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Update Swift Brasil: organização em meio ao caos

A tão aguardada chegada de Taylor Swift ao Brasil, para dar continuidade às apresentações de sua turnê The Eras Tour, foi inicialmente marcada por uma homenagem projetada no Cristo Redentor. Depois que os fãs cumpriram o desafio de arrecadar mais de 20 mil kits de panetone e água mineral, destinados a pessoas em vulnerabilidade social, o monumento “vestiu” a camisa que a cantora usa no clipe da música “You Belong With Me”, adaptada com os dizeres “Bem-vinda ao Brasil”.

No entanto, a celebração foi totalmente eclipsada pelas inúmeras acusações que surgiram contra a produção do evento, envolvendo falta de água e distribuição de remédio tarja preta para fãs que passaram mal no show, possivelmente devido ao calor extremo. Essas denúncias levantam não apenas questões sobre a logística do evento, mas também ressaltam um padrão preocupante de tratamento.

É imperativo reconhecer que, ao longo da história, mulheres que expressam sua paixão por artistas ou eventos culturais têm sido alvo de estigmatização. Elas são muitas vezes rotuladas como “histéricas”, o que exerce uma influência negativa na forma como suas necessidades são percebidas e tratadas. Em relato publicado no X, anteriormente conhecido como Twitter, a influenciadora digital Bel Rodrigues, que passou mal durante o show da artista, detalhou o que aconteceu com ela no evento: “[…] a mulher simplesmente disse que tava ficando meio lotado e que ia me dar um clonazepam sublingual para me acalmar. Mas eu não precisava me acalmar, eu precisava de ajuda”.

O próprio termo “fã”, conforme discutido por Jenkins (1992), que teve origem relacionada aos torcedores esportivos no final do século XIX, também serviu como referência às mulheres que frequentavam teatros assiduamente, sobre as quais os “críticos do sexo masculino” alegavam que compareciam aos espetáculos apenas para admirar os atores, em vez de apreciarem as obras em si. Visão que ainda persiste, por exemplo, entre os fãs de música: é comum ver estereótipos que associam os homens a uma abordagem mais técnica e analítica, enquanto as mulheres são muitas vezes vistas como fãs emocionadas e mais inclinadas a se envolverem apenas com a imagem e a persona dos artistas do que com a música em si.

Todos os problemas e negligências denunciados durante a passagem da The Eras Tour pelo Rio de Janeiro foram ressaltados pelo trágico falecimento de Ana Clara Benevides, que passou mal durante a apresentação, possivelmente devido ao calor intenso e desidratação. Nesse contexto, a ausência de posicionamento humano e ação efetiva por parte dos responsáveis pelo show geraram desconforto e frustração entre os fãs. Diante dessa lacuna, o fã clube Update Swift Brasil se destacou como uma voz ativa e bem organizada, preenchendo a lacuna de informações e exigindo respostas concretas para os problemas identificados.

Dentre as ações do fã clube, destacam-se a mobilização para arrecadação de fundos destinados a auxiliar a família de Ana Clara, que viabilizou o transporte do corpo da jovem para sua cidade; a realização de uma parceria com uma empresa de água, proporcionando a distribuição gratuita desse recurso no Estádio Nilton Santos. Em simultâneo, nas redes sociais, os fãs de Taylor começaram a pressionar a T4F, a produtora responsável pela turnê no país, visando a implementação de novas medidas de segurança e a distribuição gratuita de água nos shows.

Além disso, quando o segundo show da cantora Taylor Swift foi adiado, o Updates Swift realizou uma mobilização no Twitter, marcando as companhias aéreas Gol, Azul e Latam e fazendo um apelo para que essas empresas não cobrassem taxas de reagendamento de voos dos swifties prejudicados pelo adiamento do evento. Em resposta a essa pressão, as companhias aéreas citadas anunciaram que não cobrariam taxas extras para remarcar as passagens dos clientes afetados pelo adiamento.

Essas ações ilustram a eficiência e o comprometimento do Update Swift em lidar com diversas questões, às quais não tinham responsabilidades, como realizar a distribuição de água e posicionar-se sobre as tragédias que aconteceram. Dessa forma, o fã clube pautou temas relevantes para se discutir, como o acesso à água em grandes eventos, além do despreparo das empresas responsáveis pela organização de eventos em lidar com o público e as mudanças climáticas.

A discrepância na forma como os fandoms predominantemente femininos são percebidos revela os arraigados estereótipos de gênero presentes em nossa sociedade. Conforme destacado anteriormente, as fangirls muitas vezes são rotuladas como superficiais e “histéricas”, ao passo que os fãs masculinos são mais propensos a serem vistos como dedicados e avaliadores mais técnicos. No entanto, é crucial ressaltar que, mesmo sem a responsabilidade de buscar informações, divulgar e solucionar problemas, fãs-clubes, nesse caso o Updates Swift Brasil, estiveram ativamente empenhadas em cobrar segurança e respeito das empresas responsáveis pelos eventos, da equipe da cantora e dos órgãos públicos encarregados da fiscalização — um esforço que evidencia a determinação e a responsabilidade das fãs em lutar por um tratamento justo e seguro nos shows dos artistas que amam.