Categorias: TV

Boys Love: cinco títulos para assistir

O número de produções que tem como centro da história vivências LGBTQIA+ tem aumentando exponencialmente no Ocidente nos últimos anos, apesar de ainda não estar perto do ideal. Quando olhamos para o outro lado do globo, entretanto, especialmente, o Leste Asiático, apesar de abertamente mais conservadores, as produções televisivas refletem um cenário muito diferente, com todo um nicho dedicado a representar o amor homoafetivo, os chamados Boys Love. A Tailândia é uma das maiores produtoras do gênero e tem aumentado seu soft power com a viralização das produções internacionalmente, assim como aconteceu com a Coreia do Sul em relação aos k-dramas. Filipinas, Coreia do Sul, Taiwan e Japão também possuem seu quinhão de produções, cada vez mais cheias de liberdade ao discutir as nuances e complexidades das relações amorosas LGBTQIA+. Quem ganha, afinal, somos nós.

Infelizmente, apesar de contarem com uma indústria consolidada quando se fala de Boys Love, no que tange a representatividade lésbica e sáfica, as mulheres saem perdendo. A Tailândia lançou apenas neste ano seu primeiro Girls Love, GAP The Series, e agora conta com a produção de outro: Pluto. Esperamos que logo essa realidade mude.

A seguir, confira cinco dicas de Boys Love para assistir e explorar esse mundo cheio de ótimas histórias.

Jack o’ Frost, Viki

Okusawa Ritsu (Honda Kyoya) e Ikegami Fumiya (Suzuki Kosuke) namoram há algum tempo, mas a relação tem tido mais atritos que momentos prazerosos ultimamente. Até que um dia, após a comemoração de aniversário de Ritsu, ambos brigam e, no momento de raiva, Fumiya termina a relação. O que leva Ritsu a fugir intempestivamente. No dia seguinte, Fumiya recebe uma ligação que o avisa que seu, agora, ex-namorado sofreu um acidente e está no hospital. Quando chega lá, ele descobre que Ritsu perdeu parte de suas memórias recentes e não se lembra de nada relacionado a ele. Sem os mal-entendidos, a frustração e o desgaste da relação, Fumiya vê a perda de memória de Ritsu como uma oportunidade para reconquistá-lo e reescrever tudo que fez de errado durante a relação.

As produções japonesas, via de regra, constroem com maestria relações humanas e representam belamente sentimentos e emoções; com Jack o’ Frost não é diferente. Em seis episódios, com vinte minutos cada, o roteiro e direção nos fazem mergulhar na vida dos dois personagens, como se estivéssemos ao seu lado a todo momento, vivendo com eles a insegurança, indecisão, angústia e, também, a euforia, felicidade e plenitude de vivenciar o amor romântico. Relacionar-se é difícil, ainda mais para Fumiya, que sempre teve problemas para comunicar o que borbulha em seu interior e que, por isso, acredita que é óbvio para aqueles com quem divide a vida. Já para Ritsu a quietude é sinônimo de aquiescência, além de ficar imerso demais em sua própria bolha, não honrando suas promessas em favor de sua outra paixão: desenhar.

Com o passar da trama, a colisão dos dois é mais suave, mais cuidadosa, à medida que Fumiya tenta acertar todos os pingos nos is, entretanto apenas fingir algo que não se é, não funciona por muito tempo. Quando Ritsu descobre a verdade sobre suas lembranças a relação explode mais uma vez, já que amor não é o único sentimento capaz de manter duas pessoas unidas. No fim, eles decidem trabalhar para serem melhores um para o outro e para com si mesmos enquanto o telespectador termina tocado profundamente com a delicadeza e realismo da história.

The Eighth Sense, Viki

As produções da Coreia do Sul ainda são consideradas recentes no mundo dos Boys Love, mas com a sensibilidade e primor de roteiro e atuação dos k-dramas passados para estas produções não é difícil achar obras-primas que contam a história de amor entre dois homens. Uma das produções mais bem avaliadas até agora em 2023 é The Eighth Sense, um coming-of-age que mostra a jornada de Kim Ji Hyun (Oh Jun Taek), um menino tímido do interior que foi para Seoul estudar. No local em que trabalha, ele conhece Seo Jae Won (Im Ji Sub), um estudante da mesma universidade que ele. Logo de cara, eles ficam fascinados um pelo outro. Jae Won pela calma e quietude de Jy Hyun e Ji Hyun pela beleza e atitude pretensiosa de Jae Won que tenta esconder seu verdadeiro eu.

Quando descobre que Jae Won faz parte do clube de surfe, Ji Hyun não perde tempo em se inscrever. Assim, é inevitável a aproximação dos dois e, ao passo que Ji Hyun começa a explorar sua sexualidade, Jae Won precisa lidar com as expectativas dos pais, a pressão dos colegas, a culpa que o corrói pela morte do irmão, a depressão que o atinge como ondas furiosas do mar.

Com um desenvolvimento melancólico, uma fotografia que é indispensável para dar o tom da história, The Eighth Sense mostra não só o desenrolar da relação entre Ji Hyun e Jae Won, mas como cada um de nós luta diariamente por seu lugar no mundo, para encontrar a coragem de ser quem se é — ou descobrir-se em primeiro lugar —, a importância de ser gentil consigo e com o próximo. Dentro os diversos pontos positivos do BL, um dos principais, particularmente, são as sessões de terapia de Jae Won: tão reais, difíceis, com verdades dilacerantes, pontuadas com negação e cinismo, tristeza e desespero. A atuação de Im Ji Sub é incrível conforme o personagem vai se afogando na depressão, no luto e na culpa, até ressurgir na superfície.

“He was sunshine, I was midnight rain” (“ele era um raio de Sol, eu era a meia-noite”) é uma boa definição para a dinâmica entre Ji Hyun e Jae Won. Com a tempestade interna e externa que atinge Jae Won a todo momento, a solidez, calmaria e serenidade de Ji Hyun funcionam como uma âncora e um contraponto que traz o tão necessário equilíbrio.

Bad Buddy, GMMTV

Um marco na indústria de Boys Love da Tailândia, Bad Buddy veio para romper com vários estereótipos nocivos sedimentados desde os primórdios nas produções do nicho.

Do ódio ao amor, Pat (Ohm Pawat Chittsawangdee) e Pran (Nanon Korapat Kirdpan) são vizinhos e cresceram com seus pais em pé de guerra, ensinando-os a odiar um a outro também. Porém com outros planos e acabam virando amigos, até que as famílias descobrem e acabam com tudo. Agora já na universidade, Pran volta para a cidade para estudar Arquitetura, graduação rival de Engenharia, graduação que Pat cursa. Além da rivalidade no lar, os dois enfrentam a rivalidade nos estudos e entre os grupos de amigos, até que precisam desenvolver um projeto juntos e as coisas, claro, começam a mudar.

A irreverência das interações entre os personagens, a implicância deliciosa que nos arranca gargalhadas e suspiros, além da angústia compartilhada de dois garotos que passam a se amar de maneira intensa, fofa e secreta. Bad Buddy é para quem adora clichês, um romance com declarações que deixam o coração quentinho, com um par que exala química seja quando briga ou quando está junto.

Not Me, GMMTV

Not Me é revolucionário; certamente por ser uma história de um grupo de garotos rebeldes cometendo insurgências contra um empresário monopolizador que utiliza seus negócios como fachada para um cartel de drogas, mas muito mais pelo modo como desenvolve as relações homoafetivas entre os casais da história e a fraternidade entre os garotos, que unidos em um objetivo de luta, encontram um propósito de vida e de assegurar quem são como indivíduos em um sistema capitalista injusto e desigual que oprime sonhos e oportunidades.

Tudo começa quando Black (Gun Atthaphan Phunsawat), o líder do grupo, sofre um ataque e fica em coma no hospital. Seu irmão gêmeo White (Gun Atthaphan Phunsawat) acabou de retornar para Tailândia e jura encontrar o algoz do irmão, com quem divide uma conexão quase que telepática quando se trata de sentir a dor e felicidade um do outro. Em uma atuação impecável de Gun Atthaphan em viver os dois personagens com personalidades e nuances tão diferente de forma completa, ele se infiltra na gangue como um falso Black a fim de descobrir o que o irmão fazia e o que o levou a quase ser morto.

Logo de cara, ele encontra hostilidade por parte de Sean (Off Jumpol Adulkittiporn) e estranhamento em Yok (First Kanaphan Puitrakul), Gumpa (Papang Phromphiriya Thongputtaruk) e Gram (Mond Tanutchai Wijitvongtong), que não reconhecem o comportamento do colega. Em sua primeira missão com o grupo, White (disfarçado de Black) vive uma experiência de quase morte, o que mostra a ele a seriedade dos problemas em que seu irmão se envolveu. Conforme os dias vão passando e ele não descobre quem pode ser o responsável ao atentado a Black, ele vai convivendo com os garotos, entendendo suas dores, sua ideologia e seus ideais — e começa a partilhar deles porque, no fundo, ele sabe que sempre viveu em uma miríade de privilégio e que, lá fora, as “pessoas comuns” são massacradas.

A relação que ele estabelece com eles também é interessante, especialmente com Sean, que odeia Black, mas vê na mudança de comportamento dele uma fagulha de atração nascer e um fascínio se estabelecer. Entre discordâncias e atritos, eles se aproximam e, com cuidado, rodeiam seus sentimentos e a vulnerabilidade de se expor, até que, em um ímpeto, se abrem um para o outro, mostrando que esperança e amor também são revolucionários. Uma das cenas mais marcantes do Boys Love é justamente entre os dois que, de mãos dadas, sorriem e pulam alegres durante um protesto pela legalização do casamento igualitário com uma bandeira LGBTQIA+ sob as cabeças.

We Best Love: No. 1 For You e Fighting Mr. 2nd, WeTV

Rivais em tudo que se propõem, seja nos estudos, na vida pessoal ou no esporte, Gao Shi De (Sam Li) e Zhou Shu Yi (YU) levam muito a série a competitividade entre si. Exceto que, na verdade, Shi De é apaixonado desde que se lembra por Shu Yi que, devido ao seu grande ego, faz com que Shi veja na provocação e competição uma das únicas maneiras de se manter perto do amado. O equilíbrio da relação muda quando Shi De descobre que Shu Yi é apaixonado pela melhor amiga Jiang Yu Xin (Belle Hsin), e usa o fato para, em uma última tentativa, se aproximar de verdade dele ao suborná-lo a fazer o que pede em troca de não revelar a verdade.

A partir daí eles se aproximam e toda a angústia, incertezas e anseios de um amor juvenil se aprofundam e dominam nossos protagonistas. Além disso, enquanto aprendem a aceitar e viver este sentimento, eles também precisam lidar com suas idiossincrasias e como isso afeta como se comunicam e aceitam ou não aquilo que acreditam que (não) merecem.

Já a segunda temporada nós transporta 5 anos após o final da primeira temporada, com nossos protagonistas já adultos e homens de negócio. Nesta parte da história, acompanhamos como eles se reconectam após meia década separados e como reaprender a amar a si mesmo e ao próximo é parte de um processo que leva à felicidade.