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Heartstopper: Um Passo Adiante

No terceiro volume da história em quadrinhos de Alice Oseman, Heartstopper: Um Passo Adiante, publicado pela Editora Seguinte, acompanhamos Nick Nelson e Charlie Spring agora em um relacionamento de fato, porém ainda tentando desvendar os segredos de suas vivências e identidades, além de serem adolescentes com todas as questões intrínsecas à idade.

Atenção: este texto contém spoilers!

Diferente de Charlie, que sempre soube sobre a sua sexualidade, Nick se descobre uma pessoa bissexual após se apaixonar por ele. No volume anterior, Nick dá um passo muito importante ao compartilhar suas descobertas recentes com a mãe e falar sobre seu relacionamento com Charlie. Agora os dois precisam entender juntos como tornarão esse relacionamento público, não porque eles devem algo para o universo, mas sim porque merecem viver esse amor da forma como quiserem e se sentirem confortáveis.

O volume se inicia com Charlie contando aos seus pais sobre seu novo namorado, Nick Nelson, enquanto Nick ainda não sabe como contar para outras pessoas. Tudo piora quando David, irmão mais velho de Nick, aparece de folga da faculdade. Esse momento é importante para entendermos mais sobre a dinâmica familiar de Nick, com a qual não tínhamos contato nos outros dois volumes. Pela ausência dos personagens, com exceção de sua mãe apoiadora, é fácil imaginar que tudo está bem na família de Nick.

O principal momento de Um Passo Adiante é a viagem a Paris, uma excursão envolvendo os alunos do primeiro e segundo ano dos colégios Truham e Higgs. A gangue toda está de volta e isso significa muita liberdade, aventuras e romance disponível em uma nova cidade, onde eles podem viver um pouco sem a presença dos pais, o verdadeiro sonho adolescente. Nessa viagem, Charlie e Nick se animam com a possibilidade de passarem mais tempo juntos e aproveitarem o pequeno momento em que tudo em seu relacionamento é novo e excitante. Durante a jornada, eles precisam entender até que ponto cada um se sente confortável em compartilhar seu relacionamento, uma vez que Nick não consegue encontrar o momento certo para contar aos seus amigos e Charlie não sabe como contar para Tao, seu melhor amigo.

Em Paris também temos a oportunidade de ver Tao e Elle ficarem cada vez mais próximos e os primeiros momentos desse relacionamento acontecem na cidade mais romântica do mundo. É incrível acompanhar essa narrativa de dois amigos se apaixonarem de uma forma tão simples e carinhosa, uma vez que estamos tão acostumados em ver narrativas trans atreladas a tanto sofrimento e dor.

Em um dos momentos mais icônicos deste volume está a festa de aniversário de Tara no hotel, em que sua namorada, Darcy, consegue de alguma forma trazer vodca para a comemoração, mesmo com a proibição dos professores responsáveis. No meio de um jogo de verdade ou desafio, Charlie é desafiado a beijar um outro garoto e no meio do desconforto da situação, Nick tem a coragem de contar a todos que ele e Charlie estão namorando. Todos ali reagem da melhor forma possível e ainda são atenciosos para saber se querem que eles guardem segredo do resto das pessoas, mas ambos estão no momento em que não querem mais esconder o que sentem um pelo outro.

Em Um Passo Adiante também lidamos com o início de assuntos bem sérios: Charlie se mostra muito ansioso ao imaginar Nick passando pelo o que ele passou ao descobrirem que ele é gay. Ele não quer ser o responsável por Nick ser vítima de bullying e nem que ele sofra as mesmas dores, mesmo com a garantia de seu namorado que tudo está bem. Isso desencadeia gatilhos em Charlie, que aos poucos vamos entendendo, e que são parte de algo maior.

Durante um passeio, Charlie se recusa a comer dizendo que está sem fome e horas depois desmaia, o que alerta Nick, que vai se recordando de todos os momentos em que ele não se alimentou. Nick percebe todos os pontos de atenção e tenta garantir, após esse episódio, de que Charlie está seguro e confortável para fazer suas refeições: em um certo momento ele pergunta se Charlie quer ir para outro lugar para comer, para que ele não sinta a pressão de se alimentar na frente das outras pessoas. Nick ainda não sabe o que está acontecendo com Charlie, mas faz de tudo para deixar seu namorado confortável e seguro.

A cereja do bolo deste volume é o grande romance entre os professores de Truham e Higgs, o Sr. Ayaji e Sr. Farouk. Heartstopper é muito conhecido pelo seu romance adolescente e, com o lançamento de sua adaptação para a Netflix, muitas pessoas mais velhas se mostraram tristes por não terem tido essa história durante suas adolescências. A verdade é que pessoas LGBTQIA+ demoram a ter experiências comuns à adolescência devido ao preconceito ou, ainda, por causa da heteronormatividade demoram a se descobrir e viver essas experiências. Com Farouk, as pessoas dessa faixa etária tem algo para chamar de seu e Alice usa isso para normalizar a vivência dessas pessoas. Farouk é professor do Colégio Higgs e só se descobre um homem gay nos seus vinte anos, diferentemente de Ayaji, professor do Colégio Truham, que brinca sobre a sua época de juventude se apaixonando por garotos. Durante a viagem a Paris, eles se aproximam e começam a viver sua própria história de amor.

Heartstopper é uma história sobre relacionamentos e amores, de todas as formas possíveis, e no seu terceiro volume temos mais certeza de que essa história é necessária para todas as pessoas, não por causa de seus temas abordados ou pela visibilidade (por causa disso também), mas pelo abraço que ele nos dá e nos acolhe em todos os momentos.

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Companhia das Letras.


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