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“May we meet again?”: o final trágico da humanidade em The 100

“Sua vida pode ser mais do que apenas decisões impossíveis e um final trágico. Você pode escolher viver.”  

Como navegar uma situação onde você ama com todo seu coração algo que é genuinamente desprezado ou subestimado pela maioria das pessoas? Essa é uma lição que ao longo de sete (longos) anos The 100 me ensinou muito bem. Não sei quantas vezes defendi a série e os personagens para as pessoas ao meu redor, insistindo que existiam muito mais nuances por trás daquela narrativa do que apenas as linhas comuns de um drama adolescente da CW — apesar de vir recheada de alguns dos mesmos velhos clichês ou problemas. Confesso que relevava isso porque, em certo momento, eu queria saber o destino dos personagens, torcia por eles e estava profundamente envolvida pelo universo criado por Jason Rothernberg, baseado livremente no livro homônimo de Kass Morgan. Com a sétima e última temporada, no entanto, comecei a me sentir um pouco estúpida por ter depositado tanto tempo e energia nessa história. E apesar de saber que as experiências das pessoas com a cultura pop são diferentes e, portanto, absorvidas de maneiras distintas, não posso deixar de abordar minha crítica do final por um viés que fale sobre a forma como a própria trama tirou a importância das dinâmicas e relações que foram construídas durante as temporadas anteriores para causar choque e nada mais.

Em um tempo não muito distante, e apesar das suas falhas, The 100 costumava ser uma série com substância e consciência do que queria dizer. Era sobre humanidade, sobrevivência e mesmo com tramas sombrias, às vezes até mesmo uma fagulha de amor e esperança parecia prevalecer na narrativa. Explorava como, afinal, os seres humanos podiam quebrar seu ciclo de violência (ou se eles podiam quebrar em absoluto) e se o amor era o que causava ou evitava guerras. Aprendi a amar os personagens e de fato torcer para que eles fizessem melhor pelo resto dos humanos, que eles achassem paz, conforto e uma forma de conviver com pessoas criadas em contextos diferentes. E durante seis temporadas, esse realmente pareceu ser o fim para qual tudo se encaminhava. Sem tomar caminhos curtos ou meias verdades, o roteiro sempre deixou absolutamente claro que não existia um atalho para a sobrevivência: o jeito sempre foi se apoiar na interação humana e na esperança de que alguém, algum líder, desse esperança o suficiente para quebrar esse mesmo ciclo. 

Durante seis temporadas, Clarke (Eliza Taylor) e Bellamy (Bob Morley) lideraram essa discussão. The heart and the head (o coração e a mente, em tradução literal), como a série mesmo fez questão de descrever a relação dos dois, desceram juntos como os 100 delinquentes que vinham para Terra pela primeira vez em mais de um século, com apenas um objetivo: procurar um novo lar para a humanidade. Apesar de serem adolescentes quando a trama começa, ambos assumem a responsabilidade de liderar aqueles jovens e achar um lugar onde eles possam ter, finalmente, paz. E para que o resto da humanidade, que vive em um anel no espaço, possa voltar para casa. O que se prova algo complicado. Entre Mount Weather, a Cidade da Luz, os Grounders (terráqueos) e o Pramfaya (a segunda destruição da Terra), os dois navegaram suas posições de poder com ambiguidade e força. Clarke tomando todas as decisões difíceis e Bellamy fazendo com que ela se mantivesse centrada — e vice-versa. “Quem nós somos e o que fazemos para sobreviver são duas coisas diferentes”, ele diz para ela. 

No final da quinta temporada, quando Monty (Christopher Larkin) e Harper (Chelsey Reist) dão a vida para que a humanidade possa encontrar outro planeta e ter uma segunda chance, Bellamy e Clarke encaram o seu novo lar — um planeta que orbita ao redor de dois sóis (ou pelo menos o que eles acham inicialmente), não por acaso. Quando, ao final de Uma Nova Esperança, Luke Skywalker (Mark Hamill) encara os dois sóis de Tatooine, ele sabe que, apesar de estar no mesmo lugar em que havia crescido, sua vida tinha mudado para sempre. Ele mirava o desconhecido, mas, assim como o nome do filme sugere, com a esperança de um futuro melhor. É exatamente esse o sentimento presente na cena de The 100, que cria lindo e, ao mesmo tempo, agridoce. Desde o início dos tempos, a humanidade tem seu senso coletivo construído em cima de sacrifícios que canalizam grandes mudanças, e mais uma vez ela encontra uma nova chance porque duas pessoas decidem que, talvez, o sacrifício ainda valesse a pena.

The 100

Na sexta temporada, quando Clarke tem seu corpo roubado e luta constantemente entre a vida e a morte, Bellamy lembra de Monty e Harper. Sabendo da segunda chance que eles tinham em mãos, aos invés de buscar vingança, ele procura outros meios para salvá-la, algo que parece ser o começo de uma redenção para a humanidade. Salvar as pessoas que são importantes, sempre, mas sem violência. Em uma narrativa paralela, Octavia (Marie Avgeropoulos) e uma grávida Diyoza (Ivana Milicevic) buscam redenção de uma vida que, até então, foi regada por violência e vingança. Não por acaso, as duas parecem achar isso entre si. 

A sétima e última temporada de The 100, no entanto, lembra muito pouco sobre o que tinha estabelecido até então. Os protagonistas estão completamente fora de si mesmos, dinâmicas importantes são (quase) todas destruídas e tramas foram desenvolvidas de forma apressada e até meio burra. Ao invés do drama complexo e ambíguo que tinha sido até então, mesmo dentro de um contexto limitador, a série se transformou em uma espécie de whodunnit espacial, tão vazia quanto o arco estabelecido para os protagonistas — ou a falta deles.

Ninguém sabe exatamente o que aconteceu para uma mudança tão repentina. Durante uma entrevista, Lindsey Morgan, que interpreta Raven, falou que vários episódios tiveram que ser reescritos, mas os motivos são desconhecidos, e nem valem a pena a discussão. O que importa, afinal, é o que está mostrado nas telas.   

Atenção: este texto contém spoilers

O último ano da série começa pouco depois que Octavia é esfaqueada por Hope (Shelby Flannery), aparentemente a filha crescida de Diyoza, a mando da Anomalia — que eles descobrem existir na sexta temporada. Sem respostas concretas sobre qual é a função da mesma, Bellamy entra em desespero pela irmã, enquanto Clarke, que ficou para trás, tem que lidar com os problemas de Sanctum (o planeta que, até então, tinha se tornado o lar mais recente deles). O mistério sobre a Anomalia, o que ela é e qual a sua função, porém, não se estende por muito tempo na sétima temporada. Logo no primeiro capítulo, quando Octavia é sequestrada, Bellamy também acaba sendo levado. Hope fica para trás, enquanto Gabriel (Choku Modu) e Echo (Tasya Teles) pedem para que ela os ensine a pular entre a Anomalia para que, eventualmente, possam resgatar Bellamy. Mas ao invés de ir para o mesmo lugar para onde ele foi levado, os três vão parar em Skyring/Penance, o planeta onde Hope cresceu ao lado da mãe e Octavia.   

Fica claro, portanto, que a Anomalia serve como uma espécie de ponte entre planetas. Nem todos são explorados no começo da narrativa e Hope nem sequer conhece todos eles. O que ela sabe é simples: se eles querem ir para onde Bellamy está, um planeta chamado Bardo, eles precisam esperar que alguém venha buscar um dos prisioneiros deixados em Penance (que, como sugere seu nome, é um planeta usado para penitências). Com a dilatação de tempo de um lugar para outro, as pessoas de Bardo seriam apenas alguns dias. Para Echo, Gabriel e Hope, cinco anos. 

The 100

Apesar do começo da temporada ser infinitamente melhor do que os episódios finais, ainda assim existe muita coisa acontecendo. Ligar todos os pontos da narrativa é um trabalho complicado e The 100 nem sequer consegue fazer isso direito. Mas eu diria que o arco de Bellamy, que começou com seu sequestro, é um dos piores aspectos da história e canalizador para que tudo fosse tão frustrante e parecesse tão fora do lugar.     

Quem são os escolhidos para morrer em uma série de TV? 

Com o surgimento de Game of Thrones e a morte de Ned Stark (Sean Bean) no final da primeira temporada, vi um pequeno fenômeno da cultura pop nascer. A série, percebendo que os fãs gostaram de ser chocados pela impossibilidade de ver um protagonista morrer, ainda mais de forma tão cruel e triste, começou a usar esse recurso de forma constante. O que eles não souberam administrar é o fato de que, narrativamente falando, a morte de Ned faz todo sentido dentro da história. Enquanto outras, apenas foram usadas como um recurso de choque — ou shock value. Ao invés de escolher o caminho orgânico para a trama, então, os criadores David Benioff e D.B. Weiss, começaram a tentar subverter as expectativas a qualquer custo, usando a morte como um recurso dentro da própria história.

Outra série que também banalizou a morte foi Grey’s Anatomy. Com um total de 16 temporadas, o seriado criado por Shonda Rhimes é ambientado em um hospital de Seattle; ambiente perfeito para que se aborde a morte sem medo. Durante muito tempo, a série foi corajosa ao explorar questões como o luto e a perda a partir do olhar de sua protagonista, Meredith Grey (Ellen Pompeo), que aos poucos se tornou uma mulher madura, profissional e incrível, ainda que rodeada pelo sentimento de perda. E as pessoas ao seu redor nunca deixam de morrer: sua irmã, seu marido, o melhor amigo do marido, sua mãe, seus amigos e até colegas de trabalho. Como esquecer da morte em que, durante uma tempestade, uma das internas mais jovens do hospital entra despretensiosamente em um armário de suprimentos, escorrega e morre? A morte de personagens centrais é tão corriqueira dentro da narrativa que a obra tornou-a fútil. Na internet, pessoas especulam: quem será a próxima pessoa a morrer em Grey’s Anatomy? Quando é anunciada a saída de um ator do elenco regular, todos começam a debater se o seu destino natural é simplesmente bater as botas. Não existe mais pay off emocional porque o recurso foi usado tantas vezes que, a essa altura, é apenas mórbido e frustrante.   

Com esses dois exemplos, é possível concluir que produtores, roteiristas e showrunners escolhem quais personagens irão morrer em duas situações: quando o ator vai deixar a produção, como são muitos dos casos em Grey’s Anatomy; ou com foco na audiência, como acontece em Game of Thrones. Raramente um protagonista alcança esse destino de forma orgânica, no entanto, como foi com Ned Stark ou até mesmo o Casamento Vermelho, quando seu filho, Robb (Richard Madden), é assassinado. Com The 100 não é diferente e o problema das mortes se tornou um problema sério e difícil de ignorar com o passar dos anos. 

Logo na primeira temporada, Wells (Eli Goree), um homem negro, morre de forma brutal após uma menina buscar vingança pelos atos de seu pai na Arca. Na terceira temporada, dois personagens queridos pelo público sofrem um destino ainda pior. Lincoln (Richard Whittle), que também é um homem negro, morre de joelhos e sem defesa, com um tiro na cabeça, depois de ser condenado por algo que não era inteiramente sua culpa. Já Lexa (Alycia Debnam Carey), uma das poucas personagens LGBTQAI+ em The 100, toma um tiro e morre após dormir com Clarke pela primeira vez. Em comum, ambos os atores manifestaram o desejo de continuar na trama, mas foram cortados mesmo assim. “No começo da temporada, Lincoln tinha toda essa trama que foi cortada pelos roteiristas. Jason [o showrunner] abusou da sua posição de poder para fazer meu trabalho ficar insustentável”, disse Whittle em uma entrevista. 

No final da terceira temporada, acontece de novo. Pike (Michael Beach), um homem negro, morre pelas mãos de Octavia, em vingança por Lincoln. Apesar de ser um personagem complexo e considerado um vilão até certo ponto, Pike não recebeu a cortesia de ter um arco de redenção como muitos outros ali. Mais do que isso, The 100 começou a matar seus personagens e não mostrar os efeitos que essas mortes tinham sobre aqueles que restavam. Apesar de ser um dos personagens mais complexos e importantes da história, além de parte de várias dinâmicas importantes, Kane (Henry Ian Cusick) morre e ninguém parece sentir sua falta. Jasper (Devon Bostick) literalmente se mata e não só a história não parece pronta para lidar com uma trama de suicídio, como faz com que a morte dele seja facilmente esquecida, sem nenhum peso para a trama. Mas na sétima temporada, isso parece ainda pior.  

The 100

Quando Bellamy é levado para Bardo, ele consegue escapar pela Anomalia e cai em um planeta chamado Etherea, junto com um dos seguidores da filosofia/religião de Bill Cadogan (John Pyper-Ferguson). Cadogan é, como introduzido na quarta temporada, o líder de um culto chamado Second Dawn, que é explorado com mais afinco no oitavo episódio da sétima temporada, “Anaconda”. No capítulo em questão, o público descobre que Cadogan descobriu a Anomalia e levou seu povo, que vivia em bunkers em uma Terra já destruída, para Bardo, onde eles mataram o resto da população que vivia lá e tomaram o território, criando uma instituição que prezava o coletivo. Ou seja, o amor íntimo e pessoal era desencorajado em nome da disciplina. Ainda lá, a humanidade encontra um novo propósito: lutar uma última guerra e “transcender”, quando eles finalmente encontrariam paz. 

Durante sua viagem por Etherea, Bellamy entra em contato com as crenças de Cadogan e de uma hora para outra passa a acreditar no poder da humanidade de “transcender”, se juntando aos cidadãos de Bardo e se tornando um discípulo. O que a narrativa não oferece, no entanto, é um motivo sólido para tal mudança. Bellamy apenas entra em uma luz mágica que aparece para ele e então já modificou todas as crenças que regiam sua vida — inclusive deixando seus amigos e Clarke de lado para conseguir fazer com que todos alcançassem o status de “transcender”. Assim, ele maquina ao lado de Cadogan e, apesar da série tentar vendê-lo como um vilão, nada faz muito sentido ou sequer parece certo. E o pior: tudo isso resulta em uma das piores decisões já tomadas por The 100 até então (o que diz muita coisa).

Quando Madi (Lola Flannery) começa a ficar em perigo, já que carrega um chip na cabeça que é fundamental para Cadogan entender os últimos passos da humanidade “na última guerra” (que mais tarde se prova ser apenas um teste, não uma guerra), Clarke começa a ficar completamente desnorteada e, na tentativa de proteger a filha, mata Bellamy com um tiro cruel e desnecessário. Nesse momento, a The 100 não só mata mais um homem não-branco, como acaba com o desenvolvimento de seus dois protagonistas, jogando sete anos de trabalho no lixo. 

Bellamy, que começou como um menino rebelde, capaz de fazer qualquer coisa para proteger sua irmã, que tomou medidas drásticas para liderar seu povo e desde então vinha buscando redenção ao se tornar uma pessoa melhor, morto por plot que beira o ofensivo com o público tanto quanto com o próprio personagem. Apesar de Clarke ser a pessoa que tomava todas as decisões difíceis, era Bellamy quem inspirava as pessoas ao redor de ambos, liderava e os mantinha centrados. Durante sete anos, ele pegou o caminho mais difícil e aprendeu entre erros e acertos que para serem melhores, a humanidade tinha que abandonar o pensamento do nós versus eles. Mesmo assim, se manteve fiel as pessoas que amava e lutou até o último segundo pela vida de Clarke — o que ela não retribui.  

É realmente difícil determinar o que é mais problemático no final da sua trajetória. É o fato de a narrativa jogar fora seu desenvolvimento (e, consequentemente, o de Clarke) no lixo? Ou por que resolveu matar mais um personagem não branco? Ou foi colocar o seu protagonista para seguir o líder de um culto, ignorando sua essência e se recusando a dar uma explicação mais profunda para suas ações? De tudo o que aconteceu, talvez a pior decisão tenha sido vilanizar Bellamy e, no final, mostrar que ele estava certo. “Transcender”, afinal, era uma possibilidade. Mas morto pelas mãos de Clarke, ele não alcançou aquilo pelo qual lutou nos últimos dias de sua vida.   

A decisão de matar Bellamy (e depois tentar apagar sua importância na história) desencadeou uma sequência de problemas dentro da série: Clarke se viu mais uma vez isolada e assombrada pelos fantasmas do seu passado, sem conseguir lidar com suas decisões. Algo que a narrativa não consegue explorar direito, nem de perto; Octavia, que teve um belo arco narrativo da quinta temporada até aqui, acaba sem um encerramento muito necessário quando se trata do seu irmão — que sempre foi fundamental na sua jornada, já que o relacionamento dos irmãos Blake sempre foi um ponto chave da obra; e Echo, por fim, também não tem o direito de ter paz. A personagem, que sempre foi relegada a ser “namorada de Bellamy” parecia procurar uma independência para além da sua órbita, mas após sua morte ela apenas… deixa de importar dentro da trama. O que também é um problema. 

Mas em The 100, o ditado que diz que “nada está tão ruim que não possa piorar” se prova verdadeiro: um episódio após a morte de Bellamy, é a vez de Gabriel, um personagem hispânico, também morrer — mais uma vez, uma morte cruel e desnecessária. Gabriel é, sem via de dúvidas, uma das melhores adições ao elenco. O personagem que antes era considerado um deus por seu povo e usava da tecnologia para transferir sua consciência para outros corpos e viver para sempre, se rebelou com o passar do tempo e começou a lutar contra a tirania das mesmas pessoas que se consideravam entidades, o seu povo. Seu lema se tornou “morte é vida” e com um viés sempre voltado para a ciência, Gabriel passou a ser uma figura complexa e de relativa importância na série — principalmente por fazer um contraponto direto a Cadogan. Gabriel defendia o direito da humanidade, de viver, amar e finalmente morrer, encontrar paz. Já Cadogan, um tirano, acreditava que para que a humanidade pudesse “transcender”, era preciso erradicar tudo aquilo que nos faz humanos da equação. Assim, mesmo que a morte de Gabriel tenha ocorrido numa tentativa de proteger Madi, é impossível não pensar que algo ficou faltando em sua trajetória e que, como muitos personagens, ele merecia um desfecho melhor. 

Romeu e Julieta no espaço 

É realmente estranho pensar que os casais mais populares de The 100 são Bellarke e Clexa: o primeiro, porque nem sequer foi permitido se tornar um casal, mesmo que os sinais estivessem lá; o segundo, porque uma parte dele morre no meio da terceira temporada — e, portanto, o seu desenvolvimento também. Sempre torci por Bellamy e Clarke e, ocasionalmente, gostei de ver Lexa e Clarke, mas os melhores casais românticos da série, os mais bem construídos e intensos, não são os mais populares. Monty e Harper são um bom exemplo: a construção deles é lenta, bonita, e apesar de aparecerem pouco, é realmente maravilhoso acompanhá-los até o final. E, claro, também existe John Murphy (Richard Harmon) e Emori (Luisa D’Oliveira). 

John e Emori tiveram, literalmente, o melhor desenvolvimento dentro da história, individualmente e como casal. Quando a obra começou, John estava no centro dos problemas. Revoltado, abandonado e com nada a perder, ele instigava o caos e provia a violência como solução para todo e qualquer obstáculo. Depois de fazer milhares de escolhas equivocadas e ser torturado até quase a morte, John foi exilado e, assim como seu pai e sua mãe fizeram com ele na Arca, abandonado para morrer. Piedade e amor não eram palavras que existiam no seu vocabulário. Muito como Emori: a personagem de D’Oliveira apareceu pela primeira vez na segunda temporada e, por ser o que eles chamam de frikdreina (alguém que nasceu com qualquer tipo de alteração física no corpo devido a radiação na Terra), foi expulsa da comunidade dos terráqueos para viver exilada. Assim, ela passou a trabalhar para a ALIE, inteligência artificial que prometia um mundo onde pessoas como Emori e John pudessem achar conforto, paz e senso de pertencimento; um lugar sem dor e tristeza, mas também sem felicidade e amor. 

As semelhanças que existem entre eles fazem com que a faísca que existe entre o casal seja quase instantânea e, ao longo das temporadas, John e Emori crescem juntos. Murphy descobriu que ele não precisava ser apenas uma “barata”, como ele mesmo se descrevia e lutar apenas pela sua sobrevivência, mas que também poderia fazer a coisa certa. Emori, por sua vez, floresceu e se tornou fundamental na vida de qualquer pessoa ao seu redor. Graças ao amor que um ofereceu ao outro, e do que isso representa para eles, ambos conseguiram evoluir para se tornarem pessoas melhores (tendo Emori, inclusive, se tornado a melhor pessoa em The 100 perto do final).

The 100

Na sétima temporada, quando Clarke sai a procura de Bellamy com Raven, Murphy fica responsável por Sanctum. E apesar de a série se tornar uma bagunça no decorrer dos episódios, todo pequeno momento entre Murphy e Emori é sincero, honesto — e, não por acaso, foi o que me fez continuar a série até o final. Emori se torna uma verdadeira líder, alguém disposta a dar uma direção e inspirar as pessoas (algo que com certeza aprendeu com Bellamy), enquanto Murphy dá todo o suporte para que ela desempenhe bem o seu papel. Nos episódios finais, quando Emori sofre um acidente que a deixa entre a vida e a morte, Murphy usa o fato de que eles foram feitos de Nightblood e possuem dois chips nas suas cabeças para fazer upload da mente de Emori, compartilhando a sua. Duas consciências, porém, não podem ocupar o mesmo chip e, eventualmente, os dois acabariam morrendo — algo que ele está disposto a fazer, porque não conseguiria viver sem Emori, “a única pessoa importante no universo”, como ele mesmo aponta. 

Se esse final fosse reservado a qualquer outro casal de The 100, tudo poderia soar estranho e até um pouco desproporcional. Mas como o relacionamento de Murphy e Emori sempre foi pautado pela insana lealdade que nasceu entre eles, muito por causa dos sentimentos que compartilhavam, esse pareceu um encerramento adequado; quase como um Romeu e Julieta no espaço.   

“Talvez a vida seja mais do que apenas sobreviver” 

De todos os personagens da série, é a jornada de Clarke a mais frustrante. Para entendê-la, é possível traçar um paralelo direto entre o final da terceira temporada e o último episódio da sétima. No final do terceiro ano de The 100, Clarke entra na tecnologia da ALIE para acabar com a Cidade da Luz. Movida por sua vontade de sobreviver e pelo fogo que impulsiona sua liderança, além da racionalidade com que toma suas decisões, ela consegue acabar com a inteligência artificial e salva o mundo mais uma vez. No último ano da série, novamente ela tem que entrar em uma espécie de simulação e fazer um teste para que a humanidade possa “transcender”. Mas, agora, ela é apenas uma sombra da mulher que foi antes: limitada ao papel de mãe, The 100 a isola e tira toda e qualquer relacionamento significativo de sua vida (Bellamy, Madi, etc) e, como resultado, faz com que ela se transforma em uma pessoa cruel, vingativa e que não está nem um pouco preocupada com o coletivo. 

Durante o teste de Cadogan, Clarke entra e mata o vilão sem pensar duas vezes, assumindo o teste para salvar a humanidade e fazer com que todos possam “transcender”. O juiz que aparece para conduzir seu teste, um alienígena designado para julgar a raça humana, pode assumir a forma de um grande professor, uma grande perda ou um grande amor. Por isso, Lexa é a figura escolhida pela consciência de Clarke. Mas apesar de ser interessante ver a Heda de novo e Alycia amar a personagem o suficiente para se sentir sempre confortável em sua pele, é frustrante saber que aquela não é realmente Lexa e que sua presença serve apenas para apaziguar o grande buraco que ela havia deixado na narrativa.

Durante o processo, Clarke questiona os motivos do teste, diz que nada faz sentido e que é um absurdo que eles exijam um posicionamento pacífico da raça humana quando eles mesmos saem dizimando nações que não são aprovadas no teste — o que é um ponto importante e, durante algum tempo, achei que fosse mais uma vez ser o destino da humanidade: que eles quebrassem o ciclo de violência sozinhos, como sempre foi, sem atalhos. Mas Clarke falha no teste e, quando a humanidade está prestes a ser extinta por espécie alienígena com um senso cruel de justiça, cabe a Octavia e Raven salvar o dia. Duas das personagens mais importantes da série e que não foram (tão) negligenciadas por fatores externos, tendo seus arcos relativamente bem estabelecidos até o final, são elas que têm o papel fundamental de dar o último passo para que a humanidade se salve — mesmo que nem tudo faça sentido.


The Girl Under the Floor. Skiripa. Blodreina e, finalmente, Auntie O.: trajetória de Octavia dentro da série sempre foi a mais complicada e sua personalidade sempre foi moldada pelas situações em que ela foi inserida. Porque foi obrigada a viver dentro do chão da Arca, já que no Anel não era permitido que as pessoas tivessem mais de um filho, e ela era a segunda filha de sua mãe, sua capacidade de se adaptar às necessidades apresentadas era algo embutido na sua essência, assim como isso também fez com que se tornasse alguém com o senso coletivo mais aguçado de todos eles, justamente porque tinha sido privada disso até então. Sem necessariamente pertencer a nenhum dos dois grupos principais da série, ela transitava entre eles e, quando foi necessário, fez com que eles se unissem, mesmo que isso tivesse resultado na perda da sua moral. Mas quanto mais amoral e ambígua ela se tornava, mais a personagem parecia real e honesta. Mesmo após ter chegado no seu ponto mais baixo, Octavia se reergueu e ao passar anos com Dyioza e Hope, encontrou paz, encerramento e uma família. Talvez pela primeira vez na sua vida, ela não tinha que liderar, apenas tinha que ser ela mesma. Por causa do seu relacionamento com Hope, no seu processo de redenção O. finalmente também passou a entender Bellamy e os sacrifícios que ele fez para salvá-la.  

Octavia ainda era violenta e crua como nenhum outro personagem em The 100, mas também experimentava uma espécie de amadurecimento na forma como agia, como entendia e absorvia as coisas que aconteciam ao seu redor. Menos impulsiva, mais racional e empática, a personagem também foi o contraponto direto de Raven — que não possui uma jornada tão complexa quanto a de Octavia, mas que, ao longo dos anos, se mostrou uma pessoa estável e confiável. Talvez a mais incorruptível entre eles, Raven sempre foi a mais inteligente do grupo e nunca esteve disposta a sacrificar sua moral para alcançar seus objetivos ou salvar alguém que ama. As duas representam dois lados da mesma moeda e estão na frente do último episódio, encarregadas de salvar a humanidade de uma vez por todas. 

Assim, enquanto Raven faz o teste com a entidade alienígena, mostrando a face mais empática da humanidade, Octavia usa seu poder de liderança para interromper a guerra entre o povo de Bardo e os terráqueos. Eventualmente, as duas conseguem cumprir suas missões e a humanidade “transcende” — exceto por Clarke que, por causa de suas ações recentes, é deixada sozinha na Terra. 

The 100, que passou grande parte da suas sete temporadas tentando distanciar sua narrativa da “magia” ou de elementos “cósmicos”, usando sempre a ciência como uma explicação racional, resolve abraçar o conceito que tentou negar durante tanto tempo e faz com que todos os personagens encontrem felicidade eterna. Bellamy, que acreditava e lutou por isso, não tem o direito de transcender. Assim como vários outros personagens da série que se sacrificaram pelo bem maior ou apenas mereciam isso (Lexa, Jaha, Monty, Kane, etc). Pior: Cadogan, um líder tirano, estava certo e “transcender” era realmente algo plausível. É nesse ponto que fica realmente difícil tentar entender qual o objetivo da série com esse final. Imediatamente lembrei do final de The Good Place. Quando os protagonistas da série de Michael Schur chegam ao paraíso, percebem que existe algo muito errado com as pessoas lá. Sem motivação ou um lugar para ir a seguir, a humanidade simplesmente definha e não consegue encontrar um propósito. Assim, eles criam um esquema onde eles possam passar o tempo que quiserem no paraíso e, quando se sentirem prontos, podem se tornar parte do universo, de forma orgânica. De certa forma, “transcender” é um tropo relativamente parecido, mas a forma como The 100 o construiu parece apenas vazio, ao contrário do que acontece em The Good Place. Não há explicações sobre o conceito da coisa; a série apenas a apresenta como uma solução permanente para o problema do ciclo de violência da humanidade. Ninguém sabe o que é essa forma cósmica de alcançar a felicidade e, durante a maior parte do episódio final, me peguei procurando o que, afinal, era o objetivo da trama, seu endgame

Enquanto The Good Place ofereceu encerramento e paz para os personagens, The 100 apenas jogou esse conceito no ar e fez com que as pessoas tivessem que buscar seu significado. O que, afinal, as pessoas sentiam ao “transcender”? Elas realmente encontravam paz, amor, ou um sentimento de pertencimento? Não existe nenhuma resposta e, quando os personagens resolvem voltar para ficar com Clarke, as coisas ficam ainda mais confusas. 

Em um dos momentos mais importantes da série, Wells Jaha diz que a “vida pode ser muito mais do que decisões impossíveis e um final trágico”. As pessoas podem escolher viver. Quando os personagens escolhem voltar para ficar com Clarke, eles não estão escolhendo viver? Ao invés de aceitar uma eternidade cósmica, todos são motivados pelo sentimento mais humano de todos: a lealdade. E assim eles voltam para a Terra. Mas, como a versão alienígena de Lexa afirma, aquilo é tudo o que eles vão ter. Aquele grupo que voltou para a Terra não vai conseguir reproduzir ou seguir daqui para outros lugares. Não, eles vão apenas viver, envelhecer e eventualmente morrer. A humanidade, que Clarke lutou tanto para manter viva e ganhar sempre mais uma chance, vai literalmente morrer. E a única forma que eles encontraram de achar paz foi, de fato, serem as únicas pessoas restante no mundo. Nos seus minutos finais, a mensagem de The 100  é que união não é uma possibilidade. Tudo vai ficar bem, contanto que não exista um grupo que vive em contextos diferentes, com culturas e costumes distintos, por perto.  

Em certo momento no episódio final, o alienígena Lexa também diz para Clarke que os humanos amam de forma estranha, se referindo ao fato de que seus amigos voltaram para ficar com ela. E, nesse quesito, não posso discordar. O amor nasce de contextos diferentes e floresce em momentos inesperados. Foi assim com Lexa e Clarke, que eram de clãs diferentes, mas mesmo assim se apaixonaram; com Clarke e Bellamy, que começaram inimigos e tiveram que colocar suas diferenças de lado para liderar e inspirar as pessoas; com Clarke e Madi, que eram as únicas duas pessoas que restavam na Terra e criaram uma conexão especial; com John e Emori, que movidos pelo sentimento de solidão acabaram se encontrando e prosperando; com Octavia, Dyioza e Hope, que criaram uma pequena e feliz família em um planeta hostil. Mesmo em um mundo cheio de adversidades, guerra e luto, essas pessoas amaram, criaram lealdade e, portanto, foram humanas. 

O que todas essas dinâmicas têm em comum é o fato de que essas pessoas realmente vieram de contextos diferentes. No meio de guerra e disputa de territórios, o básico nós versus eles que The 100 sempre gostou de mostrar, existiam pessoas criando conexões e passando a se amar. O que é uma prova de que a humanidade consegue ser melhor e olhar para além de suas diferenças. No final das contas, isso é algo muito mais importante, real e honesto a se dizer do que “uma entidade cósmica que adora julgar os outros, apesar da sua própria violência, vai vir salvar todos nós”. Infelizmente, parece que o seriado não aprendeu nada com os seus próprios personagens. 

Ao final, a pergunta que fica é: may we meet again, The 100? Eu com certeza espero que não. Existe um spin-off sendo cotado pela emissora original, que pretende mostrar os anos após a primeira destruição da Terra e como os costumes que conhecemos na série nasceram e evoluíram. Os personagens introduzidos em “Anaconda” parecem ser interessantes e cheios de potencial, mas fico com um gosto amargo na boca, sabendo que o resultado final da série, o final da humanidade, é tão absurdamente fraco e sem coração. Meu envolvimento com o universo da série acaba aqui. Ainda assim, vou tentar lembrar com carinho da jornada e dos momentos em que a obra esteve no seu auge. Mesmo que, no momento, isso pareça bem difícil.

6 comentários

  1. Carol acho que entendo a sua frustração e compartilho um pouco tb, pois já tem mto tempo que me desiludi com a série The 100 por ela ter uma história de enorme potencial que foi infelizmente enlatada e vendida como uma “Beverly 90210 do mundo distópico”. Desde a primeira temporada vemos essa história fenomenal que dá lugar a um roteiro totalmente focado no egocentrismo e infantilidade de seus personagens (principalmente a Clarke) em que eles fazem o que querem sempre pensando em si e nas suas vontades sem se importar com as consequências. Pra mim o final só serviu pra fortalecer esse aspecto, e entendo que os criadores da série a formataram assim pra gerar identificação e audiência em seu público. Mas apesar disso tudo, compartilhei dessa afinidade com a série que vc tem, e pensando aqui acredito que seja pela qualidade dos atores, que mesmo tendo um roteiro de egocentrismo adolescente medíocre e infantil (com as raras exceções como algumas que vc pontuou) conseguiram ter atuações que nos comoveram e nos mantiveram conectados à série. Portanto, deixo registrado aqui meu reconhecimento pelo trabalho excepcional de todos os atores dessa série.

  2. Nossa, você conseguiu traduzir a minha decepção com o final de The 100. Mas no meu caso, se somente o Bellamy tivesse sobrevivido para transcender ou morrido numa cena mais impactante, por exemplo, tentando levar a filha da Clark. Seria de fato uma decisão entre o melhor amigo e a menina que ela criou sozinha na terra, sou mãe e poderia entender essa escolha. Mas por causa de um caderno de desenhos, que acabou ficando com os soldados, nossa!!! Fez a morte do Bellamy parecer muito fútil e sem motivos, como se a Clark tivesse perdido a sanidade mental. Ao menos levasse o caderno! E no final as pessoas voltando pela Clark, nossa, não fez sentido. Clark era amada pelo Bellamy, era uma líder, mas não era amada pelo seu povo a esse ponto. As pessoas voltaram por motivos egoístas, mas isso não ficaria bem para os seres de luz, né? Ficou tudo muito confuso e sem explicação.

  3. Entendi e percebi os variao erros da série e suas péssimas escolhas.
    Mas do jeito q vc falou, até parece q nenhum personagem branco morreu, nenhum hétero morreu, apenas LGBT e negros…
    Todo mundo sabe q a Lexa morreu pois a atriz (Alycia) ia pro Fear The Walking Dead (ganharia + lá) e o ator do Lincoln foi pra uma série da Amazon (q concerteza tbm pagaria +)
    O Bellame é o q? Pardo? Negro? Amarelo? Branco? Tanto faz! Ele mesmo pediu pra participar pouco da última temporada pq tava cansativo pra ele…
    Vários casais héteros se acabaram, num foram só os LGBT não…
    Pessoal quer lacrar com tudo…

  4. Excelente texto! Lembro que Sanctum, salvo engano era a cidade dos prime, não o planeta. O “planeta”, que na verdade era uma lua, se chamava alfa. Sanctum era o perímetro cercado pelo escudo de proteção radioativa. Concordo com o comentário do Lipe, no que diz respeito à morte de negros, gays, etc… inclusive, vários casais gays aparecem na série, e um desses casais, que tem um negro, termina na terra com a Clarke. Outro detalhe: as mulheres têm papel fundamental na série, independente da etnia ou orientação sexual, o que representa igualdade de gênero. Não contei, mas acho que no final, inclusive, há mais protagonistas mulheres do que homens. Elas são guerreiras, inteligentes e demonstram muita resiliência. No final, o destino da humanidade é decidido por 3 delas: clarke, raven, e Octavia.
    Concordo ctg com relação à desconstrução dos personagens, principalmente a Clarke, e tudo que vc falou sobre o Bellamy também. Detalhe: para NÓS foram 7 anos, né? Para eles, foram muito mais…. Há vários lapsos temporais de ANOS, que deveriam trazer mais sobriedade nas atitudes dos protagonistas ao final da série.
    Parabéns pelo texto, apesar dessas minhas obs, foi a melhor opinião que li sobre a série.

    1. Concordo com vc! Muitos personagens foram do padrão de Hollywood cresceram e sempre tiveram espaço na série, como a própria Indra.
      No meu entender, o melhor fechamento de the 100 é na 6a temporada, onde vemos os protagonistas procurando a redenção. Exista uma busca de ser melhor que antes. Aquilo era o aprendizado de tanto sofrimento que passaram.
      Acho triste demais como estragaram a personagem da Clarke, que deixou de ser uma líder para ser uma mãe-coruja paranóica, que só pensava em salvar a filha adotiva e que tudo se explodisse. Um total menosprezo a tudo que ela fez antes.

  5. Prezada: Séries em serviços de streaming quando têm sua morte decretada em virtude da queda de audiência exigem um malabarismo dos roteiristas no sentido de evitar o máximo possível de falhas e inconsistências. Infelizmente roteiristas têm muito pouco de malabaristas e só resta se lamentar e não ter ilusões em relação à esse fato. Considero Bob Morley um sim branco (antônimo de não branco). Nunca tinha visto uma série onde o protagonismo feminino ultrapassasse os 50% e gostei dessa por isso. A porcentagem de personagens LGBTQIA+ foi aquela que observo no meu círculo de conhecidos e também gostei dessa série por isso. A banalização do mal mais do que a banalização da morte é a minha maior crítica em relação às séries. Como em muitos cultos religiosos, se você se arrepender sinceramente no final (da vida ou da série) a transcendência estará garantida. E foi o triunfo do discurso religioso sobre o discurso científico o maior problema dessa série. No final todos os falsos profetas pilantras autoritários e antiéticos estavam certos. Mais do que ficção científica foi uma série onde a ciência foi tratada como ficção.

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