Categorias: CINEMA

Avatar: O Caminho da Água – o poder da mãe raivosa e a importância do posicionamento ativo

Com quatro indicações ao Oscar em 2023, Avatar: O Caminho da Água retorna à Pandora para contar a história de Jake Sully (Sam Worthington), Neytiri (Zoe Saldana) e seus quatro filhos — o que inicialmente pode parecer confuso, afinal 13 anos separam o primeiro e o segundo filme, mas que se resolve com facilidade à medida que nos ambientamos na trama, o que ocorre sem muito esforço. 

Atenção: este texto contém spoilers! 

Jake, em sua forma Na’vi, é apresentado como um líder para seu povo, mas, após o retorno de um antigo inimigo de Pandora, decide abdicar de sua posição e fugir com a família. Seu destino é o reino aquático de Pandora, lugar onde o filme de James Cameron se ambienta, dando enfoque aos desafio dos Sully e sua tentativa de se adaptar a novos costumes e uma nova cultura, e serem aceitos por um outro povo.  

Avatar: O caminho da água

Muito mais do que um visual encantador e muito tempo debaixo d’água, Avatar: O Caminho da Água traz ensinamentos valiosos que poderiam ser mais bem desenvolvidos pela trama, mas abrem espaço para se tornarem discussões mais amplas. Dentre eles, dois pontos de destaque são: o poder da mãe raivosa e como o excesso de bondade pode tornar alguém um alvo. 

No primeiro caso há Neytiri, uma personagem potente, mas colocada de escanteio para que seu marido possa brilhar. Há muito, no entanto, o homem chefe de família que tem o poder absoluto de decisão e proteção não é um modelo bem visto. No primeiro filme, Neytiri era uma guerreira sanguinária, o que se perde no segundo filme: a sensação é a de que ela está presa, limitada a posição de esposa, de primeira-dama. 

Essas amarras parecem se afrouxar no momento que considero o mais eletrizante do longa: após ver a segurança de seus filhos ameaçada, Neytiri encena a melhor cena de batalha de Avatar: O Caminho da Água, com os olhos vidrados de uma mãe onça, com cujas crias ninguém mexe. Ela se livra dos vilões de forma que poderia ela mesma ter dado um fim ao antagonista principal nesse momento. Como uma verdadeira guerreira, fria nos momentos certos, Neytiri dá uma aula a Jake do que é proteger a família com a potência de uma mãe, fazendo com que, mesmo que o pintem como um líder guerreiro, ele pareça muito inferior se comparado a ela. A luta final fica até anticlimática, quebrando o ritmo do filme: nada, afinal, pode superar Neytiri em batalha. 

Avatar: o caminho da água

Por outro lado, existem os Tulkun. Os Tulkun são criaturas parecidas com baleias que habitam Pandora, seres altamente inteligentes que têm uma conexão especial com o clã Metkayina, o povo da água. No filme, é relatado que os Tulkun eram criaturas que tinham um comportamento extremamente violento uns com os outros, até que perceberam que a violência não era justificada em nenhum caso, fazendo um pacto entre eles de que, independente do que acontecesse, não causariam nenhum derramamento de sangue. Quando Payakan, um Tulkun solitário, é expulso de seu grupo por seu comportamento violento, visto que o povo Metkayina como um desertor perigoso, ele ganha a confiança de Lo’ak (Britain Dalton), um dos filhos de Jake e Neytiri. O que o clã da água e os próprios Tulkun não contavam era com a caça realizada pelo povo do céu às criaturas de Pandora. Paykan reagiu aos ataques, sendo o único sobrevivente de seu grupo, o que foi mal visto pelos demais de sua espécie. Mas foi graças ao seu posicionamento ativo que ele salvou a si mesmo e a tantos outros Na’vis e Tulkun. 

Paykan demonstra que ser bonzinho demais e não agir quando necessário, evitando conflitos, nem sempre é a melhor saída — às vezes, se torna uma realidade sufocante. Violência não é a resposta, não é uma opção viável, mas quando limites são ultrapassados, cabe a nós, na medida do possível, nos defender e traçar barreiras. 

Apesar de certas falhas no roteiro, Avatar: O Caminho da Água mostra diversas formas de ressignificar destinos, seja migrando e se adaptando a uma nova cultura, tomando a frente e enfrentando inimigos ou utilizando aquilo que te fez ser afastado de um grupo para te fortalecer e ajudar outros. De certa forma, tanto Neytiri como Paykan mostram que, às vezes, é necessário se desatar de um grupo maior para encontrar a si mesmo e tomar a frente da própria história. 

Avatar: O Caminho da Água recebeu 4 indicações ao Oscar, nas categorias de: Melhor Filme, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Design de Produção e Melhor Som.