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Bros: final feliz para gays no cinema é possível

A renascença das comédias românticas pede que o gênero também se renove ao trazer casais de todos os tipos para as telonas. Afinal, amor é amor em todas as suas formas. Em Bros (Mais Que Amigos, no Brasil), nova romcom da Universal Pictures, acompanhamos a jornada de dois homens gays ao se envolverem. O longa-metragem também aborda a masculinidade frágil e a dificuldade que homens, sejam gays ou héteros, têm de serem vulneráveis.

Atenção: este texto contém spoilers

O filme é dirigido por Nicholas Stoller, com Billy Eichner e Luke Macfarlane como os protagonistas Bobby Leiber e Aaron Shepperd, respectivamente. Bobby é um jornalista freelancer e um ícone gay que logo será diretor do primeiro museu LGBTQI+. Ele se orgulha de ser solteiro, intenso e rabugento. Ama a comunidade da qual faz parte, mas não confia nos gays para ter um relacionamento.

Já Aaron, trabalha fazendo testamentos e odeia o que faz. Aaron é um exemplo da masculinidade frágil ao se assumir como homem gay: vindo da cidade do interior, ele tem dificuldades em lidar com a comunidade a qual pertence. Na adolescência, praticava esportes e, depois de adulto, tornou-se um homem musculoso que se sente atraído por outros homens musculosos e mais másculos, iguais a ele, com os quais não têm que lidar emocionalmente. Ele não conhece ícones gays como Debra Messing e as músicas de Mariah Carey, e ama músicas country e a série Friends.

À medida que Aaron e Bobby vão se envolvendo, Bros mostra como homens se relacionam e têm dificuldade de se abrir um para o outro. Principalmente quando ambos não estão disponíveis sentimentalmente, um por ser muito cético quanto ao amor, o outro por medo da própria sexualidade e por ser inseguro de si. É interessante ver a dinâmica de um casal gay, em histórias tão conhecidas por nós, mas com homens e mulheres como o centro da questão. Billy e Luke demonstram uma química intensa ao interpretar dois personagens que se privam do amor por motivos tão diferentes e, ainda assim, tão iguais.

O filme é aberto e tenta ser representativo ao abordar gêneros não binários, trazer lésbicas e bissexuais para dentro da história do museu. Para além de um romance, a produção faz jus, da maneira que pode, à história da comunidade LGBTQI+. Bros é uma obra que celebra com orgulho essa comunidade, com toda a sua diversidade e humanidade. O elenco, em sua grande parte, é todo composto por pessoas LGBTQI+.

A fotografia, por sua vez, nos remete às comédias românticas clássicas dos anos 1990, enquanto o tom de humor é ao mesmo tempo clássico e atual ao trazer Bobby como o protagonista ranzinza. Em um diálogo com um casal de amigos hétero, ele, com um tom debochado e amargurado, brinca que a geração de gays dos anos 1990 teve AIDS, enquanto as novas gerações tiveram Glee, e por isso é mais fácil para eles, e até para os héteros, terem conversas sobre a vida sexual de um gay como ele.

Além de protagonizar o filme, Billy Eichner também assina o roteiro, junto do diretor Nicholas. E muito da personalidade de Billy pode ser reconhecida no roteiro, por quem é familiarizado com seu trabalho em Billy on The Street. O tempo cômico entre os diálogos é certeiro. O filme foi vendido como a primeira comédia romântica gay produzida por um grande estúdio e teve um orçamento de U$22 milhões — cerca de R$113 milhões. Apesar das críticas positivas, no entanto, Bros arrecadou apenas U$5 milhões em seu fim de semana de estreia — R$25,8 milhões. Segundo Billy Eichner, o fracasso da obra nas bilheterias dos Estados Unidos se deu porque o público heterossexual não apareceu para assistir o filme.

Com a participação de vários rostos conhecidos e idolatrados pela comunidade, o filme traz Debra Messing como ela mesma, que está cansada de ser a melhor amiga de um gay — um tom de ironia, já que os gays foram, por muito tempo, colocados nas comédias românticas como melhores amigos da protagonista. Mas, ainda assim, ela aponta que as lésbicas, trans e não binários nunca a procuraram para despejar os problemas, porque essas pessoas são auto-suficientes. Já os gays, a vida toda a procuraram, por causa de seu papel na clássica Will & Grace.

Fãs de comédias românticas clássicas vão amar Bros, que menciona com maestria o adorado Mensagem para Você, com Meg Ryan e Tom Hanks, e soube trazer referências do gênero para a obra, brincando ainda com o fato de que os filmes sobre gays no cinema sempre são feitos por héteros, e héteros só gostam de assistir gays sendo tristes. Porque se o filme não for sobre cowboys gays tristes e solitários, como ele vai ganhar um Oscar?