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O que o divórcio de Gisele Bündchen pode nos ensinar

Todo mundo conhece Gisele Bündchen. Dona e proprietária do título de übermodel e embaixadora da ONU, segue fazendo história entre as modelos mais bem pagas e entre as mulheres mais influentes do mundo, segundo a Forbes. Mas nos últimos meses o nome de Gisele voltou à mídia por conta de sua separação e pelos supostos motivos deste rompimento.

Gisele foi casada com Tom Brady por treze anos. Tom, conhecido no Brasil como Giselo, é jogador de futebol americano, considerado o maior quarterback da história, detentor de diversos títulos e premiações, um ídolo para os estadunidenses. Em entrevista para a revista Elle, a modelo comentou sobre suas frustrações com a ausência constante do marido e com os perigos de sua profissão, mas não quis comentar sobre os boatos de crise.

O que se sabe é que Gisele e Tom teriam acordado em focar na família e cuidar da saúde após longos anos de trabalho, encerrando suas carreiras. Em 2015, Gisele declarou sua aposentadoria relatando seu desejo de estar mais presente para seus filhos e para seus diversos projetos pessoais. Em 2022, Tom Brady comunicou sua aposentadoria, falando que sua esposa e seus filhos mereciam mais sua presença, só que ele voltou atrás dois meses depois, dizendo que ainda não sentia ser a hora de se retirar dos gramados.

Gisele Bündchen

A revista americana Us Weekly declarou que “Gisele disse a Tom que, se ele não deixasse o futebol para passar um tempo com a família, ela iria embora para sempre”. Isso realmente aconteceu e o casal se divorciou. O que me faz trazer essa história aqui é a repercussão que a notícia teve nas mídias e alimentou diversos comentários maldosos contra Gisele Bündchen na gringa.

Chamada de ingrata, insuportável, Gisele foi colocada como uma mulher desesperada para que o marido desistisse da carreira, aproveitadora do dinheiro e fama dele e, devido aos rumos de um novo relacionamento com seu professor de jiu-jitsu semanas após o divórcio, os fãs de Tom Brady estão colocando Gisele naquele local especial de “a puta”.

Se houve ou não traição, isso é uma questão do casal, mas o que chama a atenção é a reprodução do local social designado para Gisele que se repete para diversas mulheres em diversas culturas. A desqualificação da mulher perante sua não subserviência a um homem a faz ser julgada por sua índole, suas condutas e sua maternagem. Essa separação quase dicotômica é tratada dentro da psicanálise de uma maneira que vemos reverberar nas pluralidades do ser mulher e principalmente nas angústias do encontro com a posição de ser mãe.

Gisele Bündchen

Dentro da construção freudiana vemos o par de opostos, a mãe e a puta. Para a mãe cabe a figura de santidade, benevolência, entrega aos filhos e à família, um ser não sexual, sem desejo, à semelhança de Maria, mãe de Jesus. Caso essa mãe, essa mulher, expresse desejo, caso ela se aproxime do sexual, do rompimento com o controle centrado na ordem fálica, na organização patriarcal, o nome da puta aparece. Quando a mãe apresenta uma maternidade não romantizada, quando se apresenta falha, cansada, quando deseja viver coisas para além dos filhos, quando se frustra com a posição que ocupou em um funcionamento familiar, ela é vagabunda. Ao pai não cabe a mesma métrica, ao homem é permitido desejar, e quanto mais deseje e conquiste, mais admirado será. Assim, a família se estrutura em um colonialismo.

Recentemente vimos outro caso na mídia, envolvendo a influencer Karoline Lima e o jogador Éder Militão. Os dois se conheceram em junho do ano passado e, daí em diante, fizeram juras de amor: ele prometeu mundos e fundos para ela e declarou o desejo de ser pai. Karol, por sua vez, ficou com o pé atrás, achava muito cedo para terem um filho, mas ele a convenceu. Ela retirou seu DIU e, em dezembro do mesmo ano, anunciou a gravidez. Durante o fim de sua gestação Karol, que estava em Barcelona, cidade do time de Militão, desabafou na internet dizendo estar se sentindo abandonada pelo jogador que estava nos Estados Unidos frequentando diversas festas e baladas durante suas férias. Em julho, anunciaram o término do relacionamento e quatro dias depois, a filha dos dois nasceu. Dois meses depois sai a público a notícia de que Éder entrou com um processo dias antes do nascimento de sua filha contra Karoline por danos morais, alegando incitação de discurso de ódio contra ele.

E não foi só isso: em outubro de 2022, três meses depois do nascimento de sua filha, o jogador entrou com outro processo, alegando “ter sido pego de surpresa” com a gravidez. Ele ofereceu 6.060 reais de pensão para a filha, enquanto ele recebe na faixa de 30 milhões por ano no clube de futebol em que joga. Karoline foi taxada de interesseira, Maria Chuteira, arquiteta de um golpe da barriga, sendo que existem provas claras apresentadas pelos advogados da influencer de que Éder desejava o relacionamento e a gravidez, além de que Karoline já possuía sua carreira como influencer antes do relacionamento com o jogador.


Tom Brady, assim como Éder Militão, nos parece mais um homem que sonhava em ser dono de uma família, um bem para poder expor junto de seus anéis do Super Bowl. Gisele Bündchen fez o que pode, o apoiou em seus sonhos e sustentou todo um sistema como diversas mães fazem por trás dos olhos públicos. Como a modelo disse, “fiz a minha parte”. É isto que dá para ser feito, parte, não se faz um inteiro, e parte feita só por um em um relacionamento a dois não se sustenta.

Você pode ser uma übermodel, milionária, fazer parte da ONU, praticar filantropia, meditar, devotar uma vida ao apoiar seu marido, mas no momento que se cansar de algo que demandar algo além, que se colocar contra uma ordem de dominação, muita crítica maldosa te desqualificando como mulher será feita. É preciso estar atenta a todas as promessas dos príncipes encantados para o felizes para sempre, porque às vezes o que é/será felicidade nesse para sempre serve apenas a uma das partes.

3 comentários

  1. A gente não sabe da vida dos outros, só quem conhece toda sua história é o próprio casal. Dito isso, o que podemos é dar uma “opinião” de quem lê, de fora, a situação. E minha opinião é que esse Tom é um idiota: trocar a família por recordes na carreira … agora sem a esposa, ele diz que quer ser “o melhor pai” para os filhos, está arranjando tempo para eles…

  2. Muito esclarecedor a matéria.
    Não adianta o casal ser independente no financeiro. Ser conhecidos em todo o mundo pelos êxitos e ascensão em suas profissões. Não somos máquinas. Temos corpo, alma e espírito

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