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Quatro Casamentos e Um Funeral: um ode às comédias românticas

Quatro Casamentos e Um Funeral, série do Hulu, é livremente adaptada do filme de mesmo nome lançado em 1994 com Hugh Grant e Andie Macdowell nos papéis principais. Com exceção da participação especial de Andie na minissérie de 2019, é no nome que acabam as semelhanças entre os dois projetos.

Atenção: este texto contém spoilers

Se você veio até aqui por causa do filme, as notícias não são muito boas: assisti ao filme apenas uma vez, achei belíssima a cena do funeral e foi… isso. Quando Mindy Kaling anunciou que estava produzindo uma minissérie baseada na obra original eu fiquei muito feliz, pois finalmente ia me IMPORTAR de verdade com uma comédia romântica que é um clássico absoluto (não pra mim, mas pra outras pessoas), um filme que basicamente lançou a carreira de galã de romcom Hugh Grant. E Mindy, como sempre, não desapontou.

Apesar de não fazer parte do elenco, é possível sentir o dedo dela em toda parte — e esse é o maior elogio que posso fazer, nesse caso, para a própria Mindy. Conhecida popularmente como a Kelly, do seriado de The Office, Mindy Kaling não apenas deu vida a uma das personagens mais engraçadas da série, como também ajudou a escrever alguns de seus melhores episódios. Foi Mindy, também, quem escreveu, em parceria com Greg Daniels, o episódio do casamento de Jim e Pam, um dos melhores casamentos televisivos do mundo. Ela também escreveu The Mindy Project, Late Night, fez Oito Mulheres e Um Segredo, participou de Uma Dobra no Tempo, está trabalhando numa série pra Netflix, tem dois livros publicados e — caso não tenha ficado claro — é a artista que eu mais admiro.

Em Quatro Casamentos e Um Funeral Kaling conta a história de Maya (Nathalie Emmanuel), uma escritora de discursos políticos. No início da série ela está em Nova York, tendo um caso com o seu chefe, que é casado, mas a sua melhor amiga, Ainsley (Rebecca Rittenhouse), vai fazer 30 anos e é lógico que Maya precisa estar presente na festa, que será em Londres. Maya e seus melhores amigos da faculdade fizeram intercâmbio em Londres por um semestre e prometeram que se mudariam para a capital britânica depois da faculdade — e todo mundo cumpriu a promessa, menos Maya. A premissa inicial é essa: Maya precisa ir até Londres por um final de semana, participar da festa da amiga e depois voltar pra casa, pra continuar “namorando” o chefe, que jura que vai terminar o casamento pra ficar com ela — até parece!

Só que no meio do caminho tinha um aeroporto, uma mala perdida e um cara belíssimo que a ajuda a encontrar o item desaparecido.

Após o encontro no aeroporto, Maya fica pensando muito em Kash (Nikesh Patel) — “Ryan Gosling coberto de caramelo” como a protagonista o descreve para Ainsley — mas, SURPRESA! Kash é, na verdade, o namorado da melhor amiga! E Maya descobre isso durante uma festa à fantasia em que os convidados precisam ir vestidos como personagens de comédias românticas. As fantasias desse episódio são ótimas e tem de tudo — Uma Garota Encantada, A Princesa Prometida, Além dos Limites, Digam o Que Quiserem, Asiáticos Podres de Ricos e Um Príncipe em Nova York, por exemplo.

É lógico que essa descoberta acaba como um balde de água fria para Maya e seus sentimentos, que fica surpresa com as coincidências do mundo, mas também um pouco chateada, é claro. Ela volta pra Nova York, mas um ano se passa e ela tem que retornar à Londres e agora sua melhor amiga vai se casar com Kash. Para piorar um pouquinho (não é uma comédia romântica de verdade se a vida da protagonista não estiver uma zona), o seu chefe ainda não se separou e ainda a está traindo, então Maya viaja sem emprego e sem prospectos românticos no horizonte.

Acontece que Ainsley, que já tinha apresentado dúvidas sobre esse casamento, não é a única que está reconsiderando a situação de se casar e é Kash quem eventualmente desiste da união — no meio da cerimônia. Maya, na verdade, não sabe muito bem se ele desistiu por causa dela, mas ela quer ajudar a amiga e como não tem nada pra fazer em Nova York, acaba ficando por Londres — afinal de contas um apartamento em Notting Hill é o sonho de muita gente e Ainsley é bancada pelos pais para morar ali.

Também é mostrado o lado de Kash, que voltou a morar na casa da família por causa da saúde do pai e para ajudar a cuidar do irmão pequeno. Kash quer ser um ator e não continuar no trabalho dele, com finanças, mas tem medo de desapontar o pai, que largou tudo no Paquistão para ir pra Londres dar melhores condições de vida para família.

Embora tenha dado pequenos spoilers, não contarei mais do que isso pois Quatro Casamentos e Um Funeral é uma série ótima para assistir de uma vez. Ainda assim, preciso mencionar Duffy (John Reynolds), Craig (Brandon Mychal Smith), Zara (Sophia La Porta) e Gemma (Zoe Boyle), o restante do grupo de amigos de Maya, bem como Bash (Guz Khan) e Fatima (Rakhee Thakrar), que fazem parte do núcleo narrativo de Kash na trama. Todas as personagens são incríveis e tem histórias paralelas acontecendo junto com a de Maya. Duffy é irrevogavelmente apaixonado pela amiga e parece que todo mundo percebe, menos ela. Craig está em um relacionamento com Zara, mas ela acha que ele ama Maya, só que na verdade ele tem um segredo que só a amiga sabe — por isso as ligações pra ela. Gemma é a vizinha de Ainsley, rica, casada e com um filho, e não liga muito para os amigos norte-americanos da vizinha. Bash é o melhor amigo de Kash e Fatima é a moça com quem arranjaram um casamento para Kash depois do espetáculo de “deixar Ainsley no altar”.

A série tem todos os clichês possíveis e essenciais para uma boa comédia romântica: casamento arranjado, “inimigos” que se amam, segunda chance no amor, o casal que enfrenta mil obstáculos pra ficar junto e desentendimentos que se resolvem com uma boa conversa. Quatro Casamentos e Um Funeral também está repleta de referências outras romcoms (além da festa a fantasia): em uma cena fofíssima, por exemplo, Ainsley está no aeroporto esperando Maya e imita a cena icônica de Simplesmente Amor, segurando cartazes que exemplificam o quanto Maya é a melhor amiga do mundo —  e aqui é importante pontuar que, apesar dessa cena ter se transformado em um dos símbolos de Simplesmente Amor, não deixa de ser um momento estranho e pouco romântico se pensarmos no contexto em que acontece. Em Quatro Casamentos e Um Funeral, no entanto, a cena funciona por ser um momento de carinho entre melhores amigas. Outra cena que ecoa uma das comédias românticas mais amadas de todos os tempos é a da correria no meio de carros como acontece em Harry e Sally — Feitos Um para o Outro; há também a declaração de amor na chuva, como assistimos um milhão de vezes em Orgulho & Preconceito — além de, inclusive, uma lembrança direta ao livro de Jane Austen: “A chuva inglesa é perigosa! Você não leu Orgulho & Preconceito?” —, e uma cena parecida com a que Elizabeth rejeita Darcy além de uma montagem de passagem de ano feita em Notting Hill.

Mindy Kaling, que além de ter uma mente brilhante, é igualmente obcecada com comédias românticas, uma vez escreveu:

“Eu simplesmente vejo comédias românticas como um subgênero de ficção científica, em que o mundo criado lá tem regras diferentes do meu mundo humano normal.” 

Sempre penso nessa definição quando vejo as pessoas reclamando que comédias românticas não são realistas: NÃO É PARA SER REALISTA! Se quiser realismo, abro o portão da minha casa e olho o tempo passar na rua, nada acontece, feijoada, etc. Se na comédia romântica a protagonista quiser largar tudo e mudar pra Londres e encontrar um emprego excelente por lá, quem sou eu para questionar isso? Se o dinheiro cai de árvores nas comédias românticas, bom para as personagens! É escapismo puro e simples e sou extremamente grata: tudo se explica, tudo se resolve, tudo é lindo e belo numa comédia romântica, porque esse é o objetivo.

Quatro Casamentos e Um Funeral, a série, é uma comédia romântica de primeira e uma importante adição para as variedades que já temos. O elenco é excelente, as histórias são fofas e engraçadas e deixam o coração quentinho. Tudo o que eu posso pedir é que mais pessoas se inspirem na genialidade de Mindy Kaling para que esse gênero, tão amado e tão julgado, seja mais reconhecido por sua excelência.

Nathália prefere ser chamada de Nath. Adora séries, livros, filmes e tem uma memória boa pra coisas inúteis. Gosta de romances, de ficção e dedica uma energia impressionante para torcer por eles e ficar frustrada com a vida real. Passa o dia no Twitter falando em primeira pessoa e escreve no blog Terra do Nunca.

1 comentário

  1. AMEI O SEU VALKIRIAS. Parabéns pela dica. Concordo com você sobre o mundo das comédias românticas. Realidade já basta o dia-a-dia. Quando leio ou assisto um filme romântico, e as pessoas falam “que não existe isso no mundo” “ningúem é assim”.Minha opinião: “o mundo da personagem é assim”, os romances em livros, bem como os filmes RomCom, estão aí para nos divertir, relaxar, sair um pouco da racionalidade do mundo, renovar e provocar nossas virtudes., sentir apesar de …. e/ou por causa de ….
    Obrigado pela sugestão.

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