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As complexidades de um corpo: clichês problemáticos em Tall Girl

O que representa um corpo? Qual é o impacto possível de um corpo em um espaço? No que se baseiam os julgamentos, positivos ou negativos, dados aos corpos? E quando esse corpo é feminino, jovem e branco, quais são as nuances que essas perguntas inevitavelmente recebem? Tall Girl (2019) é um filme sobre corpos ocupando espaços e sendo julgados enquanto corpos — mas que falha em fazer qualquer uma dessas perguntas e, portanto, falha também em respondê-las.

Tornar-se mulher representa atravessar processos de cerceamento que vão desde aprender o significado pesado e absoluto do “não” — muito mais amplo que aquele conhecido pelos meninos e, mais tarde, pelos homens — até descobrir a dificuldade de subverter as proibições e transformá-las em permissões. O período de transição entre a infância e a vida adulta — os longos anos de mudanças físicas e psicológicas, o enorme espaço cinza em que não se é ainda mulher, mas também não se é mais menina — é marcado por esse atravessamento em todos os âmbitos da nossa construção e pelos efeitos que ele gera em nós — as marcas e as lições que deixa, mas também os medos e as ambições que leva.

Atenção: este texto contém spoilers!

Na primeira cena do filme dirigido por Nzingha Stewart, Jodi Kreyman (Ava Michelle) está lendo um romance quando percebe que o menino sentado do outro lado da biblioteca tem o mesmo livro em mãos. Eles engatam em uma breve conversa, na qual o conhecimento da garota sobre literatura começa a ficar evidente, bem como um sutil senso de humor. Em seguida, ela anuncia que precisa ir embora, e o rapaz aproxima-se para fazer um convite ao mesmo tempo em que a jovem levanta para deixar o ambiente. Diante da constatação de que ela é notoriamente mais alta, ele desiste de chamá-la para fazer o que quer que fosse, deixando tanto Jodi quanto o espectador com um misto de confusão e curiosidade.

Está posto o paralelo que será trabalhado ao longo das quase duas horas de Tall Girl: a personalidade de Jodi não é o suficiente para que os meninos — e, mais tarde, percebe-se que não apenas eles, mas qualquer outra pessoa, salvo raras exceções — a enxerguem como alguém digna de ser conhecida. Em vez disso, o foco vai sempre para outra coisa: a altura. Não importa que ela seja uma adolescente com características dentro dos padrões — cabelos e olhos claros, magra, branca; o fato de ter 1,85m é superior a todos os outros, e, por isso, é também a grande fonte da sua ansiedade.

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A grande questão é como esse paralelo é trabalhado ao longo do filme. Os personagens são todos grandes estereótipos pouco profundos e a lição final da história não parece ser exatamente positiva. Além disso, a narrativa conta com reviravoltas pouco inovadoras e, em geral, sem sentido, que deixam o espectador confuso com o rumo dos eventos e provocam enorme indignação. Mesmo os protagonistas vão de encontro ao que seria considerado ideal nesse tipo de produção, voltada para um público adolescente sobretudo feminino que, como Jodi, ainda está aprendendo a lidar com questões físicas e emocionais delicadas.

Protagonismo e silenciamento: Jodi Kreyman e os problemas de um corpo

À exceção de ter 1,85m aos dezesseis anos, Jodi é uma adolescente absolutamente regular: bonita quando quer, com gostos particulares — musicais, literatura, Taylor Swift —, amigos, um senso de humor um pouco ácido e autodepreciativo, uma família com a qual tenta lidar e nem sempre consegue, problemas na escola, vontade de estar em um relacionamento com a pessoa que idealiza na sua cabeça, etc. Entretanto, o fato de ter 1,85m é o que marca a sua existência, dentro ou fora de casa.

Criada por uma mãe que não conheceu os problemas de ser diferente no ensino médio e por um pai excessivamente preocupado com o seu crescimento acelerado, e tendo ainda uma irmã que é, além de pequena, popular e reconhecidamente bonita, Jodi cresce com um complexo de inferioridade que beira a ironia. Seus dois melhores amigos também são considerados outsiders, e, embora não vejam a altura de Jodi como um problema, são significativamente mais baixos e melhor integrados que ela, porque, afinal, não são os alvos das piadinhas cruéis.

Sabe-se que toda a narrativa da protagonista gira em torno da sua altura, e não existe nada de extraordinário no caminho construído para a jovem. Além de uma enorme necessidade de aprovação externa, subvertida na cena final do filme de uma maneira pouco original e pouco elaborada, não existe muito o que descobrir sobre Jodi: ela quase não fala sobre si mesma e Tall Girl não se empenha em mostrá-la em contextos variados — é sempre o piano, o quarto, a vontade imensa de ter vários centímetros a menos, uma cena ou outra de mudanças que visam adequá-la ao olhar dos outros. De todas as protagonistas adolescentes, ela é uma das que menos aparece em seu próprio filme, como se, para além da sua altura, a própria Jodi não conseguisse se enxergar.

Por isso mesmo, e curiosamente, o seu arco é o que menos tem a oferecer. Tall Girl não se preocupa em explorar os papéis reducionistas direcionados às mulheres altas — a esportista, a modelo —, da mesma forma que não se preocupa em fazer perguntas básicas que poderiam levar a história para caminhos mais interessantes. O que significa ser uma menina alta, ou por que isso é um problema para os outros, ou como Jodi se enxerga para além disso, ou quais são os seus planos para o futuro? Não sabemos. Não existe sequer uma tentativa de abordar essas questões.

As melhores cenas de Jodi acontecem acompanhadas de seu pai, Richie (Steve Zahn), que, aliás, é o responsável por tentar fazer com que ela se sinta acolhida mesmo diante de um desconforto com a sua altura. Por mais obsessivo que ele possa ser, especialmente durante a infância da filha, também é ele quem a lembra que está tudo bem ser alta, que ela não é a única pessoa alta do mundo e que ele a ama de qualquer forma. O momento em que ambos tocam pianos juntos é uma das poucas cenas construídas de modo satisfatório no enredo, e se Jodi consegue chegar à cena final e fazer o discurso que faz, não é porque seu melhor amigo lhe ajudou — como o filme quer dar a entender —, mas porque, antes, seu pai lhe deu a base sólida sobre a qual ela se apoia.

Harper e Helaine Krayman e a construção superficial do feminino

Sua mãe, Helaine (Angela Kinsey), e sua irmã mais velha, Harper (Sabrina Carpenter), não têm a sorte de se desenvolverem como Richie. Ao contrário do que acontece com o pai da família — que, é importante mencionar, aparece muito pouco —, as duas outras mulheres da casa são retratadas como espelhos uma da outra, típicas construções de personagens femininas que, além de não possuírem nenhuma identidade, se preocupam somente com o olhar que as atravessa de fora para dentro.

Tanto Helaine quanto Harper são competidoras vitoriosas de concursos de beleza. Não sabem o que significa ser alta demais e Tall Girl dá a entender que também não lidam com nenhum outro problema relacionado ao seu corpo ou à sua personalidade. À bem da verdade, Harper tem alergias que a fazem espirrar mais vezes que uma pessoa comum — coisa que em nenhum momento se torna uma questão para a sua vida nos concursos de beleza, na faculdade, na escola, etc.

Ambas as mulheres também parecem vazias de significado. O filme sequer menciona uma profissão ou função para Helaine que não seja servir de coach para os concursos de beleza da filha mais velha. Harper faz uma faculdade comunitária em administração de hotéis, o que seria um fato interessante, se não fosse uma fonte de zombaria do filme durante a maior parte do tempo. Não somos apresentados a nenhum gosto pessoal, nenhum diálogo relevante, nenhuma cena em que elas compartilhem paixões ou sofrimentos.

Quando Jodi precisa de ajuda para conquistar um aluno de intercâmbio que chamou a sua atenção, é com Harper que fala. As duas tratam a conquista de Stig (Luke Eisner) como uma competição feminina, e Harper chega a utilizar metáforas de guerra para dar a entender que Jodi precisa aprender a atacar para se livrar das outras possíveis interessadas na “carne nova”. Embora Tall Girl tente apresentar os momentos das duas confabulando sobre a conquista como uma espécie de aproximação — incluindo uma cena em que Harper comenta que, se Jodi e Stig realmente ficarem juntos, ela vai voltar a ser esquecida pela irmã mais nova —, a única coisa que efetivamente cria são momentos em que duas mulheres tentam ao máximo se adequar a um padrão sem sentido e sem questioná-lo, mudando suas aparências e, em vários momentos, depreciando uma a outra, sempre em nome de uma eventual “vitória” no jogo amoroso que se ergue.

Todas as mulheres da família Krayman são pintadas como desesperadas por atenção e aprovação externa, incapazes de questionar a necessidade dessa aprovação e os seus próprios comportamentos. Ainda que Jodi pareça percorrer melhor esse caminho ao longo do filme, chegando a “se aceitar”, seu processo é marcado por resignação, e não por coragem e amor próprio, e a mensagem que elas enviam o tempo inteiro é que ser mulher é aprender a se adaptar às expectativas externas e se conformar.

Problemas de caráter: Jack e o ideal de recompensa masculino

As relações de Jodi fora de casa não são muito melhores. Seu melhor amigo, Jack Dunckleman (Griffin Gluck), é a única pessoa que parece ter nela um genuíno interesse (romântico). Contudo, embora ele seja pintado como o rapaz que a desafia a fazer coisas corajosas — usar salto alto, por exemplo —, também é ele quem não sabe respeitar as incontáveis vezes em que Jodi diz que gosta dele apenas como amigo. Além disso, é ele quem diminui as expectativas de Jodi de encontrar alguém que de fato atenda ao que ela considera interessante em um rapaz, deixando evidente que um cara mais alto, inteligente, bonito e engraçado jamais apareceria em sua vida e, portanto, fazia mais sentido que ela parasse de procurá-lo e se desse por satisfeita com o que de fato tinha: ele mesmo.

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Essa é a face mais importante de Jack. Embora suas intenções pareçam sempre boas ao longo do filme, ele é uma das principais razões para que Jodi se considere inadequada e acredite que um relacionamento com qualquer outra pessoa jamais seria possível. Ao se interessar por um aluno intercambista da Suécia, Stig, que parece ser tudo que Jodi sempre quis, a garota precisa lidar com os comentários cruéis do seu melhor amigo, questionando a possibilidade deles ficarem juntos e relegando a ela pequenas tragédias sem sentido, que a fazem sentir cada vez mais longe de ser alguém digna de estar com quem ela gostaria.

É Jack quem interfere quando Jodi e seu interesse amoroso têm alguns momentos sozinhos. Também é Jack quem constantemente a faz lembrar que um cara como o intercambista não estaria interessado nela jamais. Por fim, é ele quem o convence que ficar com Jodi não seria uma boa ideia, incentivando o sueco a permanecer em um relacionamento do qual ele quer sair apenas para poder “aproveitar o momento” em que ele é um cara popular.

Não satisfeito, Jack brinca também com os sentimentos de outra menina: Liz (Paris Berelc), uma das suas colegas de classe. Depois do episódio em que ele convence o aluno intercambista a ignorar Jodi, quando a sua amizade com ela dá errado e ela o confronta diante do seu comportamento egoísta, ele argumenta que não se importa tanto com ela — apesar de todas as suas ações no filme provarem o contrário e de ele ser o maior obstáculo para uma relação saudável entre ela e o sueco — e confessa que tem, inclusive, um encontro com Liz. A partir desse momento, eles viram uma espécie de “casal” no filme — sempre juntos, de mãos dadas, conversando sobre temas que são interessantes para ambos; um par que faria sentido em um enredo melhor elaborado, mas que, como todas as demais ideias do filme, termina sem uma boa justificativa, a partir da decisão de Jack de voltar a admitir uma paixão incontrolável por sua melhor amiga.

Os minutos finais de Tall Girl são um grande compilado de situações montadas para que ele saia como alguém bacana, e não como o péssimo amigo que de fato é. Desde a briga com Stig, na qual termina com o olho roxo, passando pelo pequeno discurso ao presentear Jodi com sapatos de salto e até o beijo final, no qual se explica a razão pela qual ele andava sempre com um caixote junto ao corpo, o enredo do filme parece motivado apenas a redimi-lo por todos os enormes erros cometidos, pela péssima personalidade, pela absoluta falta de respeito às personagens femininas da história, etc. De repente, Jack é um príncipe encantado, e o espectador menos atento se pega torcendo por ele.

A verdade, contudo, é que a história, ao terminar com essa tentativa bem sucedida de redenção, apenas reforça a ideia de que caras “legais” têm o direito de reivindicar a posse das meninas pelas quais se apaixonam, ainda que elas não sintam o mesmo, ainda que eles ultrapassem todos os limites para fazê-las mudar de ideia. Mas o ideal masculino de que ser um cara legal a qualquer custo equivale a conseguir a menina dos seus sonhos, além de falso, cria nos meninos um senso de que as meninas que os rejeitam são malvadas e merecem sofrimento, enquanto reforça nas meninas a ideia de que elas não estão mesmo aptas a decidir pelo seu futuro — afinal, é melhor ficar sozinha ou com aquele menino de quem você não gosta tanto?

Mais uma vez, Tall Girl falha em construir um personagem com clareza e coerência e termina mandando uma mensagem oposta à ideal. É verdade que o fim com Jack poderia significar apenas que diferenças superficiais como a altura não são relevantes quando se trata de paixão; mas, da forma como se constrói o enredo, o que fica é a noção de que se alguém insiste o suficiente e você acabou de se decepcionar com o cara que queria ficar, então por que não dar uma chance? Spoiler: porque você não é obrigada.

Stig Mohlin, estereótipos masculinos e a construção falha de um bad boy

Para que Jack exista como príncipe, porém, é preciso que o vilão apareça no filme. O arquétipo de aluno intercambista que atrai a atenção de todas as meninas da escola não é exatamente original, e Stig Mohlin não foge de nenhum dos clichês: ele é alto, lindo, simpático-e-tímido-ao-mesmo-tempo, misterioso, fala com um sotaque bonitinho e não se deixa levar pelos comentários cruéis direcionados à protagonista.

Sua trajetória ao longo da história poderia também ser muito interessante: saído de um colégio em que estava acostumado a ser apenas uma pessoa normal e inserido em um contexto onde todas as meninas querem namorar com ele e todos os meninos querem ser seus amigos, as mudanças que Stig sofre — ou que são impostas a ele de uma maneira nada sutil — dariam um arco melhor do que o que é entregue. É compreensível que ele passe de “cara legal” para apenas mais um adolescente idiota; o que deixa a desejar é o modo como essa passagem se dá, e, mais importante, o que a motiva — a saber, nada.

No início do filme, Stig é só mais um cara legal que não enxerga a altura de Jodi como um problema. Ele é gentil, simpático, inteligente e compartilha gostos particulares da menina, como a paixão por musicais e literatura. Embora não pareça ser uma pessoa muito firme nas suas próprias ideias e opiniões, sendo levado pelas decisões de outras pessoas e acatando o que lhe é dado, também não é alguém que se aproveita da posição de popularidade para conseguir o que quer.

De repente, entretanto, o seu lado carente e que quer desesperadamente ser popular por um tempo passa a ser o foco da sua narrativa, ainda que suas atitudes não condigam com quem ele é no início da história. Seja por abandonar Jodi em um suposto encontro sem justificativas, seja por sempre dizer que vai terminar com a sua namorada e nunca fazê-lo de fato, seja por inventar que ela confessou que o amava e ele a dispensou, Stig se transforma, literalmente de uma cena para a outra, em alguém com quem o espectador jamais poderia imaginar que a protagonista terminaria, em uma virada que não só não faz sentido, mas também parece servir apenas para alavancar um sentimento positivo por Jack, como dito anteriormente.

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Construir um bom bad boy não é um trabalho fácil e o enredo do filme deixa muito a desejar o tempo inteiro. A grande cena de Jack é provavelmente a cena mais sem propósito de Stig, e o fato de que ela basta para que Jodi decida que o melhor amigo é o seu par ideal só reforça a ideia de que uma mulher deve aceitar um cara que goste dela em detrimento de um cara que pareceu legal e por quem ela realmente se apaixonou, uma vez que caras legais enganam meninas inocentes e pelo menos Jack sempre deixou muito claro o quanto gostava dela. No fim das contas, parece ser apenas esta a função de Stig e toda a sua trajetória: funcionar como um motivo para que Jodi se torne um prêmio, não uma pessoa, e para que Jack se torne um herói, e não um imbecil.

Mesmo a cena final, em que ele tenta se desculpar com Jodi e pede mais uma chance, deixa de ser um momento honesto do personagem para se transformar em mais um motor — agora da autoconfiança da protagonista em si mesma. Além disso, funciona como uma cicatriz para os erros que ele cometeu antes, que não são vistos como perdoáveis e, por causa deles, ele agora não pode ganhar o prêmio que outrora lhe pertenceu. Em geral, ele deixa de existir enquanto pessoa para virar uma alavanca de plots ruins, o que é uma pena, porque trabalhar o que faz um garoto bonito e gentil se transformar em um idiota seria interessante nesse tipo de filme.

Fareeda: apagamento e relevância

No grupo de amigos de Jodi, a única pessoa realmente interessante é Fareeda (Anjelika Washington), sua melhor amiga. Com uma personalidade vibrante e uma forma muito mais combativa de encarar os comentários negativos que ela ou Jodi recebem, Fareeda é provavelmente a personagem que recebe menos atenção do enredo, e uma das que possuem mais potencial para serem interessantes.

Em um filme sobre corpos e os impactos desses corpos em um ambiente como a escola, Fareeda aparece como a única mulher negra e não-magra de Tall Girl, duas características que não são sequer mencionadas como fontes de problemas para “ser aceita”. Além disso, a personagem usa roupas extravagantes, faz penteados diferentes nos seus cabelos trançados e sonha em cursar Moda em vez de Medicina — decisão que lhe custou uma boa relação com os pais, como é mencionado por um breve momento.

Ela é a grande fonte da coragem de Jodi, embora não receba nenhum crédito por suas atitudes e seja, tanto por Jodi quanto por Jack, relegada ao anonimato e à solidão. Ninguém se importa com as suas questões — nem o próprio roteiro do filme —, e ela desaparece na multidão de adolescentes sem receber o destaque que merece, seja por cobrar de Jack uma postura coerente, seja por ser a única a dizer para Jodi que ela precisa parar de desejar tanto a aprovação dos outros.

Mais uma vez, Tall Girl deixa a desejar na sua construção, colocando-a como um tapa-buraco em cenas específicas, alguém em quem Jodi pode se apoiar para crescer.

Tall Girl e o que não fazer em um filme adolescente

Como foi dito à exaustão neste texto, Tall Girl não é um filme sobre ser adolescente mais do que é um filme sobre se adaptar ao que os outros esperam. Além de todas as questões abordadas até aqui, o enredo da história apresenta ainda comentários irônicos sobre imigração e a importância de receber “estrangeiros de países distantes” (o país sendo, no caso, a Suíça) e se baseia em uma estranha e sem sentido competição feminina por um rapaz que, no fim das contas, é só mais um rapaz.

Mais do que um filme que falha em ser uma comédia romântica, Tall Girl é um filme que falha em tratar do seu tema principal: o corpo feminino e o modo como a existência de um simples corpo pode virar um incômodo gigantesco para um monte de gente que não tem nada a ver com ele. Os seus protagonistas são fracos e incoerentes, os seus personagens secundários oferecem pouco ou nada às discussões superficiais propostas, e mesmo as relações femininas que o enredo tenta criar dão errado.

É uma pena que um filme com potencial para levantar boas discussões se perca em reducionismos, clichês gastos e superficialidades. No mais, se é que é possível salvar alguma coisa, serve como um ótimo exemplo sobre o que não fazer ao elaborar uma história adolescente.