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4 doramas para se apaixonar pelas séries coreanas

Com a crescente popularização de elementos da cultura sul-coreana mundo a fora, processo iniciado nos anos 1990 e conhecido como “onda coreana”, é cada vez mais comum estarmos em contato com filmes, séries, livros e, principalmente, músicas, do país. Este esforço coletivo conduzido pelo governo a fim de exportar a cultura da Coreia do Sul faz parte de uma estratégia para tornar o país mais conhecido mundialmente, desmistificar alguns estereótipos nocivos acerca do lugar e, desta forma, aumentar o fluxo turístico no território. O assunto é levado tão a sério que o presidente da Coreia do Sul premia artistas e personalidades com a Ordem de Mérito Cultural Hwagwan, concedida àqueles que ajudam a disseminar a cultura e a língua coreana. O BTS, grupo de k-pop mundialmente famoso e líder da Billboard Hot 100 com a música Dynamite, já foi consagrado com a medalha.

Para quem não abre mão de acompanhar um bom produto audiovisual e quer aproveitar a oportunidade para aprender outra língua e saber mais sobre a rica cultura de parte da Ásia, os doramas são um bom caminho. Em cada um dos países orientais, os dramas possuem uma denominação sendo conhecidos como k-dramas na Coreia do Sul, j-dramas no Japão e c-dramas na China. Cada um deles conta com peculiaridades e estilos narrativos próprios que os distinguem dos demais.

Quando falamos em específico de k-dramas temos um produto, em geral, de apenas uma temporada, com número de episódios que varia de 12 a 24, podendo chegar até 200 episódios no caso dos dramas históricos. A média de duração de cada episódio é de 70 minutos, sendo exibidos em duas noites consecutivas durante a semana. Além disso, a variedade de gêneros é imensa, com algumas categorias se assemelhando as que já estamos acostumados a ver por aí, como ação, terror, drama, comédia romântica, fantasia e histórias que se passam em ambientes escolares e hospitalar.

Mergulhei no universo dos k-dramas a pouco tempo, no final de 2020, então minha experiência neste mundo ainda é limitada e as sugestões a seguir são baseadas no meu gosto pessoal e na pequena lista do que assisti até aqui, com a ajuda de Mariana Rossi, do Dramas e Algo Mais, minha guia neste vasto universo dos doramas.

Fantasia: Goblin, TVN

Um dos k-dramas mais elogiados e famosos entre os fãs, Goblin, lançado em 2016, teve recorde de audiência em sua exibição e abocanhou prêmios como Dorama do Ano, Melhor Trilha Sonora e Melhores Atores Coadjuvantes na premiação coreana Soompi Awards. No imaginário ocidental, um Goblin é uma criatura verde, feia e maldosa. Enquanto isso, o ser que dá nome ao dorama foi inspirado em uma lenda coreana, o Dokkaebi — um ente, parecido com um fantasma, que ganha vida a partir de objetos não usados por muito tempo. Na série, o Goblin é Kim Shin (Gong Yoo), um soldado da dinastia Goryeo (918–1392) assassinado com a própria espada por ordens do rei após ser pego em uma rede de intrigas e manipulações para acabar com sua vida.

Amaldiçoado com a vida eterna pelos Deuses, ele se torna prisioneiro do ciclo do tempo, observando aqueles que ama morrerem. Ele vive esse ciclo por mais de 900 anos. Ele só será libertado dessa existência de punição e dor se a noiva do Goblin — uma humana ligada ao sobrenatural — retirar a espada que o matou de seu peito. É neste ponto que Kim Shin encontra Ji Eun-tak (Kim Go-eun), uma estudante que tem o poder de ver fantasmas e consegue segui-lo como nenhuma outra pessoa — humana ou sobrenatural.

Entretanto, o que parecia uma decisão fácil — acabar com o sofrimento exaustivo de uma vida eterna — começa a se tornar complicada conforme Kim Shin começa a conhecer Eun-tak e se encantar com o jeito extrovertido, risonho e resiliente dela. O dorama ainda nos oferece um “bromance” incrível entre o Goblin e o Ceifador (Lee Dong-wook) — outro ser da mitologia, responsável por recolher e guiar as almas mortas para seu destino pós-vida — e mescla muito bem drama, romance e humor, com sequências poéticas e reflexões profundas sobre segundas chances, perdão e o poder agridoce do destino e do tempo nas relações humanas.

Comédia Romântica/ Romance: Pousando no Amor, TVN/ Netflix

Lançado em 2020, Pousando no Amor é um dos k-dramas que reúne o que há de melhor no gênero romance, entregando uma trama capaz de encantar o telespectador do início ao fim. Logo de cara somos cativados pela protagonista Yoon Se-ri (Son Ye-jin), uma empresária bem-sucedida e poderosa, mas solitária, que disputa com os irmãos o controle da empresa da família. Após ser escolhida como sucessora oficial, no entanto, ela se envolve em um acidente de parapente; pega em meio a uma tempestade, Se-ri acaba indo parar na Coreia do Norte. Lá, ela conhece o capitão Ri Jung Hyuk (Hyun Bin), integrante exemplar e leal do exército norte-coreano, que acaba sendo obrigado a escondê-la e ajudá-la pelo bem da sua vida e dos seus colegas, depois que sua equipe falha, em um primeiro momento, em entregá-la para o Departamento de Segurança.

Ao longo dos 16 episódios, vamos acompanhando a evolução do relacionamento de She-ri com todos ao seu redor — Ri Jung Hyuk, os soldados da guarnição e as mulheres da vila em que ela está presa — e o peso emocional para ela de estar em um país inimigo, o medo iminente de ser descoberta e também a certeza de que sua família não sente a sua falta. Uma personagem com muitas camadas, que ganha ainda mais nuances na ótima atuação de Son Ye-jin, o ponto alto do dorama é com toda a certeza observar a relação dela com Ri Jung Hyuk ser forjada, e como seu jeito expansivo é capaz de quebrar as barreiras erguidas por ele e atenuar a dor da perda que o fez se fechar para o mundo, além de enxergar um lado doce, gentil e carinhoso conhecido por poucos que o rodeiam.

Repleto de cenas escritas sob medida para encher nosso coração de alegria, só para logo em seguida parti-lo com toda a impossibilidade da situação, mais uma vez, aqui o destino desempenha seu papel e nos faz acreditar que há pessoas feitas para ficarem juntas e que, em meio à dor e obstáculos, o amor sempre encontra um caminho de prosperar, também sendo aquele que nos dá o primeiro impulso para longe da beira do precipício.

Drama: Tudo bem Não ser Normal, TVN/ Netflix

Se você procura um dorama com discussões pertinentes sobre saúde mental, com relações complexas e carregadas de angústia, dor e tristeza, com momentos de felicidade que transbordam pertencimento, Tudo bem Não ser Normal é o que você precisa assistir.

Na trama, acompanhamos Moon Gang-tae (Kim Soo-hyun), funcionário de um hospital psiquiátrico, cuidar de seu irmão autista, Moon Sang-tae (Oh Jung-se). O k-drama nos apresenta de maneira nua e crua a realidade de quem precisa ser cuidador de alguém e toda a sobrecarga e impacto emocional que isso pode causar. Para Gang-tae, esse peso é ainda maior, uma vez que sua mãe foi assassinada e seu irmão foi testemunha do crime. Traumatizado, ele nunca revelou a identidade do criminoso e após o fato desenvolveu um medo de borboletas, o que obriga os irmãos a se mudarem de cidade com a chegada da primavera, momento em que Sang-tae fica aterrorizado com a aparecimento dos insetos.

Neste contexto, surge Ko Moon-young (Seo Ye-ji), uma escritora famosa de livros infantis que sofre de transtorno de personalidade anti-social. Com um jeito obsessivo de levar a vida e total desprezo pelos sentimentos alheios, Gang-tae acaba como objeto de sua atenção e ela decide conquistá-lo para si a qualquer custo. O começo pode parecer um pouco conturbado, mas é justamente isso que proporciona espaço para os personagens crescerem. Não há desenvolvimento que valha a pena acompanhar sem conflito, e Tudo bem Não ser Normal domina a arte de levar seus personagens do ponto A até o ponto B de forma majestosa, sem medo de chegar até o âmago das emoções de cada um deles, afinal sem angústia e enfrentamento dos medos, não é possível haver cura.

As histórias de alguns pacientes do atual hospital em que Gang-tae trabalha também são um ótimo pano de fundo que ajudam a aprofundar o debate sobre transtornos mentais, estereótipos de pacientes e a empatia e tratamento humanizado para essas pessoas. Com um texto responsável, delicado e muito orgânico, o dorama dá uma aula sobre o sentir, o amar, o se importar e o sonhar, além de mostrar como é importante ressignificarmos o passado para que tenhamos um futuro mais gentil — tanto para nós mesmos quanto para aqueles ao nosso redor.

Histórico: 100 Dias Meu Príncipe, TVN/ Netflix

Os sageuks — termo usado na língua coreana para definir os dramas de caráter histórico — são recheado de plots twists, guerras, intrigas políticas, casamentos arranjados, disputas entre nobres e muito mais. No entanto, essa dica é um pouco fora da curva dos elementos tradicionais deste tipo de k-drama, com desenvolvimento mais leve, repleto de romance e cenas engraçadas, ainda que as intrigas e tentativas de assassinato estejam bem intricadas e ainda presentes na trama.

100 Dias meu Príncipe conta a história do Lee Yool (D.O.). Ele vive uma vida infeliz no palácio e se resigna do modo como chegou a essa posição de poder. Enquanto isso, o reino passa por um período de seca, deixando o povo em grandes dificuldades. Para tentar contornar essa calamidade, é decretado que todos os solteiros das oito províncias do país se casem, uma vez que na época se acreditava que quando há casamentos e nascimentos a chuva é mais propícia.

O problema é que, logo após este decreto, Lee Yool sofre um acidente, perdendo a memória e indo parar em um povoado onde ninguém conhece sua verdadeira identidade. Ele é encontrado pelo pai de Hong Shim (Nam Ji-hyun), uma jovem que está sofrendo as consequências do decreto real. É assim ela acaba se casando com o príncipe, que sem memória começa a ser chamado pelo nome de Won-deuk. O que se segue é um roteiro delicado, que usa muito do humor e de cenas que deixam nosso coração quentinho. A cereja do bolo são os ensinamentos sobre caráter, humildade e o verdadeiro valor das coisas.


** A arte em destaque é de autoria da editora Thayrine Gualberto.

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