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Anavitória

Imagine que um dia você e sua amiga decidam gravar um vídeo com o cover de uma música de um cantor famoso. Agora imagine que esse mesmo cantor assista ao vídeo, goste tanto do que ouviu que resolva produzir um EP de vocês. E imagine, ainda, que o EP dá muito certo e logo vocês estão produzindo um álbum completo com esse mesmo cantor. Imaginou? Esse é o resumo da trajetória musical do duo Anavitória.

Conheci as músicas da dupla em 2015, enquanto aguardava o show do Tiago Iorc começar. Antes do músico subir ao palco do Teatro Guaíra, em Curitiba, a organização transmitiu no telão algumas vezes o vídeo de duas meninas muito doces cantando. Fiquei prestando atenção e logo já queria ouvir muito mais do que “Chamego Meu”, a música apresentada no vídeo. A combinação de vozes das duas meninas era de uma delicadeza e de uma harmonia tão grande que me percebi fã antes mesmo de saber alguma coisa sobre elas.

Ana Caetano e Vitória Falcão são as moças que formam essa dupla de pop rural. Naturais de Araguaína, município do Tocantins que tem pouco mais de 170 mil habitantes, as duas se conhecem desde pequenas e estudaram na mesma escola. A amizade só veio a florescer, no entanto, alguns anos depois por meio de uma amiga em comum e, claro, pela conexão musical que surgiu entre elas. Ana começou a tocar violão aos 15 anos e desde então se encontrou na música, enquanto Vitória sempre teve influência musical dentro de casa na figura do pai, responsável por apresentar a ela todo tipo de música enquanto escutavam, juntos, diferentes discos.

“Agora eu quero ir
Pra me reconhecer de volta
Pra me reaprender e me apreender de novo
Quero não desmanchar com teu sorriso bobo
Quero me refazer longe de você”

A influência musical da dupla é diversa e isso reflete no trabalho que fazem. Enquanto Vitória sempre ouviu muita música internacional, Ana trouxe a bagagem da nova safra de música brasileira. Passando por um repertório que vai de Alt-j, Digo Policiano, Fleetwood Mac a Novos Baianos e Mallu Magalhães, o que dá pra dizer é que elas não se deixam definir — ou limitar — por apenas um segmento, mas passeiam por todos os ritmos e gêneros com prazer. Essa miscelânea musical reverbera em suas composições que, embora etiquetadas como pop rural, vão muito além disso.

Não sou entendida de música — tecnicamente falando — e sentimentos são os únicos fatos quando me meto a discorrer sobre o tema, então não espere muita coerência de minha parte. Gosto de músicas que me desconectem do mundo por um momento, que me façam partir para um universo em que não tenho preocupação alguma a não ser sentir. E devo dizer que as músicas de Anavitória são perfeitas para isso.

As melodias e os versos trabalhados nas composições da dupla conseguem me deixar relaxada e contente, algo que há muito tempo não acontecia com cantores nacionais. Não posso negar que meu repertório, em sua maioria, é composto por artistas estrangeiros, então sempre fico muito contente ao ser fisgada pelo produto nacional — ainda mais se é com a qualidade e delicadeza de Anavitória. 

“É tão bom te acompanhar
E ver você sendo você
Te observar me adivinhar
E me ler sem legenda nenhuma”

Anavitória trabalha com composições próprias e sentimentais, discorrendo sobre amores tranquilos e café da manhã. As duas cantando não soam como nenhuma outra cantora ou dupla, o que só evidencia a singularidade do trabalho que conduzem.

Enquanto cantam sobre sentimentos e relacionamentos, Anavitória consegue criar poesia com momentos simples do cotidiano, encontrando beleza e ternura onde muita gente só veria rotina.