O podcast A Mulher da Casa Abandonada alcançou o segundo lugar na lista dos podcasts mais ouvidos no Brasil pelo Spotify e agora, o jornalista Chico Felitti se debruça sobre os bastidores do mundo das artes visuais com O Ateliê. Por meio dos episódios, Felittii apresenta uma série de denúncias de ex-alunas contra o Ateliê do Centro, uma escola de formação artística dirigida por Rubens Espírito Santo. A partir das denúncias apresentadas na Justiça por uma das ex-alunas da escola, Mirela Cabral, que relata ter sofrido abusos físicos, psicológicos e financeiros enquanto estudante na escola, o podcast explora a história complexa e inesperada da situação.
O caso tornou-se comentário frequente nos grupos de artistas, galeristas, colecionadores e outros envolvidos no circuito da arte contemporânea devido às relações do Ateliê do Centro com figuras importantes nesse meio. Embora o podcast não revele o nome do milionário que bancaria os livros publicados sobre o “mestre” Rubens Espírito Santo ou do colecionador e banqueiro, pai de uma participante do Ateliê do Centro, que ajuda a dar status ao local, Chico Felitti opta por dar visibilidade apenas a quem aceita ter seu nome tornado público. Ele contextualiza o caso com questões muito atuais, como a dificuldade das pessoas em perceberem quando estão envolvidas em relações tóxicas, e aprofunda o assunto com especialistas, como no sexto episódio, que trata de relações abusivas.
Todavia, contradições existem, como o fato de que algumas das pessoas que denunciaram a escola são extremamente ricas, incluindo milionários e bilionários. É possível comparar essa situação com a do podcast anterior, onde a vítima era uma mulher negra e pobre que era escravizada, enquanto aqui as supostas vítimas são pessoas brancas e ricas. Além do mais, o criador do podcast não apresenta nenhuma análise crítica e simplesmente repete o que foi dito pelos outros.
É um caso que não chegou a ser concluído até agora pela polícia e retrata a situação como uma “seita”, sem abordar adequadamente os critérios que caracterizam uma seita. Será que algumas pessoas, como a própria Mirela Cabral, perceberam que estavam em um relacionamento abusivo, mas não querem enfrentar o fato de que também podem ter sido abusivas com os outros envolvidos na relação? O podcast parece assumir que apenas o líder do grupo teria cometido violência, enquanto na realidade as agressões ocorriam em um ambiente coletivo, com a participação de outros homens que também teriam sido abusados.
Esses homens presenciavam mulheres sendo agredidas e estupradas, mas aparentemente nada fizeram. Não seria o caso de investigar também para descobrir se não estavam envolvidos ativamente nas agressões em questão? De acordo com as denúncias feitas em O Ateliê, os alunos da escola de arte foram submetidos a vários tipos de violência. Alguns alegam que Rubens do Espírito Santo os agredia fisicamente com socos e chutes, enquanto outros afirmam que ele os insultava constantemente e os sujeitava a abuso sexual. Também há acusações de abuso financeiro, com Espírito Santo forçando os alunos a comprarem suas obras.
Enfim, o podcast aborda a importância de desnaturalizar as relações por tanto tempo tidas como “normais”, mas que são, na verdade, constituídas por assédio físico, moral ou sexual. As vítimas, independentemente de sua classe social, merecem ser tratadas com respeito e discrição.