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Além de Podres de Ricos: 12 filmes asiático-americanos para conhecer

Em 2019, fiz o meu trabalho final da graduação sobre personagens femininas asiático-amarelas em filmes de Hollywood. Naquela época — diga-se: pouquíssimos anos atrás — era difícil listar de cabeça mais de cinco filmes que traziam a experiência asiático-americana como tema central, ou até mesmo longas que apresentavam personagens leste-asiáticos enquanto protagonistas, de uma forma não estereotipada.

Mas, em 2018, tivemos um marco com o lançamento de Podres de Ricos (ou Crazy Rich Asians, no título original). A comédia romântica não poderia ser mais clichê se não fosse pelo fato de se tratar do primeiro filme hollywoodiano da década de 2010 a trazer um elenco protagonizado por pessoas de ascendência asiática. Além de ser um filme que aborda questões da experiência e da identidade asiático-americana de um jeito leve (mas nada banal), Podres de Ricos abriu o caminho para outras produções protagonizadas, produzidas, dirigidas e escritas por outras pessoas asiático-americanas.

O filme não é apenas uma inspiração para uma audiência de pessoas asiático-americanas, mas também é uma referência e uma espécie de precursor para diversos atores, cineastas e produtores de origem asiática. A partir do sucesso de Podres de Ricos, foi possível perceber que há espaço no cinema e no streaming para narrativas sobre pessoas asiático-americanas.

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O ator Ke Huy Quan — indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel de Waymond em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo — declarou em entrevista à Variety que ver o elenco de Podres de Ricos reunido o fez querer voltar para as telas. O ator atuou quando criança em Indiana Jones (1984) e Goonies (1985), mas passou mais de 20 anos sem conseguir um papel de destaque por conta da falta de oportunidades para atores asiáticos em Hollywood.

“When ‘Crazy Rich Asians’ came out and I saw my fellow Asian actors up on the screen, I wanted to be up there with them.”

“Quando ‘Crazy Rich Asians’ foi lançado e eu vi meus colegas asiáticos na tela, eu queria estar lá com eles.”

Mas, além de Podres de Ricos, outros fatores também contribuíram para o boom de filmes asiático-americanos lançados nos últimos anos. Entre eles, não podemos deixar de citar a vitória de Parasita como Melhor Filme no Oscar de 2022. Apesar de não ser um filme asiático-americano, é inegável que um longa com um elenco, produção e direção sul-coreana ter levado quatro estatuetas da Academia (inclusive a categoria principal) trouxe ainda mais destaque para produções asiáticas.

O contexto histórico em que vivemos também contribui para essa explosão de filmes asiático-americanos. Durante muitos anos, várias pessoas amarelas nem mesmo se entendiam enquanto sujeitos racializados. No entanto, a partir dos anos 2000, e principalmente durante a última década, as discussões sobre diversidade e representação no audiovisual passaram a ser mais pautadas, tanto em meios acadêmicos, como em grupos organizados e, claro, nas redes sociais. Não é preciso de muito estudo para entender que não é legal ter um ator branco interpretando alguém de origem asiática de forma completamente estereotipada e caricata. Mas, foi só nos últimos anos que questões como o whitewashing e o yellowface começaram a ser questionadas.

A geração atual de asiático-americanos também parece mais interessada em compreender as questões que envolvem a própria identidade e o que significa ser uma pessoa de ascendência asiática fora da Ásia. Além do não pertencimento, os filmes asiático-americanos frequentemente abordam a questão do trauma geracional— não queremos decepcionar as expectativas dos nossos ancestrais que vieram de outro lugar para tentar uma nova vida no “Ocidente”, mas também não podemos ignorar as nossas próprias vontades e individualidades.

Para além de ver rostos asiáticos nas telas, também é interessante começar a perceber aspectos e questões da identidade asiático-americana como tema central das narrativas. Inclusive, alguns diretores e roteiristas asiáticos, como Lulu Wang (de A Despedida) e Lee Isaac Chung (de Minari) usaram fatos da própria vida como inspiração para os seus filmes, dando ainda mais veracidade para as produções. Quem é asiático-americano, nota essa autenticidade nos detalhes dos longas.

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Ah, e aqui o foco está nas produções estadunidenses! É claro que os filmes asiáticos (japoneses, sul-coreanos, chineses, taiwaneses, indianos, iranianos, entre muitos outros) apresentam narrativas e protagonistas asiáticos. Mas, no caso dos filmes asiático-americanos, o enfoque está majoritariamente na população diaspórica, nos conflitos de identidade e no que significa ser alguém de origem asiática em um país ocidental.

As indicações de filmes ainda são relativamente escassas, mas a é verdade que depois de tantas decepções, como Ghost in The Shell protagonizado por Scarlett Johansson, é um respiro saber que a lista de obras sobre a experiência asiático-americana dos últimos anos ultrapassa os dez títulos.  Que casos como o de Ke Huy Quan — que passou mais de 20 anos sem atuar por falta de oportunidades para atores e atrizes asiático-americanos — não voltem a acontecer. Ainda há inúmeras histórias para serem contadas e muitas pessoas ansiosas para assistir! Qual desses você vai ver primeiro?

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Daniel Kwan e Daniel Scheiner

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Essa lista não poderia começar de outra forma, se não com Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Se, a essa altura, você ainda não achou um tempinho para ver essa obra-prima, faça isso agora: o filme, que está entre os favoritos do Oscar de 2023, traz Michelle Yeoh como protagonista, em incontáveis versões.

A atriz malaia, que já participou de longa-metragens de inúmeros gêneros (ação, super-herói, comédia romântica), agora tem a chance de brilhar e mostrar toda a sua versatilidade de atuação. Além dela, o filme conta com atuações de Ke Huy Quan, Stephanie Hsu (ambos indicados para categorias de atuação no Oscar) Harry Shum Jr. e James Hong. O longa é dirigido pela dupla “The Daniels”: Daniel Kwan, de origem asiática, e Daniel Scheiner.

Não é possível resumir Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo a uma simples sinopse ou reduzi-lo à apenas um gênero. É um filme extraordinário para rir, chorar, se divertir e sentir tudo (em todo lugar e ao mesmo tempo)! As questões asiáticas estão intrínsecas no longa e vão desde a relação conflituosa entre duas gerações diferentes, até tributos ao cinema de Wong Kar-Wai!

Onde assistir: disponível na Apple TV, Amazon Prime Video, Google Play Filmes e TV e YouTube.

Columbus, Kogonada

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Columbus (2017) é um contraponto à loucura frenética de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. O longa de estreia do cineasta, roteirista e vídeo-ensaísta Kogonada é uma ótima indicação para os fãs de drama e para quem aprecia obras que se concentram no relacionamento entre personagens complexos. Apesar de não ser um filme que se concentra exclusivamente na identidade asiático-americana, as questões como trauma geracional, dificuldade de demonstrar emoções e o sentimento de não pertencer a nenhum lugar, estão entre os principais temas do longa.

Columbus é protagonizado por John Cho — no papel de Jim Lee, um asiático-americano que trabalha na Coreia do Sul como tradutor de literatura — e Hayley Lu Richardson — uma jovem que acabou de se formar e sonha em ser arquiteta. O filme é ótimo em aproximar diferentes culturas através de personagens bem escritos e uma direção sublime, onde a arquitetura de Columbus, Ohio, é praticamente um terceiro protagonista.

Onde assistir: atualmente, o filme não está disponível no streaming, mas é possível encontrá-lo nas locadoras (se é que me entendem).

A Vida Depois de Yang, Kogonada 

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E para quem gosta de filmes sci-fi que nos fazem refletir sobre a nossa existência e o que realmente nos torna humanos, seguimos a lista com A Vida Depois de Yang (2022). Também dirigido por Kogonada (de Columbus), o longa se passa no futuro e é protagonizado por Justin H. Min e Colin Farrell. A obra narra a história de uma família e a sua relação com o robô Yang (Justin H. Min), após seu desligamento de forma repentina. Além de abordar temáticas como o luto e a perda de um ente querido, A Vida Depois de Yang também questiona o que torna alguém asiático, mesmo que esse alguém seja um robô.

É um filme que transita entre o drama e a ficção-científica e traz inúmeros questionamentos — que muitas vezes não são respondidos pelo filme, mas instigam o espectador. A obra, apesar da duração enxuta, prova que é possível fazer filmes sobre asiáticos robôs, e ir além dos estereótipos.

Onde assistir: o filme não está disponível no streaming.

Meu Eterno Talvez, Nahnatchka Khan

Mas, se você curte comédias-românticas ou está procurando aquele filme feel good para ver numa tarde de domingo, vale a pena dar uma chance para Meu Eterno Talvez (2019). Com momentos divertidíssimos, o filme conta a história de dois amigos de infância que se reencontram após 15 anos separados: Sasha (Ali Wong), uma chefe de cozinha renomada, e Marcus (Randall Park), que tenta a vida como músico em São Francisco.

O longa tem a participação especial de Keanu Reeves como ele mesmo, o que deixa o filme ainda mais divertido. Apesar de ser recheado de clichês, Meu Eterno Talvez é uma das primeiras comédias hollywoodianas a ser protagonizada por atores asiático-americanos. E é uma delícia ver a fórmula clássica sendo utilizada para contar histórias de personagens mais diversos em um filme que consegue trazer representatividade de forma leve e engraçada.

Onde assistir: Netflix

Para Todos os Garotos que já Amei, Susan Johnson 

Inspirado na série de livros de Jenny Han, Para Todos os Garotos que já Amei (2018) é um sucesso da Netflix. A comédia-romântica se passa no ensino médio e conta a história da sonhadora e romântica Lara Jean Song Covey (Lana Condor) e as cartas que ela escreveu para todos os caras que amou. É a escolha perfeita para quem gosta de um filme young adult com personagens e trama cativantes.

Lara Jean é filha de mãe coreana e pai americano e a birracialidade e multiculturalidade da personagem são abordados nos três filmes que compõem a trilogia, desde a paixão da sua irmã mais nova pelo Yakult (chamada de iogurte coreano no longa) — que fez as vendas da bebida dispararem nos Estados Unidos após o lançamento do filme — até sua viagem para Coreia do Sul durante o terceiro longa da franquia. Tudo isso sem deixar os tropes que mais amamos nas comédias-românticas, como o fake dating, de lado.

E o melhor: se você gostar do primeiro filme, há mais dois títulos da sequência para assistir, Para Todos Garotos: P.S. Ainda Amo Você (2020) e Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre (2021).

Onde assistir: Netflix

Livrando a Cara, Alice Wu

Muitos atribuem Podres de Ricos como o primeiro filme de romance hollywoodiano protagonizado por asiático-americanos. No entanto, em 2004, tivemos o lançamento de Livrando a Cara. Além de protagonizado por atores asiático-americanos, o longa traz um casal de duas mulheres para a trama central.

O romance, que transita entre o drama e a comédia, é dirigido por Alice Wu e se tornou um clássico, tanto para asiático-americanos, como para a comunidade LGBTQIA+. A história central gira em torno de Wilhelmina ‘Wil’ Pang (Michelle Krusiec), uma garota chinesa-americana lésbica que não sabe como se assumir para sua mãe tradicional, que está grávida pela segunda vez.

A obra fala de conflitos geracionais, quebra de expectativas e o quanto as tradições culturais podem impactar na vida dos asiático-americanos, principalmente quando eles não seguem o que lhes é esperado. Livrando a Cara aborda todos esses temas complexos, mas ainda tem tempo para momentos leves, além de um romance apaixonante!

Onde assistir: Disponível para aluguel na Apple TV+.

Você Nem Imagina, Alice Wu

Da mesma diretora de Livrando a Cara, Você Nem Imagina (2020) é um coming-of-age que tem como protagonista Ellie Chu (Leah Lewis). Ela é uma garota sino-americana tímida que escreve cartas em nome de um atleta da escola e o ajuda a conquistar Aster Flores (Alexxis Lemire), uma menina por quem ela acaba se apaixonando também. Apesar do “triângulo amoroso”, o longa fala mais sobre descobrir quem você é do que qualquer outra coisa. Você Nem Imagina se equilibra entre a comédia e o drama e vai muito além dos clichês.

Onde assistir: Netflix

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Destin Cretton

E é claro que não poderia faltar uma indicação para os fãs de super-herói! Lançado pelos Estúdios Marvel em 2021, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis traz o primeiro filme com um super-herói asiático enquanto protagonista. A obra tem cenas de luta impecáveis, além de um elenco de peso, que inclui Michelle Yeoh e a lenda do cinema de Hong Kong, Tony Leung,Simu Liu e Awkwafina.

Com direção de Destin Cretton, a obra explora a cultura asiático-americana, sobretudo a chinesa, sem se tornar apenas mais um filme de artes marciais. É um filme que traz elementos da cultura chinesa, dramas familiares, além dos conflitos de uma pessoa de origem asiática que mora nos Estados Unidos.

Onde assistir: Disney+

Minari: Em Busca da Felicidade, Lee Isaac Chung

Se Podres de Ricos mostra uma família asiática no auge do prestígio e da riqueza, Minari: Em Busca da Felicidade (2020) é um drama que expõe as dificuldades do sonho americano para uma família de imigrantes sul-coreanos, durante a década de1980.

O longa funciona como uma obra semi-biográfica do diretor Lee Isaac Chung, que conquistou diversas nomeações ao Oscar, incluindo Melhor Ator para Steven Yeun e a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante para Youn Yuh-jung. O longa aborda questões como buscar uma vida melhor em novo lugar, conseguir se adaptar a um novo contexto, sem perder sua essência, e os contrastes entre as culturas: estadunidense e coreana.

Onde assistir: Disponível para aluguel no Apple TV+ e no Prime Video.

Tigertail, Alan Yang

Se você já viu todos os filmes desta lista ou está em busca de uma opção menos mainstream, dê uma chance para Tigertail (2020): o drama, dirigido por Alan Yang, tem Pin-Jui (Tzi Ma) como protagonista, um trabalhador taiwanês que se muda para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, mas que, durante esse processo, deixa uma grande paixão para trás.

Além dos dramas da imigração, o longa aborda o relacionamento conflituoso e as dificuldades de comunicação entre um pai e uma filha. Tigertail é uma ótima escolha para quem gosta de assistir filmes em outras línguas visto que tem cenas em inglês e outras em mandarim.

Onde assistir: Netflix

A Despedida, Lulu Wang

Definido pela diretora Lulu Wang como uma mentira real, A Despedida (2019) é um drama que retrata questões como o não-pertencimento, a diferença entre as culturas e a identidade asiático-americana a partir de uma narrativa original e de um roteiro cuidadoso e cheio de sensibilidade.

O longa acompanha a história de Billi Wang (Awkawfina), uma garota sino-americana que descobre que a sua avó tem um câncer terminal. No entanto, seguindo as tradições chinesas, a família opta por não comunicar a matriarca da sua doença e armam um casamento de mentira para que todos possam se despedir, sem que ela saiba que está doente.

Onde assistir: MUBI

Red: Crescer é Uma Fera, Domee Shi

Red: Crescer é Uma Fera é a escolha perfeita para quem gosta de animações. Da mesma diretora de Bao, Domee Shi, o longa é uma produção da Disney e da Pixar. Divertida e sensível, a animação segue os passos de uma garota canadense de origem chinesa de 13 anos que se transforma em um panda toda vez que fica com raiva. Além de ser uma alegoria às mudanças durante o período da adolescência, Red também aborda, com sutileza, questões como o trauma geracional e a correspondência às expectativas daqueles que vieram antes de nós, temas que estão diretamente relacionados à experiência asiático-americana. Além da narrativa envolvente, os personagens do longa são dublados por Sandra Oh, Rosalie Chiang e Maitreyi Ramakrishnan.

Onde assistir: Disney+