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Precisamos falar sobre Phoebe Waller-Bridge

Você pode não conhecer Phoebe Waller-Bridge pelo rosto, mas se for um pouquinho fãs de Star Wars a conhece pela voz. Sim, porque Waller-Bridge é a voz da robô feminista e libertária L3-37 de Lando Calrissian (Donald Glover) em Solo: Uma Aventura Star Wars. Phoebe, porém, é mais do que uma voz marcante: é atriz, dramaturga, roteirista e produtora e, aos 32 anos, já emplacou três séries elogiadas pela crítica no currículo além de uma peça de teatro.

Duas dessas três séries de sucesso estrearam no mesmo ano, mas nem tudo foram flores na vida de Phoebe. Nascida em Londres, ela já afirmou em entrevistas que decidiu atuar quando ainda era criança, aos oito anos de idade, e fez de tudo para que essa vontade se convertesse em realidade, a começar por participar — e estrelar! — todas as peças da escola católica em que estudou. Aos dezessete anos foi aprovada para o Royal Academy of Dramatic Art (RADA), uma faculdade de arte dramática em Londres, mas sua estadia no curso não foi das melhores. De acordo com a própria Phoebe, em uma entrevista para o jornal Inglês The Guardian, estudar na RADA foi complicado, já que sentia a necessidade de agradar e as críticas que recebia a deixavam bastante insegura. Após a formatura, Phoebe ficou sem trabalhar por dois anos.

O jogo começou a virar quando conheceu uma diretora artística, Vicky Jones, e as duas, ambas desempregadas, resolveram abrir sua própria companhia de teatro, a DryWrite. Enquanto escrevia pequenas peças para serem encenadas pela companhia, o Channel 4 britânico, decide encomendar à Phoebe o episódio piloto de uma série que ficaria conhecida como Crashing. Só que entre escrever o episódio piloto e até fechar um contrato com a série completa passou-se um tempo considerável, e foi nesse intervalo que a peça Fleabag, escrita por ela, começou a ser notada — e Phoebe também.

Phoebe Waller-Bridge

Crashing, que graças às deusas foi resgatada do limbo do esquecimento na emissora, narra a história de um grupo de jovens que residem em um hospital desativado para fugir do aluguel na cara capital inglesa. Com seis episódios, a série foi exibida em 2016 e atualmente está disponível na Netflix. A história se inicia quando Lulu, interpretada por Phoebe, uma jovem de espírito livre, chega no local para visitar seu velho amigo Anthony (Damien Molony), por quem tem uma paixão mal resolvida, só que ele agora está noivo de Kate (Louise Ford). A partir desse encontro-quase-desencontro a série narra as aventuras desse triângulo amoroso e dos outros co-habitantes desse lar inusitado. Com um humor leve e descompromissado, a série mostra as aventuras de jovens adultos em uma grande metrópole morando em um local inusitado.

Mesmo Crashing sendo adorável, ela foi totalmente colocada para escanteio quando Fleabag foi lançada, a segunda série de Phoebe Waller-Bridge, também em 2016. A série, também de seis episódios, produzida pela BBC Three, é uma adaptação de um monólogo teatral da própria Phoebe, encenado em 2013 no Festival Fringe de Edimburgo. Por mais que a atriz londrina tenha começado a atuar em 2009 e, em 2011, tenha aparecido em dois filmes de destaque, A Dama de Ferro e Albert Noobs, foi seu monólogo que lhe trouxe visibilidade para mostrar que é uma ótima roteirista e criadora.

Fleabag, tanto série quanto peça, nos apresenta a personagem homônima — é assim que ela aparece nos créditos, pois a mesma não tem nome para nós, espectadores —, e se na peça Phoebe discursa para o público as desventuras de sua personagem, tendo como cenário apenas uma cadeira, na série somos convidados a conhecer sua história através de suas desventuras. Fleabag, disponível no país na Amazon Prime Video, aborda desde problemas familiares e o processo de luto e culpa, até questionamentos sobre o que o feminismo representa para as mulheres atuais que de alguma forma não se encaixam numa espécie de “ideal feminista desconstruído”. Fleabag nos brinda com momentos especiais como quando logo na cena inicial, a personagem quebra a quarta parede e resolve conversar com o público sobre sexo anal, ou quando ela e sua irmã Claire (Sian Clifford) se encontram para uma palestra feminista e, logo de primeira, a palestrante pergunta à plateia se alguma mulher ali preferiria trocar cinco anos de vida para atingir o “corpo ideal” e as duas irmãs prontamente levantam a mão.

Phoebe Waller-Bridge

A série fez um enorme sucesso, tendo sido indicada a vários prêmios e vencido alguns, como o BAFTA de Melhor Performance Feminina em um Programa de Comédia para Phoebe. Com o sucesso de Fleabag, cuja segunda temporada sai apenas em 2019, veio a dramédia de humor ácido Killing Eve. Desta vez Phoebe não atua e a história também não é uma ideia original sua, mas sim a adaptação da série de livros chamada Villanelle do escritor inglês Luke Jennings. A história segue Eve (Sandra Oh no papel que pode ser sua libertação de Cristina Yang junto aos fãs de Grey’s Anatomy), uma assistente burocrática da divisão de espionagem britânica MI-6, e Villanelle (Jodie Comer), uma assassina por encomenda pra lá de fashionista.

Em Killing Eve, acompanhamos o nascimento do relacionamento entre Eve e Villanelle: a série fala sobre obsessão enquanto as personagens se perseguem numa espécie de Tom & Jerry para adultos. Exibida pelo canal BBC America, com oito episódios e ainda sem exibição no Brasil, a primeira temporada de Killing Eve foi bem recebida por público e crítica — recebendo indicações de Melhor Atriz para Sandra Oh e Jodie Comer, além de Melhor Roteiro para Phoebe — e já tem garantida uma segunda temporada.

Com três séries emplacadas em dois anos — e que que merecem ser assistidas —, Phoebe Waller-Bridge é um nome para acompanhar. Com sua robô na saga de Star Wars, temos a certeza de que ela já estourou a bolha do Reino Unido de (re)conhecimento. Procurando em seu IMDb, não vemos nada que nos dê uma pista de seus próximos trabalhos como atriz, o que pode significar que Phoebe está se dedicando aos roteiros das novas temporadas de suas séries. Ou talvez esteja apenas criando novas histórias, afinal de contas Phoebe já mostrou que é boa em contá-las, chegando no universo das séries para ficar.

Lívia Maria Rocha é mezzo Aquariana com ascendente em câncer (dizem que isso é bem complicado)/mezzo inadequada para sociedade. Tem yorkshire de 2,5 kg que compensa o baixo peso com excesso de personalidade. Perde boas horas do seu dia vendo vídeos de bichinhos e tem uma memória de peixinho dourado. Ah, e também é uma pesquisadora em formação, em constante gerúndio, sempre pesquisando.