Categorias: LITERATURA

Heartstopper: De Mãos Dadas

Após a grande aventura da turma de Paris, Heartstopper está de volta com De Mãos Dadas dando mais um passo na direção do desenvolvimento e crescimento de Nick e Charlie, que estão aprendendo a ser e existir dentro e fora de seu relacionamento.

Atenção: este texto contém spoilers!

No volume anterior, o casal vive dias de romance e auto descoberta durante todo o momento que passaram juntos na excursão com o colégio ao mesmo tempo que percebem que algo não está certo com os hábitos alimentares de Charlie. Agora, Nick e Charlie precisam aprender a também viverem sem o outro enquanto as férias os separam e Charlie precisa focar no seu tratamento.

Nick e Charlie estão juntos há apenas quatro meses, mas tudo tem sido tão intenso em seu namoro que a sensação é a de que estão juntos as suas vidas inteiras. A intensidade dos sentimentos dessa etapa da vida, ao lado das dinâmicas familiares, faz com que o casal sinta as experiências e novidades sempre no limite, o que é responsável por sentimentos muito bons e muito ruins. Isso também acaba dando a sensação de que qualquer sentimento é sempre muito, e que tudo está prestes a desmoronar. Em Heartstopper: De Mãos Dadas, encontramos nossas personagens favoritas em seus melhores e piores momentos, a cada página passando por um sentimento diferente — o que é o normal da adolescência.

Conforme Charlie fica cada vez mais ciente do seu estado mental e a impaciência de seus pais, principalmente de sua mãe, vai crescendo, as coisas para o seu lado vão ficando cada vez mais instáveis e difíceis. Enquanto isso, Nick precisa encontrar a coragem para se assumir ao seu pai ausente e lidar com o seu irmão inconveniente que não quer ver a sua felicidade por mais satisfeito em que ele esteja ao viver a sua verdade.

Nick também vive a dor de acompanhar o sofrimento de quem se ama ao presenciar Charlie lutando contra seus demônios. Aos dezesseis anos, Nick, cuja natureza de abraçar a todos, colocando-os debaixo de suas asas para que todos fiquem bem sob sua supervisão, se sente responsável por Charlie. Quando Nick não consegue reverter a situação em que Charlie está, ele sofre e coloca em suas costas um peso que nenhum adolescente deve sentir, mas muitos o fazem.

“(…) Sei que você acha que “salvar” Charlie é seu dever. Sei que parece que vocês são o mundo inteiro um do outro, mas essa dependência não é saudável para nenhum de vocês. (…) O amor não pode curar um transtorno mental.”

O volume quatro é um pedaço importante do “Osemanverse”, o universo literário de Alice Oseman, uma vez que ele se conecta com outras duas histórias escritas por Alice: This Winter (que será lançado no Brasil pela Editora Seguinte) e Um Ano Solitário (lançado pela Editora Rocco). As duas narrativas possuem atmosferas bem diferentes de Heartstopper, sendo ambos pelas perspectivas dos irmãos Spring e retratam a fragilidade da família, mostrando como o silêncio e a distância só têm a degradar os relacionamentos da mesma.

Alice Oseman poderia muito bem não escrever os piores momentos da vida de Charlie em Heartstopper e salvar a atmosfera utópica e feliz do relacionamento dele com Nick, porém esse não seria o retrato mais fiel da vivência do garoto ou de muitos adolescentes reais. A escolha de Alice, até para preservar suas narrativas em prosa, foi contar esses momentos por meio de passagens em diários ou lembranças das próprias personagens; dessa forma, a vivência é honrada e nos sentimos abraçados ao nos identificar com Charlie ou até com Nick, reconhecidos e validados por uma narrativa que já nos acolhe de tantas outras formas.

Os desafios que Charlie Spring e Nick Nelson enfrentam fazem parte do momento em que estão, de suas juventudes, de se desconectarem de onde vieram e se tornarem suas próprias pessoas, de entenderem a imperfeição de seus universos e construírem suas redes de apoio com aqueles que os fazem bem. Não é um momento fácil, já que ele vem recheado de dores, sentimentos confusos e decisões, mas é um retrato de como na adolescência não somos, e nem devemos ser, adultos, não devemos carregar o peso do mundo enquanto estamos nesse processo de crescimento e aprendizado.

Heartstopper: De Mãos Dadas é diferente dos outros volumes, e talvez o mais importante antes de seu volume final, pois nos mostra nossas personagens favoritas crescendo e se tornando quem elas devem, e querem, ser, e nos mostram que, sim, não é fácil crescer mas que se mantivermos nossas mão dadas conseguiremos superar qualquer coisa. Juntos.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Companhia das Letras.


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