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Brooklyn Nine-Nine: Rosa Diaz não está confusa

Rosa Diaz, personagem interpretada pela ótima Stephanie Beatriz, é sem dúvidas uma das personagens mais interessantes do seriado Brooklyn Nine-Nine. Misteriosa, engraçada, durona, mas com um bom coração, a detetive latina se tornou a favorita de muitos fãs ao longo das cinco temporadas da série. Na temporada atual — a quinta —, a detetive revelou uma característica sua que aqueceu, sem muito esforço, o coração de muita gente.

Atenção: esse texto contém spoilers!

Rosa, que até então havia apenas se relacionado com homens, revela sua bissexualidade,  causando um grande impacto em todo o fandom e, principalmente, na comunidade LGBTQ+. Isso porque, além de revelar que está em um relacionamento com uma mulher, Rosa Diaz deixou claro, desde o início, que se identifica como bissexual. Durante o arco de dois episódios em que se assumiu para a equipe de detetives e para a sua família, ela conseguiu combater inúmeros estereótipos acerca da bissexualidade feminina deixando bem claro que não está “confusa” e validando sua orientação sexual quando seus pais insistem em tratá-la apenas como uma fase.

Segundo o relatório Where We Are on TV, criado pela organização Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) para reunir estatísticas sobre a representatividade de minorias nos seriados norte-americanos, na temporada 2017/2018, bissexuais constituíram 28% do total de personagens LGBTQ+. Porém, nota-se que muitos são considerados bissexuais apenas por se relacionarem com pessoas de diferentes gêneros ao longo da trama não por se declararem como tal. A grande maioria costuma empregar eufemismos como “eu gosto de pessoas” ou simplesmente não falam abertamente sobre sua orientação sexual. Ou seja, mesmo quando há personagens bissexuais nas tramas, o estigma ao redor da palavra ainda permanece. O que chama a atenção no caso de Brooklyn Nine-Nine, portanto, é a utilização da palavra bissexual de forma explícita, algo que, infelizmente, ainda é raro na televisão.

rosa diaz

Se pararmos para pensar na representatividade que o “B” de LGBTQ+ possui na mídia, podemos fazer uma longa lista de personagens bissexuais existentes em séries e filmes. Mas quantos deles realmente se utilizam do rótulo bissexual? Em séries como Orange is The New Black ou How To Get Away With Murder, por exemplo, personagens importantes são canonicamente bissexuais, mas a palavra não chega a ser utilizada para descrever sua orientação. Esse tipo de representatividade acaba gerando invisibilidade e apagamento do rótulo, já que os personagens podem passar a ideia de que estão vivendo apenas uma “fase” ou que estão indecisos, reforçando, assim, estereótipos negativos sobre pessoas bissexuais.

Mais do que enfatizar a necessidade de existirem personagens aberta e declaradamente bissexuais na televisão e no cinema, é necessário refletir sobre a qualidade dessa representação. Embora existam muitas pessoas que preferem não utilizar a palavra bissexual na vida real por não se identificarem com ela ou não necessitarem de rótulos, é preciso considerar a importância que a palavra tem quando utilizada dentro de um produto midiático de grande alcance como Brooklyn Nine-Nine, uma sitcom famosa transmitida pelo canal de televisão aberta FOX, nos Estados Unidos.

Como declarou Stephanie Beatriz, atriz que interpreta Rosa Diaz e que também assumiu ser bissexual em 2016, em entrevista à Entertainment Weekly: “Eu sugeri que essa palavra fosse muito importante para ela e que também seria muito importante para a comunidade bi ter a palavra dita na televisão. Não apenas uma sugestão de que agora ela namora garotas, mas uma clareza sobre essa personagem.” Mesmo que tenha aumentado, nos últimos anos, a presença de personagens LGBTQ+ na televisão podemos perceber que ainda há uma grande relutância por parte dos roteiristas em utilizar a palavra devido às características negativas atreladas à ela e à crença de que a bissexualidade não existe ou é apenas um “meio termo” entre a homo e a heterossexualidade.

Ao mostrar uma de suas principais personagens se identificando claramente como bi, Brooklyn Nine-Nine ajuda a normalizar o uso da palavra bissexual combatendo o estigma e o apagamento do rótulo. Rosa é uma mulher que se mostra segura de si e de sua orientação sexual, não se enquadra nos estereótipos da bissexual promíscua, infiel ou malvada e mostra para o público que a bissexualidade existe, é real, legítima e não deve ser encarada apenas como uma fase.

Isabela Graton é uma futura jornalista de 21 anos, feminista, viciada em séries e em problematizar.
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