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O Conde Enfeitiçado: amor, luto e maternidade em Os Bridgertons

Durante a leitura de Os Bridgertons, e também na série inspirada na obra, cada irmão da família tem seus momentos de destaque e interação com os demais. No entanto, Francesca, a sexta irmã, acaba ficando em segundo plano nessa dinâmica.  Até chegarmos ao livro dedicado exclusivamente a ela, O Conde Enfeitiçado, possuímos poucas informações sobre quem é a personagem. Sabemos, basicamente, que Francesca é mais reservada que os irmãos, casou cedo, mudou-se para a Escócia e enviuvou rapidamente.

Francesca, ou Frannie, começa sua jornada em O Conde Enfeitiçado já casada com John Stirling. A união dos dois é retratada como amorosa e harmoniosa, com John valorizando e compreendendo a personalidade introspectiva da personagem. Essa conexão, por sua vez, é extremamente significativa para Francesca, que sempre se sentiu diferente de seus irmãos mais extrovertidos. Com John, ela encontra um senso de pertencimento e alívio, como se tivesse descoberto alguém que a ama e compreende de forma única.

“…em toda vida ocorre um momento decisivo. Um instante tão extraordinário, tão claro e tão nítido que temos a sensação de havermos sido golpeados no peito, deixados sem fôlego, sabendo, sabendo, sem a menor sombra de dúvida, que nossa vida jamais será a mesma…”

Nesse contexto, somos apresentados a Michael Stirling, primo e melhor amigo de John, que é  secretamente apaixonado por Francesca. Presença constante na vida do casal, graças aos laços familiares, ele lida com a angústia de manter seus sentimentos em segredo enquanto observa a felicidade do casal. Vivendo na sombra desse sentimento não revelado, ele adota uma persona de conquistador, envolvendo-se com várias mulheres para ocultar suas verdadeiras emoções. Apesar disso, a proximidade entre Michael e Francesca permite que eles desenvolvam uma amizade genuína, compartilhando momentos de alegria e histórias. Mas tudo isso muda com a morte repentina de John.

A partir desse acontecimento, O Conde Enfeitiçado apresenta uma atmosfera mais melancólica e triste devido ao luto da personagem principal, o que o diferencia dos demais livros da saga que têm uma abordagem mais leve e romântica. A morte de John traz consigo uma montanha-russa de emoções. Michel se vê perdido e incapaz de ajudar Frannie, visto que sente que está ocupando o lugar do primo, especialmente porque ele também assume o título de nobreza de John. Em meio à sua angústia e confusão, ele decide partir (fugir) para a Índia. Francesca, por sua vez, esperava contar com apoio de Michael durante o luto, uma vez que ambos perderam alguém que amavam.

Após a partida de Michael, Francesca assume o papel de administrar as propriedades ligadas ao título, encontrando nessa ocupação uma forma de lidar com o luto. Passados quatro anos, ela decide retornar a Londres e declarar suas intenções de casar-se novamente. No entanto, a personagem não alimenta esperanças de que se casará por amor, ela pretende se casar porque sonha em se tornar mãe. Aliás, a questão da personagem com a maternidade, além de ser algo trabalhado de uma forma muito delicada, a coloca em um  dilema já que nada garante que ela conseguirá ter filhos. Ou seja, Francesca arrisca sua estabilidade ao procurar um novo casamento, mesmo sabendo que existe a possibilidade de não atingir seu objetivo principal.

Nesse mesmo período, Michael retorna a Londres e se depara com a possibilidade de testemunhar Francesca se casando com outra pessoa, mesmo sendo apaixonado por ela. Com o convívio, uma forte atração começa a surgir entre os dois e, apesar de diversas crises de consciência dos personagens, já que ambos sentem que estão traindo a memória de John, eles acabam embarcando em um romance sem compromisso. Acontecimento que adiciona mais complexidade à relação, visto que ele é completamente apaixonado por ela, mas ela reluta em se entregar completamente a um novo amor. Assim, embora alguns leitores possam ficar frustrados com a hesitação da protagonista, essa atitude reflete as complexidades emocionais que muitas pessoas enfrentam ao lidar com o passado e abrir-se para novos relacionamentos.

Com sua abordagem mais madura em comparação ao estilo mais sutil e romântico dos livros anteriores da série, O Conde Enfeitiçado se destaca ao explorar temas como luto, o anseio pela maternidade e a descoberta de um novo amor. A narrativa nos confronta com a ideia de que o amor romântico não está limitado a uma única pessoa ou momento na vida, embora possa parecer assim inicialmente. Desta forma, por meio da jornada da protagonista, somos lembrados de que conexões emocionais significativas podem ser encontradas com diferentes pessoas ao longo de nossas vidas, desafiando a concepção de que há apenas uma pessoa destinada a nós.


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