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As Cientistas: para conhecer a história de mulheres incríveis

Em 1901, Annie Jump Cannon, uma jovem com deficiência auditiva graduada em física e astronomia, publicou seu primeiro catálogo de espectro estelar após liderar uma equipe que foi responsável por criar um método para catalogar estrelas. Em 1908, Henrietta Swan Leavitt publicou seus resultados sobre estrelas variáveis situadas nas Nuvens de Magalhães, dando origem a Lei de Leavitt-Shapley que, ainda hoje, os astrônomos usam pra medir o tamanho do Universo. Em 1923, Cecilia Payne deixou o Reino Unido rumo aos Estados Unidos, pois a Universidade de Cambridge não concedia diploma para mulheres, e foi na América que Payne tornou-se a primeira cientista a mostrar que o Sol é composto principalmente de hidrogênio.

Essas grandiosas descobertas no campo da astronomia foram contadas no oitavo episódio, “Irmãs do Sol” (“Sisters of the Sun”, no original), da série documental Cosmos, um remake feito em 2014 da série original dos anos 1980, encabeçada por Carl Sagan e co-produzida por sua esposa, Ann Druyan. Adentrar em um mundo predominantemente masculino e negado às mulheres, essa foi a trajetória das cientistas Annie Jump Cannon, Henrietta Swan Leavitt e Cecilia Payne em sua época. E como comenta o apresentador e astrofísico Neil deGrasse Tyson no episódio: “Por algum motivo, é provável que jamais tenha ouvido falar delas”.As mulheres têm sido invisibilizadas dentro das áreas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), tendo, frequentemente, seus trabalhos diminuídos ou sua autoria outorgada a outros (homens). As mulheres que fizeram história são constantemente esquecidas ou têm suas conquistas apagadas dos livros, que não fazem questão de registrar seus nomes. Na matemática, Hypatia de Alexandria é um exemplo emblemático de, por mais que a história documente, ignora em detrimento do sexo. Recentemente, o filme Estrelas Além do Tempo nos lembrou do incrível trabalho de outras três matemáticas — Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson —, mulheres negras que, além de provarem sua competência profissional diante do machismo do período, também precisaram lutar contra o preconceito racial arraigado na sociedade, para que, então, pudessem ascender na hierarquia da NACA/NASA.

Outras produções na cultura pop abordam, de alguma maneira, a história de mulheres reais que contribuíram para o avanço da ciência:

O Jogo da Imitação (The Imitation Game, 2014, dirigido por Morten Tyldum)

cientistasNeste filme que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, temos contato com a história de Joan Clarke, no filme interpretada por Keira Knightley, a única mulher matemática a trabalhar no projeto de decodificação das máquinas Enigma ao lado de Alan Turing (Benedict Cumberbatch) e Hugh Alexander (Matthew Goode). Joan teve um duplo diploma em matemática (o primeiro foi negado, porque, como comentado, Cambridge, até o ano de 1948, concedia diploma apenas para homens). Mesmo executando o mesmo serviço, ela recebia menos do que seus colegas do sexo masculino.

Conceber Ada (Conceiving Ada, 1997, dirigido por Lynn Hershman-Leeson)

cientistasAtravés da personagem fictícia de Emmy, uma cientista da computação que pesquisa a vida artificial, temos contato com a história real de Ada Lovelace, matemática que criou o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, sendo assim considerada a primeira programadora da história. No longa-metragem, Emmy volta no tempo e é capaz de se comunicar com Ada.

Marie Curie, une femme sur le front (2014, dirigido por Alain Brunard)

cientistasEste filme feito para TV francesa aborda a vida e obra de Marie Curie, cientista polonesa naturalizada francesa, a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a primeira pessoa na história a ganhar o Nobel duas vezes em áreas diferentes (física e química). Suas maiores conquistas incluem a teoria da radioatividade (termo que ela mesma cunhou), técnicas para isolar isótopos radioativos e a descoberta de dois elementos, o polônio e o rádio — processo de isolamento que ela nunca patenteou, permitindo a investigação das propriedades do elemento rádio por toda a comunidade científica. Além deste, foram feitos outros dois telefilmes sobre a sua vida: Marie Curie: More Than Meets the Eye, de 1997, e Marie Curie – Une certaine jeune fille, de 1965, além de uma minissérie francesa, Marie Curie, une femme honorable, de 1991. Atualmente, a diretora Marjane Satrapi está desenvolvendo um filme sobre a cientista, o título original é Radioactive, ainda sem tradução em português, mas já sabemos que a trama é baseada no livro de Jack Thorne, Radioactive: Maria & Pierre Curie: A Tale of Love and Fallout.

Série: Masters of Sex

O roteiro da série foi desenvolvido por Michelle Ashford, baseado na biografia Masters of Sex: The Life and Times of William Masters and Virginia Johnson, escrita por Thomas Maier. No decorrer da trama conhecemos mais do trabalho da pesquisadora Virginia E. Johnson (Lizzy Caplan), que, juntamente com seu então marido, Dr. William Masters (Michael Sheen), foram pioneiros no estudo da natureza da reação sexual humana, diagnóstico e tratamento de desordens sexuais entre 1957 e 1990. Inicialmente, Johnson não tinha formação acadêmica, ela foi contratada como assistente do ginecologista e obstetra William Masters, com quem veio a se casar anos depois; Virginia tinha 30 anos, tinha se divorciado duas vezes e precisava sustentar os filhos — em um período em que essas características eram fortemente criticadas. Ao conseguir o emprego, Johnson foi mais que uma assistente e passou a ter um papel fundamental como colaboradora nos experimentos da sexualidade humana em grande escala.

Para além delas, muitas são as mulheres que colaboraram em diversos campos científicos, nomes que merecem filmes, séries, livros e pesquisas para que conheçamos seus trabalhos pioneiros e inovadores. O livro As Cientistas: 50 Mulheres que Mudaram o Mundo, escrito e ilustrado por Rachel Ignotofsky, traduzido por Sonia Augusto e publicado este ano pela editora Blucher, é um pequeno tesouro que faz esse resgate histórico, abordando as contribuições de cinquenta mulheres notáveis para os mais variados campos das chamadas ciências duras, desde o mundo antigo até a contemporaneidade. O livro é uma enciclopédia ilustrada que conta a história de mulheres como Rosalind Franklin (química e cristalógrafa), Grace Hopper (analista de sistemas e cientista da computação), Valentina Tereshkova (engenheira e cosmonauta), dentre tantas outras. O livro traz, ainda, infográficos e uma linha do tempo que destaca a presença das mulheres na ciência, além de um glossário científico ilustrado. Outro livro com a mesma premissa é Wonder Women: 25 Mulheres Inovadoras, Inventoras e Pioneiras Que Fizeram a Diferença, escrito por San Maggs e ilustrado por Sophia Foster Dimino, foi traduzido por Ana Death Duarte e lançado também este ano pela editora Primavera; este além de trazer a trajetória de cinco mulheres da ciência, conta ainda com outros quatro capítulos que abordam a história de figuras cujos feitos também mudaram os rumos da história, sendo: cinco mulheres da medicina, cinco mulheres da espionagem, cinco mulheres da inovação e cinco mulheres da aventura; cada capítulo é complementado com histórias breves de outras sete mulheres na área, finalizando com uma entrevista com uma pesquisadora da atualidade.Um dado expressivo sobre a presença de mulheres na ciência é o fato de apenas 11 Prêmios Nobel de Medicina, 4 de Química e 2 de Física terem sido dados às mulheres nos mais de 100 anos da premiação. Isso indica que desde 1901, 97% dos ganhadores de prêmios Nobel de ciências foram homens. Somam-se a estes dados casos como o de Lise Meitner, cientista que estudou a fissão nuclear, mas foi seu colega, Otto Hahn, que recebeu a atribuição do estudo e ganhou o Prêmio Nobel de Química pelo feito em 1944. O reconhecimento do trabalho de mulheres cientistas, mesmo na atualidade, é ainda muito baixo, entretanto, deve-se levar em consideração a pouca inserção de mulheres nas ciências duras. A Elsevier, maior editora científica do mundo, divulgou em seu relatório Gender in the global research landscape (Gênero no cenário global de pesquisa, em tradução livre), um levantamento que indica que publicações de áreas como ciências da computação e matemática têm mais do que 75% de homens na autoria dos trabalhos na maior parte dos países pesquisados (11 países e União Europeia). Isso, porém, não anula a presença de mulheres que estão fazendo ciência.

O que o cruzamento desses dados com a realidade acadêmica acaba expondo, dentre muitas questões, é o baixo incentivo dado às meninas para adentrarem no mundo das ciências duras. Por isso, conhecer as histórias de mulheres incríveis que contribuíram para o avanço da ciência é um passo importante para inspirar e incentivar a entrada dessas meninas na área.


** A arte do topo do texto é de autoria da nossa colaboradora Carol Nazatto. Para conhecer melhor seu trabalho, clique aqui!

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