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Troféu Valkirias de Melhores do Ano: Internet

Nem só de entretenimento hegemônico vive o ser humano. A internet nasceu há mais de 20 anos e hoje está aí como uma presença permanente em nossas vidas, para o bem e para o mal. Nesse ano da graça de 2020, essa presença se tornou ainda mais marcante e crucial para as nossas vidas. Vida social, entretenimento, trabalho e estudo passaram a depender da internet mais do que em qualquer outro momento da história.

É sempre importante reservarmos espaço para lembrar que, em um país tão desigual quanto o Brasil, não são todos que têm acesso a esse recurso que se mostrou tão valioso. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativos a 2019 indicam que mais de 20% da população brasileira ainda não tem acesso à internet em casa. Nas regiões norte e nordeste, esse índice gira em torno de 30%, e nas áreas rurais o acesso à internet ainda é muito inferior às áreas urbanas. Não poderíamos falar sobre internet em um ano como 2020 sem fazer essas ressalvas e esse convite para que pensemos o impacto que essa disparidade de acesso tem sobre o aumento das desigualdades sociais e sobre o acesso à educação e ao entretenimento em tempos de pandemia. Dentro dessa realidade, quem é que tem a oportunidade de se quarentenar e ficar em casa, assistindo série?

Apesar dessa nota um tanto pessimista, somos muito gratas a todas as produções que nos fizeram companhia, nos divertiram, nos distraíram, nos informaram e nos ensinaram tanta coisa nesses últimos meses. É por conta disso que esse ano resolvemos inaugurar essa nova categoria no nosso especial. Esperamos que vocês gostem das nossas indicações.

Ai de mim que sou…, Podcast

Por Debora

Não tenho o hábito de escutar podcast, no entanto quando as integrantes do blog Perdidas anunciaram um, o Ai de mim que sou…, eu sabia que precisava dar uma chance para esse formato. Semanalmente, com direito a episódios bônus, o grupo de amigas se reúne para falar de diversos temas, sempre se propondo a analisar o lado romântico da coisa, que pode começar com um debate sobre os prós e contra de um relacionamento entre humanos e fantasmas na ficção e terminar com a aplicação de Modernidade Líquida, de Bauman, em alguma situação.

A originalidade e autenticidade das apresentadoras, aliadas a irreverência e insights incríveis, são o que mais cativam o ouvinte e tornam cada fala um lugar repleto de identificação. Sem medo de serem vulneráveis e de falar de maneira apaixonada sobre aquilo que gostam, o grupo de amigas consegue criar algo raro atualmente em um mundo tão cheio de si e de cinismo: um lugar seguro, para mostrar a quem escuta que existe alguém como você do outro lado, que carrega traumas de ter sido feia na adolescência, fica obcecada um pouco demais por pessoas que não existem e, acima de tudo, acredita que toda história possa ser um romance se analisada pelo ponto de vista certo.

Ariel Bissett, Canal Ariel Bissett no YouTube

Por Tati Alves

Como alguém que consome muito conteúdo da internet, foi estranho passar um tempo sem conseguir assistir vídeos, seriados, filmes, ou acompanhar os lançamentos musicais durante a pandemia. Acredito que não tenha sido a única. Naqueles primeiros meses de isolamento social, senti uma necessidade imensa de me voltar para algo familiar, mas muita coisa familiar parecia estranho (vlogs de viagem, colaborações não faziam muito sentido em um período em que falar com o outro precisa ser feito há, no mínimo, um metro e meio de distância).

Assistir e reassistir os vídeos da Ariel Bissett foi um grande quentinho no coração nesses períodos. Ariel conversa em seus vídeos sobre livros, literatura e mercado editorial internacional com uma delicadeza que não encontrei ainda em outro booktuber. Pioneira dentro da comunidade literária no YouTube, a variedade de conteúdo que ela entrega aos seus inscritos dentro dos assuntos literários e o compartilhamento de leituras que vão desde graphic novels a biografias e poesias, assistir os vídeos de Ariel é como sentar com uma amiga e conversar durante horas sobre nossos assuntos favoritos.

Arlindo, tirinha

Por Paloma

Arlindo

Arlindo é uma webcomic publicada no Twitter pela autora, conhecida como ilustralu. A série já está bem no finalzinho, com data de encerramento marcada para 24 de dezembro, e as páginas são lançadas em dias e horários marcados, duas vezes por semana. As primeiras 98 páginas podem ser encontradas aqui, e as demais são publicadas aqui. Arlindo conta a história de um menino adolescente chamado Arlindo que é gay e tem duas melhores amigas, Lis e Mari. A trama é ambientada nos anos 2000 e vem com bastante nostalgia de brinde para aquelas de nós que foram adolescentes nessa época.

As ilustrações, as personagens, a história e tudo o que diz respeito a Arlindo é lindo, emocionante e de derreter o coração. Além da existência dessa preciosidade no mundo, outra notícia maravilhosa é que Arlindo vai ser publicado pela Editora Seguinte em 2021. Mais um motivo para aguentar firme até o próximo ano.

FliCadê, Festival de Literatura LGBTQIA+

Por Tati Alves

Em julho, Mês do Orgulho LGBTQIA+, o Cadê LGBT promoveu o FliCadê, o primeiro festival on-line de literatura LGBTQIA+. Foram quatro dias de eventos reunindo autores e profissionais do mercado editorial para discutir sobre o mercado e gêneros literários.

Não importa o cenário mundial, a necessidade de um espaço para pessoas LGBTQIA+ falarem sobre suas vivências e representatividade sempre foi, e é ,importante; porém, com a pandemia e o cancelamento de grandes eventos literários, muitos autores independentes queer perderam o espaço de divulgar e vender suas histórias. Dessa forma, o evento chegou para ajudar e acolher uma comunidade inteira nesse momento. Com mesas que foram de literatura infantil LGBTQIA+ ao protagonismo LGBTQIA+ na ficção especulativa, o grande momento do evento todo com certeza foi com a mesa sobre literatura trans e poesia com declamações de Dhiego Monte, Valentine e Bruno Santana.

FLIPOP, Festival de Literatura Pop

Por Karina

A FLIPOP foi um dos muitos eventos que tiveram uma edição online em 2020. Organizado pela Editora Seguinte, o Festival de Literatura Pop realizou 16 eventos digitais durante quatro dias em julho. Sou uma pessoa que gosta muito de frequentar eventos literários, mas nunca tinha ido à FLIPOP, que já tinha tido três outras edições presenciais em anos passados. Ver pessoas falando de livros é sempre uma atividade que me dá paz, então foi ótimo poder assistir aos bate-papos de casa –- uma variação muito bem vinda à rotina interminável da quarentena. Poder acompanhar, ao mesmo tempo, os comentários no chat do Youtube e no Twitter também foi uma experiência bacana.

Os temas dos bate-papos e o elenco de autores e profissionais do mercado editorial participantes também foi um acerto. Pude encarar Adriana Falcão fixamente tentando transmitir por pensamento o quanto Luna Clara e Apolo Onze é um livro perfeito e me emocionei com as histórias da Iris Figueiredo em uma das minhas conversas favoritas do evento. Também curti as participações internacionais de Rainbow Rowell, Casey McQuiston e Ibi Zoboi. Os vídeos da FLIPOP 2020 estão disponíveis no canal da Editora Seguinte no Youtube.

Modus Operandi, Podcast

Por Thay

Uma das minhas maiores companhias nessa quarentena tem sido os podcasts. Costumo ouvir enquanto estou trabalhando e, dessa maneira, consegui maratonar algumas produções, entre elas o Modus Operandi, podcast de true crime (crimes reais) criado por Carol Moreira, Mabê Bonafé e Bel Rodrigues (que hoje em dia já não participa mais das produções). Com episódios complexos e que exigem muita pesquisa e apuração de casos, o Modus Operandi se tornou um dos meus favoritos do gênero e uma das produções mais ouvidas no Spotify. No podcast já teve episódio focado em Ted Bundy, o serial killer que sequestrou, estuprou e matou várias mulheres na década de 1970 nos Estados Unidos, Charles Mason e sua seita assassina em Hollywood, e figuras mais conhecidas aqui no Brasil como o Maníaco do Parque, Suzane von Richthofen e João de Deus.

Mas os episódios do Modus Operandi não ficam só nos crimes reais, e um dos meus quadros favoritos é o Caso Bizarro em que a Mabê trás para seus ouvintes histórias estranhas, teorias da conspiração e tudo o que de há de mais intrigante nesse mundo. Até o momento da redação desse texto, o Modus Operandi conta com 50 episódios de casos reais e sem perspectiva de parar. Você pode apoiar o trabalho da Carol e da Mabê em sua página no Catarse.

Para Tudo, Podcast

Por Thay

O podcast Para Tudo, apresentado por Lorelay Fox, é responsável por um dos momentos mais divertidos do meu dia em quarentena. Lorelay é basicamente minha exceção no quesito podcast, visto que normalmente estou ouvindo apenas produções relacionadas à true crime. No Para Tudo, Lorelay Fox — drag queen e youtuber — fala sobre cultura pop, atualidades e tudo o que der na telha, bem daquele jeito debochado que só ela tem.

Um dos meus episódios favoritos é o de número 10, “Lendo Casos Ruins”, e foi responsável por eu ter uma crise de riso enquanto trabalhava. Se você está tendo um dia ruim e precisa limpar a mente das preocupações, Para Tudo é a pedida: Lorelay vai falar sobre aliens, redes sociais, pernilongos, Inception, viagem no tempo e de tudo um pouco. Vai que é sucesso.

Praia dos Ossos, Podcast

Por Julie

Como uma mulher se torna responsável pelo próprio assassinato? A ideia pode parecer absurda, mas é real: foi isso que aconteceu com a socialite Ângela Diniz, assassinada em 1976 com quatro tiros pelo então namorado Doca Street, réu confesso. Seu comportamento, beleza, a forma como ela expressava sua sexualidade, tudo virou motivo para que os advogados de defesa de Doca fizessem a mídia e a opinião pública do país o inocentasse no primeiro julgamento do crime, três anos após o ocorrido.

Uma sentença como essa, tão violenta quanto a própria morte da vítima — ressaltemos isso, que ela é vítima — revela um Brasil que ainda existe: profundamente machista e que não hesita em encontrar motivos, na própria mulher, que justificam a violência por ela sofrida. Entender essa história e como ela reverbera até hoje, desde a própria forma como o país encara a violência contra a mulher até a relação que o caso tem com o movimento feminista, é algo que o podcast Praia dos Ossos faz com maestria. O trabalho cuidadoso na pesquisa, apuração e roteiro resgata a história de Ângela além do crime, com suas incongruências e louvores, e a narra com o respeito e dignidade que nesses quase 50 anos desde seu assassinato, nem todos tiveram.

Respondendo em Voz Alta, Podcast

Por Paloma

Respondendo em voz alta

Respondendo em voz alta, com DJ Laurinha Lero” foi uma das melhores coisas que me aconteceu nesse 2020. O podcast foi lançado em março de 2019, mas esse ano se tornou uma Produção Original Spotify e ganhou sua segunda temporada, agora quinzenal. O conceito de Respondendo em Voz Alta é muito simples e muito genial ao mesmo tempo: Laurinha Lero respondendo perguntas aleatórias que as pessoas mandam para ela pela internet. Tudo começou no curious cat e migrou para o formato podcast quando a apresentadora respondeu, literalmente, responder às perguntas em voz alta.

O segredo do sucesso é que a Laurinha é engraçada de um jeito muito inteligente, mas ela não brilha sozinha: as perguntas também costumam ser ótimas. Além disso, a nova temporada conta com vinhetas que são uma atração por si só e compõe a estética auditiva peculiar e divertida do programa. Um dia em que Laurinha Lero lança um novo episódio é um dia feliz.

RUN BTS!, vlive

Por Natália Dias

Lançado como websérie desde 2015, o RUN BTS! foi certamente o escapismo de muita gente neste ano conturbado. A proposta é bem simples: em cada episódio Jin (Kim Seok-jin), Suga (Min Yoon-gi), J-Hope (Jung Ho-seok), RM (Kim Nam-joon), Jimin (Park Ji-min), V (Kim Tae-hyung) e Jungkook (Jeon Jung-kook) enfrentam missões e desafios divertidos que levam à premiações simbólicas ou punições engraçadas.

A premissa pode até parecer um pouco “bobinha”, mas de algum modo os membros do BTS conseguiram transformar o RUN BTS! num programa durável e altamente divertido. Neste ano, o destaque fica por conta dos episódios “114” e “115” que contaram com a participação da T1, uma tradicional equipe profissional de League of Legends, conhecida especialmente por ter o jogador Faker em seu elenco. Ademais, embora a proposta do programa tenha como público-alvo aqueles que já são fãs do grupo sul-coreano, o RUN BTS! é certamente um entretenimento com bastante potencial para atrair mesmo aqueles não tão familiarizados com o BTS.

Para saber mais: BE: o BTS em busca de uma nova fluência musical; Map Of The Soul: 7, um salto na carreira do BTS