Amor(es) Verdadeiro(s) é o quarto livro de Taylor Jenkins Reid lançado no Brasil — anteriormente tivemos o delicioso Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e o musical Daisy Jones & The Six, todos do selo Paralela da editora Companhia das Letras, e o chick-lit Em Outra Vida, Talvez?, da editora Record. Amor(es) Verdadeiro(s) conta a história de Emma Blair, uma jovem de vinte e poucos anos que parece ter encontrado o seu “felizes para sempre” ao se casar com Jesse, seu namorado do colegial. Tudo parece perfeito na vida de ambos: jovens, com trabalhos que permitem que eles façam viagens por todo o mundo e vivam todas as aventuras possíveis. Com carreiras e vidas completamente diferentes daquela que seus pais queriam para eles, nada parece ser capaz de atrapalhar seus planos de aproveitar cada segundo — até que tudo vira uma tragédia.
O helicóptero com o qual Jesse sobrevoa o oceano Pacífico em uma de suas jornadas de trabalho desaparece e Emma se vê sem o amor de sua vida justamente no dia em que completariam um ano de casados. A partir de então, ela precisa reaprender a viver sem Jesse, presente em sua vida desde que tinha dezessete anos, e entender o que significa seguir em frente mesmo guardando no coração o amor que sente pelo marido. Em uma tentativa de colocar sua vida nos eixos após o desaparecimento de Jesse, Emma, que até então vivia com ele na Califórnia, retorna para sua cidade natal, em Massachusetts, e, aos poucos, consegue sair da espiral de dor e sofrimento em que se fechou desde que o acidente aconteceu.
“Talvez todo mundo tenha vivido um momento que serve como um divisor de águas na vida. Observando nossa linha do tempo, deve existir um marco no meio do caminho, algum evento que nos transformou, mudou nossa vida de forma mais perceptível que os demais.”
Após alguns anos de luto, Emma reencontra Sam, um amigo da época do colégio e, depois de muito se questionar se seria justo com Jesse seguir em frente, ela decide se permitir amar Sam e se apaixonar novamente. Quando Sam a pede em casamento, Emma acredita que a vida deu uma segunda chance para ela ser feliz no amor, mas nada é simples para Emma e novamente algo acontece para fazê-la questionar todas as escolhas que a fizeram chegar até ali: Jesse é encontrado vivo, à deriva no Pacífico, quando Emma está prestes a se casar com Sam. A partir de então, com um marido e um noivo, Emma precisa compreender quais são seus sentimentos por Jesse e por Sam, e quem ela verdadeiramente é nesse processo.
Amor(es) Verdadeiro(s) questiona, por meio da jornada de Emma, o quanto uma pessoa pode mudar com o passar dos anos, o que é o amor verdadeiro e o que isso realmente significa para pessoas diferentes. Jesse foi o amor verdadeiro de Emma de sua adolescência até ter sido dado como morto, aos vinte e poucos anos; Sam é o amor verdadeiro de Emma em seu momento presente, com trinta e um anos e uma vida completamente diferente do que imaginou para si. Um amor é mais real e relevante do que o outro? Como medir os sentimentos levando em consideração as mudanças pelas quais Emma passou em sua vida durante o tempo em que Jesse ficou desaparecido e ela se apaixonou por Sam?
Muito mais do que uma história sobre com quem Emma fica no final (para mim, pelo menos, ficou bastante óbvio quem seria o escolhido por ela), Amor(es) Verdadeiro(s) é sobre se reinventar, reescrever sua própria história, mudar e entender que não há nada de errado em deixar sonhos antigos para trás e criar novos. Após o retorno de Jesse, Emma passa boa parte da narrativa se questionando como deixou de ser aquela mulher de vinte e poucos anos que vivia para a próxima viagem internacional, o próximo destino desconhecido, para a mulher de trinta e um anos que gerencia a livraria da família, aprendeu a tocar piano e está confortável em uma rotina estável e tranquila com seu noivo e os dois gatos que adotaram. A Emma de trinta e um anos é completamente diferente da Emma de vinte e poucos, e não há nada de errado com isso.
Parece algo geracional decidir por uma carreira, um percurso, ainda na adolescência e entender que não se pode desviar desse caminho traçado com tão pouca idade. Seja no que se refere a escolha da profissional, a relacionamentos amorosos ou metas a longo prazo, não há absolutamente nada de errado em decidir reescrever sua história e se reinventar. Emma passa boa parte da narrativa se questionando se as escolhas que a levaram até o seu presente são válidas, principalmente quando Jesse parece não reconhecer a mulher que tem diante de si. É difícil, sim, mudar o percurso que você traçou anteriormente, quando jovem, mas a vida, em essência, é feita de mudanças.
“As coisas boas não esperam até a gente estar pronto. Às vezes chegam antes, quando estamos quase lá.”
Outro ponto em que a autora é muito competente em abordar é a finitude do amor. Mulheres, principalmente, são bombardeadas desde sempre com o ideal romântico da existência de um único e verdadeiro amor, que será eterno enquanto a morte não separar o casal, mas sabemos que a vida não se desenrola como nos contos de fadas e livros românticos. Em Amor(es) Verdadeiro(s), Taylor Jenkins Reid aborda não apenas a possibilidade de amar duas pessoas ao mesmo tempo como também a transformação desses amores — algo que Emma luta para entender sobre si mesma assim como sobre Jesse e Sam. A mulher que ela se transformou ainda é a mulher que ama Jesse? Ou é a mulher que ama Sam? Um relacionamento amoroso não deu certo se ele termina ou ele deu certo enquanto durou? Embora a autora não entre exatamente nessa questão, não pude deixar de pensar como isso é recorrente nos meus relacionamentos e nos das minhas amigas. Embora eu seja uma romântica incorrigível, sempre preciso colocar as coisas em perspectiva: a vida muda, as pessoas mudam. E os amores, também.
Amor(es) Verdadeiro(s) foi escrito por Taylor Jenkins Reid antes de seus sucessos Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e Daisy Jones & The Six e isso fica perceptível na narrativa. Não que Amor(es) Verdadeiro(s) seja um livro ruim, muito pelo contrário, mas não tem todo o carisma das outras publicações, tanto com relação à trama quanto a sua construção da narrativa e dos personagens. A velocidade com que os eventos ocorrem causam algum incômodo, mas nada que atrapalhe a leitura como um todo visto que se tem algo que Taylor Jenkins Reid sabe fazer, é contar uma boa história e te deixar refém dela até chegar a última página.
“Eu mudei com o tempo. É isso que acontece com as pessoas. Ninguém fica estagnado. Todos nos transformamos em relação às alegrias e tristezas da vida.”
O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Companhia das Letras no NetGalley.
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Eu amei Dasy Jones mas amor(es) verdadeiro (s) para mim foi um dos melhores do ano (ps: li esses dois nesse ano então estão concorrendo kkk).
O que mais me tocou é exatamente o ponto que você levantou, acreditamos em um amor da nossa vida mas existe o amor da minha vida de agora. É uma coisa que você não abordou foi a forma que com o passar dos anos a relação com a família nuclear muda. Ela passou parte da vida fugindo da ideia que os pais o ensinaram e quando ela se reiventa e se permite sair desse lugar de fuga ela percebe como essas relações familiares pode ser diferente. Acredito até que essa mudança começou ainda com Jesse, quando ela faz questão que o casamento seja na cidade natal deles. Se o Jesse não tivesse desaparecido, eu não sei se o desfecho seria tão diferente… ela se permitiu viver o que ela queria nos anos com ele…mas ali ela começa se perceber além das fugas.