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Por que gostamos tanto do Loki?

Eu poderia começar este texto dando explicações científicas sobre os motivos pelos quais costumamos sentir afeição por vilões fictícios, mas esses argumentos nada teriam a ver com a verdadeira essência do protagonista desta publicação. Já passamos da fase em que Loki era descrito como um vilão, ou como o mero irmão de um super herói. Durante os quatro filmes da franquia Vingadores e mais quatro do Thor, sua pseudo vilania foi se desconstruindo e dando lugar a uma redenção sacramentada por sua série solo, lançada em junho de 2021.

Atenção: este texto não diz respeito à figura mitológica nórdica de Loki. Trata-se do Deus da Trapaça criado especificamente para o universo da Marvel.

Falar dos motivos pelos quais o público nutre tanto carinho por uma personalidade que foi desenhada para ser má é falar da humanização de personagens fictícios. Quando surgiu no Universo Cinematográfico da Marvel em 2011, Loki (Tom Hiddleston) foi pintado como o lado ruim da família de Odin (Anthony Hopkins), tanto que foi apenas o antagonista de Thor (Chris Hemsworth) em sua chegada ao cinema. Sua segunda aparição no MCU também foi como vilão, dessa vez como rival da primeira formação dos Vingadores, e foi aí que sua vilania começou a ser questionada pelo público. Seria Loki um vilão ou apenas um filho/irmão renegado que só precisava de um pouco de carinho e atenção da família? Esse questionamento fez o personagem que antes era um mero antagonista, tornar-se o protagonista de rodas de discussões de fãs de cultura pop.

Loki

Em Thor: O Mundo Sombrio (2013) a Marvel inicia o arco de redenção do filho mais novo de Odin, que continua em Thor: Ragnarok (2017), Vingadores: Guerra Infinita (2018), Vingadores: Ultimato (2019) e finalmente chega a seu ápice na série Loki (2021). Contudo, não podemos ligar a afeição dos fãs do personagem apenas a uma ou outra atitude altruísta.

Vulnerabilidade e carisma

Que atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou por um homem fictício sarcástico, com cabelos pretos e um passado triste. É claro que com ele não seria diferente. Deixado de lado pelo próprio pai desde sempre, Loki precisou de tempo para entender que as atitudes de Odin não faziam o universo todo odiá-lo. Aos poucos foi compreendendo que as pessoas podem ser boas e que ele também poderia ser bom com o mundo ao seu redor. Assistir o personagem sair de coadjuvante para protagonista e vê-lo compreender e superar alguns de seus traumas o humanizam a ponto de os espectadores sentirem como se estivessem acompanhando a evolução de um de seus amigos mais próximos.

Loki utiliza das dores de ter sido renegado desde criança não apenas como justificativa para suas tomadas de decisões, mas também como uma motivação para seu humor ácido e certeiro. Embora seja irônico na maior parte do tempo, isso não faz dele uma pessoa ruim, muito pelo contrário: lhe dá um carisma único. Mesmo tendo passado de vilão para uma espécie de mocinho, o personagem não perdeu sua essência e mostrou ao público que não é necessário ser sempre tão sério e literal para estar do lado bom da história.

Redenção

Ele perdeu a família, os poucos amigos que tinha e até a própria vida (diversas vezes). Todas essas situações unidas foram mais do que suficientes para desencadear uma série de traumas (a maioria deles deixados às claras em sua série própria), que poderiam fazer de Loki um personagem ainda pior do que era no início de sua trajetória. Mas ao contrário disso, esses abalos emocionais apenas fizeram dele uma pessoa melhor. Não um deus melhor, mas uma pessoa melhor. Além de finalmente desenvolver uma relação de carinho com o irmão, ele também compreendeu, com o decorrer dos fatos, que não era o centro do universo, como sempre assumiu que seria.

Não foi uma redenção qualquer de um vilão que simplesmente se tornou bonzinho do nada ou por um motivo fútil. Ele teve uma jornada, um bom desenvolvimento e mesmo não sendo o protagonista de todas as narrativas das quais participou, conseguiu transmitir sua essência como se, no final de tudo, todos os filmes tivessem sido desenhados para que ele contasse sua própria história.

Loki

Tom Hiddleston

Convenhamos, é impossível amar o Loki sem amar o ator que o interpreta. Além da beleza (principalmente quando usa ternos impecáveis), é inegável que Tom Hiddleston deu um show de interpretação desde que ingressou no MCU. Ele honra o estilo clássico do true gentleman inglês que é, o que podemos notar por sua educação quando dá entrevistas ou pelo seu carisma natural quando conversa com fãs. Também não podemos esquecer de todas as aparições que fez ao lado do elenco da Marvel, onde transpareceu ser um amigo bem humorado que sempre fazemos questão de convidar para um churrasco.

É muito difícil criarmos ligações emocionais com personagens quando não identificamos traços que nos agradam nos atores que os interpretam. Quantas vezes não deixamos de assistir determinadas franquias por conta de polêmicas envolvendo os intérpretes que davam vida à trama? Em resumo: Tom Hiddleston é ótimo e tudo o que ele faz fora das telas nos faz amar ainda mais o personagem que ele interpreta em frente às câmeras.

Às vezes, assumimos que determinados personagens são vilões apenas por não sabermos avaliar suas histórias. O mesmo acontece com pessoas reais, que julgamos serem más sem ao menos nos darmos o trabalho de procurar compreendê-las. Acontece que, na nossa vida cotidiana e em nossos círculos de convivência dificilmente existem heróis ou vilões. O que existem são pessoas comuns com sentimentos e histórias diferentes das nossas, muitas vezes indivíduos com traumas que baseiam seu modo de pensar, falar e agir. Loki é um dos vários exemplos de que quando assumimos e trabalhamos em cima de nossos traumas, nossa visão de mundo se torna outra e, consequentemente, a maneira como nós mesmos e os outros nos enxergam pode mudar para muito melhor.

Bianca Smiderle Lemos é jornalista em formação, apaixonada por cultura pop e viciada em dar pitaco em tudo desde criança. Aquela totalmente de humanas que pode dar uma palestra sobre qualquer assunto, mas se assusta com um cálculo simples de matemática básica.