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Em defesa de Glow, uma série que merecia um final melhor

Na primeira cena de Glow, vemos a protagonista, Ruth (Alison Brie), uma atriz frustrada que vive em Los Angeles, fazendo teste para um grande filme. Na ocasião, ela lê as falas de uma personagem que luta pelos seus direitos e se recusa a se moldar pelo sistema, reivindicando um mundo melhor. Quando ela termina, agradece as duas produtoras pela oportunidade de fazer uma “personagem feminina tão forte”, algo que não era nem um pouco comum na década de 1980. Elas, no entanto, dizem que Ruth está lendo o papel errado. Aquelas na verdade são as falas do homem. No final, a fala da atriz é apenas “sua esposa está na linha 2”. Poucas séries conseguem captar sua essência no piloto, muito menos nos seus primeiros minutos. Mas Glow faz isso sem maiores dificuldades: na primeira aparição de Ruth o seriado explana exatamente as dinâmicas de poder e opressão que são reiteradas na obra, além de deixar explícito seu humor sagaz e a característica de sátira tão presente no decorrer dos episódios.

Quando Ruth sai do teste, ela é convocada para participar de uma audição pouco comum. Sam Sylvia (Marc Maron), um diretor e roteirista de filmes de ficção científica trash, está procurando mulheres diferentes para estrelar uma série chamada Gorgeous Ladies of Wrestling (Moças Lindas da Luta Livre, em tradução literal), ou apenas Glow. Sem esperanças de encontrar algo melhor, e cada vez mais desiludida com a própria carreira, Ruth fica animada com a possibilidade de explorar um novo caminho, e resolve tentar entender o que, afinal, é a luta livre.

Em contraponto direto com Ruth, está Debbie (Betty Gilpin). Ex-atriz de novela que abandonou sua carreira como estrela de novelas para cuidar do filho recém-nascido e viver no subúrbio, ela aparece no ringue procurando por Ruth após descobrir que sua melhor amiga e seu marido vinham tendo um caso pelas suas costas. Após as duas se enfrentarem, Sylvia vê a química explosiva entre elas e cria toda uma narrativa na sua cabeça, onde Ruth é uma espécie de vilã e Debbie é a estrela da série. Sylvia também entende que Luta Livre é muito mais do que apenas colocar uma fantasia e lutar. Luta livre é também sobre narrativa. O poder de uma boa história mudaria o rumo que a série tomaria e faria com que o público ficasse investido na produção, voltando para novos episódios para ver como o próximo conflito que iria se desenrolar.

Por causa do conhecimento de Sylvia e seu desempenho em criar algo real junto com as meninas selecionadas, Glow se torna uma obra com uma metalinguagem que funciona perfeitamente. Apesar de não ser o seriado mais ambicioso ou o mais caro da Netflix, o fato de que as criadores Liz Flahive, Carly Mensch e Jenji Kohan entendiam muito bem seus personagens, tinham arcos emocionais e bem trabalhados para todos eles e, principalmente, sabiam como usar o pano de fundo colorido da década de 1980 ao seu favor, fez com que a série se tornasse algo realmente especial. É divertido ver as roupas coloridas e as mulheres no ringue lutando entre si, mas é ainda mais satisfatório ver cada uma delas crescer e seus relacionamentos evoluírem.

Glow

Com a pandemia da Covid-19 sem data para terminar e a eventual pausa na gravação de várias produções já em andamento, muitas obras acabaram sendo canceladas — mesmo que elas já tivessem sido renovadas para uma nova temporada em outra ocasião. Glow foi apenas uma das vítimas nesse acaso, mas é com certeza a que mais vai deixar um buraco na programação que antes estava inserida. Se hoje a Netflix prioriza fazer cada vez mais seriados com base no seu algoritmo e lança várias narrativas que são diferentes apenas em pequenos detalhes, Glow se destacava por ter uma abordagem genuína sobre temas complexos como amizade feminina e maternidade, ao mesmo tempo que tinha explosões de glitter e a essência colorida da década de 1980 como pano de fundo. Mais do que isso, era uma série sobre aceitação e achar o seu lugar no mundo.

Atenção: este texto contém spoilers!

Os relacionamentos e as dinâmicas que foram criadas durante as três temporadas sempre foram o carro chefe da série, sendo que no centro desta narrativa estavam sempre Ruth, Debbie e Sam. Mesmo assim, a forma como elas agiam com seu trabalho no ringue ditava muito sobre o relacionamento interpessoal entre os protagonistas, bem como as barreiras pessoais que tinham que trabalhar. O mais interessante da obra sempre foi o fato de que as mulheres selecionadas para trabalhar em Glow iriam viver versões estereotipadas de si mesmas. Seja por sua raça, cultura ou religião, os personagens designados para as lutadoras sempre faziam uma alusão preconceituosa do que elas eram na realidade. O que, claro, é muito problemático. O que faz a diferença nesse caso é que o seriado em si tinha total consciência da história que estava contando e, consequentemente, de como poderia fazer isso da forma certa.

O resultado é algo realmente incrível: ao interpretar personagens redutivos, as mulheres de Glow começam a encontrar liberdade e uma espécie de sensação catártica. Elas deixam de ser o que a sociedade espera que sejam, e apenas são elas mesmas. Isso acontece por vários motivos. Para Ruth, por exemplo, é pelo fato de que ela finalmente tem um projeto que lhe dá destaque. A protagonista se esforça constantemente para melhorar sua parte, ajudar suas colegas, dar uma nova e melhor visão para o que a série poderia ser. Já com Debbie, Glow é uma forma de se encontrar profissionalmente — e até mesmo pessoalmente — outra vez. Depois de abandonar sua carreira para viver como mãe e dona de casa, encontrar um novo caminho está longe de ser fácil. As duas são, de muitas formas, dois lados de uma mesma moeda.

A história de Debbie e Ruth começa, como citado já no texto, quando a primeira descobre que a outra está tendo um caso com seu marido. Melhores amigas há anos e companheiras de atuação, o relacionamento sofre uma mudança brusca, mas que de certa forma serve como o estopim não só para a narrativa do seriado, mas para que a vida de ambas apresente uma melhora. Tanto Debbie quanto Ruth estavam profundamente infelizes, afinal: enquanto Ruth não conseguia um emprego e cada vez mais perdia a esperança de conseguir um trabalho proeminente atuando, Debbie vivia um casamento limitador e sufocante. As duas eram reduzidas pelo patriarcado, ainda que de maneiras diferentes. Quando Sam descobre que elas têm a química perfeita para estrelar Glow, eles criam, em conjunto, duas personagens: Liberty Bell, vivida por Debbie, e Zoya, The Destroya, a vilã de Ruth.

Apesar de uma série não ter muita relação com a outra (apenas o fato de que ambas começam suas respectivas tramas na década de 1980), é possível traçar um paralelo direto entre o relacionamento de Debbie/Ruth em Glow com as duas protagonistas de Halt and Catch Fire, Donna (Kerry Bishé) e Cameron (Mackenzie Davis). Na história de Halt and Catch Fire, que chegou ao fim em 2018 depois de uma quarta temporada excelente, as duas personagens se tornam amigas e, eventualmente, parceiras de trabalho. Donna era como uma âncora para Cameron, e vice-versa. Apesar de uma estar melhor (profissionalmente e pessoalmente) quando a outra está por perto, o embate da personalidade de ambas criou algo ao mesmo tempo complexo e complicado, e maravilhoso de se acompanhar. Apesar de todos os personagens principais da série serem bem trabalhados e terem arcos emocionais perfeitos, o relacionamento das duas se tornou o centro da obra — que triunfou por causa disso. É impossível não compará-las com Debbie e Ruth.

No ringue, a personagem de Debbie representa o “sonho americano”. Ela é loira, alta, linda, carrega um forte sotaque do Sul e adora defender todos os modos de vida dos estadunidenses: liberdade e capitalismo, mesmo que um seja o oposto do outro. Já Zoya é o rosto da União Soviética, do comunismo. Além da personagem de Ruth carregar um forte sotaque estereotipado, ela vive divagando sobre tudo que existe de errado no seu país, além de tentar sabotar Liberty Bell em qualquer oportunidade que aparece. A sacada Estados Unidos versus URSS é inteligente — na década de 1980 a narrativa mais vendida era sobre a disputa entre as duas nações, líderes de um mundo polarizado —, mas o fato é que o conflito que nasce a partir da dicotomia realmente vale a pena. Enquanto no ringue a luta entre elas é relativamente simples de entender, sem muitas nuances, na vida real é o oposto, ainda que um ressoe no outro.

Glow

Ruth sempre se sentiu inferior a Debbie. Isso não justifica o que fez, a traição com o marido da sua melhor amiga, mas é fundamental para entender seu relacionamento. Enquanto Debbie vinha criando uma carreira na TV e encontrando o “amor”, Ruth se sentia cada vez mais solitária e insatisfeita. Sem amigos ou pessoas próximas, ela via Debbie como uma espécie de Liberty Bell — ainda que de forma inconsciente e sem todos os estereótipos. Mas é óbvio que ela não tinha uma visão completa da vida de sua amiga que, de certa forma, também sofria com suas próprias limitações. A falta de comunicação entre elas levou ao estopim do caso e, mais tarde, ao ringue, em duas posições opostas. Como as duas protagonistas de Glow, elas tinham a oportunidade de lutar e trabalhar o conflito pela forma mais brutal que existe: a violência. Fora dos ringues, são obrigadas a trabalhar juntas e deixar de lado suas diferenças pessoais para trabalhar naquilo que amam e têm em comum: a série.

O ápice do conflito entre elas acontece na segunda temporada quando, aparentemente, Glow será cancelada pela emissora que coloca a série no ar. Tudo isso acontece não só porque o seriado em si tem uma audiência concisa e muito específica, mas também porque Ruth foi atraída pelo chefe do canal para uma situação abusiva onde ele exige, sem dizer com palavras, fazer sexo com a mesma. Quando ela consegue fugir do restaurante que eles estão, eles divulgam que o show será cancelado e, pior, quando Debbie descobre, coloca a culpa em Ruth, como se ela não tivesse lidado com a situação da forma correta. Assim como é difícil entender as motivações de Ruth e suas ações abomináveis no começo da série, aqui com Debbie não é muito diferente. Analisando friamente, é possível perceber que ela está, na verdade, preocupada com o cancelamento da série e com o dinheiro que sustenta seu filho. Mas isso não justifica seu comportamento, ou a falta de empatia em relação ao que aconteceu com Ruth. O evento, no entanto, é o que faz com que as duas finalmente começassem a, definitivamente, se entender, quando percebem, talvez pela primeira vez, que nenhuma das duas tinha muito controle sobre o que acontecia em suas vidas — mas que gostariam de obtê-lo.

O melhor de tudo isso é que a série faz essa construção profunda de ambas sem deixar de explorar outros aspectos da vida das protagonistas, suas individualidades. Por meio de Debbie, por exemplo, os roteiros abordam assuntos como maternidade e como é para uma mulher lidar com o seu trabalho e a responsabilidade de criar um filho sozinha, na década de 1980; além de falar sobre as pressões estéticas, como a aparência ainda ser um fator fundamental na indústria do showbusiness. Na medida em que envelhece e seu corpo também (algo que é não só natural, mas também deveria ser esperado), Debbie começa a se preocupar em perder o que ela sempre achou que fosse seu maior trunfo (porque as pessoas lhe ensinaram isso): sua beleza, seu corpo etc. Mesmo assim, é impressionante acompanhar sua trajetória em querer mais. No decorrer dos episódios, ela busca uma posição de produtora e tem que lutar constantemente para ser respeitada e ouvida no seu ambiente de trabalho.

Com Ruth é interessante porque sua evolução individual está muito ligada ao coletivo que cria com outras mulheres. Ao desenvolver um relacionamento de cumplicidade com suas colegas de trabalho, que eventualmente se tornam sua família, ela também melhora como pessoa. Ruth se torna alguém genuinamente gentil e querida, além de ser sempre a pessoa que está disposta a correr o quilômetro extra para fazer com que a série dê certo. Ela sempre está super envolvida, trabalhando no seu personagem e tentando ajudar Sam nas suas responsabilidades como diretor. O que, eventualmente, une os dois.

Assim como Debbie e Ruth, Sam é um personagem complicado, mas que eventualmente consegue sair do status inicial que a série o colocou. Ele começa como um homem solitário, dependente químico e tem tendências machistas e até mesmo racistas. Considerado um gênio por um grupo pequeno de seguidores que amam seus filmes, o diretor faz produções com baixíssimo orçamento de ficção científica com uma crítica social não tão óbvia assim. Ainda que aclamado por algumas pessoas, não consegue emplacar nada bom durante um bom tempo e tem que “se vender”. É assim que ele acaba em Glow.

Glow

O fato é que a outra persona de Sam, o seu lado melhor e mais humano, é mostrado por meio de Ruth — mesmo que eles não tenham se gostado ao se conhecerem. Na medida em que ele permite que ela tenha mais voz dentro da própria série, Ruth passa a contar com ele e com sua ajuda e vice-versa. Sam leva Ruth para realizar um aborto, e fica ao seu lado quando ela é abusada pelo chefe da emissora. Ela passa a ser uma voz indispensável para Glow, algo que ele mesmo garante. Já Ruth não só oferece sua ajuda dentro do escopo da produção, mas também da vida pessoal de Sam. Quando sua filha, Justine (Britt Baron), aparece, ela usa sua sensibilidade para ajudá-lo a encontrar um caminho melhor para lidar com a situação. Ruth oferece seu olhar empático para Sam, e por isso ele passa a mostrar mais esse seu lado para os outros. Ele ainda é uma figura meio canastrona e complicada, mas é possível ver os resquícios de alguém que se importa com o que acontece ao seu redor.

Por ter roteiros de Jenji Kohan, Glow nunca fica apenas na superfície com seus personagens coadjuvantes, sendo que (quase) todas as mulheres têm a oportunidade de serem desenvolvidas para além dos personagens estereotipados que interpretam. Arthie (Sunita Mani) vive uma mulher chamada Beirute, uma terrorista do Oriente Médio. Ela entende as problemáticas de fazer algo assim e até certo ponto luta para acabar com isso, mas também encontra uma nova face da sua personalidade em Glow. Quando entra na série, Arthie estuda medicina por pressão dos pais. Mais tarde, ela não só toma as rédeas do seu destino e larga o curso, abraçando a série de vez, como também encontra amor com Yolanda (Shakira Barrera) e passa a entender sua identidade como uma mulher queer. O relacionamento das duas também tem suas complicações, já que Yolanda tem certa dificuldade em aceitar o fato de Arthie ainda está tentando descobrir quem é, mas as duas partem de pontos importantes e compreensíveis.

Jenny (Ellen Wong) e Tammé (Kia Stevens) parecem sofrer do mesmo problema que Arthie/Beirute. Enquanto a primeira vive uma mulher chamada de Biscoito da Sorte (um estereótipo que dispensa explicações), a segunda é o que eles chamam de Rainha da Previdência, alguém que se aproveita do governo. As duas são uma espécie de vilãs dentro da série, e existem momentos em que o papel que são obrigadas a interpretar pesa para ambas. Mulheres asiáticas e negras, respectivamente, as duas lidam com a situação de formas diferentes. Tammé conversa seu filho (um dos poucos homens negros que estudam em Stanford) sobre estereótipos raciais, enquanto Jenny confronta suas colegas sobre os problemas de criar tais personagens. Isso, inclusive, leva a um dos momentos mais importantes da série, uma conversa que elas têm sobre as heranças da Segunda Guerra Mundial. Jenny, como uma mulher de descendência japonesa, e Melanie (Jackie Tohn), uma mulher branca que por vezes reforça certas problemáticas, como judia. Toda a cena é impecavelmente atuada pelas atrizes e além de ser catártico para as personagens, exemplifica bem o que é Glow: um choque de mulheres de todos os tipos, de todos os lugares, que vieram de contexto diferentes. E é justamente por isso que funciona tão bem.

Bash (Chris Lowell), produtor da série e pessoa que investe o dinheiro inicial da produção, é um homem gay que não tem coragem de revelar-se como tal, pressionado por sua mãe e as expectativas da sociedade; Cherry (Sydelle Noel) e Keith (Bashir Salahuddin) são um casal de dubladores que sofrem para se manter empregados, mas que são um exemplo saudável e completo do que é um amor maduro e próspero, ainda que enfrente problemas; Sheila (Gayle Rankin) começa como alguém que se identifica como uma Loba e passa por uma jornada sensível e comovente, levando a um desfecho que não só contém uma das melhores cenas da série (quando ela tira sua fantasia pela primeira vez), como faz com que se torne uma das melhores atrizes da sua companhia.

Nada disso, no entanto, significa que Glow seja perfeita. Como qualquer série, a produção precisou levar seu tempo par criar um ritmo: a primeira temporada é instável, mas a segunda e a terceira, com personagens mais bem estabelecidos e dinâmicas bem fundamentadas, são maravilhosas. Ao transferir a história para Las Vegas e amadurecer suas tramas, é possível ver em totalidade todo o potencial da obra, como ela é importante e relevante, como faz uma mistura orgânica de tudo que existe de bom na televisão. Dentro da série, Glow se tornou uma espécie de refúgio para pessoas que estavam fugindo de suas vidas, procurando construir algo novo, melhor ou que apenas oferecesse uma nova oportunidade. E, na vida real, não era muito diferente.

No episódio que viria a se tornar o final da série, Debbie usa toda a experiência que criou como produtora ao longo das três temporadas, mais a influência e o dinheiro de Bash, para conseguir comprar uma emissora. Sua proposta, como ela mesma aponta, é simples: criar um “paraíso” para as mulheres de Glow, ou qualquer outra produção que possa ter um cunho parecido com o que elas criaram, um lar inclusivo e diverso. “Vou criar um paraíso onde nós vamos comandar o show. Não iremos mais ficar a mercê daqueles idiotas, todas as decisões serão nossas. Achei uma brecha que vai ser uma catapulta para nosso futuro”, ela diz nos momentos finais da obra.

Glow

A grande ironia disso tudo é que, no final das contas, Ruth e Debbie não vão poder criar o seu paraíso juntas. E o público não vai poder ver o desfecho — talvez o mais importante — de suas jornadas. Apesar da Netflix ter dado o sinal verde para produzir uma série tão especial quanto Glow, foi ela quem também tirou a oportunidade de concluir essa trajetória de forma satisfatória. Não é algo incomum na indústria televisiva: séries são canceladas com frequência, muitas sem ter o final que merecem (Pushing Daisies), outras são salvas e ganham mais de um desfecho (Veronica Mars), enquanto algumas são salvas e canceladas novamente (como o caso recente de One Day at a Time). Desde a pandemia do Covid-19, no entanto, os cancelamentos têm sido frustrantes de forma extra.

90% das séries canceladas pela pandemia até agora são produções feitas e estreladas por mulheres. Stumptown, estrelada por Cobie Smulders, teria Monica Owusu-Breen como showrunner na segunda temporada; On Becoming a God in Central Florida traria Kirsten Dunst de volta como uma protagonista complexa e cheia de nuances, um dos melhores papéis da atriz em anos; projetos interessantes como a série Americanah, que seria produzida por Lupita Nyong’o e Danai Gurira, foi engavetada pela HBO Max. A lista segue e, infelizmente, Glow, uma produção com mulheres de todos os tipos, é só mais uma das vítimas. Quem está ganhando segundas chances? Produções como Dexter, por exemplo, que após um dos piores finais de todos os tempos, terá uma minissérie com mais 10 episódios extras? É de se pensar.

Nas redes sociais e entrevistas, o elenco de Glow manifestou vontade de continuar com a história. Gilpin falou que irá sentir falta do “melhor emprego que já teve” enquanto Maron disse que a Netflix deveria dar a oportunidade de encerrarem a trama com um filme, ou uma temporada mais enxuta, mesmo que isso demore alguns anos para sair. As chances disso realmente acontecer são pequenas, o que é frustrante e triste. Quero saber se, assim como Donna e Cameron, Ruth e Debbie encontraram seus caminhos juntas, profissionalmente e pessoalmente. Quero saber o desfecho do romance entre Ruth e Sam. Quero saber se Bash vai conseguir se aceitar pelo o que é, se Yolanda e Arthie vão terminar juntas e até mesmo Cherry e Keith vão conseguir construir uma família. E, principalmente, se Glow vai sobreviver e triunfar.

2 comentários

  1. Nossa, que texto excelente. Glow merece/merecia um final, o desenvolvimento das personagens é ótimo – elas começam a trama de um jeito e terminam de outro, o que é entusiasmante. Mas pelo visto, vai ficar pra imaginação mesmo…

  2. Assisti despretensiosamente Glow e acabei viciando nela, assistindo tudo de uma vez, realmente é uma pena, pois a série te deixa preso e o “final” não foi digno do processo, porque nem ao mesmo deixou aquele ar para ficarmos imaginando o que aconteceu com todos os personagens, deixou mais um sentimento frustrante como se acabasse a luz no meio de um bom filme ou livro e não retornasse nunca mais, enfim, o jeito é procurar filtrar algo de bom do que consumimos e tentar evitar aquele sentimento de que precisamos de uma conclusão para tudo e para todos e finalizar pequenos momentos somente.

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