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Head Above Water: o renascimento de Avril Lavigne

Calça larga, gravata e skate na mão? Não mais. Avril Lavigne cresceu. Depois de longos cinco anos de espera, a volta da canadense já estava predestinada para o dia 15 de fevereiro, com o lançamento de seu novo álbum, Head Above Water. Após a divulgação de dois singles durante o segundo semestre de 2018, a cantora disponibilizou o trabalho completo, que contém 12 faixas inéditas.

No primeiro single, divulgado ainda em setembro de 2018 e que também dá nome ao álbum, a cantora introduz melodias calmas, versos emocionantes e fortes batidas no refrão. A música relata sua luta contra a doença de Lyme, infecção transmitida pelo carrapato que a manteve afastada dos palcos e estúdios desde 2014. A dificuldade no diagnóstico, sobretudo, fez com que a cantora pouco a pouco perdesse as esperanças de que pudesse ser curada — descrença que é refletida na canção.

A segunda faixa, divulgada em dezembro do ano passado, foi “Tell Me It’s Over”, na qual passa um ar ainda mais maduro quando canta sobre um relacionamento prestes a terminar, sentimentos confusos que a cercam e não levam a lugar nenhum; o ponto final necessário, mas nunca colocado. Em entrevista à revista Billboard, Avril contou que a música é “um hino sobre ser forte, finalmente colocar os pés no chão de fechar a porta para um relacionamento que a gente sabe que está errado depois de várias falhas.” E completou:

“Se alguém não lhe trata da maneira que você merece ser tratada, não aceite isso. É compreensivelmente difícil, porque no passado, toda vez que você o via, ele lhe sugava de volta para sua teia, mas não será mais assim a partir de agora! Os vocais e a letra dessa música são muito vulneráveis, o que reflete os sentimentos que tive em um relacionamento como esse.” 

“Dumb Blonde”, por sua vez, traz uma batida alegre e uma letra cheia de força. Lançada no último dia 12, a música conta com a participação da rapper Nicki Minaj, que traz um contraste pouco óbvio para o trabalho da cantora e surpreendeu aos fãs de ambas. Para Avril, no entanto, a parceria foi muito especial. “Eu escuto ‘Fly’, ‘Starships’ e ‘Bed’ o tempo todo. Tê-la na música foi muito especial pra mim”, contou. Avril ainda destaca que “Dumb Blonde” foi escrita para servir como um hino para qualquer pessoa que foi estereotipada ou diminuída em algum momento, e relembra a sonoridade de trabalhos anteriores como “The Best Damn Thing” e a famosa “Girlfriend”. Nicki Minaj também trocou elogios com a cantora e mostrou ser uma grande fã do trabalho de Lavigne ao considerá-la uma mulher incrivelmente talentosa: “Eu costumava dirigir para o meu trabalho ouvindo o álbum dessa mulher durante meses. Chorando com ‘I’m With You’, me divertindo com ‘Complicated’, ‘Things I’ll Never Say’, ‘Nobody’s Fool’ e ‘Sk8er Boi’.” 

“I ain’t no dumb blonde
I ain’t no stupid Barbie doll
I got my game on
Watch me, watch me, watch me prove you wrong”

“Eu não sou uma loira burra
Eu não sou uma boneca Barbie estúpida
Estou ganhando o jogo
Você vai me ver provar que você está errado”

Sobre a inspiração para a composição do single, Avril disse que a ideia veio após uma situação vivida por ela. “Eu tive a porra de um perdedor na minha vida que se sentia ameaçado pela minha força e autoconfiança e independência como mulher. Fui menosprezada e até me senti mal por ser quem eu sou: uma líder, alguém com visão, opinião própria, que tem força, desejo, paixão e objetivos.”

avril lavigne

Nessa nova fase, a cantora também mostra abertamente seu lado feminista. Algo que deu o que falar foi a escolha de capa do álbum: Avril Lavigne nua, segurando um violão, enquanto está cercada de água. Em um bate-papo com os fãs, a cantora comentou que a capa representa como ela se sentiu durante a produção do novo trabalho: exposta e sem nenhuma vergonha. Será que as músicas retratam isso também?

O álbum começa com o primeiro single lançado pela cantora, “Head Above Water”, como já foi comentado acima. Após as batidas fortes, mas melodiosas da canção, “Birdie” apresenta o oposto ao acompanhar piano e a suavidade ao longo da música. A faixa é sobre sair de um lugar ou algo que lhe faz mal e conseguir voar para longe, se libertar e amar a si próprio: “o suficiente para permitir-se voar”, declara a cantora.

Em seguida somos apresentados a “I Fell In Love With The Devil”, que é nada mais, nada menos, que um hino representando relacionamentos abusivos. Avril revelou que passou pela situação retratada por sua voz: “na época eu estava enfraquecida, vulnerável e insegura. A única coisa boa é que não durou muito, saí rapidamente”. A faixa em si é diferente de qualquer outro trabalho da artista, porém relembra o single de 2004, “Don’t Tell Me”, que também fala sobre uma relação tóxica. De qualquer forma, “I Fell In Love With The Devil” supera todas as outras canções de Avril sobre relacionamentos. Agora o assunto é abordado de uma forma diferente e mais madura. Depois de surpreender com a faixa, o álbum segue com os últimos singles divulgados pela cantora, já comentados acima: “Tell Me It’s Over” e “Dumb Blonde”.

O desejo por respostas da vida, a dúvida sobre seguir a intuição e a procura da felicidade: “It Was In Me” aborda todas essas questões. Avril Lavigne compôs a canção junto de Lauren Christy, um dos principais nomes por trás do seu álbum de estreia Let Go, de 2002: “Nós conversamos, relembramos o passado, rimos, criamos, oramos e escrevemos juntas novamente!”, declarou a cantora. A música começa com um ar parecido como “Head Above Water” e “I Fell In Love With The Devil”, com vocais acompanhados por violinos e piano.

Em “Souvenir”, Avril canta sobre romances de verão; alguns passageiros, outros que persistem ao frio do inverno. A música acompanha uma melodia gostosa que, apesar de retratar um amor efêmero, não nos remete à tristeza. A própria cantora afirmou: “relacionamentos assim geralmente não duram, mas às vezes funcionam, nunca se sabe! Os ótimos momentos e as lembranças são bons demais para irem embora.” Uma música que tinha tudo para ser clichê conquistou os fãs de Avril até o momento e com uma pegada de jazz e soul, “Crush” fala sobre o medo de viver um novo amor após passar por relacionamentos difíceis no passado. O co-compositor, Zane Carney, disse que a letra da música é inteiramente de responsabilidade de Lavigne: “sua equipe e eu não poderíamos estar mais orgulhosos da jovem que canta neste disco”.

Com fortes acordes de violão — algo que pouco presente nos trabalhos anteriores — “Goddess” representa aquele momento em que você se sente perdido, triste e solitário, mas então alguém aparece e muda tudo: “aquela pessoa que te adora pelo o que você é e faz com que se sinta o ser mais bonito do mundo”, de acordo com a cantora. Assim como em seu último álbum de Avril — o autointitulado Avril Lavigne —, o novo trabalho também conta com uma canção summer vibes. “Bigger Wow” fala sobre momentos alegres: “se você não está recebendo o que deseja e deve, então vá encontrar algo que te impressione. Não se contente com menos do que você merece!”, declarou a cantora.

Ao longo do álbum, Avril continua a cantar sobre amor. “Love Me Insane” traz novamente as notas de piano, já vistas em canções anteriores, em uma música que fala sobre permitir-se arriscar a se apaixonar de novo — o que, de acordo com a própria cantora, é melhor do que nunca ter sentido nada. O álbum encerra com chave de ouro com “Warrior”, uma das primeiras músicas escritas por Avril e que, como na canção que dá título ao álbum, fala sobre a luta pela vida. A cantora afirma ainda estar lutando todos os dias, prezando pela sua saúde, e reconhece que não está sozinha: “espero que minhas músicas te ajudem a encontrar força, caso você precise.”

‘Cause I’m a warrior, I fight for my life
Like a soldier all through the night
And I won’t give up, I will survive, I’m a warrior
And I’m stronger, that’s why I’m alive
I will conquer, time after time
I’ll never falter, I will survive, I’m a warrior

Porque sou uma guerreira, eu luto pela minha vida
Como um soldado pela noite
E eu não vou desistir, eu vou sobreviver, eu sou uma guerreira
Eu sou forte, é por isso que estou viva
Eu vou conquistar, uma vez após a outra
Eu não vou vacilar, eu vou sobreviver, eu sou uma guerreira

A carreira de Avril Lavigne começou aos 15 anos. A cantora abandonou os estudos rumo a Los Angeles, onde gravou sua primeira demo, chamando a atenção do produtor musical L.A. Reid. Com o contrato assinado, em 2002 Avril lançou seu primeiro disco, o famoso Let Go. Com batidas pop-punk e letras que abordam com precisão o universo adolescente, Avril mostrava em seu trabalho quem ela era. Para contar o ciclo de amadurecimento, em 2004, a cantora apostou em letras mais sombrias e batidas fortes, em seu então mais recente trabalho, Under My Skin.

No ano de 2007, depois de um hiatus de dois anos e meio, Avril lançou o tão esperado terceiro álbum: The Best Damn Thing. Neste álbum, a cantora resolveu apostar em músicas jovens, animadas e confiantes. Nos seus últimos álbuns, Goodbye Lullaby (2011) e o autointitulado Avril Lavigne (2013), notava-se que Avril estava em outro momento da vida, contudo. Grande parte das músicas contam com um lado de imensa carga emocional, mas ainda há a presença de algumas músicas agitadas. As letras não falam mais sobre a adolescência. Agora falam sobre a vida adulta. Assim como todos nós mudamos, Avril Lavigne também mudou. Ela não é mais aquela menina moleca que canta sobre a adolescência e garotos. Em 2019, nos deparamos com uma nova era.

Anna Clara é apenas mais uma gótica apaixonada por livros, gatos e música. Ah, e roupas pretas. Futura jornalista, ama viagens e uma boa história, ainda mais se for misteriosa. Twitter | Instagram