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Mais literatura nacional, jovem e LGBTQ+: para ler com orgulho sempre

Uma semana depois do início da cruzada de Marcelo Crivella contra os livros LGBTQ+, o que mais se viu foi a literatura jovem nacional ganhando um alcance inédito nos grandes veículos de comunicação e ocupando os primeiros lugares na lista de livros mais vendidos, dentro e fora da categoria “jovem” ou “LGBTQ+”. Episódios como esse revelam o poder de histórias e o poder da comunidade, e com isso a importância de que não podemos deixar a peteca cair.

Com essa ideia em mente, seguimos indicando mais títulos de autores nacionais, jovens, que fazem literatura com diversidade e criatividade, dando voz a histórias, personagens e vivências que estão ali para ajudar os leitores, independente da idade, a descobrirem seu lugar no mundo, lutar suas lutas, e se sentirem mais vistos e confortáveis com quem verdadeiramente são. Embora não tenha sido um critério de edição, boa parte dos livros dessa lista foi publicado de maneira independente por seus autores graças à internet, revelando um lado bom e importante dessa plataforma cheia de lados ruins e difíceis e que também devemos lutar para recuperar e manter.

Portanto, sempre que tiver a oportunidade, leia, apoie, compartilhe, divulgue e ajude a passar essas mensagens adiante. Se aprendemos algo com o assustador episódio de censura da Bienal do Livro foi isso, a força que surge da união. E viva a literatura nacional, sempre livre e orgulhosa. Confira aqui a primeira parte da lista.

A linha de rumo (Giulia Santana)

Por Tati Alves

Leigh e Marlena são mais do que primas, uma completa a outra. Quando um acidente deixa Marlena no hospital, Leigh terá que descobrir como navegar pelos altos e baixos desse momento da sua vida, pelos dramas e segredos familiares e compreender quem é ela sem a sua outra metade. Em seu romance de estreia, Giulia Santana narra uma história sobre alma-gêmeas e cumplicidade, sobre o medo da perda e todos os tipos de descobertas que são feitas quando somos jovens ainda tentando entender quem nós somos.

Chorar de alegria (Lorena Pimenta, Carol Stuart, Fernanda Gayo, Jéssica Barros e Maysa Muniz)

Por Duds Saldanha

Para esquentar o coração com uma leitura rápida e muito especial, a coletânea de textos Chorar de alegria é um daqueles livros que vai fazer você literalmente chorar de alegria com todos os sentimentos do mundo. A parte mais especial dessa coletânea é que ela abrange todas as formas de amar, e mostra que não tem nada mais forte do que amar outra mulher.

Ele salvou meu verão (Victor Lopes)

Por Felipe Vieira

Férias em família, sol, praia, calor e a oportunidade perfeita para descansar e relaxar. Estaria tudo incrível caso você não começasse a se afogar ao encontrar o garoto perfeito e tivesse que ser socorrido. É assim que começa a história entre Samuel e Renan. Depois de um início no mínimo esbaforido e agitado, os dois garotos passam a se ver diariamente. Entre encontros na praia, conversas e troca de presentes, eles acabam criando laços de admiração um pelo outro. Era o início de romance despreocupado até que um desencontro movimenta e transforma a vida de Samuel e Renan.

Ele salvou o meu verão é um conto YA nacional cheio de momentos lindos e cativantes que toda pessoa apaixonada por romances desejou viver em algum momento da vida. A história é repleta de clichês românticos entre personagens LGBT+ que trazem aquele quentinho no coração. O melhor é que Victor Lopes não deixa que seja apenas um passageiro amor de verão que termina juntamente com as férias. A história entre Samuel e Renan continua e atravessa todas as estações do ano. Além desse conto que se passa no verão, já foram publicados os contos ambientados durante o inverno e o outono na coletânea Projeto Estações. Só falta a primavera para finalizar essa história de amor. Afinal, não existe tempo ruim para amar, não é mesmo?

Escrito em algum lugar (Vitor Martins)

Por Laura Lima

O conto de Vitor Martins começa com dois garotos fãs de uma banda livremente inspirada nos Jonas Brothers se conhecendo na fila para comprar ingresso para um show da banda. O que os une, além da espera durante a madrugada, é a idade: no meio de adolescentes, são considerados velhos demais para se importar com boybands. Ao longo de 80 páginas engraçadas e verdadeiras, torcemos pelo casal (com direito a hashtag no Twitter e tudo) e acompanhamos as dores e delícias de se tornar adulto.

Ninguém nasce herói (Eric Novello)

Por Analu Bussular, jornalista e youtuber no canal Livros e Mais

Não estamos aqui para dar ordens, mas Ninguém nasce herói é uma leitura de resistência obrigatória em tempos como esse em que estamos vivendo. Se o retorno da ditadura e da censura, há alguns anos atrás, parecia impossível, agora já entendemos a lição de Angela Davis de que a liberdade é uma luta constante e é sobre amor e luta que Eric Novello trata em seu romance.

O protagonista Chuvisco e seus amigos vivem em um Brasil liderado por um fundamentalista religioso. Neste Brasil, amar alguém do mesmo gênero é rebeldia. Ler, também. É por isso que esse grupo de amigos faz resistência da forma que pode: distribuindo livros na rua e vivendo seus amores. O autor demonstra ainda mais consciência política ao mostrar que não são só as instituições governamentais que representam o perigo: os civis que as apoiam veementemente também estão se unindo para caçar eles mesmos as contravenções que passam despercebidas ao governo, perseguindo e atacando minorias. Infelizmente, o livro de Novello vêm nos parecendo cada vez mais atual e relembra que se não nascemos heróis, o contexto exige que comecemos a treinar para ser. Ninguém vai fazer por nós.

Preferida (Mayara Barros)

Por Tati Alves

Em uma história curta, Mayara Barros retrata em Preferida um pouco do que é o relacionamento platônico e o que significa ser arromântica em uma narrativa que deixa o leitor com um sorriso no rosto no final.

Você (e todas as outras coisas que me machucam também) (Nalü Romano)

Por Duds Saldanha

Nalü Romano é uma brasileira vivendo em Nova York e, além de ser uma personalidade da internet com fios incríveis no Twitter sobre sua vida e como se apaixonou pela Gira, sua esposa, ela também é uma poetisa incrível. O livro dela com certeza vai fazer você se identificar e confrontar seus muitos sentimentos. A honestidade da Nalü faz você demorar pra largar esses textos mesmo quando eles terminam.

Volto quando puder (Isa Próspero e Márcia Oliveira)

Por Lethycia Dias, jornalista, escritora e autora de Mesmo que eu vá embora

Volto quando puder é um romance adolescente sobre o Artur, um garoto cuja mãe morreu há pouco tempo e que passou a viver com o pai, e eles não se dão muito bem. O Artur precisa se adaptar a um colégio novo onde ele ainda não fez muitos amigos, mas tem um professor legal chamado Alexandre, que sabe se comunicar bem com adolescentes. É um livro que eu gostaria de ter lido durante a adolescência, porque ele trata de várias coisas bem típicas desse período da vida. Ter que se adaptar a situações novas e entender melhor quem a gente é, por exemplo. A representatividade LGBTQ+ vem com personagens que convivem com o Artur e que levam ele a questionar algumas coisas que pensa. É um livro que faz a gente rir, ficar triste e até querer gritar com o garoto pra que ele coloque a mão na consciência e pense um pouquinho no que está fazendo. E tem um desfecho muito legal, não resolvendo a situação conflituosa por completo, mas dando uma ideia de que as coisas podem melhorar na convivência do protagonista com seu pai.


** A arte em destaque é de autoria de Duds Saldanha.