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Visibilizando lésbicas: uma lista de produções para conhecer

Onde estão todas as lésbicas? É uma pergunta difícil de responder. Em parte, por conta da heterossexualidade compulsória, que faz com que muitas de nós passemos grande parte da — quem sabe até toda a — vida sem conhecer realmente nossos desejos e impulsos românticos e sexuais, mas não é só isso. Mesmo entre as muitas de nós que sabem muito bem quem são e o que desejam, existe uma invisibilidade e um apagamento que tem raízes profundas na nossa sociedade cis-hétero-patriarcal e que ainda hoje relega nossa existência e nossas produções aos cantos mais escuros e escondidos.

No mês de agosto são comemoradas duas datas importantes para as mulheres lésbicas: o Dia do Orgulho Lésbico e o Dia da Visibilidade Lésbica.

O Dia Nacional do Orgulho Lésbico é comemorado em 19 de agosto em homenagem ao evento que ficou conhecido como o “Stonewall lésbico brasileiro”. O local foi o Bar Ferro’s, que havia se tornado um ponto de encontro e organização política para mulheres e grupos lésbicos de São Paulo. Em 23 de julho de 1983, a polícia foi chamada e houve a tentativa de expulsar as mulheres do bar, o que não se concretizou. Em resposta à tentativa, em 19 de agosto, as mulheres do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) se organizaram para retomar o lugar.

Já o dia 29 de agosto, em que se celebra o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, foi instituído por lésbicas militantes na data em que aconteceu o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale). Como o próprio nome já diz, a data foi marcada como um símbolo da luta contra o apagamento sistemático das nossas existências.

Foi pensando nisso que reservamos um cantinho especial na nossa programação comemorativa da visibilidade lésbica para listar obras e iniciativas de autoria de mulheres lésbicas, com representação lésbica e/ou voltadas para promover a visibilidade de mulheres lésbicas. Entreter e informar com qualidade é o nosso objetivo, e essa lista serve aos dois propósitos.

Um Livro: Conectadas

Por Duds

Mulheres lésbicas

Em Conectadas, romance sáfico de Clara Alves, o romance de Ayla e Raíssa é construído de forma que a gente veja o quão importante é crescer e viver uma adolescência já sabendo quem é — vejam bem, importante não quer dizer que seja necessariamente fácil. Nessa história cheia de clichês, de problematizações (por que não?), nós nos apaixonamos por personagens que vivem um romance super fofo e bem construído enquanto elas precisam se construir, se permitir amar e se estabelecer dentro de um universo tão machista e tão cis-masculino. – Comprar

Leia mais: Conectadas: amores, relações virtuais e assédio contra mulheres gamers

Uma Filme: Retrato de uma Jovem em Chamas.

Por Paloma

Representatividade lésbica - Retrato de Uma Jovem em Chamas

Retrato de Uma Jovem em Chamas é o filme mais recente da cineasta francesa Céline Sciamma, lançado em 2019. O longa conta a história da relação entre a pintora Marianne (Noémie Merlant) e a jovem Heloïse (Adèle Haenel). Marianne é contratada pela mãe de Heloïse com uma missão: pintar a moça sem que ela perceba. Para isso, Marianne é apresentada como uma companheira de caminhadas. A obra resultante do trabalho da pintora tem como destinatário o noivo desconhecido de Heloïse — anteriormente prometido à irmã da moça, que possivelmente se matou para escapar do casamento arranjado.

Deixadas sozinhas em uma casa isolada, com a companhia apenas de Sophie (Luàna Bajrami), a empregada, a relação das duas se aprofunda e dá uma virada nada inesperada no sentido romântico-sexual. Retrato de Uma Jovem em Chamas é uma obra intensa, catártica, anti-patriarcal e linda em todos os sentidos que merece ser indicada quantas vezes for preciso.

Leia mais: Retrato de Uma Jovem em Chamas: o mundo pelo ponto de vista das mulheres

Uma Iniciativa: Clube Lesbos.

Por Paloma

O Clube Lesbos é uma iniciativa voltada para a divulgação e debates acerca de livros e filmes lésbicos. Atualmente, a iniciativa já se espalhou por várias cidades do Brasil — Brasília, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Guarulhos, Salvador, São Carlos, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife — e atua de três formas: realização de encontros mensais para conversar sobre livros, filmes e séries com personagens/autoras lésbicas, produção de material voltado para a preservação do conhecimento sobre a cultura lésbica e a organização de festas e eventos voltados para o público lésbico e de mulheres bissexuais.

A iniciativa também conta com um blog e perfis em diversas redes sociais para divulgação do trabalho.

Uma Webcomic: Heartstopper

Por Julie

Heartstopper, de Alice Oseman, é uma webcomic expert em deixar nossos corações quentinhos. Isso acontece não só com a história de amor dos protagonistas Charlie e Nick, mas também com a de Tara e Darcy. Na trama, as duas adolescentes nos são introduzidas quando Tara é apresentada como uma antiga crush de Nick, que é bissexual. Por ele saber de suas orientações sexuais, elas são as primeiras pessoas com quem ele se sente suficientemente confortável para dizer que está saindo com Charlie. Assim como Nick passa pela sua própria jornada de descobrimento em relação a sua sexualidade, Tara também vivencia isso. Na webcomic, enquanto Darcy se entendia como lésbica e já havia se assumido publicamente quando começou a se relacionar com Tara, a outra estava começando a entender melhor sua orientação sexual. Alunas de uma escola para garotas, a palavra “lésbica” era carregada de uma conotação negativa, usada até como insulto — algo que a própria Tara admite ter feito quando mais nova.

Para Tara, foi necessário mais tempo não só para se entender como lésbica (Darcy brinca que levaram seis beijos para ela perceber isso), mas também para ela se sentir bem em se autointitular assim, o que Darcy respeita. Com o tempo, assumir o relacionamento publicamente não é mais tão assustador e assim, elas resolvem parar de se esconder, sem grandes anúncios ou declarações públicas. É se sentindo tão confortáveis em serem Tara e Darcy, um casal — com a amizade, mãos dadas, brincadeiras, sorvetes de morango e tudo aquilo que o amor envolve — que vemos o quão bom é estar com alguém com quem podemos ser nós mesmos, por inteiro. – Comprar

Uma Iniciativa: Lésbicas na História.

Por Paloma

Representatividade lésbica - Lésbicas na História

Lésbicas na História é uma iniciativa que visa resgatar, registrar e preservar as histórias de mulheres lésbicas do presente e do passado que tiveram e seguem tendo suas vidas e obra apagadas ao longo do tempo. Alimentado desde fevereiro de 2020, o acervo continua a crescer regularmente, com uma organização invejável e categorização geográfica. Mais recentemente, a iniciativa se expandiu para abranger a indicação também obras literárias de autoras lésbicas, que vai ao ar aos domingos no mesmo perfil.

Um Livro: Controle.

Por Paloma

Representatividade lésbica - Controle

Romance de estreia de Natalia Borges Polesso, autora do livro de contos AmoraControle conta a história da vida de Maria Fernanda, uma menina ativa e ousada que desenvolve crises convulsivas frequentes após um acidente. A partir de então, Nanda passa a viver em um mundo cada vez mais restrito e enclausurado, perdendo de forma crescente a liberdade que costumava sentir e o controle da própria vida.

O livro acompanha a trajetória da protagonista desde esse evento até a idade adulta, representando de forma muito comovente as angústias e revoltas de toda uma vida limitada por um evento traumático e suas consequências. Controle é uma grande metáfora na forma de um pequeno livro, sobre o que significa crescer e se descobrir enquanto indivíduo em um mundo que não pede permissão para acontecer. – Comprar

Leia mais: Controle: crescimento e sexualidade em forma de romance

Um Conto: Deu Match!

Por Thay

Este é um conto sobre Júlia e Lia, personagens livremente inspiradas na própria autora, Cris Soares, e em sua namorada. Na trama de Deu Match!, disponível no Kindle Unlimited, Lia decide se arriscar no Tinder após sair de um relacionamento que a deixou destruída emocionalmente. Cansada de ser uma romântica incurável apenas para quebrar a cara na sequência quando seus relacionamentos não dão certo, Lia decide entrar no aplicativo de paquera para encontrar uma transa casual. O que ela não esperava, no entanto, era se deparar com Júlia, uma mulher que a deixa interessada e cativada logo de cara.

Deu Match! é uma história simples, leve e rápida, daquelas que você lê em uma sentada. Embora tenha, sim, alguns clichês, é inegável a necessidade da existência dos mesmos: em um mundo regido pela heteronormatividade, é importante que histórias como as de Deu Match! encontrem seu público. Se não para lembrá-lo de que romance entre mulheres é completamente normal, pelo menos para esquentar nossos corações diante das possibilidades da vida.

Uma Iniciativa: Lésbicas que pesquisam.

Por Paloma

Representatividade lésbica - Lésbicas que pesquisam

A iniciativa surgiu em 2019 para catalogar e dar visibilidade a pesquisadoras lésbicas das mais diversas áreas do conhecimento, inspirados em iniciativas semelhantes para a divulgação do trabalho mulheres pesquisadoras em geral, e de mulheres negras intelectuais. O objetivo central foi a criação do catálogo, atualmente disponível por meio do site. A página do projeto no Facebook e o perfil no Instagram surgiram depois, como forma de divulgação.

O projeto busca nomear e visibilizar mulheres lésbicas que produzem conhecimento dentro da academia, ambiente ainda dominado por homens brancos cis-heterossexuais, e facilitar o acesso à produção intelectual dessas mulheres. Um formulário de inscrição está disponível para as pesquisadoras interessadas em ingressar na lista.

Um filme: Summerland

Por Ana Luiza

Mulheres lésbicas

Ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, Summerland narra a história de Alice (Gemma Arterton), uma escritora solitária que se vê responsável por Frank (Lucas Bond), um menino refugiado vindo de Londres que ela recebe a contragosto. Com o tempo, a relação entre Alice e Frank evoluiu para uma bela amizade, mas mais do que isso, é a partir das interações entre eles que Alice também recorda o seu relacionamento com Vera (Gugu Mbatha-Raw) — uma relação que a marca para sempre.

Dirigido por Jessica Swale, Summerland é uma história de amor; uma história de amor leve e adorável, que une magia e esperança, entrelaça passado, presente e futuro com imensa delicadeza, e nos lembra que o amor, em todas as suas formas, é o que de mais belo existe nesse mundo.


** A arte em destaque é de autoria da editora Ana C. Vieira.