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A amizade entre Fátima e Sueli em Tapas & Beijos

Tapas & Beijos foi ao ar na TV Globo entre os anos de 2011 e 2015 e com cinco temporadas entrou para o hall das séries de comédia mais populares da emissora, no seleto grupo que conta com Sai de Baixo, Os Normais e A Grande Família. Protagonizada por atrizes que fizeram parte de dois desses programas citados, Fernanda Torres (Fátima) e Andréa Beltrão (Sueli), a sitcom tem como grande trunfo justamente a química entre as profissionais e a relação entre elas na ficção.

O seriado acompanha a busca de duas grandes amigas por suas respectivas “caras-metades” e os contratempos que essa procura pelo amor romântico rende a elas enquanto mulheres cisgênero, brancas, de meia idade e classe média. Funcionárias de uma loja de vestidos de noiva, a dupla lida com a ironia de ajudar outras mulheres a realizarem o sonho de casar, ao mesmo tempo em que se encontram em relações amorosas frustradas.

Além do trabalho na Djalma Noivas, em Copacabana, bairro da Zona Sul do Rio, elas dividem um apartamento no Méier, no subúrbio carioca. O companheirismo entre Fátima e Sueli se estende por diferentes campos da vida. Trabalho, moradia, amizade e expectativas quanto a relacionamentos. O que faz delas também um ótimo exemplo de como as amizades são a família que se escolhe.

Relacionamentos

tapas e beijos

Fátima vive idas e vindas com Armane (Vladimir Brichta). Um homem casado e com filhos que constantemente diz que vai se separar da esposa para ficar com ela, mas que deixa Fátima esperando por tal atitude durante quatro anos. Uma história clássica na vida real: quem nunca ouviu falar de algo parecido com alguma pessoa conhecida ou mesmo viveu algo similar?

O relacionamento dos dois é recheado de momentos de ciúmes, divertidos e problemáticos. Fátima é passional, ciumenta, não se preocupa em fazer escândalo quando acha necessário e se demonstra apaixonada na mesma intensidade. Armane é o típico malandro charmoso que consegue enrolar as companheiras na lábia, estendendo a situação.

Já Sueli tem Jorge (Fábio Assunção) como interesse amoroso, dono da boate La Conga. Assim que chega ao bairro de Copacabana, Jorge chama a atenção da vendedora e é com ele que boa parte da trama romântica de Sueli se desdobra, que ainda foi casada por pouco tempo com Jurandir (Érico Brás). O ex-marido volta após alguns anos sumido e passa a atormentar a vida sentimental da ex-mulher.

Completam ainda o microcosmo dessa fictícia Copacabana, Seu Chalita (Flávio Migliaccio), o Rei do Beirute; o casal Djalma (Otávio Müller) e Flavinha (Fernanda de Freitas), dono da Djalma Noivas e gerente da loja, respectivamente; Kiko Mascarenhas como Santo Antônio na primeira temporada e nas seguintes como o picareta advogado Tavares; Bia (Malu Rodrigues), filha de Jorge, que se envolve com Jurandir; Daniel Boaventura como o dentista PC, além de várias participações especiais ao longo das cinco temporadas.

Criada por Cláudio Paiva (A Grande Família) e dirigida por Maurício Farias (Hebe – A Estrela do Brasil), Tapas & Beijos se reserva a fazer um humor leve de situações cotidianas e corriqueiras. Leva para a narrativa temas comuns à maioria dos brasileiros, como dificuldades profissionais e financeiras, conflitos familiares e crises conjugais. “Muitas mulheres se identificavam com Fátima e Sueli por serem independentes, trabalhadoras, enquanto tentavam se realizar amorosamente”, resumiu Fernanda Torres em coletiva de imprensa, em 2020, no anúncio da reprise do seriado.

Amor romântico x Amizade 

tapas e beijos

Toda a trama de Tapas & Beijos se desenrola em torno desses dois tipos de relação: amizade x amor romântico. Além da cumplicidade entre Fátima e Sueli, há também todo o companheirismo que circunda a relação entre os vizinhos, como Seu Chalita, Jorge e Jurandir. Um sempre frequenta o ambiente de trabalho do outro e, consequentemente, ouve os problemas e questões do outro. É, de fato, um microcosmo.

Enquanto o amor romântico está presente na busca incessante das protagonistas por relacionamentos que sejam estáveis, que “deem certo”. O mito do amor romântico remonta a Platão e costuma ser apresentado nas sociedades ocidentais como o clichê das duas metades que procuram para completar seu estado original. Serem completos. Na mitologia grega, o amor é o desejo de encontrar essa parte perdida.

Apesar de inúmeros debates para desconstruir esse mito, ele segue vivo no imaginário popular, sendo representado em diferentes produtos culturais como músicas, filmes, livros e séries de TV. Há uma profunda influência dele na identidade social, formada, em muitos casos, por alegorias estereotipadas. Não à toa, a sociedade ainda se baseia nessa busca pela “outra metade”, pelo par ideal, para determinar como a própria se organiza. Recai sobre a mulher o peso de todo esse arranjo, seja qual for a identidade com a qual ela se reconheça.

Nas temporadas finais, Fátima e Sueli se casam com seus respectivos amores, mas novos problemas surgem dessas uniões. O interessante de toda essa dinâmica é como uma se apoia na outra para não sucumbir às frustrações. Fátima e Sueli são o apoio emocional uma da outra, independentemente dos equívocos que cometam. É essa relação estável que permite que elas avancem em investidas duvidosas. É a amizade entre elas que as fortifica, encoraja e conforta.


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