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Mulheres também usam armaduras: a trajetória de Daenerys Targaryen em suas vestimentas

Daenerys da Casa Targaryen, Primeira de Seu Nome, Nascida da Tormenta, A Não Queimada, Mãe de Dragões, Quebradora das Correntes, Mãe dos Escravos, Khaleesi do Grande Mar de Grama, Rainha de Mereen, Rainha por direito de Westeros, dos Ândalos, dos Ronaires e dos Primeiros Homens, Senhora dos Sete Reinos e Protetora do Reino. Talvez uma das mulheres mais poderosas da ficção fantástica, Daenerys Targaryen acumula em seus títulos não apenas seus feitos, mas também as várias adversidades e superações que a transformaram na personagem que conhecemos.

Apesar de conhecermos sua trajetória pelos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin, sua narrativa ganha novas dimensões visuais na série Game of Thrones, que chega este ano à sua temporada final. Criados por Michele Clapton, os modelos usados por Daenerys (Emilia Clarke) refletem sua trajetória na série, e demonstram não só o crescimento da personagem em diversos aspectos, como também a construção de sua personalidade e como esta se adapta e absorve os costumes com os quais tem contato.

A primeira vez que a vemos, Daenerys está com seu irmão, Viserys (Harry Lloyd), e este a prepara para ser apresentada a Khal Drogo (Jason Momoa). Dany usa um vestido rosado, de tecido muito leve e fluido, os cabelos ondulados prateados, soltos, emoldurando seu rosto. Dany é a virgem imaculada e a prostituta enganadora, uma posição reforçada por Viserys, que controla sua vida, e seria capaz de deixar todos os Dothraki do Khalasar abusarem de Dany se assim fosse necessário.

Daenerys Targaryen

Ainda sob a tutela do irmão, Dany é apresentada a Khal Drogo em um vestido “de inspeção” que, de acordo com Michele Clapton, foi desenhado essencialmente para fazê-la parecer nua, a mercadoria que seu irmão via. O detalhe está nos broches de cabeça de dragão, que demonstram sua origem. Já seu vestido de casamento é quase como um presente para Drogo, seguro apenas pelos mesmos broches de dragão. É neste último que Dany queima no fim da primeira temporada — e o fim do mesmo representa o fim de sua relação com Drogo, e seu renascimento como mãe dos dragões e Khaleesi.

Inserida na sociedade Dothraki, passa pela primeira mudança radical: como não está mais sob o domínio de seu irmão, Daenerys adota as vestes de seu novo povo, mais rústicas e, conforme seu papel cresce na sociedade, suas roupas passam por adaptações de personalidade — mais enfeites, peles com texturas parecidas com as de dragões, desenhos diferenciados. Essa mudança acompanha seu comportamento, de mocinha indefesa vendida para mulher ciente de seus poderes e como usá-los. É na sociedade Dothraki que Dany aprende a usar sua sexualidade e inteligência para conquistar espaços e alianças, além de acatar a praticidade que calças podem oferecer.

Daenerys Targaryen

Após a morte de Drogo e seu renascimento como a Não Queimada e Mãe de Dragões, Daenerys segue em direção a Westeros. Parte de seu Khalasar ainda se mantém fiel, e ela é seguida apenas por aqueles que juraram lealdade, enquanto procura um local para que seus seguidores possam sobreviver e encontrar água e comida. Ao chegar em Qarth, já está nutrido nela o direito pelo trono; sob o controle de Viserys, Dany demonstrava apenas uma vontade de voltar para casa, Westeros, já que sentar no Trono de Ferro era um desejo de seu irmão. Longe dos homens que a tinham como troféu e aprendendo a cuidar de seu povo e de seus dragões, descobre em si uma mulher poderosa, e entende que o trono dos Sete Reinos é seu por direito, por ser única herdeira do Rei Louco, usurpado. Em Qarth, começa a se adaptar: no começo usa um vestido turquesa, que segue os costumes das mulheres nobres da cidade, até compreender que aquilo não é ela; ela então mistura os estilos de Qarth (inclusive uma camisa masculina) e Dothraki (com peças de couro elaboradas), pegando, novamente, o que lhe é apresentado, o adaptando e evoluindo seu estilo, enquanto planeja a tomada de poder e libertação do povo.

Daenerys Targaryen

Já com seu pequeno exército partindo em direção à Astapor em navios, Daenerys continua a usar a cor sagrada dos Dothraki — o azul — para simbolizar a esperança de novas terras e novas conquistas. O azul também é usado para representar o poder, já que, depois de tomar Astapor e partir em direção à Yunkai, ela continua a usar a cor, e a misturar os elementos das culturas que absorveu em seu novo povo: o azul, o couro e as calças dos Dothraki, e os ornamentos e detalhes dos Qarthenos. Em sua ascensão, Daenerys se distancia daquela menina delicada e virginal que conhecemos na primeira temporada, criando um estilo próprio com informações de moda tanto masculina quanto feminina. Desta maneira, se estabelece como uma mulher capaz de enfrentar qualquer coisa.

Em Meereen, conquista um posto de permanência, e volta a se vestir de forma mais feminina: agora que não precisa mais se movimentar nem lutar com frequência, abandona as calças e adota os vestidos fluidos, mas sempre com a parte superior de seu corpo bem marcada. Aqui começamos a observar os primeiros traços de branco — cor que simbolizará a rainha intocável que se tornará para seus seguidores — e cabelos simplificados, com menos tranças complexas e ondas mais delicadas. Recortes em seus vestidos sinalizam uma busca por poder, e que Dany é capaz de usar todas as habilidades que adquiriu, inclusive a sedução, para conquistar o que deseja.

Uma vez estabelecida em Meereen como rainha, os recortes e marcações em seu corpo dão lugar a vestidos mais claros e feitos com tecidos mais estruturados. O branco e as capas ganham força na vestimenta, uma vez que seu idealismo de paz e prosperidade em uma cidade livre de escravos a coloca como redentora. Seu cabelo ganha tranças mais complexas e ornamentos marcantes, um sinal de força e poder dos Dothraki, e suas roupas menos decotes, sinais de pureza e recato.  Como Rainha de Meereen, Dany é virtualmente inalcançável, mas sabe que deve manter sua praticidade se precisar (o que observamos ao revelar uma calça por baixo de seu vestido branco quando Drogon a salva da rebelião nos fighting pits).

Ciente de seu poder e pronta para conquistar Westeros, adota trajes escurecidos e estruturados, condizentes com a visão de mulher poderosa que buscava para si. Seu visual harmoniza com todos que a cercam: os Dothraki, os Unsullied e suas novas alianças poderosas, vindas dos Sete Reinos e que apoiam sua causa, os Greyjoys, os Tyrells e Dorne. Daenerys parte para Westeros ciente de quem é de se suas origens, levando consigo as cores de sua casa e texturas que se assemelham às escamas dos dragões que criou.

Ao conquistar Dragonstone, sua base em Westeros, abandona os vestidos de rainha, já que novamente precisará de praticidade. Contudo, não vemos mais os tons de azul, branco e marrom tão usados até então: as cores de sua casa se tornam mais presentes, assim como os adornos com o dragão de três cabeças.  Os ombros marcados, característica das vestimentas dos Targaryens, também aparecem. Com o inverno recém-chegado em Westeros, vemos mais peças pesadas de couro e peles, além de luvas e botas elaboradas. Daenerys finalmente se torna quem nasceu pra ser.

Nesta última temporada, Daenerys busca o que é seu por direito, e suas vestimentas mostram sua trajetória e seu poder, e carregam todos seus títulos e feitos. Será que está pronta para conquistar os Sete Reinos e dominar mais uma vez o mundo com dragões, como os Targaryen de outrora? A veremos novamente em seus trajes reais e vestidos funcionais? Aguardemos.

Amanda Santos é bacharel em Arquitetura e Urbanismo, mestre em História da Arte, pós-graduanda em Direção de Arte Audiovisual. Viciada em televisão seriada e cultura nerd, pokémon tipo voador, corvina e membro da Casa Martell. @mandi_andi no Twitter e no Instagram.

1 comentário

  1. Oi, gente! Por favor, criem uma coluna só de estudo de figurinos! Tem muito exemplo em séries, filmes, games, animações… Encontramos muitos textos falando de enredo, mas poucos quando assunto é relacionar narrativa com edição de arte. Obrigado pelo texto! 🙂

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