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Troféu Valkirias de Melhores do Ano: TV – Episódio 1

2016 foi o ano de buscar na TV um tipo de conforto que só um episódio de uma série querida consegue transmitir. 2016 foi um ano turbulento e tumultuado, que muito tirou e nem tanto ofereceu. Resistimos. O ano seguinte, 2017, foi marcado pelo ano das mulheres na TV – a estreia de Big Little Lies e The Handmaid’s Tale, por exemplo, não nos deixa mentir. Com histórias sobre, de e para mulheres emergindo na TV (ou no streaming, como preferir), 2018 é marcado não apenas por novidades, tampouco por séries que contam histórias unicamente femininas. Este ano contou mais e sobre os mais variados assuntos, e o melhor, para todos os gostos. Há terror, drama, comédia, animação e suspense. As tramas tratam de assédio, de abuso de substâncias, de racismo institucionalizado, de saúde mental, de luto, de masculinidade tóxica e, por que não?, de bruxaria também – e nunca, jamais, apenas sobre isso.

Mantendo a tradição dos anos anteriores, nós, editoras e colaboradoras do Valkirias, preparamos com muito carinho uma lista de séries que não só curtimos neste ano, mas que nos confortaram, nos abraçaram, nos fizeram rir e chorar, e serviram para fazer desse ano, tão difícil e pesado, um pouco mais fácil de lidar.

A Casa das Flores e Luis Miguel, a série, Netflix 

Por Luisa

Duas séries com proposta diferentes, aqui reunidas por serem produções originais da Netflix mexicana que tiveram certa repercussão fora de seu país de origem, consolidando a aposta da proposta em conteúdo original produzido em outros idiomas além do inglês. A Casa das Flores é um novelão sobre uma família de classe alta que tenta manter uma imagem perfeita apesar de, claro, ter diversas particularidades que seriam vistas pela sociedade como problemas terríveis. A premissa é comum, e o melhor da série está em seus personagens, principalmente em Paulina de la Mora (Cecilia Suárez) e seu jeito así pau-sa-di-to de falar.

Luis Miguel, a série é uma biografia do icônico cantor dos anos 80 e 90 conhecido como o sol do México, aqui interpretado por Diego Boneta, uma produção que fez sucesso sobretudo na América Latina por revelar pormenores (ainda que provavelmente ficcionais) da vida de um artista que sempre tentou ter uma vida reservada apesar de todos os escândalos comuns a um artista pop. Já parou para pensar em quantas séries não-americanas você viu durante o ano?

A Discovery of Witches, Sky One

Por Thay

Baseada na Trilogia das Almas escrita por Deborah Harkness, A Discovery of Witches é um apanhado de clichês que dá certo: temos a bruxa que desconhece a dimensão de seus poderes, um vampiro milenar com um sotaque muito sexy e um grupo de seres sobrenaturais absolutamente contra o relacionamento que nasce entre eles. Mesmo sem inovar em sua trama, a série consegue se sustentar devido ao carisma de seu par de protagonistas interpretados por Teresa Palmer e Matthew Goode: os dois dão vida à Diana e Matthew, uma bruxa e um vampiro que veem suas vidas se entrelaçar quando precisam se unir para proteger um valioso manuscrito.

A Discovery of Witches pode até evocar a Saga Crepúsculo e os melhores momentos de The Vampire Diaries, mas qualquer semelhança entre as produções fica apenas na temática: aqui temos uma protagonista independente e poderosa que, após entender exatamente o que precisa fazer em sua jornada, não mede esforços para chegar onde quer – e precisa. Diana é perspicaz, e mesmo o relacionamento amoroso entre ela e Matthew, um vampiro poderoso, fica em pé de igualdade quando ela diz, com todas as letras, que ele não a machucará pois ela jamais permitiria que ele o fizesse.

Para saber mais: A Discovery of Witches: um toque de mágica

Aggretsuko, TBS/Netflix

Por Yuu

Em se tratando de personagens da Sanrio, é irrefutável: a primeira palavra que nos vem à mente é “fofo” e ainda que a empresa crie uma personalidade e uma história para esses personagens, elas não são muito conhecidas no ocidente e os bichinhos acabam se tornando simples figuras de merchandising. Pelo menos até a estreia de Aggretsuko na Netflix, em março deste ano. O anime de dez episódios conta a história de Retsuko, uma panda-vermelho muito adorável, mas com uma personalidade oculta. 

Retsuko é uma mocinha sagitariana que aos 20 anos ingressou no setor de contabilidade de uma empresa muito empolgada com a vida profissional. Cinco anos depois, ela é como a maioria de nós: mais uma alma sugada pelo mundo corporativo, que precisa contar até dez para sair da cama, seguir sua rotina matinal, pegar o transporte público lotado e encarar os abusivos supervisores: o Senhor Porcão, chefe do departamento, um literal porco chauvinista que passa os dias no escritório treinando golfe, sendo machista e bajulado por puxa-sacos, e a Sra. Tsubone, contadora sênior que adora passar serviço no fim do expediente. Para não surtar com sua rotina no trabalho, Retsuko tem um segredo: após o expediente ela aluga uma sala individual no karaokê para expressar sua frustração cantando… heavy metal. 

Por mais inocente que o anime possa parecer em uma primeira impressão, ele é um retrato bastante fiel do que é ser millennial no ambiente de trabalho e ter que lidar todos os dias com os extremos de ser tratada como inexperiente – “você devia ser muito grata por esse emprego!” – e ao mesmo tempo responsável por grande parte da carga bruta do trabalho que excede para horas extras, tudo enquanto os chefes te subjugam por ser mulher e abusam do seu cargo inferior. Em meio a essas dificuldades diárias, Retsuko se determina a tomar uma atitude que possa mudar seu futuro, mas ao longo da temporada ela pode perceber que a saída que encontrou não passa de ilusão. Retsuko está cansada, e nós também.

American Horror Story – Apocalypse (8ª temporada), Fox

Por Mia

A oitava temporada daquela que já foi considerada a melhor série de terror da atualidade, mas que perdeu seu status ao longo dos anos – e de lançamentos icônicos como Penny Dreadful – retornou às origens ao elaborar um argumento baseado em elementos da primeira temporada, Murder House, e da terceira, Coven, com a volta de nossas amadas bruxas. O enredo de Apocalypse é bem conhecido tanto da ficção científica quanto do horror: a população mundial é exterminada através de um evento nuclear e somente poucos são salvos em bunkers cujo ticket de entrada custou milhões de dólares. No entanto, o que faz com que essa temporada figure entre as melhores do ano é justamente por mostrar que, apesar de existir recursos mágicos abundantes no Anticristo para aniquilar com a humanidade e trazer o caos, é muito mais fácil apenas provocar os poderosos e deixar com que eles façam todo o trabalho. O apocalipse, afinal de contas, não precisa vir através das profecias bíblicas, mas pode ser causado por nós mesmos.

O horror tem como característica mostrar o grotesco, assombrar pelo bizarro. E apesar de haver tais elementos em diversos pontos na temporada (como no quarto episódio “Could It Be… Satan?”), o verdadeiro horror produzido aqui é do quão impotentes somos perante aqueles que possuem o poder e do mal que as pessoas podem causar a si mesmas, seja por ignorância, ambição ou simples maldade. É uma temporada não apenas para assistir, mas para pensar sobre cenários que não são tão difíceis assim de imaginar.

Para saber mais: American Horror Story: Coven – as bruxas são poderosíssimas

Anne With an E (2ª temporada), CBC/Netflix

Por Fernanda

A segunda temporada de Anne With an E, adaptação cheia de liberdades criativas do clássico infantojuvenil canadense Anne de Green Gables criada por Moira Walley-Beckett, chegou ainda mais encantadora, comovente e didática do que seu adorável primeiro ano. Enquanto o primeiro ano da série apresentou leituras progressistas principalmente sobre o papel das meninas e mulheres na sociedade do século XIX, a segunda temporada expande a discussão e adiciona à mistura questionamentos sobre herança colonial, racismo e segregação, sexualidade e papéis de gênero – obviamente uma sensibilidade muito contemporânea para uma obra de época, mas essencial diante dos levantes conservadores que estamos vivenciando.

O didatismo de Anne With an E torna a série extremamente acessível para toda a família – o que é um grande mérito seu –, e os roteiros fazem questão de desenvolver em pé de igualdade e com igual profundidade personagens de todas as idades. Mas o destaque é sua personagem-título, é claro, interpretada por uma excelente Amybeth McNulty. Pelas mãos de Anne não faltam à série aventuras empolgantes capazes de conquistar os mais jovens, nem uma imaginação sem limites e muito carinho pelo mundo e empatia pelo próximo – tudo isso contrastado com muitos passos em falso e confusões internas típicas da adolescência. O segundo ano de Anne ganhou traços ainda mais dramáticos que aqueles trazidos por seu primeiro ano, mas as belas cenas iniciais da temporada, com uma sorridente Anne Shirley divertindo-se em meio a uma natureza com ares de refúgio, dão o tom do que a série continua a ser: um abraço apertado no mundo, que, mesmo com problemas profundos que o roteiro não ignora, continua tendo um potencial imenso para ser extraordinário.

Para saber mais: Anne With an E: o que transforma o mundoAnne With an E: mais alcance para a imaginação

Atlanta (2ª temporada), FX

Por Tany

Acompanho os trabalhos de Donald Glover desde que o descobri em Community, como rapper e ator de comédia, mas não o conhecia como escritor. Donald escreve, produz e protagoniza uma série de televisão que tem como foco o dia a dia da comunidade negra e pobre de Atlanta. Na primeira temporada, Atlanta me surpreendeu muito, principalmente porque não tinha visto nada parecido. Posso citar pelo menos três episódios – de uma curta temporada de dez – que não são parecidos com nada na televisão, que me fizeram perceber todo privilégio que tenho e o preconceito que pessoas negras, principalmente se nasceram pobres, passam no dia a dia.

A segunda temporada de uma série é sempre assustadora, mas quando seu nível de estreia é excelente a pressão é ainda maior. É preciso superar a si mesma, surpreender o público que está acostumado com o alto padrão e se reinventar. Não é de se surpreender que Donald Glover tenha conseguido isso com uma temporada ainda melhor que a primeira, com histórias ainda mais inesquecíveis que beiram a perfeição.Teddy Perkins consegue ser um dos melhores episódios que assisti no ano e se tornou um dos meus episódios preferidos da vida. Para mim, uma mulher branca lésbica, Atlanta não é uma série que fala diretamente comigo e não é fácil de assistir. Inclusive, ela não é para ser, mas é necessária. Me atrevo a dizer que, mais do que isso, é obrigatória principalmente quando falamos de privilégios.

BoJack Horseman (5ª temporada), Netflix

Por Ana Vieira

Para uma série sobre meio animais, meio humanos e também sobre animais e humanos, BoJack Horseman, produção de Raphael Bob-Waksberg e Lisa Hanawalt, sempre pontuou bem em questões muito humanas. Com o retorno da série em setembro desse ano, já em sua quinta temporada, a qualidade e característica principal da série não só se manteve, e sim sobe de nível. Seguindo um caminho que flerta muito com as grandes e renomadas séries da TV, BoJack Horseman continua evoluindo, se reinventando e encontrando maneiras de surpreender.

Nos treze episódios lançados esse ano, assistimos um depressivo e viciado BoJack (Will Arnet) encontrar, como esperado, o fundo do poço. Entre o abuso de substâncias e bebidas, BoJack parece finalmente perceber que precisa de ajuda. A situação toda é muito difícil, é um caminho há muito já trilhado pelo meio homem, meio cavalo, mas que encontra seu ápice após a morte da mãe do personagem – o episódio em questão, “Free Churros” se consagrou como um dos melhores e mais bem avaliados episódios da série. Outra personagem que recebeu o devido destaque foi Diane N’guyen (Alison Brie), no preciso e real episódio “Dog Days Are Over“. BoJack Horseman provou, mais uma vez, o porquê é considerada uma das melhores animações da atualidade.

Para saber mais: “Back in the 90’s I was in a very famous TV show” – BoJack Horseman

Brooklyn Nine-Nine (5ª temporada), Fox

Por Karina

Brooklyn Nine-Nine deu um susto em todo mundo quando foi cancelada pela Fox em maio deste ano. Depois de uma corrente de tristeza e choro por toda a internet, recebemos a grata notícia de que a NBC pescou a série, que vai voltar para sua sexta temporada em 2019. A comoção que o cancelamento de Brooklyn Nine-Nine levantou não é justificada apenas porque os fãs são apaixonados e apegados, mas também porque o seriado entregou alguns de seus melhores momentos na quinta temporada.

Neste último ano da série, Rosa (Stephanie Beatriz) ganha destaque e conta que é bissexual; Gina (Chelsea Peretti) e Terry (Terry Crews) falam sobre maternidade/paternidade e trabalho de formas diferentes; vemos Jake (Andy Samberg) e Amy (Melissa Fumero) ficarem noivos e se casarem. É incrível como o seriado – uma comédia sobre policiais estadunidenses – continua conseguindo falar de temas sérios com naturalidade, sem deixar de ser responsável e sem deixar de ser engraçado.

Para saber mais: Brooklyn Nine-Nine: comédia em sua melhor forma

Crazy Ex-Girlfriend (4ª temporada), The CW

Por Júlia

Quando foi anunciado que a quarta temporada de Crazy Ex-Girlfriend seria a última, assim como Rachel Bloom e Aline Brosh Mckenna (as criadoras da série) a pensaram e propuseram para a CW, eu fiquei feliz. Apesar de hoje em dia quatro temporadas parecerem um arco curto, para Crazy Ex-Girlfriend e a história de Rebecca Bunch parece ser a duração perfeita.

Histórias densas e complexas como essa podem perder a força se forem alongadas por muito tempo, ainda mais quando as criadoras das séries pouco podem fazer diante das decisões das emissoras e estúdios de TV. O fato de que o tempo de Crazy Ex-Girlfriend será respeitado me traz mais esperança para esse mundo capitalista que transforma qualquer coisa e oportunidade em produto de consumo. Se você ainda não conhece essa série, aproveita que já tem três temporadas inteirinhas para assistir antes do final!

Para saber mais: Crazy Ex-Girlfriend

Demolidor (3ª temporada), Netflix

Por Thay

Encerrada após sua melhor temporada, Demolidor fez um terceiro ano soberbo: com uma trama coesa e inspirada, acompanhamos Matt Murdock (Charlie Cox) lutando contra seus piores pesadelos, sejam eles entregues por sua fé abalada ou por cortesia de Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio), que está de volta e mais maquiavélico do que nunca. Após o desfecho de Defensores, Matt não sabe muito bem como prosseguir e não consegue ser nem o advogado e nem o vigilante de outrora. Dessa maneira, acompanhamos por boa parte dos episódios a luta de Matt para se reencontrar enquanto tentar fazer com que Fisk seja mandado novamente para a prisão.

O show aqui é de Matt Murdock/Demolidor, mas os personagens secundários também recebem boas tramas e espaço para brilhar; é o caso de Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) que, ainda em processo de aceitar a aparente morte e desaparecimento de Matt, tentam seguir suas vidas enquanto lutam para fazer de Hell’s Kitchen um lugar melhor, cada um a sua maneira. Demolidor retorna em sua melhor forma, com cenas de luta belamente coreografadas, cenas e sequências de encher os olhos e uma trama sem defeitos – e por isso o adeus após o cancelamento é ainda mais dolorido.

Para saber mais: Demolidor: mais sombrio do que nunca

Doctor Who (11ª temporada), BBC One

Por Mia

A décima primeira temporada de Doctor Who causou polêmica antes mesmo de estrear. Tudo porque ao invés de um homem interpretando a décima terceira regeneração do Doctor, temos agora a maravilhosa Jodie Whittaker. Aparentemente, uma doutora incomoda muita gente. Apesar de ser a minha série preferida, demorei para assistir a temporada por dois motivos: a vida universitária e o medo de que tivessem estereotipado a nossa Doutora com modelos antiquados e errôneos de feminilidade. Porém, meus medos foram acalmados assim que vi Jodie na tela. Por mais que ame as outras regenerações do Doctor, neste momento não consigo enxergá-lo de outra forma que não com o rosto da Jodie.

A temporada certamente entrou para o roll das melhores de DW. Com um leque abrangente sobre minorias, temos em quase todos os episódios um forte curtição no patriarcado, uma defesa à liberdade de todos (especialmente mulheres e negros) e um combate ao pensamento mágico que nega a ciência e abraça mitos e medos. Pregando um discurso de amor e aceitação pelo universo – e deixando claro que, apesar dos alienígenas estranhos e muitas vezes assustadores, o maior mal ainda reside na ignorância humana –, nossa Doutora está melhor do que nunca. Com figuras históricas como Rosa Parks (num episódio lindo e emocionante que todos, mesmo os que não acompanham a série, deveriam assistir) e o Rei James e sua desenfreada e estúpida caça às bruxas, essa é, de fato, uma temporada a não ser esquecida.

Jane the Virgin (4ª temporada), The CW

Por Luisa

A quarta temporada de Jane the Virgin conseguiu recuperar o brilho de seus primeiros anos principalmente pela reviravolta na história de Jane Gloriana Villanueva (Gina Rodriguez), que acontece nos últimos segundos do finale e compensa as tramas mornas dos primeiros episódios. Ainda que tenha dividido corações, o tal plot twist é mais um resultado do ritmo dramático de telenovela que sempre esteve presente na série. Já deu para perceber que, no universo de Jane, está bem longe de ser um problema a repetição de recursos como o triângulo amoroso, o irmão gêmeo do mal, o uso de máscaras incrivelmente realistas ou o retorno de personagens dados como mortos. A série ainda abordou temas importantes, como a questão migratória nos Estados Unidos. Mas, no fundo, o tom do roteiro continua bem-humorado, principalmente com as clássicas participações especiais, destacando-se a da escritora chilena Isabel Allende e das atrizes Eva Longoria e Brooke Shields.

Para saber mais: Jane the Virgin: a vida real de uma protagonista de telenovela

Jessica Jones (2ª temporada), Netflix

Por Thay

Ao lado de Justiceiro, Jessica Jones é a outra sobrevivente após o show de cancelamentos das produções da Marvel na Netflix. Com uma segunda temporada menos impactante do que sua estreia, a série consegue, ainda assim, cativar o público com uma trama que mostra Jessica (Krysten Ritter) lidando com o peso de ser uma super-heroína, o retorno de sua mãe e os traumas do passado. Kilgrave (David Tennant) não está presente da mesma maneira que antes na série, mas suas aparições nos delírios de Jessica são algumas das melhores partes do show, mostrando como a química entre os atores permanece altíssima.

Para além da trama, outro ponto importante da segunda temporada de Jessica Jones está em sua produção: todos os episódios foram dirigidos por mulheres, o que nos entrega cenas com olhares diferentes e nada sexualizados da personagem principal. É possível notar que o tom é outro aqui: as cenas de sexo, por exemplo, conseguem ser muito mais intimistas do que as da temporada anterior, e nenhuma das personagens femininas é sexualizada. Ainda há pontas soltas no roteiro, mas ver Jessica Jones chutando bundas compensa demais.

Para saber mais: Jessica Jones: o peso de ser uma super-heroínaJessica Jones: nós não estamos sozinhas

Killing Eve, BBC America

Por Ana Luíza

Em artigo publicado na revista Rolling Stone, Jenna Scherer escreve que Killing Eve é “uma história elegante de obsessão e psicopatia que é calorosamente acolhedora e vívida”, o que me parece um modo bastante preciso de resumir uma das mais bem-sucedidas estreias deste ano; um drama policial que centraliza a perseguição de uma agente do MI-5 a uma assassina extremamente habilidosa, e a obsessão e tensão mútua que se desenvolve entre as duas. Mas se sua premissa não parece exatamente inovadora em um primeiro momento (e, de fato, não é), Killing Eve destaca-se justamente por colocar mulheres em papéis tradicionalmente masculinos, subvertendo toda e qualquer expectativa.

Ao longo dos oito episódios que compõe sua primeira temporada, Killing Eve constrói uma narrativa complexa, que une, de maneira bastante fluida, humor, mistério e drama, e que jamais se contenta com saídas fáceis. O sucesso, por sua vez, não ficaria restrito ao público, tendo sido indicada a prêmios consagrados, como Globo de Ouro, Television Critics Association Awards (do qual saiu vencedor na categoria Outstanding New Program), Screen Actors Guild Awards, Emmy, entre outros.

Para saber mais: Killing Eve: quebrando paradigmas nas narrativas de espionagem

My Brilliant Friend, HBO

Por Anna Vitória

Afirmo com tranquilidade que a Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante é um dos fenômenos editoriais mais relevantes dos últimos tempos. Da mesma forma como penso minha infância em antes e depois de Harry Potter, e sinto que isso é um marco comum para crianças e adolescentes da minha geração, o início da minha vida adulta é dividido entre antes e depois de ler Elena Ferrante. A Febre Ferrante contagiou tantas pessoas – tantas mulheres – nos últimos anos pois nos deu vocabulário e contexto para falar de experiências e sentimentos de ser mulher no mundo num momento em que estamos aprendendo a olhar para o lado mais desconfortável, contraditório e confuso de tudo isso.

Por todo esse significado e do peso que a obra de Ferrante conquistou nos últimos anos, adaptá-la para a televisão é um desafio e tanto. Saverio Constanzo, o diretor, que contou com Ferrante no seu time de roteiristas, entre erros e acertos obteve um saldo final positivo. O elenco todo italiano é o que primeiro se destaca, não só pela competência das atrizes protagonistas – principalmente Elisa del Genio e Ludovica Nasti, que interpretam Lenu e Lila na infância, respectivamente – bem como pela semelhança física com a imagem mental que se faz das personagens. Pouco dada a descrições físicas, Ferrante deixa muito à imaginação do leitor e mais ainda à complexidade da personalidade que constrói para suas personagens, que se manifesta nas atrizes pela expressividade do olhar, no caso de Lila, ou a falta dela, como vemos Lenu em diversos momentos. O compromisso de Constanzo em ser fiel aos livros muitas vezes é o que impede a série de alçar voos maiores, que poderia aproveitar-se dos recursos da plataforma televisiva para dar forma ao que não é dito e traz tanta força assim para as histórias de Ferrante. Os momentos em que faz uso disso, ao criar um narrador em terceira pessoa e extrapolar a perspectiva de Lenu, são bem-vindos e virão a calhar nas próximas temporadas, cujo desafio de adaptação é dificultado pelo volume de páginas – e acontecimentos, e sentimentos – consideravelmente maior.

Para saber mais: My Brilliant Friend: o que pensamos até agora


** O fundo da arte em destaque é de autoria da nossa colaboradora Carol Nazatto. Para conhecer melhor seu trabalho, clique aqui!
** A montagem da arte é de autoria da editora Ana Luíza. Para ver mais, clique aqui!