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Taylor’s Versions: ressignificação do passado e amadurecimento

Não é novidade que Taylor Swift é a voz de uma geração. Além dos 11 prêmios Grammy e dos 34 troféus do American Music Awards, a artista estadunidense coleciona números inimagináveis, que a colocam em posição de quebradora de recordes na indústria fonográfica mundial. O vinil de Red (Taylor’s Version) se tornou o mais vendido no mundo, superando a incrível marca de 114 mil vendas ao final da primeira semana de lançamento, mesmo na época dos streamings. A versão estendida de “All Too Well”, canção presente no álbum supracitado, bateu o recorde de música mais longa a alcançar o topo das paradas, superando “Bohemian Rhapsody”, do Queen, e “American Pie”, de Don McLean.

Após ganhar cinco vezes o título de Artista do Ano pela Billboard 200, Taylor superou a marca da banda britânica The Beatles, que chegou ao topo da lista quatro vezes. A regravação de Red também rendeu à Taylor o topo das seis principais paradas da Billboard ao mesmo tempo. Não fosse suficiente, a cantora tem um espaço reservado no Guiness Book pelo menor tempo entre dois álbuns no topo da Billboard (140 dias) com os lançamentos de folklore e evermore, feito repetido em um intervalo de 119 dias com o lançamento de Fearless (Taylor’s Version).

(Taylor's Version)

Antes de todas essas conquistas, haviam números ainda mais expressivos em sua carreira, mas que, juridicamente falando, não pertencem inteiramente a ela. Isso porque a cantora manteve um contrato de 13 anos com a gravadora Big Machine Records e, ao final de sua vigência, teve a proposta de compra dos direitos de suas canções negada. Assim, todo o seu trabalho passou a pertencer ao empresário Scooter Braun, administrador da carreira de artistas como Justin Bieber e Ariana Grande. Em decorrência da perda de direitos, Swift se viu impedida de utilizar as próprias músicas em ocasiões gravadas, como no AMA de 2019, quando, mesmo sendo a artista homenageada, Scooter a impediu de cantar alguns de seus maiores sucessos. Após a polêmica, Taylor começou a regravação dos álbuns tomados por Braun, fazendo tudo do seu jeito e adicionando a marca (Taylor’s Version) para registrar um trabalho que era inteiramente seu.

Não importa quantas vezes escutemos os álbuns anteriores da cantora, todas as regravações são diferentes, independente de serem as mesmas músicas, com as mesmas batidas e os mesmos instrumentos. Podemos, é claro, falar sobre algumas mudanças notáveis, como algumas músicas que tiveram pequenas alterações em suas introduções, a adição ou remoção de alguns instrumentos, ou mesmo ganharam uma versão estendida, mas essas não são as únicas diferenças presentes nas novas versões.

É inevitável não notar o amadurecimento vocal de Taylor ao longo de todos esses anos. Quando nos acostumamos a ouvir suas músicas em ordem de lançamento, tudo flui tão naturalmente que não percebemos o quanto as pessoas evoluem com o passar do tempo. Mas, ao ouvir Fearless (Taylor’s Version) pela primeira vez, não me senti uma criança de novo, da mesma forma que Red (Taylor’s Version) não me fez voltar para a pré-adolescência. Por mais que a nostalgia tenha entrado sem bater, eu ainda me senti adulta. Eram as mesmas músicas, a mesma cantora, mas definitivamente uma voz diferente e um sentimento novo empregado a cada verso. Os tempos mudaram, a vida mudou, as motivações mudaram, mas a paixão e entrega de Taylor em seu trabalho continua a mesma.

(Taylor's Version)

Podemos crescer, envelhecer e dar prioridade para outros sentimentos, mas nunca vamos conseguir deixar de lado o friozinho na barriga ao ouvir uma música que nos faça lembrar dos tempos em que nos preocupávamos com coisas que hoje consideramos banais. E eis a questão: nunca foi banal. Esse resgate a um passado musical recente, apesar de ter motivações pessoais da própria Taylor, dá novos significados aos sentimentos de uma época que parece tão distante e nebulosa, mas que hoje se repete apenas com outro nome.

Continuamos sofrendo por amor, passamos por momentos difíceis, temos sede de vingança em certos momentos e damos a volta por cima quando tudo parece perdido. A diferença é que amadurecemos, e agora vemos todas essas situações com outros olhos, e as enfrentamos com outras atitudes. Para além da nostalgia e ressignificação do passado de seus ouvintes de longa data, as regravações dos trabalhos mais antigos de Taylor Swift fazem com que ela também se torne a voz de uma nova geração. As novas versões de suas músicas mais antigas têm tocado frequentemente nas rádios, viralizado nas redes sociais e até se tornando trilhas sonoras de peças midiáticas de entretenimento, como filmes e séries. Isso contribui para o crescimento da popularidade de Swift entre jovens que ainda não sabiam nem falar quando a primeira versão Fearless foi lançada, pois corações juvenis são tão frágeis agora quanto os nossos eram na época.

A busca de Taylor Swift pelos direitos autorais de suas canções mostra, na prática, que revirar o passado não é tão ruim quanto parece. Conforme moldamos o que já foi da maneira como queremos que seja daqui por diante, assumimos novos significados para o nosso presente e futuro. Tudo na vida precisa ter um ponto de partida, e, às vezes, a virada de chave mais ousada é capaz de abrir um horizonte limpo em meio a uma névoa tempestuosa.

Bianca Smiderle Lemos é jornalista em formação, apaixonada por cultura pop e viciada em dar pitaco em tudo desde criança. Aquela totalmente de humanas que pode dar uma palestra sobre qualquer assunto, mas se assusta com um cálculo simples de matemática básica.

1 comentário

  1. Que texto!!

    Eu como fã apaixonada pela Taylor me senti extremamente representada por ele. Descreveu a forma que muitos fãs se sentem ao ouvir as regravações, é uma mistura de nostalgia mas com um olhar mais maduro sobre as situações que faziam nos relacionar com as músicas dos álbuns.

    Parabéns!!!!

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