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O Jardim Onírico de Clarice Lispector

Nascida na Ucrânia em dezembro de 1920, Clarice Lispector chegou ao Brasil ainda pequena, com os pais e irmãs, em 1922. Sua família de origem judaico russa precisou deixar o país natal devido a Guerra Civil Russa e no Brasil fincou raízes, tentando se reconstruir. Por ter deixado a Ucrânia tão cedo, Clarice não sentia ter laços com o país, considerando-se brasileira por inteiro. Quando viveu no exterior devido ao trabalho de diplomata de seu marido, sentia vontade de retornar, percebendo-se longe da sua origem.

Clarice, formada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sempre teve interesse pelo meio literário e escrevia desde muito jovem. Ainda que tenha se formado advogada, ela já trabalhava como tradutora, e não demorou muito para que se encontrasse por completo em meio às palavras, consagrando-se como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da literatura brasileira e mundial.

O Jardim Onírico de Clarice Lispector surge, então, como uma homenagem a essa mulher singular que nos encantou com suas palavras durante toda a vida. Daniela Tarazona, doutora pela Universidade de Salamanca e pesquisadora, entre outras coisas, da obra de Clarice Lispector, se juntou à ilustradora Nuria Meléndez, para compor um livro tão único quanto sua homenageada, entregando umas das produções mais bonitas da Darkside Books. Com tradução de Ayelén Medail, o livro é um passeio pelo jardim metafórico de Clarice Lispector, suas cores, texturas, sensações e emoções.

Em pouco mais de 170 páginas, O Jardim Onírico de Clarice Lispector nos leva por diferentes fases da vida da escritora, mesclando fatos com trechos de seus livros, conto e ensaios. Como a nota introdutória da edição deixa claro, é impossível dissociar Clarice de sua obra, visto que sua “natureza foi viver escrevendo”. Ainda que várias biografias e pesquisas tentem classificar Clarice, fato é que a mulher por trás dos textos sempre foi misteriosa, fugidia, cheia de metáforas como as palavras que colocava no papel. Discreta a respeito de sua vida privada, Clarice Lispector colocava em suas personagens aquilo que não dizia, um desejo, talvez, de se misturar ainda mais à sua criação.

O Jardim Onírico de Clarice Lispector não possui um texto aprofundado como biografias comuns, mas funciona por levar o leitor para o universo de sonhos criados pela homenageada. É como se a prosa de Daniela Tarazona nos pegasse pela mão e guiasse por esse jardim de colagens e sensações que foi a vida de Lispector, acentuada pelas ilustrações inspiradas de Nuria Meléndez. Assim, por todas as páginas temos vislumbres da obra e da mulher por trás dos textos, com menções e comentário de Perto do Coração Selvagem, seu livro de estreia publicado quando Clarice tinha 24 anos, além de Laços de Família, A Paixão Segundo G.H e A Hora da Estrela.

Falecendo um dia antes de completar 57 anos em decorrência de um câncer de ovário, Clarice dizia estar “morta quando não escrevia”. Sendo assim,

“Os romances, contos, crônicas, depoimentos, relatos infantis ou ensaios que escreveu ao longo de seus 56 anos de vida são a generosa herança que deixou para seus leitores. Elas apenas escrevia quando assim queria. A escrita era natural nela, tanto quanto respirar. Era por isso que escrever se tornava um ato sagrado.”

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Editora DarkSide Books.


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3 comentários

  1. O texto ficou excelente, pois conseguiu transmitir a leitura o espírito livre e misterioso de Clarice

  2. O filósofo Benedito Nunes analisa e descreve muito bem essa escritora e ajuda a compreende-la melhor
    Foi através dele que tive contato Clarisse Lispector.
    Não sei se cabe comparação mas ela lembra ( minha opinião) a escritora inglesa Virgínia Wolff.

  3. Fiz o meu curso de mestrado sobre a obra “água viva”, e realmente admiro muito essa grande escritora.

    Vou procurar este livro!

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