvolver a obra original, mas de todas as pessoas envolvidas na frente e por trás das câmeras também terem suas vivências como pessoas LGBTQIA+ e saberem da importância dessa história se espalhar pelo mundo.

Para saber mais: Heartstopper: a jornada de amor e descoberta por Alice Oseman; Heartstopper: dois garotos, um encontro

House of the Dragon (Primeira Temporada), HBO

Por Ana Luíza

Primeiro spin-off de Game of Thrones, House of the Dragon adapta livremente o período que, no Universo de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, ficaria conhecido como Dança dos Dragões e tem como base o primeiro (e até então único) volume do livro Fogo e Sangue (no Brasil, publicado pelo selo Suma, da Companhia das Letras), que narra mais detalhadamente o conflito. Porque muitas são as pontas deixadas propositalmente pelo livro, a série encontra espaço para trabalhar criativamente para preencher as lacunas, construindo uma história que mantém a essência do material nos mínimos detalhes mesmo quando faz alterações que, de outro modo, poderiam ser afetar a narrativa.

É também com cuidado que showrunners, diretores e roteiristas trazem os personagens para a tela, personificando suas versões literárias nem sempre de maneira exata, mas muitas vezes melhor — como é o caso do Viserys Targaryen de Paddy Considine, que ganha maior complexidade à medida que a trama avança. O mesmo ocorre à Alicent Hightower (Emily Carey quando jovem, Olivia Cooke em sua versão adulta), que ganha mais nuances do que aquelas que lhe são atribuídas no livro. Nada disso é suficiente para que Alicent e seus seguidores ganhem maior simpatia do que sua enteada, Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock/Emma D’Arcy), mas tornam a história muito mais interessante, com zonas acinzentadas que tornam todos humanos acima de tudo. Em um mundo de dragões, caminhantes brancos e um trono feito de espadas, disputas políticas, relacionamentos e dramas familiares se sobressaem de maneira brilhante.

The Kardashians, Hulu

Por Yuu

Após vinte temporadas de Keeping Up With the Kardashians, a influente família encerrou o contrato com o canal E! e, em pouco tempo, anunciou o novo reality que as acompanharia, dessa vez pela plataforma de streaming Hulu: Kardashians, simplesmente. Distribuído na América latina pelo Star+, a proposta do programa é a mesma: mostrar os bastidores do clã em meios aos seus negócios milionários, traições, relacionamentos, e polêmicas diversas que apenas Kim, Kourtney, Khloé, Kendall, Kylie e Kris conseguem sustentar.

Adotando um estilo mais moderno, os novos episódios de Kardashians procuram dar ênfase às cinco irmãs e à matriarca como mulheres de negócios, sem deixar de apresentar as nuances das suas fraquezas, que se apresentam na forma de conflitos pessoais entre seus parceiros e repercussão negativa de atos e falas dentro ou fora de contexto. Embora a nova série apresente mais do mesmo, existe algo hipnotizante em acompanhar o clã Kardashian, seja pela necessidade de alienação, pelas referências, ou simplesmente porque apesar dos privilégios e dos absurdos, elas são humanas e, ao permitirem nossa entrada no núcleo familiar, elas acabam ganhando nossa simpatia quando mostram que, no fim do dia, fazem de tudo para proteger a família.

Para saber mais: Kardashians: uma história.

Manhãs de Setembro (Segunda Temporada), Amazon Prime Video

Por Tay Souza

A segunda temporada de Manhãs de Setembro, dirigida por Luiz Pinheiro, traz o aprofundamento e o amadurecimento das relações que foram apresentadas na primeira temporada, não apenas entre Cassandra (Liniker), Gersinho (Gustavo Coelho) e Cleide (Karine Teles), mas também entre outros personagens da série. Explicando determinadas questões como, por exemplo, a relação entre Cassandra e o pai, Lourenço (Seu Jorge), e as possíveis circunstâncias que levaram a mãe à abandoná-los.

Um dos pontos altos da série continua sendo o retrato da realidade brasileira, com a representação da informalidade, das dificuldades em torno do sustento de condições básicas de dignidade. A trilha sonora também continua magnífica, ao se relacionar de forma muito próxima com cada cena e situação apresentada pelo enredo.

Para saber mais: A familiaridade musical de manhãs de setembro

Moon Knight, Disney+

Por Thay

Moon Knight não precisou fazer muito esforço para me cativar: para além de colocar Oscar Isaac como protagonista, a série mergulha em uma mitologia que, até então, escapava ao universo expandido da Marvel, a egípcia. Some-se a isso o fato de a série possuir um enredo dinâmico e personagens cativantes e está pronta a receita para o sucesso. Com apenas seis episódios e poucos rumores a respeito de uma segunda temporada (até então, a produção foi prevista como uma minissérie), Moon Knight foi um sopro de ar fresco em um universo já saturado de heróis. Não que o Cavaleiro da Lua, em si, seja uma novidade, visto que ele está por aí, nos quadrinhos, desde 1975, mas o personagem foge um pouco dos heróis a que já estamos acostumados a acompanhar nos cinemas e televisão.

Além do trabalho impecável de Oscar Isaac dando vida e personalidades diferentes a pelo menos três personagens, temos a maravilhosa May Calamawy dando vida a Layla El-Faouly, que é tão inteligente quanto corajosa e incrível, e Ethan Hawke como Arthur Harrow em uma interpretação tão perfeitamente odiosa que a vontade de jogá-lo de um precipício é muito real. A série é divertida, intensa, lida com transtornos mentais e tem ares de A Múmia e O Retorno da Múmia, com Brendan Fraser e Rachel Weisz, não me lembre daquela pretensa sequência com Tom Cruise, simplesmente os melhores filmes já feito, então é a receita do sucesso.

Para saber mais: Cavaleiro da Lua e a representação do Egito na cultura pop

Paper Girls (Primeira Temporada), Amazon Prime Video

Por Tati Alves

Apesar de ter tido uma vida curta, Paper Girls foi uma surpresa incrível este ano. A história de quatro garotas que mal se conhecem se entrelaçam e se alteram completamente por causa de uma viagem no tempo. Um coming-of-age misturado com sci-fi mostra mais uma vez a força de adolescentes quando elas ainda estão entrando nessa fase da vida, um limbo entre a infância e segundos antes dos maiores questionamentos de suas vidas começarem a aparecer.

O paralelo entre a guerra silenciosa do tempo e o confronto delas com suas versões mais velhas mostra como viver é muito mais complexo do que antecipamos ou esperamos. Em poucos episódios, o universo e a narrativa da série é criado de uma forma que te prende e faz aqueles que gostam de sci-fi e coming-of-age se juntaram, e com certeza merecia ter mais tempo para consolidar seus telespectadores.

Phoenix Rising, HBO

Por Thay

Phoenix Rising vai exigir estômago de sua audiência por lidar com as histórias reais de sobreviventes de violência doméstica como a própria Evan Rachel Wood, voz e rosto do movimento que conseguiu mudar a legislação do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, a respeito da violência sofrida dentro de casa. A minissérie documental em duas partes acompanha a jornada de Evan Rachel Wood e demais mulheres que sofreram manipulação, violência física e mental, além de cárcere em alguns casos, nas mãos de seus parceiros, seu processo de cura e fortalecimento para lidar com o trauma vivido.

Evan, atriz e ativista, conta toda a sua experiência durante o relacionamento de anos com o cantor Marilyn Mason, dezoito anos mais velho do que ela. Na época em que se conheceram, Evan tinha somente 19 anos, enquanto Mason, com 37, a manipulou e afastou dos amigos e da família. Evan é uma sobrevivente de abuso e violência doméstica que decidiu usar de sua voz, visibilidade e história pessoal para ir além, lutando por justiça para ela e por todas as outras mulheres que não puderam ser ouvidas.

Phoenix Rising não se furta de mostrar a dor da atriz, assim como das outras mulheres com quem ela conversa, fazendo com que cada uma das vítimas de Mason, e de outros homens, possam retomar o controle da própria vida. The Phoenix Act é o resultado de todo o esforço de Evan mostrando na minissérie documental, e estende o estatuto de limitações em casos de violência doméstica de três a cinco anos.

Spy x Family, Crunchyroll

Por Julie Tsukada

Objetivo? Evitar que os países Westalis e Ostania, que vivem uma guerra fria há décadas, não voltem a iniciar conflitos armados. Como? Formando uma família falsa, matriculando uma criança no colégio Eden e ao frequentar os eventos de lá, investigar as reais intenções de um importante político de Ostania. É esta a missão do agente Twilight, o mais talentoso espião da organização secreta WISE, de Westalis, para garantir a paz mundial, e o início da família Forger, protagonista do anime Spy x Family, baseado no mangá de Tatsuya Endo.

Formada por conveniência, a família de Twilight — agora, assumindo a identidade Loid Forger, um médio psiquiatra — não é nada comum como ele imagina e assim como ele, também mantém suas verdadeiras identidades em segredo. A “filha”, Anya Forger, é uma criança telepata e anteriormente, foi cobaia de experimentos de uma organização desconhecida. Já a “mãe”, Yor, funcionária pública da prefeitura, também é a lendária assassina profissional Thorn Princess, contratada pela organização Garden para eliminar os criminosos traidores de Ostania. Como manter as aparências de normalidade, dentro e fora de casa, neste contexto? Definitivamente, não é uma missão fácil, mas trabalhando juntos (tanto conscientes como inconscientes dessa parceria), os Forger sempre salvam o dia — inclusive, os nossos.

Stranger Things (Quarta Temporada), Netflix

Por Ana Luíza

Mais uma vez, os irmãos Matt e Ross Duffer comprovaram que Stranger Things não foi o fenômeno de uma temporada só. Com aquela que talvez seja a temporada mais consistente desde a sua estreia, a série retorna com personagens mais maduros (embora ainda lidando com questões típicas da adolescência), que perderam muito em sua luta contra os monstros do Mundo Invertido, e já não olham com o mesmo otimismo para o mundo que os cerca. Mais do que isso, no entanto, é em sua homenagem ao cinema slasher e no aprofundamento da narrativa que, finalmente, entrega respostas importantes sobre o funcionamento do Mundo Invertido, sua criação e a relação com Eleven (Millie Bobby Brown) — quando brilha com mais força. A adição de Vecna (Jaime Campbell Bower) à trama, sobretudo, adiciona camadas de densidade jamais vistas na série, tornando-a mais complexa à medida que se encaminha para seu desfecho, e nunca menos maravilhosa de se acompanhar.

The Lord of the Rings: The Rings of Power, Amazon Prime Video

Por Thay

Você pode dizer que The Lord of the Rings: The Rings of Power não é o que J. R. R. Tolkien teria imaginado para a sua obra, mas eu não poderia me importar menos. A série da Amazon Prime Video me fez reencontrar a Terra Média e relembrar as sensações que tive quando li os livros de Tolkien pela primeira vez, aos treze anos, e depois quando assisti a cada um dos filmes no cinema — e isso basta para mim. A produção é grandiosa, de encher os olhos, e me entreteve por toda a duração de seus oito episódios. Adorei acompanhar a jovem e impetuosa Galadriel (Morfydd Clark), tão diferente de sua versão anteriormente apresentada, assim como Elrond (Robert Aramayo) e sua amizade com Durin (Owain Arthur). As tramas envolvendo Arondir (Ismael Cruz Cordova) e Bronwyn (Nazanin Boniadi) encheram meu coração, enquanto vozes da minha cabeça — e muitas pistas descaradas durante os episódios — me diziam para não me iludir com Halbrand (Charlie Vickers). E está tudo bem.

The Marvelous Mrs. Maisel (Quarta Temporada), Amazon Prime Video

Por Ana Luíza

Anunciada como a penúltima temporada de The Marvelous Mrs. Maisel, o quarto ano da série dá continuidade aos eventos ocorridos em seu terceiro ano, quando Midge (Rachel Brosnahan) é inesperadamente excluída da turnê de Shy Baldwin (Leroy McClain). O que se segue a esse período é um processo de desencantamento, no qual Midge precisa lidar com a frustração de ter chegado muito longe, mas não ter alcançado o que realmente desejava, ao mesmo tempo em que navega pelo mundo como uma mulher divorciada, filha e mãe. Amy Sherman-Palladino continua a abordar temas como amor e solidão, mas agora também adiciona a inevitável passagem do tempo e a morte, que confronta não apenas Midge (e certamente confrontará novamente no futuro), mas toda a sua família. Se esse definitivamente não é o melhor momento de Midge Maisel (e as verdades ditas por Lenny Bruce (Luke Kirby) no episódio que fecha a temporada não me deixa mentir), a série permanece como um interessantíssimo estudo de personagem, em que protagonista e coadjuvantes têm tempo suficiente para mostrar quem verdadeiramente são.

The Sandman (Primeira Temporada), Netflix

Por Thay

A adaptação para os meios visuais de Sandman, aclamada obra de Neil Gaiman, vem sendo um desejo dos fãs há décadas. Um desejo recheado de tremores, vale frisar, pois não é qualquer adaptação que conseguiria captar a mística que envolve a graphic novel, cultuada e amada há tanto tempo. E foi assim, acompanhada por muita empolgação e ansiedade, que a primeira temporada de The Sandman chegou à Netflix em agosto desse ano. Recheada de atores para lá de renomados, os onze episódios conseguem navegar muito bem pela mística impressa nos quadrinhos, transportando algumas cenas ipsis litteris do papel para a televisão. The Sandman é grandiosa, imponente, e uma das melhores produções da Netflix em muito tempo — e, talvez por isso, por ser tão fora da curva, chegou até a correr o risco de ficar sem a renovação para a segunda temporada.

Tom Sturridge faz um trabalho impecável dando vida a Morpheus, mas não somente. Todos os atores escalados para participar de The Sandman parecem saídos direto dos quadrinhos de Neil Gaiman, tornando a experiência de assistir à série ainda mais empolgante. Destaque mais do que merecido para Boyd Holbrook como Coríntio, Mason Alexander Park como Desejo, Kirby Howell-Baptiste como a Morte e Gwendoline Christie interpretando Lúcifer. É difícil escolher um episódio favorito, mas “The Sound of Her Wings”, o sexto, consegue emocionar e encantar em partes iguais.

The Staircase, HBO

Por Ana Luíza

Em dezembro de 2001, o escritor Michael Peterson encontrou sua esposa, Kathleen, morta na escada da casa onde viviam — ao menos, essa foi a história contada por Michael, que a partir de então tornou-se o protagonista de uma investigação de possível assassinato. Ocorrido em meados de 2004, seu julgamento foi inteiramente documentado e posteriormente transformado no documentário The Staircase que, em 2022, serviria como base para a versão ficcionalizada do caso. Com Colin Firth e Toni Collette nos papéis principais, a minissérie busca reencenar as muitas possibilidades propostas pelo caso (Kathleen teria caído sozinha? Teria sido empurrada por Michael? Poderia ter sido atacada por uma coruja?), ao mesmo tempo em que destrincha o dia a dia familiar dos Peterson. Os realizadores do documentário eventualmente também ganham seu espaço, à medida que se tornam mais envolvidos com o caso e as pessoas nele envolvidas.

O desfecho não é um spoiler: depois de passar alguns anos na cadeia, Peterson foi solto porque, em nova avaliação, provou-se que as evidências obtidas não eram suficientemente esclarecedoras para provar nenhuma das teorias sobre o crime. The Staircase oferece muitas possibilidades e todas, por mais absurdas, parecem válidas quando vistas na tela — em um mundo tão ambíguo quanto o nosso, a verdade é que a minissérie apenas prova que qualquer coisa é possível quando falamos em true crime.

Todas as Flores, Globoplay

Por Ana Zevedo

João Emanuel Carneiro está muito vivo e passa muito bem. O autor da sensação Avenida Brasil (2012) passou por algumas derrapadas depois do sucesso de Nina e Carminha, mas esse ano ele se redimiu com todos que acreditam e amam o gênero novela. Todas as Flores só não veio para juntar todas as tribos porque é uma novela exclusiva GloboPlay. De qualquer modo, é a nova sensação dos noveleiros porque agrada os tradicionalistas e os que gostam de novidade. Tem um elenco impecável, vilã descompensada, vilã dúbia e lógico, uma mocinha que não deita e que vai buscar sua vingança custe o que custar (é uma novela de JEC no final das contas). A trama é super amarrada, os núcleos paralelos não ficam sobrando, os diálogos são naturais e interessantes.

Fazia tempo que uma produção — nacional ou gringa — me pegava tanto quanto Todas as Flores me pegou. Com cinco capítulos semanais, é difícil se segurar para não assistir tudo de uma vez só. A primeira temporada termina agora em dezembro e só vamos saber como vai ser a vingança de Maíra depois do Big Brother Brasil. Difícil vai ser aguentar até la. Enquanto isso eu sei que vou ficar no Twitter discutindo cada cena dessa obra prima de João Emanuel Carneiro.

Wandinha (Primeira Temporada), Netflix

Por Amanda Guimarães 

A Família Addams é um ícone da cultura pop pelo menos desde a década de 1990, na qual o primeiro longa-metragem a respeito das tirinhas de Charles Addams chegou às telonas. Assim, existiam alguns desafios em adaptá-la para uma linguagem mais atual e capaz de dialogar com a geração Z — e eles foram brilhantemente contornados neste original Netflix.

O tom de mistério, quando aliado ao humor sombrio de Wandinha, torna a produção cativante e daquelas dignas de uma maratona intensa. E é impossível falar da série sem elogiar a brilhante atuação de Jenna Ortega, que merece pelo menos uma indicação aos principais prêmios de TV de 2023.

Westworld (Quarta Temporada), HBO

Por Thay

É com tristeza que escrevo sobre a quarta temporada de Westworld, visto que a HBO decidiu cancelar a série sem deixar que ela tenha um final digno de toda a sua jornada. A série deu uma escorregada fenomenal em seu terceiro ano, mas voltou a acertar o tom com os episódios liberados em 2022, e é uma pena que não saberemos o que o novo mundo de Dolores (Evan Rachel Wood) nos entregaria. O quarto ano da série foi capaz de reacender a chama da curiosidade em seus fãs e eu queria muito, mas muito mesmo, saber o que aconteceria com todos os personagens que acompanhamos desde a estreia da série em 2016.

Ainda que a série tenha se perdido em alguns momentos com muitas sobreposições de linhas do tempo e dramas paralelos, Westworld era ótima no que se propunha desde o início: explorar as diferentes camadas da humanidade por meio de seus anfitriões robóticos. A quarta temporada trouxe de volta aquele elemento de mistério que foi capaz de costurar todas as narrativas na primeira temporada, auxiliada pelo salto temporal que a afastou de toda a confusão deixada ao final da terceira temporada. A série é uma distopia maravilhosa e é uma tristeza imensa me despedir de maneira tão precipitada de personagens como Maeve (Thandiwe Newton), a minha favorita para sempre, e, é claro, Dolores, sem a qual não haveria nenhum labirinto que percorrer.

Para saber mais: Westworld e a complexidade da existência humana

Yellowjackets (Primeira Temporada), Showtime

Por Amanda Guimarães 

Um time de futebol feminino perdido na selva canadense após um acidente aéreo é o ponto de partida para uma série de discussões sobre as relações femininas e também sobre o papel social das mulheres. Além disso, Yellowjackets nos faz pensar sobre a forma como fomos ensinadas a domesticar a nossa raiva para caber nos moldes que nos foram impostos ao longo da vida. Embora tudo isso já seja suficiente para justificar a sua inclusão em qualquer lista de Melhores do Ano, é preciso deixar claro que a produção da Showtime articula o horror com eficiência se apoderando de coisas indigestas e encontrando o seu terreno mais prolífico ao mergulhar no interior de mulheres marcadas pelo trauma.

Para saber mais: A anti-amizade em Yellowjackets, Jovens Bruxas, Possuída e Garota Infernal

Young Royals (Segunda temporada), Netflix

Por Anna Carolina Ribeiro

As mãos de mulheres continuam nos roteiros e direção da série adolescente, trazendo delicadeza a cada detalhe da produção sueca disponível na Netflix. Agora, o príncipe Wilhem, vivido por Edvin Ryding, precisa lidar com o dilema com que foi deixado no final da temporada anterior: assumir a relação construída com Simon, intepretado por Omar Ruderg, ou seguir seus deveres da realeza? Com o falecimento de seu irmão mais velho, ainda na temporada anterior, o fardo de ser o próximo na linha de sucessão real acaba ficando ainda mais pesado. Entre o luto, os deveres monárquicos e a paixão por Simon, que tenta seguir a vida sem o príncipe, Wilhem passa a lidar também com a competitividade indireta do primo ambicioso, antagonista da temporada anterior e que continua sendo fonte de conflitos. Até as motivações de August, intepretado por Malte Gardinger, e problemas do personagem que poderia ser o vilão da série são delicadamente construídos, tornando tudo crível. Young Royals também gera identificação nos espectadores, já que, ainda que se trate de uma trama sobre a realeza, a ambientação, figurinos e caracterização dos personagens continua bem natural e leve, próxima da realidade de outros adolescentes.

A série segue com suas soluções realistas e cuidadosas: há diálogo e acerto entre os personagens, mesmo quando eles lidam com todas as questões complexas ligadas à família real, e até mesmo com os problemas típicos da adolescência. Os sentimentos têm tempo para se desenvolver e as ações se justificam com o passar dos fatos; e este diferencial faz com que todos os personagens, por mais humanos — e consequentemente falhos — que sejam, sejam compreendidos.