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BLACKPINK: Light Up the Sky

Com direção de Caroline Suh, o documentário BLACKPINK: Light Up the Sky estreou nesse mês de outubro, na Netflix, para delírio dos fãs do grupo. A ideia da produção é abrir um pouco da intimidade e trajetória de uma das maiores bandas de k-pop da atualidade mostrando os bastidores dos ensaios das garotas, dos shows e das vidas de cada uma delas — Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo — até se tornarem mundialmente famosas.

Antes de assistir ao documentário eu não sabia nada sobre BLACKPINK para além do senso comum: conhecia as garotas das participações de músicas de cantoras como Dua Lipa e Lady Gaga, havia escutado “Let’s Kill this Love” e assistido ao vídeo de “Ice Cream”, parceria da banda com Selena Gomez, mas não fui muito além disso. O que o documentário Light Up the Sky revela, para além de todo o brilho, glamour e coreografias perfeitas, é um grupo de garotas sonhadoras, esforçadas e dedicadas. Meninas que deixaram os momentos típicos da adolescência de lado em troca de quase dez horas diárias de ensaios, aulas de canto e dança, por anos à fio e com um dia de folga a cada quinzena, e a possibilidade de, um dia, serem escolhidas para o estrelato.

Porque é assim que funciona o mundo dos grupos de k-pop. Com audições feitas com meninas adolescentes, a YG Entertainment, produtora tanto de Light Up the Sky quanto da própria BLACKPINK, seleciona as melhores para fazer parte de seus programas de trainee. Da mesma maneira que ocorre no mundo corporativo, essas meninas competem umas com as outras por vagas nesses programas que farão delas idols perfeitas. Como citado anteriormente, esses programas investem pesado na formação dessas garotas com aulas de dança, canto, coreografia e tudo o que é necessário para transformá-las em popstars. Light Up the Sky mostra um pouco desse universo por meio dos depoimentos de Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo aliados a vídeos antigos dos anos em que passaram em treinamento e, depois, de seus shows lotados por multidões de fãs apaixonados em todo o mundo.

O que fica claro, mesmo para quem não é versado no universo do k-pop, é que a rotina das garotas é exaustiva e o ritmo não diminui quando elas finalmente conquistam a fama. Selecionadas ainda adolescentes, as meninas precisam deixar as casas de suas famílias e passam a viver em uma espécie de internato, morando e estudando no mesmo lugar. O documentário menciona que durante os anos de treinamento de Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo, em torno de trinta meninas participavam do programa, mas apenas as quatro chegaram até o final, sendo escolhidas para a formação da BLACKPINK. Elas comentam, em seus respectivos depoimentos, que o período que viveram como trainees foram os mais exaustivos e desafiadores de suas carreiras, e que ficar longe da família, além da constante competição com outras meninas, era um dos lados mais difíceis de todo esse processo.

Até o momento de estreia do grupo, em 2016, as garotas passaram, em média, cinco anos como trainees. Foi nesse período que elas se aproximaram e naturalmente começaram a cultivar uma amizade. Como parte do processo para criação do grupo, os produtores e diretores da YG Entertainment revezavam as garotas em pequenos grupos em busca de um entrosamento que fosse o ideal. E assim, quando eles colocaram Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo juntas para uma dessas rodadas, viram que era praticamente perfeito reuni-las. Enquanto algumas meninas competem entre si para cantar mais versos ou para serem posicionadas ao centro da formação durante as danças, as quatro encontraram um ritmo e um entrosamento que era o ideal para cada uma delas. O que vemos na BLACKPINK, hoje, germinou em um dos intensos treinamentos pelos quais elas passaram, com as meninas se dedicando de corpo e alma para o projeto.

Da estreia do grupo, em 2016, até a explosão mundial, foram três anos — além dos cinco de treinamento. O que me surpreendeu nesse universo dos grupos de k-pop, de maneira geral, é a forma como tudo é planejado nos mínimos detalhes pela produtora responsável — no caso a  YG Entertainment. A partir do instante em que as meninas são selecionadas para serem trainees até o lançamento do grupo para a mídia, são anos de preparação que vão muito além dos ensaios e aulas de canto. Light Up the Sky tem início, inclusive, com a revelação da BLACKPINK para a imprensa, e isso me chamou muito a atenção: a estreia não se dá apenas com o lançamento de um single e de um vídeo, como costuma acontecer com bandas e cantores ocidentais, mas as garotas são apresentadas formalmente para a imprensa especializada visto que, antes de qualquer coisa, a banda é um investimento de anos por parte da produtora responsável.

E por isso a indústria musical sul-coreana é uma máquina de produzir sucessos. A BLACKPINK não é a primeira do gênero a chegar ao estrelato e vem na esteira de outro grande grupo de k-pop feminino, também da YG Entertainment, o 2NE1, que esteve em evidência entre os anos de 2009 e 2016, quando se separaram. Diferente do que vemos na indústria da música ocidental, onde você pode ser revelado no YouTube e ter seu talento reconhecido por um produtor, se você tiver sorte o suficiente, no k-pop tudo é montado e planejado nos mínimos detalhes e durante anos. É a empresa que agencia os artistas que cuidará de cada aspecto da carreira, desde os já citados ensaios a aulas diversas que vão desde línguas estrangeiras a como se portar em entrevistas. Não que um jeito seja melhor do que o outro, é apenas impressionante de ver como as engrenagens funcionam alinhadas e em perfeita sincronia para o lançamento de grupos excepcionais.

Mas o que Light Up the Sky mostra é apenas a superfície desse processo. Fica aparente na produção de pouco mais de uma hora que aquilo que assistimos é precisamente o que a YG Entertainment quer que vejamos — eles sabiam que a BLACKPINK seria um sucesso no momento em que fosse revelada ao público, e os anos que passaram documentando toda essa trajetória em alta qualidade é apenas uma das evidências dessa certeza. Como um negócio lucrativo que movimenta mais de cinco bilhões de dólares por ano na Coreia do Sul, não poderia ser diferente. Mesmo quando as integrantes da BLACKPINK relembram os momentos difíceis de seu período como trainees ou comentam sobre a exaustão das turnês mundiais com shows diários com cobranças pela perfeição — há uma cena em que um produtor cobra as garotas a respeito de afinação e passos de dança no ensaio antes da apresentação no Coachella de 2019 —, isso só está lá porque não estar seria ignorar totalmente a realidade dessas artistas.

Enquanto assistia ao documentário, mesmo sabendo pouco sobre a BLACKPINK em si, acabei cativada por cada uma das meninas e suas trajetórias até o sucesso. Jisso é a mais velha do grupo e nasceu na Coreia do Sul, assim como Jennie. Rosé é natural da Nova Zelândia enquanto Lisa é tailandesa. Todas têm histórias de vida completamente diferentes uma das outras, e essa mistura de culturas, backgrounds e costumes fervilham dentro do grupo como um todo. Em Light Up the Sky vemos um pouco das vidas das garotas anteriormente e como cada uma delas enveredou pela música sem ter muita ideia do que isso significaria em suas vidas no futuro. É interessante ver como as personas que cada uma delas usa em suas apresentações são estritamente para entreter, visto que, quando longe das câmeras o que impera é uma doçura e timidez que não vemos em suas apresentações. Durante todo o documentário eu me lembrava de como essas meninas são jovens e quanta determinação elas tiveram para enfrentar todos os anos de treinamentos e ensaios, encobrindo suas dúvidas e incertezas com muito trabalho duro e dedicação.

Meus momentos favoritos da produção são aqueles em que elas estão simplesmente sendo jovens mulheres compartilhando algum momento íntimo ou lembrando de episódios divertidos que passaram juntas. São em cenas como a de Rosé relembrando sua primeira noite como trainee, em que passou cantando madrugada adentro com Jennie, Jisoo e Lisa, e de Jennie e Jisso cozinhando doces típicos — e errando a receita no processo — que humanizam as idols, nos fazendo lembrar que por trás de toda a superestrutura que as ampara enquanto artistas de sucesso estão jovens mulheres com sonhos, anseios e desejos únicos. Com o documentário construído em torno da apresentação do Coachella em 2019, tido como o ápice da carreira das garotas até então, Light Up the Sky acerta ao trazer, aliado a esse momento, os interlúdios em que o quarteto baixa a guarda e mostra a vulnerabilidade intrínseca à idade, com questionamentos a respeito das experiências que perderam enquanto cresciam treinando para serem estrelas e a distância da família em anos tão importantes para seus desenvolvimentos.

Já no finalzinho de Light Up the Sky, quando Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo estão em um restaurante, elas conversam sobre o futuro. Será que estarão casadas? Com filhos? E como seria uma turnê de comeback da BLACKPINK com todas em torno dos quarenta anos? Elas sabem que a trajetória das idols dentro do k-pop é geralmente curta e com um prazo de validade determinado, mas, no momento, rir sobre o que o futuro reserva para elas parece ser o mais adequado. São esses momentos, durante o documentário, que reconhecemos de nossos próprios relacionamentos: quem nunca divagou com as amigas sobre o futuro ou inventou de fazer receitas que não deram muito certo? Light Up the Sky acerta em abrir uma fresta da intimidade dessas super estrelas quando nos deixa ver um pouco de seus momentos “gente como a gente”, o que só faz crescer a conexão de seu público com as idols que, normalmente, parecem tão inalcançáveis.

Longe de poder ser considerada uma fã, terminei de assistir o documentário contente por ter escolhido dar play na produção, mesmo que motivada por simples curiosidade. A diretora Caroline Suh fez um recorte muito interessante das vidas das integrantes da BLACKPINK, reunindo imagens de bastidores com depoimentos individuais e em grupo — para os fãs, mais conhecidos como Blinks, é um prato cheio de momentos para guardar no coração. Para os não iniciados, como eu, serve perfeitamente como um convite para ingressar nesse universo de músicas empolgantes e coreografias impecáveis. Ainda que o documentário seja, obviamente, mais um meio promocional para o trabalho do quarteto e o lançamento de seu álbum, batizado de THE ALBUM, a produção não deixa de ter momentos honestos e genuínos de amizade, cumplicidade e lealdade entre as garotas. Cada uma delas demonstra o carinho que têm pelo trabalho que fazem — e pelos fãs — mas sem deixar de assinalar como, ainda assim, é um ofício que demanda muito delas, tanto física quanto emocionalmente. Light Up the Sky é um vislumbre das vidas de Jennie, Rosé, Lisa e Jisoo que demonstram os motivos que fazem da BLACKPINK um fenômeno mundial.

1 comentário

  1. Eu amo demais BLACKPINK , sou blink e fiquei muito feliz com a noticia desse documentário…amo as musicas delas e me sinto muito orgulhosa de ser fã de meninas tão fortes e talentosas!!!
    Esse post saiu no dia do meu niver…amei!!!

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