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De Courtney Barnett a King Princess: conheça o som das lésbicas de hoje

Desde que Joan Jett infiltrou de vez as relações lésbicas no rock da década de 70 nunca mais foi possível colocar o amor entre duas mulheres de volta à clandestinidade na cena musical. Antes dela, outras cantoras já resistiam nos palcos, é claro, mas a figura da guitarrista do The Runaways vislumbrada por multidões e dona de si, sem se entregar a uma indústria comandada por homens, materializou para as lésbicas a definição de representatividade.

Nessas quatro décadas, as “herdeiras de Joan Jett” tomaram o microfone, dominaram os instrumentos e se apossaram das palavras para fazer história. Com o passar dos anos, mais lésbicas uniram forças para dar corpo às suas pauta na música, se juntando para se defender da lesbofobia e do machismo na indústria fonográfica. No Brasil, inclusive, a cena lésbica teve muita força nos movimentos musicais. Impulsionadas pelo discurso político da década de 80, com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, as mulheres, mesmo sem dizer com todas as palavras que eram lésbicas, pregavam a liberdade sexual. Maria Bethânia, Ângela Ro Ro e Marina Lima foram nomes que tocavam nas rádios de todas as famílias brasileiras e se relacionavam com outras mulheres. Nos anos seguintes, Zélia Duncan, Mart’nália e Cássia Eller continuaram garantindo essa representatividade essencial num país onde a violência contra  população LGBTQ+ é uma realidade inegável.

Nas cenas de hoje, não existe um nicho de artistas lésbicas que seguem o mesmo estilo e discutem as mesmas pautas. Com os anos, elas conseguiram se espalhar por todos os lugares e fazem parte de diversos grupos criativos. São artistas que ultrapassam todas as barreiras por serem boas (e não por serem lésbicas). Além disso, também não fazem apenas papel de cantoras, mas tocam guitarra, bateria, são compositoras e multi-instrumentistas.

Idolatrar a existência e resistência dessas mulheres é, de fato, importante para que suas conquistas não sejam vítimas do esquecimento. As lésbicas que compõem esta lista estão no auge de suas carreiras e nem todas falam excepcionalmente sobre suas vivências nos relacionamentos; basta sua presença nos palcos do mundo inteiro para transmitir a mensagem da diversidade.

Courtney Barnett

Apesar de não gostar de falar muito sobre si mesma, a cantora-compositora australiana Courtney Barnett nunca escondeu sua orientação sexual. Sem expor detalhes de sua vida pessoal, a rainha da música alternativa se relaciona há sete anos com a guitarrista Jen Cloher, também da Austrália.

Courtney tem uma linguagem sensível — sua poesia já foi, inclusive, comparada com a de Bob Dylan. Também é desenhista e tem um vida bem reservada para o tamanho de sua fama. Seu álbum de estreia, Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit, foi um dos mais comentados de 2016. Neste ano, ela lançou mais um disco, Tell Me How You Really Feel, que traz com um tom melancólico, uma intensa pulsação dos sentimentos.

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Tash Sultana

Na onda da cena musical australiana, a multi-instrumentista Tash Sultana é encantadora. Sua postura confiante para uma artista de 23 anos chama a atenção dos críticos e dos seus fãs, que já ultrapassaram as fronteiras da Oceania. Neste ano, ela fez um show no Brasil no Lollapalooza, que levantou uma multidão de espectadores. Tash é uma banda de uma pessoa só, mas mesmo sozinha mostra domínio e inspiração no estilo reggae eletrônico que toca. Além de tudo, a personalidade de Tash a coloca como uma necessária representante para as lésbicas.

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Romy Madley

Romy Madley, cantora da improvável banda inglesa The XX é torturante em suas interpretações. Em junho do ano passado, ela e sua namorada, Hanna Marshall, anunciaram publicamente o noivado, que foi comentado e comemorado pelos fãs. A naturalidade que lida com a sexualidade é inspiradora. Romy é uma das integrantes do The XX, trio que faz sucesso na cena alternativa de Londres. Nos três álbuns que já lançaram XX (2009), coexist (2012) e I See You (2017), eles trazem letras intensas, produções impecáveis e clipes estéticos que consolidaram a banda como uma das principais influências dos anos 2010.

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Syd tha Kyd

Aos 25 anos, a integrante da banda de R&B The Internet foi elogiada por artistas como Beyoncé, Adele e Pharrell, recebeu uma indicação ao Grammy, rodou o mundo com a banda Odd Future e até mesmo foi chamada de “lésbica misógina”. Já se envolveu em diversas controvérsias, mas em geral é um maiores nomes lésbico da música negra americana da atualidade. Aqui no Brasil, The Internet ainda não é muito conhecido, mas lá fora é considerada uma das bandas mais promissoras do momento. Suas produções são caracterizadas por serem intensas, atuais e impactantes com músicas que abordam também temas como o amor entre duas mulheres.

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Hayley Kiyoko

Influenciada pela ousadia de Katy Perry com “I Kissed a Girl”, há 10 anos, a estrela da Disney Hayley Kiyoko mostrou que usaria sua fama para ser lembrada. Aos 27 anos, ela é chamada de “Jesus lésbica” e carrega a importância de ter salvado a cena pop para a comunidade LGBTQ+. Suas letras falam sobre amor, desamparo e desilusões da perspectiva de uma mulher lésbica. Ela não quer ser a descolada que fala sobre o assunto porque ele está na moda. Na verdade, Hayley coloca suas próprias vivências como lésbica em suas canções. Apesar disso, a cantora diz que não queria ser lembrada apenas por sua sexualidade, mas sabe que sua representatividade é essencial.

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King Princess

A literalmente princesinha lésbica de quem ouve folk pop é a americana Mikaela Straus, de 19 anos. Nascida no Brooklyn, em Nova York, ela é uma artista prodígio e começou a aprender música muito cedo, no estúdio de seu pai. Seu primeiro single lançado no ano passado, “1950”, é elegante, natural e fofo. Quando começou a fazer sucesso, declarou que a decisão de se assumir lésbica e colocar pronomes femininos em suas músicas era importante tanto para ela quanto para quem iria ouvi-la. É, sem dúvida, uma das figuras mais observadas por críticos musicais. Quem gosta de um clipe romântico vai se deliciar com sua primeira produção.

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Clara Cerioni  é jornalista e lésbica, é apaixonada pelo universo da música, em especial por tudo o que é produzido por mulheres. Acredita na bondade das pessoas e queria que sua história fosse como a de Patti Smith. Sonhadora, busca nas palavras o refúgio para enfrentar os problemas do mundo.
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** As imagens são de autoria da editora Ana Luíza. Para ver mais, clique aqui