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Cachinhos dourados: estereótipos de loiras na ficção

A história é conhecida: garotas, em geral protagonistas de filmes ou livros, têm cabelos castanhos, não são bonitas, usam roupas largas e são meio nerds. Enquanto isso, suas inimigas, as garotas populares, são loiras, muito bonitas, usam roupas da moda, são más ou são burras — de acordo, claro, com as protagonistas (no cinema, sempre interpretada por uma atriz lindíssima).

Aqui, surgem dois estereótipos ao mesmo tempo: o primeiro é o clichê de morenas inteligentes versus loiras burras. Claro que o estereótipo da loira burra vai muito além dos clichês cinematográficos, mas são muito comuns em Hollywood. E a protagonista, apesar de ser interpretada por uma atriz tão bonita quanto aquela que interpreta sua antagonista, não recebe atenção suficiente dos homens (única razão da vida das mulheres, claro) e, por isso, existe um ressentimento em relação à moça loira.

As antagonistas loiras assumem duas formas diferentes (algumas vilãs, inclusive, assumem ambas): ou são incrivelmente burras, o que faz nossa protagonista “Não Sou Como As Outras Garotas” se sentir superior intelectualmente, ou são más e bullies, e a protagonista se sente acima pensando “pelo menos não sou fútil e não ligo para moda e beleza”.

estereótipos loiras na ficção

Esse clichê gera alguns problemas, em especial quando é destinado para o público adolescente. A imagem que fica é que a protagonista é especial porque não liga tanto para assuntos “fúteis” e, por isso, é mais inteligente. E que as antagonistas loiras só podem ser inferiores porque se importam com coisas “de mulher”. Quando a narrativa acrescenta o fator nerd, isso ainda piora: a protagonista gosta de quadrinhos? Como ela é mais legal que a moça da escola que gosta de maquiagem, né? Que pena que os garotos só ligam para a antagonista.

É um clichê comum em comédias românticas e histórias adolescentes. Um exemplo típico — apesar da protagonista também ser loira (embora menos loira) — é Vestida para Casar onde a protagonista tem ciúmes do noivado da irmã com o cara por quem ela é apaixonada. Enquanto Jane (Katherine Heigl), a protagonista, é inteligente e dedicada, sua irmã, Tess (Malin Åkerman), é a figura boba e fútil do filme — e muito mais loira. Outro exemplo interessante é o filme A Nova Cinderela. A protagonista, interpretada pela Hilary Duff, também é loira, mas a antagonista é fútil, má e burra. No filme A Casa das Coelhinhas, Shelly (Anna Faris) é uma garota da Playboy expulsa da mansão por sua idade. Ela vai morar em uma sororidade com garotas nerds, mas apesar de ser uma boa amiga, a história sempre a coloca como oposta às meninas inteligentes e é preciso muito esforço para que todas se entendam.

Mas há casos em que o estereótipo das loiras antagonista más e/ou burras é subvertido na ficção. Um caso interessante é o de Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar), protagonista de Buffy, a Caça-Vampiros. Ela é loira, bonita, tem interesses “de menina” e ainda assim é badass e uma personagem excelente. Outras personagens de séries adolescentes importantes na subversão são Hanna Marin (Ashley Benson), Lydia Martin (Holland Roden), Quinn Fabray (Dianna Agron) e Paris Geller (Liza Weil).

estereótipos loiras na ficção

Hanna é uma das protagonistas de Pretty Little Liars e, no grupinho, é geralmente tida como superficial e interessada em assuntos como moda e namoro. No entanto, ela acaba demonstrando ser bem inteligente academicamente e nas desventuras que as amigas enfrentam. Lydia Martin é a aluna popular e mimada em Teen Wolf, mas a série acaba revelando que isso era uma farsa para manter sua imagem e que, na verdade, ela é bem inteligente.

Quinn Fabray é a antagonista de Glee. Enquanto Rachel é morena, inteligente, dedicada a seus talentos como cantora, Quinn é a líder de torcida má e loira que acaba ficando grávida por acidente. No final das contas, ela demonstra ser bem inteligente, boa amiga e até vai estudar em Yale. Falando em Yale: Paris Geller. Paris é a amiga/inimiga de Rory Gilmore (Alexis Bledel) em Gilmore Girls, mas as dificuldades entre elas têm a ver com o fato de ambas serem muito inteligentes e competitivas, não com o fato de Rory ser a figura moral enquanto Paris é superficial. Muito pelo contrário, ambas se dedicam aos estudos e acabam se desentendendo em assuntos da escola.

estereótipos loiras na ficção

No cinema, temos Elle Woods (Reese Witherspoon), de Legalmente Loira, que é tida pelas pessoas ao seu redor como superficial, mas na verdade consegue se destacar no curso de direito de Harvard. Ela supera os rótulos que são colocados sobre ela e consegue vencer na vida sem jamais se desfazer das plumas e do cor-de-rosa que tanto adora. Outra garota que jamais se permite manipular para deixar de ser ela mesma é Cher Horowitz (Alicia Silverstone), de As Patricinhas de Beverly Hills. Nessa releitura de Emma, livro de Jane Austen, Cher é a protagonista que gosta de fazer compras, makeovers nas amigas e não liga se alguém a acha fútil. As if!

O que nós podemos aprender é que estereótipos podem ser prejudiciais, mas a subversão deles (principalmente em comédias românticas e narrativas adolescentes) também é divertida e ajuda a quebrar ideias enraizadas de oposição entre mulheres. Garotas podem ter diversos interesses e nenhum deles é mais ou menos válidos. Elas são todas incríveis mesmo assim.

1 comentário

  1. Oi, Lorena!
    Adorei o texto 🙂 Uma vez vi uma entrevista com o criador de Buffy e ele fala exatamente sobre isso, que quis fazer uma personagem com todo o estereótipo da loirinha que é a primeira a morrer nos filmes de terror (lembra como ela era na primeira temporada?) e transformá-la na heroína.

    Beijos,
    Giulia

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