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HBCU Majorettes: conheça as meninas que influenciaram Beyonce

Você já ouviu falar das Fabulous Dancing Dolls, Prancing J-Settes e Stingettes? Esses são alguns dos times de dança majorette, um estilo próprio das universidades do sul dos Estados Unidos. Se você está perdido, eu posso explicar. O álbum e documentário Homecoming da Beyoncé foi inspirado nesses times. Criado por mulheres negras, o estilo majorette é uma das características mais marcantes das universidades de maioria negra nos Estados Unidos. Para entender o que isso tem a haver com dança e com a Beyoncé, precisamos primeiro entender um pouquinho sobre a história dos Estados Unidos e dos afro-americanos.

O que são as HBCUs?

As HBCUs estão diretamente ligadas a época da segregação racial nos Estados Unidos. Falar de HBCUs é falar sobre racismo e segregação, mas sobretudo de como os movimentos negros se articularam para superar todas essas barreiras. As Universidades e Instituições Comunitárias de Ensino Superior Historicamente Negras (Historically Black Colleges and Universities em inglês), mais conhecidas como a sigla HBCUs, foram criadas durante o começo dos século XIX nos Estados Unidos com o objetivo de educar os afro-americanos que na época eram proibidos ou desencorajados de frequentar o ensino superior.  Hoje em dia não existe mais segregação, porém as HBCUs continuam a existir, principalmente no sul dos Estados Unidos.

De acordo com a definição oficial contemporânea, as HBCUs consistem em instituições criadas nos Estados Unidos, antes de 1964, com a missão histórica e contemporânea de educar pessoas negras, sendo abertas a indivíduos de todas as etnias. Estas instituições acadêmicas se diferenciam das demais pelo ambiente universitário acolhedor e de excelência acadêmica, assim como por seu legado único para as necessidades específicas da população afro-americana.

Mesmo que hoje em dias essas instituições não sejam exclusivas para a população afro-americana, ainda existem discussões sobre a importância ou a relevância dessas instituições. Muitos acreditam que as HBCUs são instituições do tempo da segregação e que elas não têm valor para a sociedade contemporânea. Outros argumentam que as HBCUs são uma parte vital da educação de jovens e adultos negros. Em todo caso, as HBCUs continuam sendo muito procuradas pela população afro-americana tanto por sua excelência acadêmica quanto pelo ambiente acolhedor que elas proporcionam.

Uma das características mais famosas dessas instituições é a sua forte e autêntica cultura universitária. Muito do que a gente vê hoje em dia no mundo pop surgiu dentro dessas universidades. Música, dança e estilo são muito importantes paras comunidades negras e foram desde sempre usados como forma de resistência e superação. As HBCUs sempre foram, e continuam sendo, lugares que promovem um ambiente propício para que essas ideias apareçam e evoluam.

Os times de dança que inspiram

Os times de dança das HBCUs surgiram das chamadas majorettes, as meninas que marchavam na frente das fanfarras das universidades. No final dos anos 1960, as meninas largaram os bastões e foram para as arquibancadas. Ao invés de somente marchar, elas começaram a dançar ao som da fanfarra que tocava músicas populares da época. Era o inicio do estilo majorette, uma espécie de fusão entre estilo de dança africana, jazz e hip-hop. Desde então, muitos times e estilos diferentes foram criados em diversas HBCUs.

Também conhecidas como Dance Lines, os times de majorette das HBCUs são uma parte da fanfarra de cada universidade, dançando as músicas tocadas pela banda. Os times de dança se apresentam durante os jogos universitários de futebol americano e de basquete, além de se apresentarem durante marchas e outros eventos universitários. Alguns times de majorette já se apresentaram em eventos fora do universo HBCU, como no Super Bowl, em vídeos de artistas famosos e em comerciais de televisão. Dentro das HBCUs, os times de dança ainda são 100% compostos por mulheres.

Cada time tem seu próprio jeito de dançar, passos de dança diferentes, uniformes personalizados e cada época trouxe novos elementos para a dança. As J-settes por exemplo, time de dança da Jackson State University, são conhecidas por usarem bastante acrobacias em suas coreografias. As Fabulous Dancing Dolls da Southern University têm um estilo mais suave e fluído. As Golden Girls da Alcorn State University são mais agressivas em seus movimentos, sempre inovando e puxando os limites das coreografias.

Mesmo com estilos diferentes, todos times têm elementos parecidos. O que acontece é mais ou menos assim: durante os jogos universitários, os times de dança ficam na arquibancada. A cada música que a fanfarra toca, a capitã do time inicia uma coreografia.  Geralmente chamadas de eight-count (ou seja, oito passos de dança), a coreografia é imitada pelas outras integrantes do time. É uma espécie de freestyle ensaiado. Na maioria das vezes, ninguém sabe qual coreografia a capitã vai iniciar, então é preciso saber todas muito bem. Em alguns jogos também acontecem batalhas de dança.

Mais do que dançar em jogos universitários, fazer parte de uma dance line é uma honra. Existe um sentimento de pertencimento e de irmandade entre as meninas de cada time. As dançarinas são referências de beleza, de moda e de postura no campus e fora deles também. Sobretudo, as dance lines das HBCUs são criadoras de tendência.

O poder de influência das majorettes

Esses times servem como inspiração para milhares de crianças e jovens nos Estados Unidos e pelo mundo. Com o avanço das mídias sociais, as coreografias que antes ficavam apenas dentro das universidades, agora podem ser vistas por todos. Se as meninas não tinham problemas em criar tendência dentro dos campus, com o YouTube, Instagram e TikTok essa influência se intensificou ainda mais. Hoje em dias, as majorettes que conseguem entrar nos times mais famosos ganham seguidores nas mídias sociais e algumas conseguem status de celebridade.

Programas de televisão como Bring it! também ajudaram a espalhar esse estilo de dança para o mundo. Na verdade, foi assim que eu descobri todo esse mundo das majorettes. Bring it! estreou no canal Lifetime em 2014 e ficou no ar até 2018. O reality seguia as meninas da Dollhouse Dance Factory, uma escola de majorette em Jackson, Mississippi, nos Estados Unidos. Apesar do reality seguir também os dramas bem cara desse tipo de programa, o foco mesmo é a dança e as participantes competiam em batalhas de dança majorette todo final de semana. Durante essas competições, e durante os ensaios, o público pode conhecer mais sobre a cultura majorette do sul dos Estados Unidos e em pouco tempo o estilo virou febre — tanto na vida real, com escolas majorettes abrindo em todo os EUA, quanto na internet com competições, vines e todo tipo de mídia.

O estilo e a cultura majorette não ficou  popular só entre as crianças e adolescentes. Logo os vídeos e danças chamaram a atenção de artistas renomados, e imagino que a inspiração mais famosa e mais importante foi o documentário/álbum/performance Homecoming da Beyoncé. No filme, que estreou em 2018 na Netflix, músicas e nos shows, a cantora mais famosa do mundo faz uma homenagem ao estilo das bandas e dos times de dança das HBCUs. Beyoncé levou as próprias dançarinas e as bandas dessas universidades para compor sua performance. Sua admiração pela cultura das HBCUs foi mais uma peça importante para que o estilo se tornasse ainda mais popular não só nos EUA, mas em todo mundo.

Onde acompanhar?

Não vejo muita gente aqui no Brasil que goste e siga os times das HBCUs, mas nos Estados Unidos, elas tem fanbase, contas de Instagram e TikTok dedicados as dançarinas e aos times. As pessoas fazem vídeos, analisam os passos de dança, discutem a escolha do uniforme e tudo que envolve o mundo majorette.

Dessa comunidade on-line também saí muita coisa boa, e até algumas soluções para certos problemas que as universidades ainda não conseguiram resolver. Um exemplo disso é o time Milk Mafia: formado por homens e mulheres, na sua maioria ex-alunos de HBCUs e integrantes da comunidade LGBTQ+, a Milk Mafia chegou para agregar diversidade a cultura das majorettes. Os times universitários só permitem mulheres como membros, mas muitos dos que estão nesse fandom são do gênero masculino.

Outras comunidades também se dedicam a levar essa cultura para frente: videógrafos amadores estão sempre gravando as performances dos diversos times de dança. Esses vídeos estão disponíveis no YouTube e servem como um arquivo, um catálogo dos diferentes estilos de dança que estão sempre surgindo e evoluindo dentro das HBCUs. Se você quer conhecer mais desse universo, na sequência há uma pequena lista de páginas do Instagram e canais de YouTube que se dedicam a gravar as performances das dançarinas de majorette. Talvez você até consiga aprender alguns passos.

Instagram 

hbcunation_
swacdancers_
smashtimeproductions

YouTube

Smash Time Productions
TRIN
Mfcool Productions
SU Fabulous Dancing Dolls
Marvin Price


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