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SOUR de Olivia Rodrigo e a volta do clube dos corações partidos

Que atire a primeira pedra aquela pessoa que nunca passou por uma desilusão amorosa. A dor de um coração partido é real, forte, subestimada e ainda mais intensa quando enfrentada em uma das fases mais conturbadas da vida: a adolescência. Minha geração foi ensinada a engolir o choro e ignorar situações como essa, geralmente pintadas como fúteis e insignificantes. Mas então chegou Taylor Swift, trazendo canções profundas que nos ajudaram a enfrentar períodos difíceis, mesmo que ela parecesse a única pessoa a nos compreender naqueles momentos. Anos depois, quando a ardência de nossas feridas parecia ter sido amenizada, surge Olivia Rodrigo para arrancar de vez os curativos já gastos pelo tempo.

SOUR se tornou o álbum mais rápido a atingir 1 bilhão de streams no Spotify em 2021, provando que cantar sobre corações partidos não saiu de moda e é mais do que apenas uma fórmula batida para atingir o sucesso rapidamente. Aos 18 anos, Olivia fez sua estreia oficial no mundo da música com os dois pés na porta, nos lembrando do quão forte é a dor de perdermos romanticamente alguém que parecia ser essencial em nossas vidas. Algumas pessoas despejam a culpa nos hormônios, outras dizem que é a falta de maturidade para lidar com determinadas situações, mas o fato é que os sentimentos se intensificam na adolescência, e é difícil para os jovens encontrarem uma maneira eficaz para gerenciarem suas emoções. Conforme crescemos e amadurecemos, ficamos sem tempo para refletirmos sobre os impactos dessas sensações em nós mesmos, e justamente por isso, esquecemos que externar os sentimentos também é uma maneira de amenizarmos nossa dor.

Olivia Rodrigo

Independentemente da idade dos ouvintes do début de Olivia Rodrigo, é impossível não sentir suas letras tocando nas feridas muitas vezes já cicatrizadas de romances passados. Para quem já está na vida adulta, ouvir SOUR é quase como embarcar em uma máquina do tempo que intensifica a tristeza, o amor não correspondido e a raiva que estavam adormecidos até então. Para quem ainda é adolescente, as músicas podem representar sentimentos cotidianos, e mesmo que não apresentem uma solução para a dor que os atinge como um soco no estômago, ainda assim aliviam o fardo daqueles que precisam lidar com tanta coisa sem a ajuda de ninguém. O fato de sabermos que não estamos sozinhos em momentos difíceis é reconfortante.

Eu mesma enquanto absorvia os sentimentos explícitos nas faixas do álbum, me vi retratada em várias das situações melancólicas descritas em suas composições. Algumas até me fizeram chorar tudo o que não chorei enquanto enfrentava aquela dor silenciosa, talvez por não ter alguém que compartilhasse da minha agonia. Depois do choque de semelhanças com a vida amorosa de Olivia, descobri que aquelas situações eram estranhamente mais comuns do que eu imaginava: conversei com algumas pessoas que também haviam ouvido o álbum, e a grande maioria delas se identificou com ao menos uma de suas músicas. Todos já fomos um pouco Olivia Rodrigo em algum momento de nossas vidas (se você ainda não foi, acredite, um dia você vai passar por tudo isso), a única diferença é que, ao contrário dela, a maioria de nós não soube como externar suas dores da maneira certa, no momento certo e para as pessoas certas.

Foi preciso que uma garota de 18 anos nos lembrasse que sentimentos pós término de um relacionamento são normais. É normal sentir raiva, tristeza, ciúmes e até certa nostalgia em alguns momentos. Raro é sair de um relacionamento e não sentir nada, como se tudo não passasse de um delírio. Não há problema algum em ter passado dos vinte e poucos anos de idade e se identificar com os sentimentos de alguém que ainda vive as emoções da adolescência, pois por mais que o tempo passe, elas ainda estão vivas dentro da gente, sempre estarão. Elas apenas estão adormecidas, cobertas pelos novos sentimentos e prioridades de nossas vidas.

A maioria dos jovens adultos de hoje (e me incluo nessa lista) cresceu ouvindo sobre as dores causadas pelos relacionamentos de Taylor Swift, que a propósito é a maior e mais notória influência musical de Olivia Rodrigo. Nós aprendemos a aceitar e lidar com nossos sentimentos, por pior que fossem, através de alguém que não tinha medo de se abrir verdadeiramente através da música. É alentador saber que a juventude atual também tem alguém que não hesita em expor suas dores em sua essência mais pura. Olivia não tem vergonha de gritar suas feridas, chorar por alguém que não está mais ao seu lado e por isso, mesmo que inconscientemente, encoraja os jovens a fazerem o mesmo. É como se ela dissesse nas entrelinhas de suas composições algo como: “ei, eu sinto o que você sente, isso é normal e você não está sozinho”.

Transformar um sofrimento aparentemente individual em uma dor coletiva, amplificar seus sentimentos para o mundo e conversar individualmente com milhões de pessoas através de algumas canções são algumas das características de alguém que tem tudo para se tornar a voz de uma geração. A juventude ensinando a juventude e orgulhando quem a precedeu. O mundo aprendeu com Olivia Rodrigo que talvez seja preciso chegar no fundo do poço para impulsionar um salto que pode te levar às nuvens.

Bianca Smiderle Lemos é jornalista em formação, apaixonada por cultura pop e viciada em dar pitaco em tudo desde criança. Aquela totalmente de humanas que pode dar uma palestra sobre qualquer assunto, mas se assusta com um cálculo simples de matemática básica.