Categorias: LITERATURA

A Ilha Perdida Gullstruck: a grandiosa fantasia de Frances Hardinge

A Ilha Gullstruck é um lugar descolado da realidade. Poderia-se dizer até que é uma ilha irmã do País das Maravilhas de Alice e da Nárnia de Lucy Pevensie, tanto por sua intrincada teia de tramas e personagens, quanto pela riqueza da descrição de Frances Hardinge. Com tradução de Mariana Serpa e publicação no Brasil pelo selo DarkLove, da Darkside Books, A Ilha Perdida Gullstruck é uma fantasia que nos leva para um lugar cercado por florestas e vulcões esperando acordar enquanto acompanhamos a trajetória de uma menina em busca de justiça por seu povo e por si mesma.

À beira do oceano e rodeada de florestas, as irmãs Hathin e Arilou cresceram junto de seu povo, os Rendados, mas não poderiam ser mais diferentes uma da outra. Enquanto Arilou é uma Perdida, o que quer dizer que ela consegue se transportar para fora do corpo, enviando seus sentidos para longe, Hathin é tão comum que chega a passar despercebida em qualquer ambiente. Desde pequena, é tarefa de Hathin cuidar de Arilou e ser uma pessoa pouco notável acaba ajudando nessa tarefa, visto que Arilou, a Lady Perdida dos Rendados, é de grande importância não apenas dentro de seu povo, mas para todos os demais que vivem na Ilha Gullstruck.

“Nestes tempos tão malignos, a menor gentileza gera grandes consequências.”

As vidas de Hathin e Arilou seguiam uma rotina quase confortável onde cada uma sabia seus papéis, mas quando seu povo é envolvido em uma conspiração que envolve toda a Ilha Gullstruck, seus mundos viram de cabeça para baixo e se torna tarefa de Hathin mantê-las em segurança. Sem entender muito bem o que está acontecendo, mas colocando a segurança de Arilou em primeiro lugar, Hathin faz o possível – e o impossível – para manter a irmã a salvo de todos aqueles que se colocam em seu encalço. Aos poucos, a menina mais nova começa a descobrir que ela não é tão comum quanto pensava e que, mesmo ela, sem poderes de uma Perdida, é capaz de mudar o mundo devido ao amor em seu coração.

A Ilha Perdida Gullstruck é um grande ode ao amor e esperança. Amor de Hathin por todo seu povo e sua irmã, e esperança, também de Hathin, em ver dias melhores e todos em segurança. Frances Hardinge é mestre em conduzir a narrativa de maneira emocionante, mostrando a jornada das irmãs em meio a um mundo que não é gentil com elas e seu povo, mas revelando, ao virar de cada página, que é possível seguir em frente e perseverar, e que os amigos e a lealdade são o cerne de qualquer revolução. Além de toda a fantasia, a autora ainda salpica seu livro com intrigas políticas e tensões sociais que espelham nosso mundo real com todas as suas injustiças, mas também com a vontade de transformar esse cenário com as próprias mãos.

O mundo desenhado pelas palavras de Frances Hardinge é palpável, rico em línguas, tons e texturas, alicerçado em um sistema de crenças e política que dá ainda mais colorido à sua narrativa. Os detalhes culturais de cada povo, as tradições e ancestralidade, a economia e a língua de cada habitante da Ilha Gullstruck foi trabalhado com esmero pela autora, transformando seu mundo imaginado em algo tangível, digno de uma das melhores obras de fantasia que já li. Frances Hardinge costurou com perfeição e originalidade todos os aspectos desse novo mundo, colocando em discussão, ainda, preconceito, desigualdade e embates entre colonizadores e povos colonizados.

E para além de toda a aventura intrínseca à narrativa de A Ilha Perdida Gullstruck, ainda temos o prazer de acompanhar o crescimento de Hathin: de devota acompanhante da irmã mais velha até se transformar em sua própria pessoa, a menina é facilmente uma das personagens mais interessantes de todo o livro, tornando sua trajetória um dos pontos altos do livro. Todo A Ilha Perdida Gullstruck está recheada de personagens interessantes, complexos, com nuances e histórias que fazem sentido quando pensamos em suas motivações e decisões no decorrer da narrativa. Ainda que parte deles busque vingança, o fazem de acordo com suas próprias regras e jamais abandonam os amigos ou aquilo que é importante de fato. A Ilha Perdida Gullstruck é uma fantasia impactante que te levará por uma jornada em meio a florestas, vulcões temperamentais e culturas únicas. Frances Hardinge desvela por meio de suas palavras um mundo repleto de histórias de resiliência e amizade. Ainda que lide com temas difíceis, o livro é, de certa maneira, aconchegante, mostrando que amor, lealdade e esperança movem montanhas — e vulcões adormecidos.

“Eu sou tudo que desejar. O mundo não escolhe por mim. Não, sou eu quem decide o que o mundo deve ser.”

O exemplar foi cedido para resenha por meio de parceria com a Editora DarkSide Books.


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