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Fall in Line: a indústria não vai nos fazer seguir ordens

Desde de que foi anunciado que uma das músicas de Liberation, novo álbum de Christina Aguilera, teria participação da cantora Demi Lovato, as expectativas dos fãs foram parar nas alturas e era recorrente vermos na mídia especulações a respeito da nova canção. Eis que, na semana passada, fomos, finalmente, agraciados com a tão esperada faixa, “Fall in Line”.

Sou suspeita para falar de ambas as cantoras. Christina Aguilera sempre foi uma referência de artista e a minha cantora pop favorita. Não apenas por sua voz estridente, mas por, desde o início da carreira, trazer à tona pautas importantes como a autonomia da mulher e a aceitação de sua própria imagem, em músicas como “Can’t Hold us Down”, “Fighter” e “Beautiful”. O feminismo ainda não estava em pauta na indústria da música quando ouvi “Stripped” pela primeira vez, há 16 anos, mas Xtina era uma das artistas que já enfatizava em suas letras a necessidade de passarmos mensagens de empoderamento às mulheres.

Demi, enquanto isso, conquistou meu coração na época de Camp Rock, filme da Disney em que estrelou ao lado dos Jonas Brothers. Enquanto a maioria dos adolescentes gritavam por High School Musical e Miley Cyrus, artista da Disney de maior destaque da época, eu admirava o trabalho de Lovato, me encantando com as suas músicas e tom de voz. O mais interessante de ser fã de Demi desde o início da sua carreira foi acompanhar a evolução dela como artista e muitas vezes me identificar com as suas fases. Após sair da reabilitação, Demi entendeu a importância da sua representatividade para suas fãs e meninas do mundo inteiro, e usou a sua experiência como exemplo de força e superação para todos que a acompanharam e passaram pelas mesmas situações.

Desde então, Demi usa sua arte para enfatizar a importância do amor próprio e da autoconfiança, além de se posicionar publicamente sobre assuntos políticos e sociais. Não preciso dizer que fui uma das fãs que todo dia entrava na internet para saber se “Fall in Line” tinha sido liberada, e eu não poderia estar mais orgulhosa dessas duas após ver o resultado, principalmente depois do lançamento do clipe, que aconteceu na última quarta-feira, 23 de maio.

“Fall in Line” grita para o mundo que nós, mulheres, não vamos mais seguir ordens ou padrões. Já na primeira estrofe, Christina direciona um recado para a nova geração de mulheres que está chegando e que, mesmo que ela não tenha sido orientada a se posicionar, essas mulheres não devem fazer o mesmo e ela vai ajudá-las. Isso reforça que as artistas já estão atentas às novas gerações, que se mostram cada vez mais engajadas com causas sociais e entendem a importância de seus posicionamentos como artistas e influenciadoras.

Outra crítica levantada pela canção é sobre a indústria da beleza, desde a letra até pequenos detalhes no clipe, como o fato das cantoras estarem com pouca maquiagem no vídeo. Em um mundo onde a cada dia que passa um novo creme ou uma nova técnica é criada para esconder o passar dos anos, Demi e Christina mostram que, apesar de todos os esforços do segmento, somos seres humanos e não precisamos mais aceitar a representação fictícia disseminada pela indústria da beleza. Essa parte da música reforça a necessidade de mostrarmos a nossa verdade como mulheres. Vamos envelhecer, temos celulite, peitos caídos. Somos reais e precisamos parar de ter vergonha disso.

“All the youth in the world
Will not save you from growing older
And all the truth in a girl
Is too precious to be stolen from her”

“Toda a juventude no mundo
Não vai te impedir de envelhecer
E toda a verdade em uma menina
É muito preciosa para ser roubada dela”

Outra mensagem presente em “Fall in Line” e que fala de perto com questões presentes nas vidas de muitas mulheres, é o padrão de beleza pensado exclusivamente para agradar outras pessoas, principalmente homens. No caso da música, a letra destaca o uso do corpo feminino como forma de interesse e atração, quando diz “mostre um pouco de pele, faça ele te desejar”. O trecho reforça a discussão sobre a objetificação do corpo das mulheres e o uso do mesmo apenas como forma de agrado aos homens. Além disso, nos trechos seguintes, em oposição à frase citada acima, Demi reforça a importância de estarmos conscientes de que nosso papel, como mulheres, não é agradar homens, e que nós somos muito mais do que o senso comum e a sociedade conservadora nos diz.

A liberação do clipe trouxe mais análises sobre o tema. Ambas as cantoras são moldadas em frente às câmeras, reforçando as imposições machistas do ramo musical e as regras que elas tiveram que seguir para alcançar a fama. Sabemos o quanto a indústria musical faz questão de dar destaques para os corpos das cantoras e “vender” a grande maioria delas com o estereótipo de “mulher fatal”. “Fall in Line” deixou bem claro que nem Christina e nem Demi pretendem seguir essas regras. É importante frisar que muitas cantoras se sentem confortáveis com roupas mais curtas e serem reconhecidas como mulheres sexys, e não existe nenhum problema nisso. O importante é que esse posicionamento seja uma escolha da artista, não do produtor ou uma imposição do ramo.

É perceptível na letra da música o posicionamento de Christina e Demi frente as demoradas mudanças sobre os pontos abordados no texto. “Cale a boca” e “quem disse que você tem permissão para pensar?” são alguns dos trechos que trazem conceitos ambíguos ligados as vidas pessoais e profissionais das cantoras. Embora elas entendam que desconstruir o machismo é um processo de longo prazo, Christina Aguilera e Demi Lovato trouxeram um recado para a indústria musical e para o mundo: nós não vamos seguir ordens, e já temos a força necessária para nos posicionarmos contra o machismo e fortalecermos as mulheres do mundo. Seguimos na luta, juntas.

5 comentários

  1. Que post maravilhoso! Sou muito fã das duas artistas e acho que minha trajetória com elas é parecida com a sua. Estou viciada em Fall In Line e sua análise foi perfeita. Acho que Liberation vai ser um álbum incrível – que talvez não seja um sucesso de vendas -, mas será poderoso e importante.

    1. Que bom que gostou, Isabella! Acho que a Xtina se reencontrou como artista e entendeu que não precisa se posicionar musicalmente de uma forma que ela não queira. O mais lindo dessa parceria foi ver a emoção da Demi ao participar dessa música, já que a Christina também foi, e é, uma inspiração para ela <3

  2. Amei sua análise! Fall In Line mostrou que a Xtina vai vir com tudo novamente. Apesar de ter se perdido artisticamente no último álbum, ela sempre foi a melhor para mim. Era bem nova quando lançou o Stripped que é uma bíblia (Só tem hinos) que foi injustamente massacrado pela mídia machista, fora que achei um amadurecimento enorme do álbum feito sob encomenda de estréia pra ele que foi praticamente todo composto por ela…o Back to Basics então nem se fala…
    A gente não percebe esse amadurecimento tão precoce nas cantoras pop de hj, muitas vêm tentando e não por acaso, todas dizem se inspirar na Xtina.

    1. Heey, obrigada Jess 🙂 Concordo contigo. Acho que desde o “Bionic” a Xtina estava tentando ser uma artista que não é, e desde de que a pauta do feminismo ganhou força, ela passou a entender que sua essência artística, aquela que vimos em Stripped e Back do Basics, era quem ela realmente queria ser como arista. Eu to muuuito feliz com o resultado de Liberation e espero que ela continue nessa linha para sempre. No mais, nossa Xtina tá vivíssima!

      beijooo

  3. Jura que você quer falar sobre aparência mesmo a Christina estando claramente repleta de plásticas, aparentando estar 20 anos mais nova, irreconhecível e com botox nos lábios? me poupe

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