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Pedido Irlandês e o retorno de Lindsay Lohan às comédias românticas

Foi apenas em 2022, após anos afastada da mídia e, em especial, das comédias românticas, que Lindsay Lohan fez seu retorno aos grandes filmes do gênero com a produção, Uma Quedinha de Natal, no papel da herdeira Sierra Belmont.

O especial natalino, no entanto, parece ter sido apenas o começo, um ensaio para que a atriz, eternamente marcada pelas polêmicas vividas no início nos anos 2000, voltasse a ficar à vontade na frente das câmeras. Se naquele, a ruiva soava como uma novata, embora ainda apresentasse o carisma de sempre, em Pedido Irlandês, nova comédia romântica da Netflix, Lindsay parece cada vez mais com o que se espera dela com base em seus trabalhos anteriores.

Pedido Irlandês

No filme, dirigido por Janeen Damian, Maddie (Lohan) está a caminho do casamento do homem pelo qual é apaixonada com sua melhor amiga. E, pior, como editora de Paul Kennedy (Alexander Vlahos), que tem o livro best-seller do país, foi a responsável por por ter apresentado o casal — ainda que acidentalmente —, tornando sua sina como dama de honra ainda maior.

Contudo, durante um passeio por uma região turística da Irlanda, sem querer, Maddie manifesta em voz alta que deseja se casar com Paul e, por uma obra do destino, seu pedido é atendido por uma entidade mística local. De repente, a vida de Maddie muda e ela se torna a noiva, há dois dias do casamento.

Racionalmente, há muitos motivos pelos quais isso pode dar errado, afinal, Paul e ela não se conhecem íntima e romanticamente, mas, é claro, estamos falando de uma produção que lida com o místico e, misticamente, há outro motivo para que Maddie e Paul não se deem bem.

Pedido Irlandês

A entidade, que a protagonista posteriormente descobre ser Santa Brígida, é conhecida por, às vezes, não dar exatamente o que a pessoa pede, mas o que ela precisa. Assim, ainda que Maddie ache que Paul significa sua felicidade, no caminho deste casamento, aparentemente inevitável, há James Thomas (Ed Speleers), o fotógrafo que a editora acidentalmente conhece ao trocar farpas no aeroporto em uma troca de malas.

Em uma maquinação de Santa Brígida, James se torna o fotógrafo do casamento e, a partir daí, se inicia o verdadeiro romance do filme, afinal Paul Kennedy, um nome repetido várias vezes para tornar claro que não se trata de um triângulo amoroso, é apenas uma idealização de Maddie, algo pelo que ela sonhou por muito tempo, mas que, quando se torna realidade, não é exatamente como imaginava: eles não têm os mesmos gostos, nem os mesmos objetivos e, afinal de contas, não se conhecem tão bem assim.

Como em todos os clichês do gênero, James e Maddie têm uma ligação instantânea. Apesar das farpas inicialmente trocadas, eles não são opostos e se completam facilmente e, diferente da produção 2022, há interesses reais a serem compartilhados. Aqui, o diálogo é melhor trabalhado, inclusive pelos atores, que demonstram verdadeira tensão pelo sentimento que se está nascendo enquanto, aparentemente, ela está prestes a se casar, tanto que faz desejar que a situação se mantenha nessa brincadeira por algum tempo.

Pedido Irlandês

No entanto, Pedido Irlandês sofre do que diversos filmes de comédia romântica sofrem atualmente: a rápida resolução de todos os conflitos e o pouco aprofundamento dos personagens. Poucas informações são dadas sobre os protagonistas e sabe-se até mais sobre o que se torna o antagonista tácito, Paul e sua família, do que sobre quem realmente importa, pois fica claro que a atriz e o ator têm muito a oferecer para estes papéis em específico.

Assim, apesar de a produção surgir de uma premissa muito interessante e apresentar momentos realmente engraçados e sensíveis, muito por conta da atuação de Lindsay e da câmera da diretora, ou do verdadeiro clima de romance entre Maddie e James, chegando a um final interessante, parece se tratar de trechos protocolares, que têm um propósito, mas ainda carecem de algo.

Vale lembrar que a Netflix já foi muito bem-sucedida em outros filmes do gênero, como Plano Imperfeito (2018), que reuniu Glenn Powell, Zoey Deutch e Lucy Liu; Para Todos os Garotos que Já Amei (2018), que apresentou Lana Condor e Noah Centineo ao mundo; e Amor com Data Marcada (2020), um especial de Natal, que colocou Emma Roberts de volta às raízes.

A alta da comédia romântica, inclusive na literatura, demonstra que o clichê e as soluções fáceis não são um problema. Porém, a popularidade também trouxe algo que as produções cinematográficas não conseguem mais mascarar: não apenas a premissa deve ser interessante, mas a construção do casal principal é essencial para fazer com que a obra tenha durabilidade na mente do público, afinal as clássicas comédias românticas dos anos 90 e 2000 são atemporais por um motivo.

Por mais que Pedido Irlandês seja efetivo na química entre Maddie e James, tendo escolhido um ator realmente talentoso para fazer um contraponto ao personagem de Paul, por quem ela é apaixonada, a motivação do último ato tem mais a ver com ela mesma e sua amizade do que com o romance. E isso poderia até soar bem, se o motivo da mudança não fosse a falta de um pedaço da história, embora seja um filme protocolar, que marca um “check” em todas as caixinhas do gênero.

No fim do dia, embora Pedido Irlandês seja uma produção simpática, com paisagens irlandesas idílicas e uma premissa interessante, que James seja um ótimo personagem para se explorar, assim como Maddie e os coadjuvantes, os filmes protagonizados por Lindsay carecem de um roteiro melhor trabalhado, com qualidade para arrebatar o público.

Claramente testando as águas em uma nova fase de sua vida, agora casada, mãe e se mantendo distante de Hollywood, o grande retorno poético de Lindsay Lohan — intitulado “Lohaissance” pela internet — merece mais, da Netflix e de outros estúdios, em nome de uma carreira consolidada muito cedo.