Categorias: MÚSICA

Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Música

Em artigo sobre algumas das músicas lançadas no ano, a NPR decretou: 2020 foi o ano para dançarmos com nós mesmos. Com a pandemia mudando nossa maneira de viver, interagir com os amigos, trabalhar e estudar, não é absurdo considerar que a maneira como consumimos música também mudou. Nas retrospectivas do Spotify, por exemplo, foi perfeitamente normal encarar os registros de que algumas das músicas que mais ouvimos são das antigas, da época em que o mundo parecia menos assustador e o dólar custava menos do que três reais. Se todos nós tivemos que nos reinventar, inserir o Zoom e as chamadas de vídeo em nossas rotinas, o mesmo pode ser dito a respeito dos artistas que vivem de música. Os shows lotados precisaram ser substituídos por lives, as divulgações de novos materiais precisaram ser repensadas e até o modo de produzir álbuns se tornou uma novidade, com compositores e instrumentistas gravando suas respectivas partes de suas casas e reunindo tudo depois, via internet (se você for um artista privilegiado o suficiente para fazê-lo, claro).

Mesmo com as aglomerações proibidas, 2020 foi marcado pelo lançamento de álbuns feitos para as pistas de dança — Dua Lipa, Kylie Minogue e Pabllo Vittar não nos deixam mentir — na mesma medida em que canções introspectivas tomaram conta de 10 entre 10 playlists — alô Taylor Swift. 2020 ficará marcado como um ano estranho em que não sabíamos como lidar muito bem com toda a confusão de sentimentos que encaramos todos os dias aliados ao desespero de acordar brasileiro. O fato é que, em muitos casos, uma boa canção é capaz de nos colocar fora de órbita por alguns minutos (ou vários, dependendo da extensão da sua playlist) e isso, às vezes, é tudo o que precisamos para continuar. No Troféu Valkirias de Melhores do Ano na categoria música temos pop de balada, para bater cabelo, canções para ouvir deitada na cama olhando para o teto ou para simplesmente SENTIR. E, fato, como estamos sentindo esse ano.

111, Pabllo Vittar

Por Karina

Em 2020, Pabllo Vittar continuou firme no posto de única instituição que funciona no Brasil. 111 é uma mistura de estilos e línguas (Pabllo canta em português, inglês e espanhol) que não resultou numa coisa desconexa. Pelo contrário: para mim, o álbum é a cara de Pabllo e bom de ser ouvido em ordem, do começo ao fim. Das nove faixas que compõem o álbum, cinco contam com colaborações. E ainda que os trabalhos com as gringas Charli XCX e Thalia chamem a atenção, minha parceria favorita foi com Ivete Sangalo: “Lovezinho” é o Brasil que deu certo.

A única coisa que me chateou no lançamento de 111 foi não ter a possibilidade de me imaginar ouvindo-o em volumes ensurdecedores em aglomerações. “Parabéns” e “Amor de Que” tiveram pouco tempo de tocar nos rolês antes de cairmos na interminável quarentena. Não fosse isso, tenho certeza que 111 teria se tornado uma playlist perfeita de festa. Ainda assim, é um conjunto de músicas impecáveis para sextar em casa ou ouvir nos fones enquanto trabalha, buscando o mínimo de motivação para continuar o dia — “Rajadão” é o hino motivacional do ano. Por fim, nos últimos suspiros de novembro, quando a exaustão era o único mood, Pabllo lançou o 111 Deluxe. Na versão deluxe, o álbum chegou com duas faixas inéditas — “Bandida” e “Eu vou” —, além das outras músicas do 111 remixadas. Uma grata força para terminar o ano com as energias renovadas. Pabllo Vittar faz tudo.

Chromatica, Lady Gaga

Por Carol Alves

Depois de concorrer ao Oscar por seu papel em Nasce Uma Estrela, levar o prêmio de Melhor Música Original por “Shallow” e experimentar o mundo do country com o disco Joanne, Lady Gaga resolveu voltar ao mundo do pop com o álbum Chromatica, um dos melhores de 2020 e o número seis da sua carreira. O clichê do “de voltas às origens” é algo real nesse caso e a cantora prova isso com músicas como “911”, “Plastic Dolls” (minhas favoritas pessoais) e entre parcerias com artistas como Ariana Grande (“Rain on Me”) ou BLACKPINK (“Sour Candy”).

Dedicated Side B, Carly Rae Jepsen

Por Yuu

Carly Rae Jepsen serviu muito bem aos fãs durante 2020. Em fevereiro, para o Valentine’s Day, ela lançou o divertido single “Let’s Be Friends”, cujo tema vai contra o romantismo típico da data e aborda o famigerado date ruim. No segundo semestre, lançou espontaneamente mais duas músicas: “Me And The Boys In The Band”, uma homenagem à sua banda, distante por causa da quarentena, e “It’s Not Christmas ‘Till Somebody Cries”, que fala sobre a realidade da dinâmica natalina em família – uma dinâmica que os comerciais não mostram e está longe da perfeição, mas é uma bagunça gostosa que muitas pessoas vão sentir falta esse ano. Mas mais importante foi o lançamento do Dedicated Side B, um álbum completo que complementa a era Dedicated lançada no ano passado, seguindo uma tradição iniciada com Emotion.

Carly se considera uma overwriter, alguém que escreve músicas demais, e sempre tem muito mais material do que consegue lançar. Para nossa sorte, ela não economiza nos lançamentos, e o Dedicated Side B chegou com um som coerente e do início ao fim. Entre os destaques, podemos mencionar a faixa de abertura e também single carro-chefe “This Love Isn’t Crazy”, resultado de uma parceria com Jack Antonoff que traz uma música tão animada e libertadora quanto “Cut To the Feeling”; o duo “Felt This Away” e “Stay Away”, duas faixas que têm a letra muito parecida porque se complementam – a primeira explora as emoções de um início de relacionamento e a segunda, o lado físico; e “Comeback”, também uma parceria com Antonoff, música suave que tem uma das bridges mais líricas e mais lindas que eu já ouvi.

Escrevi Demais Sobre Você, Juliana Gomes

Por Tati Alves

Em abril, a cantora Juliana Gomes lançou o seu primeiro EP chamado Escrevi Demais Sobre Você. Com letras falando sobre alguém que deseja esquecer, mas não consegue, a cantora de Natal, Rio Grande do Norte, nos transporta para outra realidade ao longo de apenas cinco músicas.

Nos levando pelas dores de um amor difícil de esquecer, a melodia melancólica junto com a voz calma de Juliana, Escrevi Demais Sobre Você embala noites em que o que queremos é sentir sentimentos e abraçar a falsa nostalgia de momentos que não vivemos. Além do EP, a cantora também já lançou dois singles, “Quadros” e “Desconhecer”.

Fetch the Bolt Cutters, Fiona Apple

Por Ana Vieira

Caótico e um produto de isolamento, reflexão e revisitações a um passado que ainda se faz presente, o álbum de Fiona Apple, Fetch The Bolt Cutters, é o álbum de 2020. Oito anos após seu antecessor, The Idler Wheel…, o novo trabalho de Apple chegou em abril desse ano, em um momento onde reflexão e isolamento andavam lado ao lado. E que sorte a nossa.

Entre notas de piano, latidos de seus cachorros e muita percussão, Fetch the Bolt Cutters é uma obra segura, madura, cruel e crua. É Fiona Apple sem delongas, sem amarras e que, entre raiva, ressentimento, epifanias e uma recusa de silenciar a si própria, coloca o ouvinte em uma jornada, mas que comunica, em especial, com suas ouvintes mulheres — nós que iremos, mais hora menos hora, replicar as sensações e sentimentos que, como uma ótima contadora de histórias e criadora de auras, Fiona fez tão bem em seu último trabalho.

Desde sua canção inicial, em seu pleito singelo que pede “por favor, me ame”, até a escolha do nome que intitula o álbum — um empréstimo direto da série britânica The Fall, onde a personagem de Gillian Anderson usa a frase, num apelo que diz: encontre a ferramenta que vai te libertar —, Fiona entregou um álbum aclamado pela crítica, recebendo três indicações ao Grammy e sendo elencado em praticamente todas as listas de melhores álbuns do ano. Inclusive essa.

folklore, folklore: the long pond studio sessions e evermore, Taylor Swift

Por Paloma

Taylor Swift no Sessões no Long Pond Studio

Anunciado e lançado de um dia para o outro em julho deste ano da deusa, folklore se mostrou um presente vindo dos céus para swifties do mundo todo, e até para muitos não-swifties, que lutaram e continuam lutando dia após dia nesse período confuso e conturbado em distanciamento social. O que ganhamos foi (mais) uma nova Taylor, com uma nova vibe e novas histórias para contar. A sonoridade do folklore é diferente das obras anteriores da cantora e consolida uma ruptura brusca com a energia do álbum anterior, Lover, que vinha embalando nossas danças e nossos sonhos frustrados de assistir menina Taylor cantando ao vivo em terras brasileiras.

Contando com 16 faixas regulares e mais uma faixa bônus (“the lakes“, da versão deluxe, que já está disponível nos serviços de streaming), é incrível como folklore simplesmente não deixa a peteca cair em nenhum ponto. Todo o álbum possui uma sonoridade calma e melancólica, perfeita para nos pegar no colo e nos embalar nesses tempos difíceis, com algumas batidas levemente mais animadas, como “the last great american dynasty”, e muitas músicas feitas especialmente para chorarmos em nossos travesseiros, como “this is me trying”, “my tears ricochet” e “epiphany”.

Se isso não fosse suficiente, exatos quatro meses depois do lançamento do álbum e também de surpresa, Taylor Swift anunciou o lançamento do folklore: the long pond studio sessions no serviço de streaming Disney+. No documentário, ela e seus parceiros no crime, Aaron Dressner e Jack Antonoff, tocam as músicas do álbum juntos em um mesmo local pela primeira vez e conversam sobre cada faixa. Ouvir os comentários de cada um sobre a inspiração por trás de cada música e o significado das canções para eles dá uma camada a mais à experiência que é ouvir o folklore, e seremos eternamente gratas por isso.

E se tudo isso ainda não fosse suficiente, exatamente um mês depois do lançamento do the long pond… veio mais um anúncio: evermore estava chegando para completar essa trilogia. A irmã do folklore veio declaradamente como um presente para acalentar nossos corações nesse que promete ser um natal especialmente solitário e melancólico, e mistura a pegada inaugurada no folklore com um sabor de old Taylor das eras mais country, mas com uma maturidade que veio com sua terceira década de vida. Com 15 novas faixas (além de duas faixas bônus), incluindo uma colaboração com as irmãs Haim e mais uma participação de Bon Iver na faixa-título, evermore pode não ter mexido com nossos corações tanto quanto sua irmã mais velha, mas com certeza não fez feio.

Para saber mais: folklore: as histórias confortáveis e familiares de Taylor Swift e folklore: the long pond studio sessions

Future Nostalgia, Dua Lipa

Por Thay

Lançado mundialmente no mês de março, quando a pandemia começava a mostrar as garras de fato no Brasil, Future Nostalgia embalou muitos dos meus dias de quarentena. Com um pop dançante claramente inspirado nas discotecas dos anos 1980 — e, difícil dizer que não, no Confessions of Dance Floor da Madonna –, o segundo álbum de estúdio de Dua Lipa arrastaria multidões para as baladas casos houvesse sido lançado fora do “novo normal”. Embora a situação mundial e luta contra o corona vírus seja uma constante com a qual convivemos até hoje, nada impediu Dua Lipa de saracotear por aí (alô, terror da OMS) e divulgar muito seu novo trabalho gravando clipes, participações em programas de TV e até mesmo fazendo um show online, o Studio 2054 com participações especiais de Kylie Minogue, FKA twigs, Bad Bunny e Tainy.

Além das onze músicas da versão original de Future Nostalgia — destaque para algumas de minhas favoritas como “Cool”, “Levitating”, “Love Again” e “Break My Heart” –, Dua Lipa ainda lançou um lado B com as canções remixadas e com participações da já citada Madonna, além de Gwen Stefani e Missy Elliott, que ela batizou de Club Future Nostalgia. Particularmente, sigo preferindo as músicas originais ao remixes, mas ninguém pode dizer que Dua Lipa não serviu muito em 2020. Future Nostalgia é o álbum perfeito para dançar na sala de casa, já que não podemos dançar entre amigos, e levantar qualquer astral.

Para saber mais: Dua Lipa, Future Nostalgia e o pop para nos salvar

La Vita Nuova, Christine and the Queens

Por Ana Vieira

A primeira canção do EP da cantora e compositora francesa Héloïse Adélaïde Letissier, ou Christine and the Queens, como é conhecida, é intitulada “People, I’ve Been Sad“. E se tem alguma coisa que a pandemia e 2020 nos ensinou muito bem é sobre as muitas formas de se experienciar tristeza. Lembro que em abril, quando ainda aguentávamos assistir lives de artistas, quando o Brasil e o mundo ainda levava a pandemia (mais) a sério, assisti boa parte do Together at Home e a sobriedade de Christine enquanto cantava essa música foi muito comovente. Porque realmente, gente, eu estive muito triste.

Não foi, contudo, com a canção do ano para a Time, ou entre as melhores do ano para NPR ou Pitchfork, que me encantei com o EP. A grandiosa e explosiva “La Vita Nuova“, que tem Caroline Polachek como acompanhante, é, em si própria, capaz de conquistar e captar novos fãs. As irmãs “Mountains (we met)“, “Nada” e “Je disparais dans tes bras” não ficam pra trás. E a essência da obra, seu estilo dramático, melancólico e dançante, estão presentes no ótimo e fantasioso curta-metragem que costura o EP em pouco menos de 14 minutos.

More Love: Songs From Little Voice, Sara Bareilles

Por Thay

Com músicas compostas especialmente para o seriado Little Voice, de produção e criação da própria, Sara Bareilles entregou mais uma leva de músicas inspiradoras, emocionantes e de deixar o coração quentinho — tudo na mesma medida. More Love: Songs From Little Voice chega na esteira de seu Amidst the Chaos, álbum de inéditas lançado em 2019, e eu poderia facilmente me acostumar com um lançamento de Sara por ano. Com dez canções, todas escritas por Sara, passeamos por versos que aparecem no seriado e outros inéditos, recuperados dos anos de trabalho a cantora, quase como uma compilação de raridades, como é o caso de “King of the Lost Boys”, composta em 2013 por Sara e Jason Blynn e Pete Harper, e “Simple And True”, canção antiga que acabou ficando de fora de seus álbuns anteriores.

Minha canção favorita de More Love: Songs From Little Voice é, sem dúvidas, “Coming Back to You”. Os versos possuem aquela qualidade ótimista que somente uma canção de Sara Bareilles é capaz de ter, e assim que os 3:56 minutos terminam eu já quero colocá-la para tocar novamente — não por acaso, de acordo com minha conta no Last.fm, eu ouvi a canção 60 vezes seguidas em uma manhã particularmente viciante.

Para saber mais: Little Voice: uma história sobre encontrar a própria voz em meio ao caos

Nossa História (Ao Vivo), por Sandy & Junior

Por Karina

O lançamento de um álbum de Sandy & Junior seria capaz de deixar qualquer um nostálgico por semanas em qualquer situação comum. Em um ano sem shows, esse sentimento foi elevado a alturas antes inimagináveis com o lançamento de Nossa História (Ao Vivo). O álbum, que traz a gravação de um show da turnê da dupla de 2019, me fez ficar saudosa de absolutamente tudo e todos. De um jeito bom. E não que Sandy e Junior precisassem provar que são gigantes -– afinal, a turnê Nossa História teve a segunda maior bilheteria no mundo todo em 2019, segundo a Pollstar -–, mas eles mantiveram o padrão de grandiosidade. Além do álbum, a dupla lançou também uma série documental e a gravação em vídeo do show no Globoplay.

A tracklist de Nossa História é perfeita do começo ao fim. Para mim, entregar aos fãs exatamente o que eles querem ver e não tentar emplacar um novo hit é um grande mérito. Claro que poderiam ter tentado (e conseguido), mas, com os projetos individuais de cada um, a escolha de seguir com as músicas já existentes nesse conceito de relembrar a história da dupla faz todo o sentido. E mais: quantos comebacks já nos deixaram borocoxôs depois de percebermos que as músicas novas não são tão legais assim? Eu, pelo menos, tive tudo que ansiava com essa turnê histórica: poder mergulhar nos sucessos que tanto amo e curtir o momento com toda empolgação. Agora com o álbum disponível, poderemos reviver esse sentimento quando quisermos. Não tinha como esse álbum dar errado. E não deu. Obrigada por tudo, Sandy & Junior.

Para saber mais: Sandy & Júnior previram tudo: a vida emocional de jovens adultos do terceiro milênio; O que aprendemos sobre relacionamentos com Sandy & Júnior

Petals for Armor, Hayley Williams

Por Ana Vieira

Ser fã de um artista, em especial desde muito cedo em sua carreira, oferece a oportunidade de assistir o desabrochar, o conquistar e o modificar da arte feita por este, mas, mais ainda, o crescer e o amadurecer — da pessoa, da arte, das opiniões. Hayley Williams e sua banda nada desconhecida, Paramore, são assim para mim. Há quase quinze anos desfruto daquilo que tanto artista quanto até então companheiros de banda já puderam me oferecer. Foi com curiosidade, então, que em maio desse ano recebi Petals for Armor, álbum de Hayley em seu primeiro e mais novo projeto solo.

A garota que cantava “once a whore you are nothing more, I’m sorry, that’ll never change” (“uma vez vadia, sempre vadia, me desculpe, isso nunca vai mudar”) na aposentada canção “Misery Business” do Paramore, hoje em dia ecoa sobre uma vez ter sido a outra, sobre a desnecessidade em se comparar com a mulher do lado. Em um processo saído da raiva — e a raiva feminina pode gerar muita arte boa –, Petals for Armor percorre caminho por solitude, desejo e percepção sobre si mesma, com Williams brincando com seus próprios vocais, explorando sua musicalidade e entregando um trabalho que muito difere da banda que, contra todas as apostas, ainda existe e seguirá existindo.

Para saber mais: Petals for Armor: o jardim figurativo de Hayley Williams; Animado e cruel: After Laugher, Paramore; Hayley Williams: a queda ou ascensão do Paramore?

positions, Ariana Grande

Por Julie

Pelo terceiro ano seguido, Ariana Grande nos entrega mais um álbum inédito: Positions, o sexto de sua carreira. Mais uma combinação perfeita entre o R&B e o pop, que a cantora faz melhor do que ninguém, o álbum traz uma nova faceta da intimidade de Ariana, algo que ela tem trabalhado mais desde Sweetener, de 2018.

Em Positions, as letras maliciosas, com as intenções devidamente explícitas ou nas entrelinhas, estão lá, como em “34+35” e “love language”. No entanto, Ariana também se mostra vulnerável, abrindo seu coração com todas as incertezas que existem em encontrar e viver um novo amor. Em “six thirty”, ela pergunta: “Am I enough to keep your love?” [“Eu sou o suficiente para manter seu amor?”]. Já no refrão de “pov”, uma das melhores do álbum, ela confessa: “I’ma love you even though I’m scared” [“Eu vou te amar mesmo que eu esteja com medo”]. Os sentimentos de Ariana não ficam só nas letras, mas também na forma como ela interpreta as composições com seus vocais, algo que ela sempre faz bem. Nesse quesito, tecnicamente, ela também está impecável: vale destacar “my hair”, que nos 30 segundos finais, traz a cantora alcançando notas no registro de apito — o mais agudo que a voz humana consegue chegar.

Para saber mais: Meiga, porém perigosa: a evolução de Ariana Grande; Sweetener e “Thank U, Next”: os divisores de águas de Ariana Grande

Punisher, Phoebe Bridgers

Por Ana Vieira

Um favorito pessoal que, ao mesmo tempo, é um favorito da crítica, Punisher, segundo álbum da sadcore millennial Phoebe Bridgers, foi lançado em junho desse ano. Na obra, Phoebe lança seus ouvintes em um buraco negro que consome quem ouve, ao mesmo tempo em que nos teletransporta a uma espécime de fim do mundo. E nenhum ano teve tanto gosto de fim do mundo como 2020.

De um menu aberto em “DVD Menu“, um instrumental que muito lembra a tela de entrada de filmes alugados na locadora da esquina, onde nada sabíamos o que esperar, até os gritos desesperados e cortados com prováveis sorrisos pretensiosos nos segundos finais de “I Know The End” — minha canção favorita desse ano —, Bridgers crava a si mesma como um talento único. Desde sua persona despreocupada, que nada passa disso — uma persona —, até o desdobrar de seus anseios, receios e medos, Punisher não se trata de uma obra linear tanto quanto se trata de uma obra maleável: é, ao mesmo tempo, sobre tudo e sobre nada. E é nesse limiar que é impossível listar os melhores álbuns de 2020 sem listar Punisher, e não apenas como um dos melhores do ano, mas também como um dos grandes álbuns da música alternativa.

Para saber mais: O fim do mundo de Phoebe Bridgers

SAWAYAMA, Rina Sawayama

Por Yuu

Rina Sawayama pode ainda não ter caído nos ouvidos de uma vasta maioria, mas chegou arrasando. Seu álbum de estreia, SAWAYAMA, foi amplamente elogiado pela crítica especializada e entrou em muitas listas de melhores do ano – inclusive nesta, é claro. Além de nos ter entregado um álbum que traz um som inovador e afiado, Rina trouxe questões essenciais de sua vida – como a dupla nacionalidade, a panssexualidade e a política que têm nos assombrado – para sua música, e se tornou uma representação para pessoas de olhos puxados, como eu, que até agora se viram tão pouco em outras artistas.

“XS” é o single do álbum que mais fez sucesso e representa fortemente o que o conjunto tem a entregar; “Bad Friend” é o tipo de música que alfineta qualquer pessoa que já sentiu uma péssima amiga (algo que vem se tornando mais frequente com tantas coisas que temos para dar conta e tão pouca energia para distribuir, não é mesmo?), mas é “Tokyo Love Hotel”, posicionada mais próxima ao final do álbum, que mais se destaca pessoalmente para mim: nela, Rina canta sobre estar divida entre duas culturas e proclama sua admiração pela capital do Japão, um país que muitos admiram, mas poucos enxergam de verdade, e enquanto tantos expressam sua admiração (genérica) e ganham atenção por isso, o que sobra para aqueles que realmente têm direito de reclamar essa cultura? Essa é só mais uma música sobre Tóquio. Ouçam SAWAYAMA, obrigada.

Para saber mais: O debut de Rina Sawayama

The Album, BLACKPINK

Por Thay

Muito provavelmente eu fiz o caminho inverso para conhecer a BLACKPINK: não comecei por suas músicas, o que deveria ser o óbvio, mas dei play primeiro em seu documentário Blackpink: Light Up the Sky, que estreou na Netflix no último mês de outubro. Foi por meio da produção, dirigida por Caroline Suh, que conheci as quatro mulheres por trás do sucesso estrondoso da banda e pude ver o nível de dedicação e comprometimento que JennieRoséLisa e Jisoo colocam em tudo o que fazem.

Seu The Album é o segundo trabalho de estúdio da banda e tem sucessos como “How You Like That”, “Ice Cream”, parceria com Selena Gomez, e “Lovescik Girls”. O que impera em cada uma das canções — não apenas os singles mas todas as oito produções do álbum — é uma energia contagiante, batidas pop que grudam no cérebro e te deixam cantarolando o dia inteiro. The Album ultrapassou a marca de um milhão de cópias solicitadas na pré-venda e se tornou o primeiro álbum de um grupo coreano a chegar nesse número. O vinil, limitado a 18.888 cópias, esgotou em poucos dias.

Para saber mais: Blackpink: Light Up the Sky

The Something To Look Forward (To)ur, Tessa Violet

Por Tati Alves

Junto com o embalo das lives no início do isolamento social em resposta aos cancelamentos de shows, Tessa Violet anunciou algumas lives em seu canal do YouTube para cantar algumas músicas. Para ela, 2020 seria o ano em que ela promoveria Bad Ideas, o seu primeiro álbum, e sairia em turnê que já estava sendo divulgada. O que deveria ser uma série de seis lives durante março, se tornou uma turnê on-line de cinco meses.

Algumas vezes por semana, Tessa passava entre uma hora e uma hora e meia cantando suas músicas de diversos projetos, covers e conversando com seus fãs, enquanto mostrava um pedacinho de sua casa, o que estava vestindo naquele dia e pensamentos sobre o momento que estávamos (e ainda estamos) vivendo. Diferente de outras lives que assisti e vi pessoas comentarem, superproduções com patrocinadores e ensaiadas em um período em que ainda não tínhamos um protocolo seguro, a The Something to Look Forward (To)ur sempre foi Tessa e seus fãs em suas respectivas casas se distraindo e fazendo companhia uns aos outros em um momento muito frágil.

Ungodly Hour, Chloe x Halle

Por Julie

“VMA’s… Welcome to the Ungodly Hour”. É assim que Chloe Bailey, uma das irmãs de Chloe x Halle, inicia a apresentação da dupla no Video Music Awards (VMA) da MTV deste ano. Se o duo chamou atenção do mundo ainda pré-adolescentes, com seus covers no YouTube, e posteriormente por serem amadrinhadas por Beyoncé, elas provam em Ungodly Hour, seu álbum de estúdio, que esse é só o começo — e ainda vão muito além.

Com o primeiro single “Do It”, já dava para ter uma ideia do que as irmãs trariam em Ungodly Hour: um álbum de R&B sofisticado, sexy e divertido, que acompanha o crescimento de Chloe e Halle em jovens mulheres. Destaque à parte para a concepção visual do álbum e para as apresentações ao vivo da dupla, que destacam seu carisma, vocais e ainda trazem arranjos diferentes para as versões em estúdio das músicas. Não deixe, em especial, de conferir a performance de Tipsy” para a BBC, com direito a Halle Bailey tocando guitarra.

Use Me, PVRIS

Por Thay

Embora Lynn Gunn esteja vivendo de música há alguns anos, eu só descobri realmente sua banda, PVRIS, esse ano. Digo realmente pois foi somente em 2020, procurando por playlists aleatórias, que fiquei viciada na canção “Old Wounds”, que eu vi no repeat por horas sem fim (sim, eu tenho esse hábito de ficar obcecada com algumas canções). Use Me, o álbum lançado em 2020 por Lynn e seu companheiro de banda, Brian Macdonald, é coeso do início ao fim e nos leva em uma jornada pelos sentimentos intensos, e até mesmos sombrios, da líder e compositora. “Gimme a Minute” é uma canção perfeita para abrir o álbum (onde logo nos empolgamos com a guitarra tocada por Lynn) e fala sobre a luta de Lynn contra a depressão, dos danos que teve em suas cordas vocais e a reconquista de sua confiança em si mesma.

Daí em diante é uma música mais inspirada do que a outra, mostrando que Lynn Gunn é uma compositora e instrumentista fantástica. Algumas das minhas favoritas de Use Me são a faixa título, “Use Me”, um dueto com 070 Shake (nome artístico de Danielle Balbuena), cujo vídeo flerta sem muito disfarce com o bondage,e a já citada “Old Wounds”. O fato é que não há uma canção desperdiçada em Use Me e todas são perfeitas, fazendo do álbum do PVRIS perfeito do início ao fim, seja falando de momentos sombrios, corações partidos ou desilusões amorosas.

Women in Music Pt III, HAIM

Por Fernanda

Em muitos sentidos, Women in Music Pt. III, terceiro álbum da banda angelena formada pelas irmãs Danielle, Alana Este Haim, vem sendo a trilha da minha (infindável) quarentena. “These days these days I can’t win, these days I can see no visions”, cantam as irmãs Haim em “Los Angeles”, canção que abre o álbum. “Nights turn into days that turn to gray keep turning over”, cantam em “I Know Alone”, logo depois. “I’ve been watching too much TV, looking up at the ceiling”, elas cantam em “I’ve Been Down”, já na segunda metade do disco. Nenhuma dessas canções têm realmente relação direta com a pandemia e as demandas de isolamento social, mas, lançadas nesse contexto no final de junho, seus versos acabam ganhando novos e inesperados significados. 2020 também jogou uma pá de cal sobre a argumentação estúpida de que ninguém nunca precisou de um artista. Nunca precisamos tanto.

Nem só de consolo em tempos difíceis, no entanto, serve Women in Music Pt. III. Entre o saxofone que o abre em “Los Angeles” e aquele que o fecha em “Summer Girl” — e assim só me restou a possibilidade de amar intensamente a experiência de ouvi-lo inteiro pela primeira vez —as Haim exploram uma profusão de sonoridades e temáticas diferentes com muita competência. Ao longo do álbum, contam histórias sobre relações de amor e ódio com os lugares de onde viemos e para onde fomos, relacionamentos que machucam e que curam, a relação de uma vida que mantemos com nossa saúde mental, a solidão, o machismo onipresente na vida de qualquer mulher — e mais especificamente da mulher artista — e muito mais.