Mortina é uma garota com desejos normais: quer brincar, ter amigos, andar pela cidade, conviver com outras pessoas, conversar com alguém além do seu galgo albino Tristão e de sua tia Fafá Lecida. Porém, um pequeno detalhe a impede de fazer tudo isso e a condena a ficar trancada no Palacete Decrépito, longe do vilarejo de Logo Ali: ela é uma garota-zumbi e por isso precisa obedecer às ordens de sua tia e arrumar um jeito de se divertir dentro de casa.
Solitária, ela passa os dias observando outras crianças brincando pelos muros do Palacete e sua vontade de conhecer o mundo lá fora e viver experiências conjuntas só aumenta. Não que a vida com Tristão, sua tia e todas as cabeças e fantasmas de seus familiares seja ruim, mas imagine só o quão legal seria ter o que as outras crianças têm?
E é assim que ela tem uma ideia genial! Com a chegada do Halloween, Mortina decide se “fantasiar” de garota-zumbi, assim nenhuma das crianças do vilarejo irá descobrir sua verdadeira natureza e ela terá a oportunidade perfeita de fazer amizades. Em sua inocência e anseio, Mortina não se deixa levar pelo medo de retaliação ou rejeição por parte das outras crianças, mesmo que sua tia Fafá Lecida a tenha avisado inúmeras vezes para ficar longe das pessoas, que nunca entenderiam o que ela e sua família eram e poderiam até expulsá-las de sua casa.
No caso de Mortina, o desfecho tem um final feliz, com ela encontrando um grupo de crianças fantasiadas de vampiro, bruxa, lobisomem, múmia e fantasma que ficam surpreendidas quando, em uma brincadeira Mortina acaba por revelar ser verdadeiramente uma zumbi. Apesar do choque inicial, eles acham incrível ter uma amiga zumbi e se tornam visita confirmada no Palacete Decrépito, fazendo até um pacto super secreto para manter o segredo de Mortina e sua família.
Com uma produção gráfica incrível, que não deixa nem um pouco a desejar, o livro foi lançado no Brasil pelo selo infantil da Companhia das Letras, Companhia das Letrinhas. Em capa dura, a obra é ricamente ilustrada e diagramada, apelando muito para o atributo visual, tornando por vezes os desenhos muito mais do que apenas complementos da história que se desenvolve textualmente. O traço e atenção dispensados pela escritora e ilustradora Barbara Cantini para construir esta parte da obra são um dos motivos que tornam Mortina um livro tão empolgante e delicioso de ler.
Outro motivo que certamente faz a obra uma ótima opção para as crianças, e para adultos que precisam ser relembrados de certas coisas, é a sua mensagem. Todas as fases de nossas vidas possuem suas particularidades, suas dificuldades, mas a infância traz algumas memórias horripilantes de rejeição, risadas debochadas, solidão e de sentimentos inadequados, ainda mais quando interagimos com aqueles ao nosso redor, tão diferentes e múltiplos em suas personalidades e jeitos de ser.
Em tempos sombrios (e mesmo quando tudo caminha em relativa tranquilidade), é sempre bom manter em mente aquilo pelo que lutamos: um mundo de tolerância e aceitação, onde não sejamos julgados com base em pré-conceitos e tenhamos nossas individualidades respeitadas e acolhidas. Afinal, como bem apontou Nelson Mandela “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender” e é nesse espiral que entramos desde crianças, cercados pela sociedade com todas suas falhas.
E é por isso que a existência de livros como Mortina, destinado para o público infantil, são de extrema relevância, pois ajudam a plantar a sementinha de discursos mais saudáveis e tolerantes. Ao passar de forma divertida, fofa e sutil uma mensagem de que o diferente tem lugar, sim, em um mundo tão padronizado, o livro aquece nossos corações e dá esperança de dias melhores.
Outra boa notícia é que as aventuras — e aprendizados que a personagem tem a nos oferecer — não param por aqui. Mortina é o primeiro volume de uma série, que já se encontra no quarto volume lançado no exterior. Aguardemos ansiosamente os próximos lançamentos no Brasil!
O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Companhia das Letras.
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