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Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Música – Lado A

De acordo com o Pitchfork, 2019 foi o ano em que as playlists foram à loucura. Por meio delas, artistas conseguiram estourar com apenas uma canção, caindo no gosto popular e aparecendo em listas ao redor do mundo. Artistas estabelecidos, por outro lado, conseguiam chegar ainda mais longe com a disseminação das playlists, sejam elas feitas entre amigos para aquela viagem para a praia, sejam feitas para conquistar de uma vez por todos o crush, o fato é que montar listas de músicas é uma das coisas mais divertidas que se tem pra fazer. Pensando nisso, e em todas as canções e cantoras maravilhosas que marcaram nosso 2019, o Troféu Valkirias de Melhores do Ano entrega as premiações para as maravilhosas da vez.

Almadura, iLe

Por Luisa Pinheiro

Ex-integrante do grupo Calle 13, a cantora porto-riquenha Ileana Cabra Joglar, ou apenas iLe, lançou em maio o seu segundo disco, Almadura, com músicas marcadas pelo tom político e por ritmos caribenhos. As letras falam, por exemplo, sobre ser mulher na América Latina em “Temes” (“se teus ciúmes me esfaqueiam pelas costas/ e é minha culpa, por ter estado sozinha/ se tua raiva me dispara na cabeça/ por que me temes?”) ou sobre colonialismo em “Contra Todo” (“sou o terreno invadido/ natureza roubada/ sou pensamento indevido/ grito de voz silenciada”).

A música de iLe tem semelhanças à da chilena Anita Tijoux, pela mistura entre ritmos latinos e pelas mensagens políticas que servem de hino contra o patriarcado ou contra o imperialismo norte-americano. Em meio aos protestos que resultaram na renúncia do ex-governador de Porto Rico, iLe e o cantor Bad Bunny lançaram “Afilando los cuchillos” (Afiando as facas). Almadura, indicado para a categoria “Melhor Álbum Latino de Rock, Urbano ou Alternativo” no Grammy latino de 2020, é um bom disco para quem quer começar a escutar música latinoamericana.

Amidst the Chaos, Sara Bareilles

Por Thay

Sara Bareilles não vai te escrever uma canção de amor — e desse momento já se passaram doze anos. De seu sucesso com o segundo álbum de estúdio, Little Voice, até agora, com o lançamento de Amidst the Chaos, Sara já passou por muita coisa em sua carreira, inclusive por temporadas inteiras na Broadway com o seu incrível trabalho no musical Waitress. Amidst the Chaos surge sete anos após The Blessed Unrest, o último disco de estúdio de Sara, e mostra o amadurecimento da da cantora e compositora em cada verso e canção. O álbum, que conta com doze canções inéditas, é uma reafirmação da identidade musical de Sara assim como marca um novo momento em sua carreira. Sara Bareilles não foge às questões pertinentes do momento, o que demonstra tanto em “Armor”, com um recado claro para que mulheres se unam, quanto em “A Safe Place to Land”, um dueto impactante com John Legend que fala sobre a separação das famílias na fronteira entre Estados Unidos e México.

Um dos melhores álbuns do ano e, talvez, o melhor de Sara Bareilles até agora, Amidst the Chaos é um trabalho coeso e coerente do início ao fim. Intercalando canções em que fala sobre seus problemas com depressão e ansiedade — ouça “Eyes on You” e “Someone Who Loves Me” — ao cenário político — “If I Can’t Have You” é, pasme, sobre a saída de Barack e Michelle Obama da presidência dos Estados Unidos — Amidst the Chaos é uma pérola do início ao fim.

Cheap Queen, King Princess

Por Tany

Quando 1950 estourou, por conta de um tweet do Harry Styles, assisti o clipe e não teve jeito, me apaixonei de primeira. Comecei a acompanhar cada música, cada passo da Mikaela Straus, também conhecida como King Princess, e nesse pouco tempo de carreira já a vi evoluir lançando o Make My Bed, seu primeiro EP . No espaço de dois anos vi a King Princess sair de uma cantora indie apadrinhada pelo Mark Ronson para virar uma artista com personalidade, sex appeal e estética própria.

A confiança como artista sempre esteve ali, mas foi em Cheap Queen que começamos a conhecer a vulnerabilidade dessa mulher. Entender que ela também passou por frustrações amorosas, ficou esperando resposta da menina que gosta e sofreu, sofreu muito. As emoções que colocadas no álbum mostraram camadas e vulnerabilidade de uma Mikaela que não esperava conhecer. Tenho a total confiança que ela como artista só tem a crescer e apesar de ser um trabalho absurdo de bom não tenho dúvidas que os próximos serão ainda melhores. Conhecer um artista é muito bom, mas vê-lo evoluir em frente aos nossos olhos é melhor ainda. Fico feliz que uma das representações de artistas abertamente lésbicas seja a King Princess e espero que atrás dela venham muito mais músicas sobre vaginas, amar outra mulher e sexo entre garotas de uma forma carinhosa, amorosa e com respeito. Ouça “Prophet”, “Watching My Phone” e “Hit Me Back”.

Cuz I Love You, Lizzo

Por Natália

Sei que há quem se sinta um pouco incomodado ao ver um artista de nicho se tornar mainstream. É quase como se houvesse uma certa magia em apreciar trabalhos pouco conhecidos e o encanto acabasse na medida em que o(a) cantor(a) deixa de ser limitado para poucos. Gosto à parte, no meu caso, acompanhar a ascensão da Lizzo está no TOP10 de melhores coisas no mundo da música em 2019.

Juice“, “Tempo” e “Cuz I Love You” ficam como destaque do álbum, pois, atestam as habilidades vocais da Lizzo em diferentes estilos, mas ainda são consistentes o bastante para deixar perceptível a identidade da cantora. O talento de Lizzo já era notável desde os seus primeiros trabalhos, mas seu álbum mais recente parece uma versão mais equilibrada de tudo que ela apresentou nos últimos anos. Além disso, Lizzo tem se tornado uma figura cada vez mais importante não só pela qualidade de sua produção musical, mas pelo impacto que sua presença possui num mundo que costuma negar a certos tipos de corpos a devida visibilidade e respeito.

Para saber mais: Lizzo: entre a positividade e o amor próprio

Dreaming Lucid, Ambar Lucid

Por Tati Alves

Com composições bilíngue, Dreaming Lucid, o primeiro álbum de Ambar Lucid, falam sobre crescer e sobre sentimentos, com uma melodia quase psicodélica e sonolenta, que remete aos sonhos da jovem e nos fazem navegam pela sonoridade de sua voz. Na faixa título, Ambar fala que é difícil viver no mundo com os seus demônios e então ela sonha para lugares melhores, onde a realidade é diferente; e é isso que voz de Ambar transmite em suas canções, uma outra realidade. O álbum traz faixas como “A Letter to My Younger Self”, uma reflexão do passado e presente de Ambar, que mesmo jovem já passou por muitas coisas; e “Eyes”, uma declaração de amor para o seu amor.

Nomeada como um dos nomes para se prestar atenção no início de 2019, Ambar Lucid nasceu no início dos anos 2000 nos Estados Unidos. Filha de pai mexicano e mãe dominicana, Ambar usa suas raízes de inspiração para suas composições e de referência para a mesma. Sempre ligada à sua história, junto com a divulgação de seu álbum, Ambar Lucid também lançou o documentário “Llegaron las Flores”, que conta sobre a sua história sendo filha de imigrantes, a história de seu pai que foi deportado para o México quando ela tinha seis anos e como isso afetou toda a sua família e a relação com o seu pai.

Dedicated, Carly Rae Jepsen  

Por Yuu

O quarto álbum de estúdio de Carly Rae Jepsen não poderia ser mais a cara de sua intérprete. Lançado em maio de 2019 e com 15 faixas inéditas, Dedicated tem tudo o que de melhor Carly sabe fazer: canções que se encaixam em cada pedacinho de nossas vidas, mesmo que nossas rotinas não sejam tão empolgantes quanto a da cantora. Depois de explodir no mundo inteiro em 2012 com o pop chiclete de “Call Me Maybe”, a canadense ampliou sua trajetória e evoluiu dentro de seu gênero musical como poucas.

Carly consegue entregar em Dedicated um álbum coeso mesmo que ela decida andar por diferentes sonoridades. É o caso, por exemplo, de faixas que contam com influências evidentes da era disco assim como do synth pop, além do uso de sintetizadores que trazem à tona a vibe oitentista das discotecas. Se você ainda não ouviu Dedicated (!) faça um favor a si mesmo e encerre o ano com chave de ouro colocando “Want You in My Room”, “He Needs Me” e “I’ll Be Your Girl”. Um pouco de sassiness, afinal, nunca feriu ninguém.

Para saber mais: Carly Rae Jepsen: quando os sentimentos são os únicos fatos

Drik Barbosa, Drik Barbosa 

Por Juliana Bittencourt

Nomear um álbum com o próprio nome é algo que pode fazer uma possível interpretação virar apenas uma repetição sem graça. Mas, existe uma exceção para quase tudo e o primeiro álbum de estúdio da Drik Barbosa, rapper e cantora paulistana de 26 anos, é uma delas nesse caso. As 11 faixas de Drik Barbosa mostram os diferentes lados que compõem quem ela é e no que acredita. Por isso, o título do álbum lançado pelo Laboratório Fantasma não poderia ser melhor. Sua infância, influências, sonhos, paixões, certezas e dúvidas estão todas aí, espalhadas e misturadas entre o rap e o funk, o trap e o R&B. Como ela própria diz já na primeira música: “baby, tudo que eu tocar faço virar canção”.

Em muitos momentos, Drik Barbosa também é um álbum emancipador e com ênfase na força feminina, como nas músicas “Liberdade” com a participação de Luedji Luna e R.A.E; “Rosas” e “Sonhando”. Nesta última, ela faz questão de lembrar e agradecer as mulheres que abriram o caminho até aqui e permitiram que hoje sua voz seja ouvida.

Freya Ridings, Freya Ridings

Por Thay

Quando ouvi Freya Ridings pela primeira vez, o que pensei de imediato foi que ela soava muito como Florence Welch, de Florence and the Machine. A voz poderosa estava lá, as composições ao piano também, mas logo percebi que Freya também possuía sua identidade e particularidade. Seu primeiro álbum de estúdio, batizado com seu próprio nome, conta com doze canções autorais. Singles como “Lost Without You” e “Castles” foram lançados entrando diretamente no top 10 canções mais ouvidas no Reino Unido.

As canções de Freya Ridings são intensas e vibrantes, sempre elevadas pela voz poderosa de sua intérprete. Freya consegue flutuar entre dor e melancolia em suas músicas, algo que ela faz na faixa de abertura do álbum, “Poison”, e depois em “Ultraviolet”, quando mostra seu mundo introspectivo e sombrio. “Holy Water” talvez seja a música de Ridings que mais renda comparações com Florence Welch, principalmente por conta dos elementos de corda que permeiam a canção — porém, longe de ser uma crítica a sonoridade similar, isso mostra apenas como o mundo tem sorte de ter duas cantoras tão maravilhosas e com vozes tão poderosas. Ambas, vale apontar, fazem parte do seleto grupo de cantoras cujas vozes soam perfeitas tanto no estúdio quanto em gravações ao vivo, então sortudas somos nós.

Homecoming, Beyoncé

Por Thay

Se tem uma coisa que é fato nessa vida, é que Beyoncé Knowles-Carter é inigualável. A indicação poderia parar apenas com essa frase, se fosse o caso, pois inigualável é um adjetivo que encaixa na trajetória e carreira de Beyoncé de diversas maneiras. Após anos de estrada na música — e no cinema —, Bey coroa todo o seu trabalho com o incrível Homecoming, tanto documentário, quanto show quanto álbum. É impossível colocar qualquer uma de suas músicas para tocar sem sentir a necessidade quase visceral de dançar ou desfilar pela casa como a mulher poderosa que ela nos faz sentir. Com um espetáculo visto por mais de 250 mil pessoas, somando os dois finais de semana de apresentação no Coachella, Homecoming já entrou para a seleta galeria de shows históricos.

As trocas de roupas, as coreografias, a fanfarra e os convidados especiais, tudo foi milimetricamente pensando por Beyoncé e sua equipe de maneira a transformar a experiência de assistir ao seu show algo único. Os novos arranjos para sucessos como “Crazy In Love”, “Formation” e “Drunk In Love”, por exemplo, apenas exaltam o que há de melhor na produção de Beyoncé. Como se não bastasse a qualidade música intrínseca aos trabalhos de Bey, todo o projeto envolvendo Homecoming se relaciona diretamente com a negritude, seus símbolos de resistência e orgulho. Que sorte a nossa viver na mesma época em que Beyoncé.

Para saber mais: Homecoming: Beyoncé e o surgimento de um novo cânone

Immunity, Clairo

Por Tati Alves

Ao ser lançado, Immunity foi anunciado pelas revistas como a forma de Clairo se provar ao mundo da música. O primeiro álbum de Clairo veio após um viral no YouTube, uma teoria de que ela seria uma obra de marketing e um EP que lhe abriu as portas. Em Immunity, Clairo canta sobre ser vulnerável, sobre saúde mental, primeiras paixões, sentimentos e sobre segredos que ela nunca havia contado para ninguém. A evolução do seu bedroom pop caseiro nos leva para outra realidade porém com a mesma essência de nos aproximar da sua narrativa solidária que nos conforta.

Immunity abre com a canção “Alewife”, quase uma carta de amor à sua amiga que salvou a sua vida ao ligar para a polícia ao desconfiar de uma tentativa de suicídio, com uma melodia triste Clairo relembra daquela noite e agradece por ter uma amiga-irmã na sua vida. Já o trio “Bags”, “Softly” e “Sofia” nos leva para a descoberta de sua sexualidade e sentimentos com as inseguranças normais da adolescência; com batidas alegres e referências de sua infância, Clairo transforma tudo em bons sentimentos e que se tornam relacionáveis.

K12, Melanie Martinez

Por Natália

O K-12, segundo álbum de estúdio da cantora Melanie Martinez, chegou acompanhado de um filme de aproximadamente uma hora e meia de duração e um visual típico da estética que Melanie tem transformado em sua marca registrada. O álbum tem uma sonoridade vibrante e singular, ganhando destaque na medida em que trabalha temas bem adultos num ambiente escolar ao maior estilo “meninas usam rosa e meninos usam azul’.

O álbum está cheio de nuances e críticas sociais, explorando de maneira intimista a visão de Melanie sobre temas como bullying, sexualidade feminina, consumo de drogas, representação na mídia, distúrbios alimentares e papéis de gênero. Apesar da estética que brinca com temas sérios em visuais infantis não ser uma novidade no trabalho da cantora, Show & Tell, Detention e Recess são algumas das canções que mostram a evolução de Melanie musicalmente. Trata-se de um trabalho pensado minuciosamente e que merece ser elogiado por tal.

Para saber mais: Melanie Martinez: “um pouquinho de açúcar, mas muito veneno também”

Love + Fear, Marina 

Por Yuu

Embora a saudade dos fãs tenha sido enorme, os quatro anos longe do cenário musical fizeram bem para Marina. Com seu quarto disco de estúdio Love+Fear, um álbum duplo, Marina trabalhou seus sentimentos exatamente da maneira como sugere o nome do trabalho, passeando pelo amor e pelo medo. Com faixas que falam de aceitação, compaixão e empatia, assim como de amor em seu sentido mais amplo, Marina entrega um álbum delicioso do início ao fim.

As dezesseis faixas de Love+Fear são Marina em seu melhor momento. Minhas canções favoritas são “Orange Trees”, que é a cara do verão latino com batidas deliciosas embaladas em versos suaves, “Baby”, em parceria com Clean Bandit e Luis Fonsi, e “To Be Human”, uma canção com tema social, algo recorrente nos trabalhos de Marina.

Para saber mais: Marina and the Diamonds: uma trajetória de power & control

Lover, Taylor Swift

Por Mia

Taylor Swift é uma mulher no controle de sua narrativa. Ela já havia nos mostrado isso na música “Blank Space”, que zomba da figura que criaram em cima dela e, mais ainda, em reputation, o álbum que todos amam odiar. Mas, passado o momento sombrio e de má reputação da cantora, todos estavam ansiosos para descobrir o que viria por aí. Seria uma Taylor ainda na era dark? Seria uma volta às origens? Seja lá o que estivéssemos pensando, acho que quase ninguém antecipou o que estava por vir.

Lover é único. Me atrevo a dizer que é o melhor álbum de Taylor. “Uma carta de amor ao amor”, como ela mesma disse, o álbum é repleto de sentimentos, ao bom estilo da nossa melhor amiga famosa. Todo controle de estética pode ser desgastante, especialmente quando se é uma mulher. Em Lover, Taylor não é uma cantora country romântica, ou uma popstar bonita e inofensiva. Tampouco ela é a “cobra” da era reputation. Aqui, vemos a Taylor como ela se enxerga no momento: livre para falar sobre o que sente, em todos os aspectos. Tanto que, pela primeira vez, enxergamos a face política da cantora. Em músicas como “The Man”, “Miss Americana & The Heartbreak Prince” e “You Need To Calm Down”, ela se posiciona ativamente em questões pela defesa do feminismo, da democracia e dos direitos LGBT. Mas, para além dessas três músicas que mostram um lado mais ativista de Taylor, o álbum é sobre o amor em suas variadas formas. Desde o amor por sua mãe até o amor dourado como a luz do dia, ela consegue nos passar quem é a verdadeira Taylor: uma pessoa que quer ser definida por aquilo que ama. E nós a amamos por isso.

Para saber mais: Lover é uma carta de amor ao amor — e o melhor álbum de Taylor Swift; “Dourado como a luz do dia”: a narrativa introspectiva das letras de Taylor Swift

1 comentário

  1. 2019 foi um ano tão bom pra música! E parece que nos últimos três anos, as mulheres roubaram o espaço nas paradas. Achei muito importante a Taylor falar abertamente sobre o que as gravadoras fazem com as cantoras femininas; o discurso dela como Mulher da Década na Billboard foi sensacional.

    King Princess, Lizzo, Clairo, esse foi o ano de artistas que levantavam bandeiras LGBT, de body posivity, e mais. Eu me apaixonei pela Clairo, pelas confissões dela em forma de música – me identifiquei muito – e acho que a King Princess foi a responsável por abrir um caminho importante, junto com a Hayley Kiyoko, para as mulheres lésbicas na música.

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