2023 foi o ano de Barbie. Não há como adentrar uma nova temporada de premiações sem refletir sobre o legado do filme que dominou todas as conversas relativas ao cinema desde antes do lançamento, especialmente porque, bem como outros de nosso tempo, o filme dá sinais de que permanecerá.
Barbie, o fenômeno
Assim que anunciado o envolvimento dos nomes de Greta Gerwig e Margot Robbie na produção, Barbie se tornou motivo de curiosidade entre a comunidade cinéfila. Sendo a diretora uma mulher que, costumeiramente, aborda as nuances femininas sob perspectivas complexas — responsável por Lady Bird e Adoráveis Mulheres, filmes que colocaram Saoirse Ronan e Florence Pugh noutro patamar de suas carreiras —, não se podia antecipar o que esperar do primeiro retrato cinematográfico de um dos maiores ícones da superficialidade feminina.
Ao longo de mais de sessenta anos de história, desde o lançamento da primeira Barbie, em 1959, a boneca foi uma grande perpetradora dos padrões de beleza inalcançáveis de cada época ultrapassada. Até ser reformulada, a mulher perfeita era extremamente magra, sem qualquer marca ou cicatrizes, loira e com os traços do rosto inteiramente caucasianos, ou seja, uma “verdadeira” americana padrão.
Assim, quando Margot e Ryan Gosling foram anunciados para os papéis de Barbie e Ken, um namorado que é o reflexo de toda a perfeição que a boneca é, narizes foram merecidamente torcidos. Seria uma comédia romântica? Gerwig se renderia aos grandes estúdios e contaria uma história genérica que se passava no Barbie World? Como a diretora e roteirista abordaria a história de uma personagem ultrapassada, considerando o contexto atual?
Conforme outros nomes foram apresentados, a curiosidade foi aumentando. Parecia existir alguma aleatoriedade nas contratações de atores e atrizes como Simu Liu, Kate McKinnon, America Ferrera, Issa Rae, Nicole Coughlan e até Dua Lipa (!), e pequenas declarações sobre o filme se tornavam grandes, especialmente por conta do vazio de informações. Barbie é um dos poucos casos em que o roteiro central, de fato, foi mantido em segredo, ao menos até a estreia do primeiro trailer, quando o mundo teve o primeiro vislumbre do universo criado por Gerwig em parceria com seu marido, Noah Baumbach (História de Um Casamento, Frances Ha). Este não dizia muito, mas dava uma ideia de que a Barbie de Gerwig vivia em uma sociedade perfeita, sua própria realidade, embora começasse a questionar a natureza de si mesma e, aparentemente, buscaria uma aventura no mundo real.
Foi em meados de abril de 2023, no entanto, quando Margot Robbie passou a divulgar o filme, recriando looks icônicos da boneca da vida real, que a bolha cinéfila que aguardava o lançamento de fato estourou, para o bem e para o mal, tornando-o um grande acontecimento. Barbie, o filme, nasceu, então, como fenômeno, consolidado nas semanas seguintes após o lançamento.
O marketing do filme é um caso à parte, que provavelmente será estudado por especialistas, mas, nitidamente, trata-se de algo planejado com cuidado e muita antecedência. Foi revelado que, durante as gravações, Robbie estabeleceu uma espécie de “jogo” inspirado no filme Meninas Malvadas (2004), onde, às quartas-feiras, todo o elenco deveria usar roupas rosas, sendo que a punição para quem descumprisse a regra era uma pequena multa doada posteriormente à caridade. O sentimento de pertencimento evocado pela atriz durante as gravações e, posteriormente, na turnê mundial de lançamento — e, ineditamente, seguido por seu parceiro de tela também fora dela, ainda que de forma mais sutil —, foi compreendido pelo público que, cada vez mais enchia as salas de cinema para entender o motivo de sucesso do filme. Afinal, o que de especial teria um filme sobre um brinquedo? Uma boneca padrão e seu namorado padrão vivendo em um mundo designado para ser perfeito? Que tipo de conflito esses personagens teriam que poderia ser tão relacionável com um público majoritariamente adulto, uma vez que a própria Barbie descreve seus dias como perfeitos?
“Este é o melhor dia de todos, assim como ontem e também amanhã, e todos os dias, desde agora até para sempre!”
A partir dos primeiros comentários, ficou claro que, assim como no mundo artificial de Greta Gerwig, o público criou para si uma comunidade perfeita, tendo no centro a imagem da Barbie de Margot Robbie, intitulada Barbie Estereotipada. Antes apenas um produto bem-sucedido para jovens meninas, a Barbie se elevou ao status de heroína ao buscar uma jornada própria e se levantar pelas demais Barbies de sua realidade, suas irmãs, diversas em cores, etnias, biotipos e carreiras. Porém, mais importante, pelas Barbies que estão fora da tela, as Barbies da vida real, eu e você.
Tal é a potência do discurso de Barbie sustentado por Robbie e Gerwig — e, é claro, pela propaganda. O maior mérito do roteiro do filme é ter estendido o mundo cor-de-rosa da boneca para além do cinema, não apenas em estética (uma vez que, também, é um fenômeno estético), mas povoando o centro das discussões sobre a temática de fundo feminista do filme.
Barbie, uma sociedade idealizada
Mais uma vez, Greta Gerwig não decepciona em um projeto que se propõe a abordar mulheres diversas, personagens femininas ricas, mesmo quando se trata de bonecas, em tese, despersonalizadas. Em Barbie, todas as Barbies vivem em harmonia: o mundo é delas; elas vivem nas melhores casas, têm os carros mais bonitos e são bem-sucedidas em qualquer carreira que se propõem; e tudo isso é estritamente feminino. Assim, tudo o que remete à feminilidade está na Terra de Barbie. Além do rosa, é claro, existem estampas e cores pastéis mais delicadas em todo e qualquer bem, seja móvel ou imóvel, o ambiente super limpo e organizado e, é claro, os visuais em perfeita ordem. Nenhum fio de Barbie está fora do lugar, a não ser que esta Barbie tenha um motivo para estar assim.
Nesta realidade, pensada para ser uma antítese do mundo real, os homens — Kens —, vivem esta vida colorida apenas em razão e em função das Barbies. Como a narradora de Helen Mirren bem pontua: “Barbie tem um bom dia todos os dias, mas Ken só tem um bom dia se a Barbie olha para ele”.
Como acontece no mundo real com as mulheres, os Kens, encabeçados por Ryan Gosling e por seu arqui-rival, interpretado por Simu Liu, têm seus interesses, carreiras e sentimentos colocados em segundo plano, embora, como fica claro na discussão que permeia o filme, eles existam. No mundo feministicamente perfeito de Gerwig, suas vidas são inteiramente dedicadas às mulheres, inclusive com o figurino seguindo a mesma linha de raciocínio.
É possível, por exemplo, fazer uma comparação básica com a realidade: em razão da Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres tiveram de ocupar postos de trabalho pertencentes aos homens, os quais exigiam a necessidade de roupas de maior praticidade para os afazeres do dia a dia, resultando no uso massivo de calças. Se Coco Chanel foi uma das primeiras mulheres da moda a usar calças para evocar um maior “senso de liberdade” e se Katherine Hepburn e Greta Garbo popularizaram o simples item como objeto de moda, quem realmente normalizou as calças foram as mulheres que precisaram se adaptar a um mundo masculino. Segundo o site Fashion View, até o início dos anos XX, era socialmente aceitável que mulheres usassem calças em apenas algumas ocasiões e, ainda assim, se tratava de uma peça polêmica, justamente por ser associada a um visual masculino demais, e mulheres não eram práticas e úteis, eram apenas… mulheres. Antes disso, de acordo com PITTA (2020):
“a aparência das damas era de vulnerabilidade, as roupas eram desenhadas para fazerem as mulheres parecerem fracas e impotentes, como de fato elas eram. As cores eram claras. O espartilho, que fazia mal à coluna e deformava, inclusive os órgãos internos, as debilitava ainda mais, impedindo-as de respirar profundamente. […]”.
Em uma sociedade comandada por mulheres, as roupas que evocam tropos essencialmente femininos são subvertidas para demandar um lugar de poder. Assim, é claro, quem precisa se adaptar são os homens. Eles são apenas Kens, estão ali para fazer seu mundo girar em torno das Barbies — como as mulheres fazem em um masculino. Portanto, suas roupas são, também, em tons, e eventuais estampas, mais delicadas e pensadas para refletirem o estilo do que usam as mulheres. Não é se de estranhar que, com um departamento de figurino comandado por Jacqueline Durran, vencedora do Oscar por Anna Karenina (2013) e Adoráveis Mulheres (2019), mas também o nome por trás de outras produções visualmente bem sucedidas, como Spencer (2021), 1917 (2019), Batman (2022), A Bela e a Fera (2017), Orgulho e Preconceito (2005) e Desejo e Reparação (2007), cada detalhe tenha sido pensado para condizer com o sistema posto pela sociedade imaginada por Gerwig.
Barbie, em busca da subversão
Na produção, ao invés de o feminino ser rechaçado em nome de um ar mais sério e sisudo, é normalizado e incentivado, mesmo entre os Kens. Portanto, assim como existe um choque de realidade dos personagens principais ao chegarem no “mundo real”, subsiste, entre a esmagadora maioria do público masculino, um senso de rejeição. Subitamente, os homens sentem com Barbie o que as mulheres sentem todos os dias, inconscientemente ou não: algo próximo à invisibilidade e anulabilidade. Sendo todo produto e espaço, na vida real, dominado pelos homens, Barbie se mostra um pesadelo, ainda que no mundo harmônico do filme estes não tenham sua integridade física ameaçada, como a Estereotipada têm ao chegar no mundo real.
Além disso, em uma decisão genial de um roteiro que serve a uma via de mão dupla, e vai além da primeira camada de identificação com a Barbie de Margot — que passa a ter de lidar com sentimentos indefinidos, conflitantes e, ao mesmo tempo, intensos, como uma adolescente —, o Ken de Ryan Gosling também subverte a figura do protagonista masculino e emula um comportamento comumente associado às mulheres: o cuidado, a atenção e até obsessão em relação à Barbie, que segue sua vida sem grandes pretensões de romance. Assim, enquanto o mundo de Ken desaba por girar em torno de boneca, sem qualquer recompensa, a ideia de romance, para ela, não parece ser uma necessidade quando tanto no mundo é seu, inclusive a atenção inquestionável dos Kens, independente de sua óbvia — e, sim, cruel — indiferença inicial.
Ainda, quando o Ken de Ryan é jogado no mundo real ao lado de Barbie, subsiste nele um choque e, posteriormente, admiração semelhante ao que cada mulher deve sentir ao desvendar, pela primeira vez, o Mundo da Barbie de Gerwig, uma vez que a realidade fora dos brinquedos glorifica uma figura muito parecida com a sua, a coloca em posição de poder e, é claro, dá predileção aos sentimentos e vontades masculinos. E se, ante este contexto, as mulheres apenas se questionam porque a realidade não pode ser mais como a de Barbie — harmônica, sem conflitos, representativa, fashion — o Ken de Gosling se subverte novamente para dar lugar a alguém mais parecido com o que vê no mundo exterior cheio de possibilidades do que lhe foi revelado, pois o homem, quando tem seus sentimentos e/ou vontades contrariados e se encontra frustrado, se rebela.
No filme, enquanto está no mundo real, Barbie tem seu mundo tomado pelos Kens, que substituem os tropos femininos por símbolos intrinsecamente masculinos — botas, chapéu, músicas de gêneros dominados por homens, conflitos e uma postura indiferente (cruel, não é?) em relação ao outro. Além disso, a Terra da Barbie também é tomada por uma disputa entre dois grupos de Kens rivais — afinal, o que são os homens sem um grande objetivo? Não importa, as guerras servem para provarem a si mesmos, ressaltarem uma posição de poder pelo poder sobre os demais.
No mundo real, os Kens se uniram contra o filme, um movimento provavelmente esperado pelo estúdio e por um roteiro profundo o bastante para retratar justamente a frustração dos espectadores masculinos: é mesmo difícil se deparar com um mundo em que não são colocados como centro do universo. A diferença, no entanto, é que a Terra da Barbie e a sociedade feminina harmônica de Greta Gerwig são reais e o único tipo de cidadão, que tem tudo historicamente relacionado a si rebaixado ao segundo plano, tanto pessoal quanto profissionalmente, é a mulher.
Barbie, a heroína
Meses após o lançamento do filme e, mesmo que com certa pausa sobre assunto em razão da greve dos roteiristas e atores em 2023, que impediu atividades de divulgação de qualquer produção, é possível chegar a conclusão de que Barbie é a primeira grande heroína surgida nesta década, e após o fim da Era de Ouro dos Heróis, com Vingadores: Ultimato (2019). Contudo, diferente dos heróis da Marvel que, em seu time original, tinham apenas uma Vingadora dentre cinco homens, a Mattel ousou e permitiu que Margot Robbie e Greta Gerwig dessem um novo rumo a um dos maiores ícones da superficialidade feminina, fazendo com que esta fosse o centro de sua própria narrativa, o que a aproximou de seu público ao ressoar no senso de identificação e pertencimento de cada Barbie assistindo ao filme.
A certa altura, a Barbie Narradora diz que “Todas essas mulheres são a Barbie, e a Barbie é todas essas mulheres” e, porque não se trata de palavras em vão, não são tomadas em vão. Apesar de ser muito distante da diversidade de Barbies que vivem naquele Universo perfeito e harmônico, a personagem de America Ferrera, de origem latina, enxerga nas Barbies diversas possibilidades do que pode ser ou não ser enquanto adulta, após se desfazer de suas bonecas para se adequar a um mundo masculino, exigente e julgador sobre as preferências femininas. Em detrimento daquelas que vivem na sociedade ideal, suas escolhas, contudo, são mais pesadas e carregadas de dor e realidade. Cabe a ela retratar as Barbies espectadoras, fazer com que o discurso do mundo real recaia sobre aquele universo perfeito, de forma que percebam que o que têm é uma dádiva, pois o seu mundo é o oposto daquilo:
“É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda e tão inteligente, e me mata que você não se ache boa o suficiente. Tipo, temos que ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre fazendo isso errado. Você tem que ser magra, mas não muito magra. E você nunca pode dizer que quer ser magra. Você tem que dizer que quer ser saudável, mas também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não pode pedir dinheiro porque isso é grosseria. Você tem que ser uma chefe, mas não pode ser má. Você tem que liderar, mas não pode esmagar as ideias dos outros. Você deve amar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo todo. Você tem que ser uma mulher de carreira, mas também estar sempre cuidando das outras pessoas. Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, que é uma loucura, mas se apontar isso, é acusada de reclamar. Você deve permanecer bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de seduzi-los demais ou de ameaçar outras mulheres porque deveria fazer parte da irmandade. Sempre se destaque e seja grata. Mas nunca se esqueça de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca deve envelhecer, nunca deve ser rude, nunca se exibir, nunca ser egoísta, nunca cair, nunca falhar, nunca mostrar medo, nunca sair da linha. É tão difícil! É muito contraditório e ninguém te dá uma medalha ou agradece! E acontece que, de fato, você não apenas está fazendo tudo errado, mas também tudo é culpa sua. Estou tão cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se amarrando para que as pessoas gostem de nós. E se tudo isso também se torna uma verdade para que uma boneca que representa apenas mulheres, então eu nem sei mais”.
No fim do dia, Barbie, o filme, é sobre as ricas nuances de uma personagem feminina que, sem compreender os próprios questionamentos, embarca cegamente numa jornada de autoconhecimento. Sem qualquer grande poder que a torne uma heroína no sentido literal da palavra, Barbie recorda que, mesmo em mundo que a coloque para baixo todos os dias, a todo o instante, sobre qualquer decisão tomada, vale a pena encontrar a mulher em si mesma, como é deixado claro na última cena do filme, quando as primeiras notas da emocionante “What I Was Made For”, de Billie Eilish, soam.
Isso a torna diferente dos outros tipos de heróis e heroínas ultimamente retratados nos cinemas, mas não tão distante assim de um público que anseia por visibilidade, por encontrar nesta personagem algo em que se apegar, algo particular em um rosto mundial.
Por isso, depois de meses do lançamento e ainda na ressaca bilionária do fenômeno em razão da temporada de premiações, é possível afirmar que Margot Robbie é a Barbie, assim como Robert Downey Jr. é o Homem-de-Ferro, tendo ambos tomado para si personagens muito marcantes, de grande apelo público e os levado, eficientemente, para fora das telas.
Barbie, um legado necessário
Com menos de um ano do lançamento, ainda não é possível mensurar o impacto real do filme no cinema como experiência ou narrativa, pois ainda soa como uma exceção.
É certo que o ano de 2023 sempre será lembrado pelo evento “Barbenheimmer”, onde dois filmes de grande peso e muita expectativa escolheram a mesma data de lançamento e é inevitável negar que a competitividade, os memes e a temática inteiramente distinta de Barbie e Oppenheimer (Christopher Nolan), fizeram crescer o interesse sobre ambas as produções. Mesmo quando tal coincidência aconteceu em outras ocasiões, o barulho não foi tão grande nem houve tanta polêmica sobre a escolha do público. Se as sessões de Barbie lotaram, foi porque o filme de Gerwig tinha um discurso raso e de fácil compreensão, sendo apelativo para jovens meninas — embora o público-alvo não fosse esse. Oppenheimer, é claro, possuía uma temática verdadeiramente relevante e exigia mais intelectualmente dos espectadores, diferente do público que estava de rosa e, portanto, ostentando futilidade. Barbie apelou para um marketing extremamente agressivo encabeçado por Margot Robbie em eventos dignos de blockbuster; Oppenheimer estava preocupado em retratar a história real.
Involuntariamente, criou-se uma série de crenças sobre o público de Barbie e o público de Oppenheimer que ressoam, justamente, no discurso do filme de Gerwig: o Ken subversivo de Ryan Gosling correria para os cinemas de terno preto, chapéu de aba curta e botas, para ver o filme de Christopher Nolan sobre um homem que construiu uma arma e mudou o curso da história mundial — uma História que, como o diretor deixa claro, é também contada apenas por homens. Assim, do ponto de vista da recepção comercial e crítica, Barbie é uma peça competente em si mesma e também em relação ao mundo real. Aí reside, portanto, sua genialidade e relevância, sendo desnecessário ir tão longe para prová-la.
Durante o Globo de Ouro 2024, a primeira grande premiação da temporada, onde ambos os filmes concorreram em diversas categorias, o apresentador subiu ao palco para fazer a pior comparação possível sobre Barbenheimmer. Em uma tentativa de piada, ele declarou: “Oppenheimer é baseado em um livro de 724 páginas, ganhador do Prêmio Pulitzer, sobre o Projeto Manhattan, e Barbie é baseado em uma boneca de plástico com seios grandes”. Em certo momento, outra tentativa foi direcionada à Taylor Swift, que concorria em uma das categorias da premiação com o filme-concerto The Eras Tour, mas foi alvo do machismo constante dos homens que recorrem à função utilitária feminina para engrandecer a si mesmos ao comentar, fazendo referência ao namoro da cantora com o jogador de futebol-americano, Travis Kelce: “A diferença entre a NFL e o Globo de Ouro é o que o Globo de Ouro não tem todas as câmeras focadas na Taylor Swift”.
No fim do dia, a heroína Barbie, na pele de Margot, Greta, Taylor e tantas outras, devem continuar lidando com os efeitos de um mundo em que suas capacidades são relativizadas e subjugadas quando comparadas ao que é oferecido por um homem — independente da qualidade, pois não se está julgando a competência de Nolan, diferente do que se faz com Gerwig. Ainda que o público tenha escolhido amar a proposta de heroína sem-poderes, estereotipada e de bom-coração da diretora, dado o sucesso comercial da produção, considerando o cenário social atual, Barbie irá ressoar como uma bela e inspiradora ideia por algum tempo, um pequeno passo em relação aos grandes passos masculinos no cinema. Mas, por sorte, ideias não morrem.
Barbie recebeu 8 indicações ao Oscar, nas categorias de: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Ryan Gosling), Melhor Atriz Coadjuvante (America Ferrera), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Canção Original (“I’m Just Ken”), Melhor Canção Original (“What Was I Made For?”), Melhor Design de Figurino e Melhor Design de Produção.