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Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre

O final da saga de Lara Jean (Lana Condor) chegou na Netflix em fevereiro, e todos os fãs da trilogia escrita por Jenny Han estavam curiosos para ver como o último livro seria transportado para as telas. Eu não li a trilogia, então só poderia imaginar qual seria o final de nossa heroína romântica e escritora de cartas, então o que encontrei em Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre não estava nem perto de cumprir com as minhas expectativas depois de ter caído de amores pelos dois filmes anteriores.

Atenção: este texto contém spoilers!

Aqui, encontramos Lara Jean no seu último ano no colégio e se preparando para a universidade. Sem a dúvida sobre quem LJ escolheria e a tensão do triângulo amoroso entre ela, John Ambrose (Jordan Fisher) e Peter Kavinsky (Noah Centineo), o novo vilão a se impor entre a protagonista e seu final feliz é a faculdade. Peter já foi aceito em Stanford com uma bolsa de estudos recebida devido ao seu desempenho no lacrosse, mas Lara Jean ainda aguarda sua carta de admissão que agora vem por meio de uma atualização no aplicativo da universidade. Os planos dela para seu futuro com Peter são claros e passam na tela como uma canção de Taylor Swift: o casal irá junto para Stanford, se formará, Lara Jean será uma escritora de sucesso (detalhe para o título de seu livro, Whoa, whoa, whoa), se casará com Peter e logo terão um bebê. Todo esse futuro doce e cor-de-rosa será assegurado somente caso ela seja aceita em Stanford — se isso não acontecer, tudo não passará de sonhos ruindo na distância.

Enquanto espera o resultado, Lara Jean e sua família aproveitam as férias de primavera para visitar a Coreia do Sul. Algumas das minhas cenas favoritas dos filmes da trilogia Para Todos os Garotos são justamente as de Lara Jean com suas irmãs Margot (Janel Parrish) e Kitty (Anna Cathcart). Claro que, os filmes sendo comédias românticas, o romance em si é parte importante e imprescindível da jornada, mas os momentos entre irmãs costumam sempre ter lugar no meu coração. Na viagem, as três passeiam por Seoul ao lado de seu pai, o Dr. Covey (John Corbett) e a nova integrante da família, a namorada e futura madrasta, Trina Rothschild (Sarayu Blue), enquanto relembram a falecida mãe das meninas, Eve Song Covey (Susie Lee). As cenas em Seoul enchem os olhos daqueles saudosos de poder andar por aí despreocupadamente, viajando e conhecendo lugares, então o gatilho é real quando as irmãs visitam o Greem Cafe, a Seoul Sky Tower e o Gwangjang Market.

No retorno dos Covey para os Estados Unidos, Peter aguarda Lara Jean, tão ansioso quanto ela, para saber o resultado de Stanford, e enquanto ele não duvida de que a namorada será aceita, ela já não tem tanta certeza disso e cria os piores cenários em sua cabeça a respeito do futuro dos dois. Pois não há nada pior para um namoro adolescente do que a faculdade, é claro. E o pior cenário de Lara Jean de fato se realiza e Stanford não a aceita, mesmo que Berkley, seu plano B e a uma hora de distância da faculdade de Peter, já tenha reservado uma vaga para ela no próximo ano. Mas como drama é a essência da vida de uma adolescente, Lara Jean se confunde no momento de responder a mensagem de Peter questionando sobre a faculdade e faz com que o namorado acredite que ela foi aceita em Stanford e o futuro é todo cor-de-rosa para eles. Como isso é um filme, é claro que Lara Jean não sabe como contar a verdade para Peter e enrola o namorado por algum tempo, deixando-o acreditar que ambos irão juntos para Stanford.

Meu problema com essa trama em específico é que ela é frágil e até mesmo desnecessária. Todo o Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre gira ao redor da escolha de Lara Jean a respeito da faculdade e como isso interferirá em seu relacionamento com Peter. São quase duas horas de filme em que Lara Jean reflete sobre suas opções, e a dúvida da protagonista só aumenta quando ela conhece a NYU durante uma viagem da escola e se apaixona pelo lugar apenas para descobrir que Kitty havia escondido dela que havia sido aceita por lá também. O problema, agora, é ainda maior, visto que Stanford e NYU estão a 44 horas de distância em uma viagem de carro, uma na costa oeste e a outra na costa leste dos Estados Unidos. Quando Lara Jean conta para Peter que optou pela NYU, ele parece compreensível a princípio, mas apenas para se mostrar egoísta logo na sequência, acusando a namorada de não escolher a ele.

Ok, Peter ainda tem questões de abandono com as quais lidar depois que seu pai deixou a família para se casar com outra mulher, mas ele deveria pensar no que é melhor para Lara Jean. E se o melhor para ela é estudar em Nova York, precisa acreditar que o amor entre eles será forte o suficiente para mantê-los juntos mesmo com a distância que os separam. Essa trama se torna um pouco cansativa quando começa a ser repetida dentro do filme. Em um primeiro momento a escolha de LJ pode até ecoar a escolha de Margot no primeiro longa da trilogia, quando ela termina com Josh para estudar na Escócia, mas nossa protagonista de comédia romântica não seria tão prática quanto a irmã. LJ acredita no amor, e como uma heroína de romance ela será fiel a esse sentimento até o último momento.

Por isso, quando Peter decide terminar com ela logo após Lara Jean ter decidido ter sua primeira transa com o rapaz, na noite da formatura, é como um balde de água fria em todos os planos dela. Na cabeça de Peter, não vale a pena prolongar o relacionamento se eles vão terminar de qualquer maneira por conta da distância, ele prefere desistir de imediato do que simplesmente tentar e prolongar o sofrimento de ambos. LJ não tem muito o que fazer a não ser aceitar a decisão de Peter, e assim, com longos olhares tristes para a caixa de lembranças que ela havia preparado para o namorado, ela encara a festa de casamento de seu pai com Trina, sozinha. Mesmo que ela esteja feliz pelo pai e por Trina, Lara Jean sente a separação e saudades de Peter. Os planos que haviam feito juntos não se realizarão, e esse cenário é triste demais para suportar. Mas quem tem uma irmã como Kitty, tem tudo, e a caçula dos Covey se apressa a ajudar a irmã, tramando novamente para que ela encontre a felicidade.

Se o início de todas as confusões em Para Todos os Garotos que Já Amei tem origem em Kitty, que envia as cartas secretas de LJ para seus crushes, o final de Agora e Para Sempre também tem o dedo dela no meio. A irmã caçula que agora é pré-adolescente e descobriu os garotos, e que faz as melhores observações, é o cupido à trabalho de LJ e Peter, e graças a ela o casal consegue fazer as pazes antes de cada um embarcar para a próxima grande aventura, cada um em um lado do país. De maneira geral, Agora e Para Sempre se transforma em uma grande colagem de momentos fofos e doces entre Peter e LJ, e graças ao carisma e a química entre Noah Centineo e Lana Condor isso funciona, mesmo que o filme em si não tenha nenhuma grande trama ou reviravolta. Tudo é extremamente bem arrumado e perfeito no filme dirigido por Michael Fimognari (menos o quarto e o closet de LJ). Os cenários são perfeitos, as cores, as luzes, os figurinos. Tudo é bonito, das montagens das cenas aos atores, e talvez isso seja a única coisa do filme que não é de alguma maneira esquecível. Não me entenda errado, eu adoro LJ e sua trajetória de hopeless romantic, mas Agora e Para Sempre é apenas uma sombra perto de Para Todos os Garotos que Já Amei, de 2018. O filme, dirigido por Susan Johnson, tem um certo tom e um tipo de alma que falta na produção de 2021. Tudo é extremamente belo e poderia dar certo, mas parece vazio e repetitivo.

Agora e Para Sempre é bonito de um jeito oco. Os momentos domésticos entre LJ e a família são sempre deliciosos de acompanhar, assim como as conversas entre ela e Chris (Madeleine Arthur) ou a inesperada conexão entre as duas e Genevieve (Madeleine Arthur) quando estão em Nova York. LJ e Peter citando Orgulho & Preconceito (2005) ou indo para um encontro inspirado em O Grande Lebowski (1998) acalenta o coração do mesmo jeito que acontece quando Peter aparece na porta de LJ segurando uma caixa de som no melhor estilo John Cusack em Diga o Que Quiserem (1989). Tudo isso mostra que a equipe do filme fez sua pesquisa sobre comédias românticas, mas no final das quase duas horas de longa, isso não quer dizer muita coisa. Ouso dizer que a colagem ao final da produção, com cenas do primeiro filme, conseguiram me deixar mais emocionada do que tudo o que se passou antes.

É agridoce constatar que a trilogia de Lara Jean se encerra de maneira quase esquecível, com um filme que pouco acrescenta à sua jornada. Enquanto protagonista de comédia romântica adolescente, a personagem tão maravilhosamente interpretada por Lana Condor tem uma importância enorme em questão de representatividade. Ter uma personagem não-branca como uma mocinha romântica em um filme que é todo sobre amor e ser amada, é importante e isso não será apagado. O triângulo amoroso do segundo filme, com duas pessoas não-brancas existindo e simplesmente vivendo algo negado a elas na indústria (e na vida), acredito, será sempre visto com carinho e orgulho por aqueles ali representados. Agora e Para Sempre foi feito e atuado de maneira ótima e, por isso, merecia um desfecho à altura de sua importância.