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Wonka: um filme doce

Árvores de doce, arco-íris de açúcar, nuvens de algodão-doce e um mundo feito de sonhos de chocolate. Pedindo licença para talvez ser piegas com metáforas açucaradas, Wonka é um filme doce, que encanta pela ingênua, mas ousada pureza da imaginação.

O filme conta a juventude de Willy Wonka (Timothée Chalamet), antes de se tornar o excêntrico dono da Fantástica Fábrica de Chocolate. A trama acompanha a chegada do chocolateiro a uma nova cidade, sem dinheiro mas com a cabeça cheia de sonhos. Para abrir sua própria loja de doces, ele precisa enfrentar o Cartel do Chocolate, que tem o monopólio do comércio de confeitos. Com um esquema de subornos à base de açúcar, os três confeiteiros antagonistas fazem de tudo para impedir o sucesso de Wonka, visto como uma ameaça para seus negócios. Para superar os obstáculos impostos pelos rivais e pelos gananciosos hoteleiros — os personagens de Olivia Colman e Tom Davis —, Willy conta com um time de amigos improváveis que o apoiam em suas doces ambições. Desvendando o passado de Wonka, descobrimos também como começou sua parceria com os Oompa-Loompas (Hugh Grant). Seguindo as mágicas criações de chocolates que fazem voar, o cabelo crescer ou têm sabor de uma noite de festa, é fácil ser contagiado pela história.

Wonka

O escritor galês Roald Dahl é o autor do livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, que introduziu o mundo mágico e açucarado de Wonka ao público em 1964. O enredo acompanha cinco crianças em uma visita à famosa fábrica. Dentre os pequenos, o humilde Charlie é escolhido como sucessor de Willy. Do livro de Dahl, foram feitas duas adaptações cinematográficas. A primeira, lançada em 1971, trouxe Gene Wilder no papel do chocolateiro e se consolidou como um clássico cult. Em 2005, Tim Burton revisitou a obra na direção do segundo longa-metragem inspirado na história de Dahl, com Johnny Depp na pele de Wonka.

O filme de 2023, lançado quase 20 anos após a última adaptação, traz um novo capítulo da história. O roteiro dialoga bem com os antecessores, mesmo que seu conteúdo seja uma total novidade. A direção é assinada por Paul King, conhecido pelos bem-avaliados filmes do urso Paddington. King é reconhecido por seu talento com tramas infantis e por seu sucesso em manter o enredo interessante para toda a família. Além disso, a produção é um musical, tal qual os dois predecessores, e conta com nomes de peso no elenco, como Olivia Colman (A Favorita, The Crown), citada anteriormente, Rowan Atkinson (Mr. Bean) e Sally Hawkins (A Forma da Água). Assim, ainda que o roteiro de Wonka não demande todo o potencial dos atores, sua dedicação aos personagens é notória e a impressão que fica é a de muita diversão durante as filmagens, que extrapola o backstage e transparece nas cenas.

O mesmo pode ser dito sobre a escolha do protagonista. Acostumado a brilhar em papéis melancólicos e profundos, Timothée Chalamet prova seu dinamismo e versatilidade ao interpretar um personagem otimista e ingênuo como Willy Wonka. O jovem ator, que fez seu nome pelas emocionantes performances em Me Chame Pelo Seu Nome (2017), Adoráveis Mulheres (2019) e Duna (2021), cabe muito bem no universo mágico e colorido do confeiteiro.

Wonka

Wonka não estaria completo, no entanto, sem os seus pequenos ajudantes Oompa-Loompas, e a responsabilidade de trazê-los à vida ficou a cargo de Hugh Grant. Apesar da primeira reação ser estranhamento diante da versão laranja, com 50 centímetros de altura e cabelo verde do galã de comédias românticas, o personagem não demora a roubar a cena. O contraste entre a peculiar aparência do Oompa-Loompa e o ácido humor britânico de Grant se mostra um grande acerto.

Para além do elenco notável, Wonka faz bem ao entregar lindos visuais e músicas especiais que contribuem não apenas com a história, mas dão o tom emocional de cada parte da trama. Nesse sentido, o longa se aproxima mais da Fantástica Fábrica de 1971, tanto na forma quanto na estética: um colorido mais espontâneo se comparado à excêntrica versão de Tim Burton no filme de 2005. Em relação à trilha sonora, é certeiro o destaque para a clássica música “Pure Imagination”, cujas notas permeiam toda a narrativa até que a música se revele em um momento-chave emocionante.

De maneira geral, Wonka é um filme doce em todos os sentidos. Seu enredo não é inovador ou especialmente marcante, mas a narrativa suave tem seu poder. Assim como na história original, o ponto forte do longa de 2023 é mostrar a força da bondade e do otimismo. A leveza das aventuras do jovem Willy contagia e promete um momento divertido, no qual podemos esquecer as amarguras da realidade para adentrar um mundo de pura imaginação e doçura.

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